Após
quase 8 anos, Maduro visita o Brasil e encontra Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se nesta segunda-feira (29/05) com o presidente da
Venezuela, Nicolás
Maduro, no Palácio do Planalto.
É a primeira vez que Maduro vem ao Brasil desde
julho de 2015, quando participou de uma cúpula do Mercosul realizada em
Brasília, durante o governo Dilma Rousseff. O encontro simboliza a
retomada das relações entre os dois países, que haviam sido
suspensas durante o governo Jair Bolsonaro.
Maduro chegou ao Brasil no domingo e participa,
na terça-feira, de uma cúpula dos presidentes da América do Sul que reunirá 11
dos 13 chefes de Estado da região. A última reunião do tipo ocorreu em 2014, em
uma cúpula da União das Nações Sul-Americanas (Unasul).
O presidente venezuelano recebeu honras de
chefe de Estado do cerimonial do governo brasileiro. Ele subiu a rampa do
Palácio do Planalto, participou de uma reunião bilateral com Lula e foi em
seguida recebido para um almoço no Itamaraty. Foram assinados dois atos entre
os dois países, um memorando de entendimento de matéria agroalimentar e um
mecanismo de supervisão da cooperação bilateral.
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Lula fala em "momento histórico" e Maduro,
em "relação virtuosa"
Após a reunião com Maduro, Lula disse que a visita
do venezuelano era um "momento histórico" na normalização das
relações entre os dois países. "É difícil conceber que tenham passado
tantos anos sem que mantivessem diálogos com a autoridade de um país amazônico
e vizinho, com quem compartilhamos uma extensa fronteira de 2.200 km",
afirmou.
Lula também criticou o não reconhecimento de Maduro
como presidente da Venezuela pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE)
após as contestadas eleições de 2018, nas quais o venezuelano foi reeleito.
"Briguei muito com companheiros
social-democratas europeus, com governos, com pessoas dos Estados Unidos.
Achava a coisa mais absurda do mundo, para as pessoas que defendem democracia,
negarem que você era presidente da Venezuela, tendo sido eleito pelo povo. E o
cidadão que foi eleito para ser deputado ser reconhecido como presidente",
disse, referindo-se a Juan Guaidó, líder da oposição venezuelana.
Lula disse que teria sido construída uma
"narrativa contra a Venezuela" e que Maduro deveria mostrar "a
sua narrativa" para mudar a opinião das pessoas sobre seu
regime. "Você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela.
Da antidemocracia, do autoritarismo. Então eu acho que cabe à Venezuela mostrar
a sua narrativa para que possa efetivamente fazer pessoas mudar de opinião.
(..) É preciso que você construa a sua narrativa. Eu acho que por tudo que nós
conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que a narrativa
que eles têm contado contra você."
O presidente brasileiro disse ainda que buscará um
acordo para buscar uma "integração plena" entre os dois países,
apesar das "dificuldades", como a dívida externa venezuelana e o
combate ao narcotráfico.
Maduro, por sua vez, afirmou que a Venezuela está
"de portas abertas" para os empresários brasileiros. "Estamos
preparados para que retomemos as relações virtuosas com os empresários
brasileiros. S Venezuela está de portas abertas, com plenas garantias para
todo o empresariado para que voltemos ao trabalho conjunto."
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Relações retomadas
No início do governo Bolsonaro, Brasília rompeu
relações diplomáticas com Caracas, proibiu Maduro de entrar no país
e reconheceu Guaidó como presidente da Venezuela.
A proibição foi revogada no final do governo
Bolsonaro, em 30 de dezembro de 2022, para permitir que Maduro viesse à posse de
Lula – o que acabou não ocorrendo, segundo Caracas, pois a permissão foi
concedida com pouca antecedência.
Sob Lula, o governo brasileiro reabriu a sua
embaixada em Caracas, e a Venezuela nomeou um embaixador para atuar no Brasil.
Em março, o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais,
Celso Amorim, foi a Caracas e reuniu-se
com Maduro e integrantes da oposição.
A reaproximação com a Venezuela interessa ao governo
Lula para tratar de assuntos comuns aos dois países e participar das conversas
pela estabilidade política do país vizinho, que realizará eleições
presidenciais em 2024.
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Regime autoritário
Maduro governa a Venezuela desde 2013 e impôs um
regime autoritário que persegue a oposição e a liberdade de imprensa. Em 2020,
uma missão de especialistas encarregada pelo Conselho de Direitos Humanos da
ONU o acusou de
crimes contra a humanidade.
Ele foi reeleito em 2018 em um pleito marcado por
irregularidades e não reconhecido pelos Estados Unidos, pela UE e mais de
50 países.
Após as eleições, a oposição liderada por
Guaidó formou um "governo interino", reconhecido por parte de
comunidade internacional, mas não conseguiu obter o apoio dos militares e do
Judiciário. Em janeiro de 2021, após a oposição perder as eleições legislativas
e o controle do Parlamento, a UE deixou
de reconhecer Guaidó como "presidente interino" da
Venezuela.
O "governo interino" foi encerrado
pela própria oposição em dezembro passado. Em abril, Guaidó, que
havia sido proibido de deixar a Venezuela, foi até a Colômbia e, de lá,
alegando "perseguição" contra si e sua família, pegou um
voo para Miami.
Há uma mesa de diálogo entre o governo e a oposição
venezuelana que ocorre esporadicamente no México. A expectativa do governo
brasileiro, segundo o colunista Jamil Chade, do portal UOL, é que a eleição
presidencial de 2024 dê condições legítimas para que diferentes partidos possam
concorrer e que o resultado das urnas seja respeitado.
Ø Reunião Lula-Maduro: petista chama Guaidó de 'impostor', critica países e
defende Venezuela no BRICS
Lula e Maduro tiveram uma reunião reservada e depois
com integrantes do governo. Os dois líderes assinaram memorandos de
entendimento na área agrícola, além de um mecanismo de supervisão da cooperação
bilateral.
Nesta segunda-feira (29), o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva recebeu no Palácio do Planalto seu homólogo venezuelano, Nicolás
Maduro. O mandatário não visitava o Brasil desde 2015, quando viajou ao Brasil
para posse de Dilma Rousseff.
Durante entrevista coletiva, Lula ressaltou a
importância de retornar o diálogo com um país que faz "extensa fronteira
de 2.200 km com Brasil" e, citando os Estados Unidos, disse que
"achava a coisa mais absurda do mundo" para as pessoas que defendem a
democracia "negarem que você [Maduro] era presidente da Venezuela".
"É um prazer te receber aqui outra vez. É
difícil conceber que tenham passado tantos anos sem que mantivessem diálogos
com a autoridade de um país amazônico e vizinho, com quem compartilhamos uma
extensa fronteira de 2.200 km […]. Penso que esse novo tempo que estamos
marcando agora não vai superar todos os obstáculos que você tem sofrido ao
longo desses anos. Briguei muito com companheiros social-democratas europeus,
com governos, com pessoas dos Estados Unidos. Achava a coisa mais absurda do
mundo, para as pessoas que defendem democracia, negarem que você era presidente
da Venezuela, tendo sido eleito pelo povo. E o cidadão que foi eleito para ser
deputado ser reconhecido como presidente", disse Lula citado pelo G1.
O "cidadão" citado por Lula é o
autointitulado presidente da Venezuela Juan Guaidó, que era reconhecido como
presidente por então presidente Jair Bolsonaro, pelos EUA na gestão Donald Trump
e por outros líderes de direita no continente.
Lula também citou a reserva de 31 toneladas de ouro
venezuelano em Londres, e relembrou que "a reserva em vez de ser colocada
sob a guarda do governo da Venezuela, foi colocada sob a guarda do
Guaidó".
"Em muitas discussões com meus companheiros
europeus eu dizia que não compreendia como é que um continente que conseguiu
exercer a democracia tão plena quanto a Europa exerceu quando construiu a União
Europeia poderia aceitar a ideia de que o impostor poderia ser presidente da
República porque eles não gostavam do presidente eleito. O preconceito contra
Venezuela continua", afirmou o presidente brasileiro.
O petista ainda ressaltou que "[...] quantas
críticas a gente sofreu aqui durante a campanha por ser amigo da Venezuela.
Havia discursos e mais discursos, os adversários diziam: 'Se o Lula ganhar as
eleições, o Brasil vai virar uma Venezuela, uma Argentina, uma Cuba', quando o
nosso sonho era que o Brasil fosse o Brasil mesmo, melhor", afirmou Lula.
O presidente brasileiro disse saber das
"dificuldades" na relação da Venezuela com o Brasil e com o resto do
mundo – citou como exemplos a dívida externa e o combate ao narcotráfico –, mas
afirmou que o governo buscará uma "integração plena" entre os dois
países.
"Esse momento é importante por muitas razões,
mas uma delas é porque a América do Sul tem que se convencer que temos que
trabalhar como se fosse um bloco. Não dá para ninguém imaginar que, sozinho, um
país da América do Sul vai resolver seus problemas que perduram mais de 500
anos", completou Lula.
O petista também afirmou que é pessoalmente
favorável à adesão da Venezuela ao BRICS e que pode levar o tema ao grupo, se
houver solicitação formal.
Já Maduro agradeceu a hospitalidade de Lula em seu
discurso, e também manifestou intenção de aprofundar as relações entre Brasil e
Venezuela. O presidente venezuelano disse ainda que o país vizinho está
"de portas abertas" e "com plenas garantias" para o
empresariado brasileiro.
"Estamos preparados para que retomemos as
relações virtuosas com os empresários brasileiros. A Venezuela está de portas
abertas, com plenas garantias para todo o empresariado para que voltemos ao
trabalho conjunto. Acredito ser muito positivo. Nós amamos a história do povo
brasileiro, a força e alegria espiritual. Que nunca mais ninguém feche a porta.
Brasil e Venezuela tem que estar unidos, daqui para frente e para sempre",
disse.
Maduro está no Brasil para a cúpula de líderes da
América do Sul que começa nesta terça-feira (30). Maduro chegou ao Planalto às
10h36 acompanhado de sua esposa, Cilia Flores Maduro, e subiu a rampa do
Palácio, onde foi recepcionado por Lula e a primeira-dama, Janja.
Ø Maduro diz que encontro com Lula “constitui fato histórico”
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou
que o encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta 2ª feira
(29.mai.2023) “constitui um fato histórico, transcendental e uma
vitória da dignidade” da população brasileira e venezuelana.
“O resgate e fortalecimento da união entre Brasil e
Venezuela é o caminho correto que nos conduzirá ao desenvolvimento e integração
da Pátria Grande”, disse Maduro em sua conta no Twitter.
O líder venezuelano chegou ao Brasil às 21h24 de
domingo (28.mai). Ele pousou na Base Aérea de Brasília e foi recepcionado pela
embaixadora Gisela Maria Figueiredo Padovan, secretária de América Latina e
Caribe do Itamaraty, e pelo embaixador da Venezuela no Brasil, Manuel Vicente
Vadell Aquino. O líder venezuelano chegou acompanhado da primeira-dama Cilia
Flores.
Na manhã desta 2ª feira (29.mai), Lula e Janja
receberam Maduro e Cilia Flores no Palácio do Planalto com honras de chefe de
Estado.
A viagem é realizada por causa da reunião com os presidentes dos países da América do Sul, marcada para 3ª feira (30.mai). Dos 12 chefes de Estado convidados para
o evento, Maduro foi o único a ter encontro bilateral com Lula até o momento.
Esta é a 1ª visita de Maduro ao Brasil desde 2015.
Na época, o venezuelano veio ao país para participar da posse da
ex-presidente Dilma
Rousseff (PT). Em 2019, ele foi proibido de entrar no
Brasil pelo ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL). O próprio Bolsonaro, no entanto, revogou, em 30 de dezembro de 2022, o decreto que impedia a
entrada de integrantes da administração de Maduro em território brasileiro.
Durante o dia, Lula terá 3 encontros o venezuelano.
Depois da reunião, às 12h30, o presidente e Maduro assinarão acordos bilaterais
entre os países. O conteúdo não foi adiantado pela Presidência. Na sequência, o
venezuelano será recebido em um almoço no Itamaraty.
Em fala à imprensa, Maduro criticou a “extrema ideologização” das relações
internacionais. Depois de se reunir com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) no Palácio do Planalto, o líder venezuelano afirmou que
todas as relações com o Brasil haviam sido cortadas, mas que isso agora “é
passado”.
“Fizemos uma revisão de tudo o que diz respeito a
essa época de ouro das nossas relações, onde o Brasil e a Venezuela se
encontravam cara a cara. Se encontravam a partir de uma vontade em comum.
Vontade de construir uma América do Sul em paz, com prosperidade e igualdade. E
como isso foi estancado de um dia para o outro porque essa ideologização
extrema das relações internacionais é hoje um fenômeno que consiste na aplicação
de fórmulas extremistas que vão para a direita e buscam qualificar as relações
dividindo-as, subdividindo-as e atropelando-as. E a Venezuela teve a aplicação
desse modelo ideológico extremista [que] ainda
está sendo aplicado”, declarou Maduro.
Fonte: Deutsche Welle/Sputnik Brasil/Poder 360
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