‘Amputações
propostas’ se refletem nos interesses estratégicos do Brasil, dia Marina
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse neste
domingo, 28, que o esvaziamento, ao qual chamou de “amputações”, sofrido na
última quarta-feira por sua pasta atinge os interesses estratégicos do Brasil
não apenas ambientais, mas também econômicos.
Em entrevista à GloboNews junto com
a ministra Sonia Guajajara – dos Povos Indígenas, pasta que também teve poderes
retirados na reestruturação de ministérios aprovada por comissão especial no
Congresso -, Marina pontuou que vários investidores já consideram as
dificuldades de investir no Brasil em razão das sinalizações dadas pelo
Congresso.
“Isso se
reflete nos interesses estratégicos em termos econômicos e ambientais”,
declarou a ministra, lembrando que o mundo está fechando as portas a economias
intensivas em carbono. “Se existe um país que pode ter economia de baixo
carbono, esse país é o Brasil.”
A ministra não deixou de reconhecer as contradições
que existem em um governo de frente ampla, porém procurou demonstrar confiança
de que as decisões da comissão serão revertidas quando chegarem ao plenário. “Até
chegar ao plenário, existe espaço de diálogo com o Congresso”, assinalou
Marina, antes de dizer que tem “esperança” quanto a um reposicionamento das
lideranças do Legislativo.
Segundo ela, essas lideranças sabem dos interesses
do agronegócio, da balança comercial e dos investidores que estão em jogo. “Nós
estamos trabalhando até o último momento para preservar nossas competências”,
afirmou Marina. “O negacionismo não vai prevalecer, vai prevalecer o mérito das
questões”, acrescentou.
·
Marco temporal
Sonia Guajajara afirmou que o projeto de lei do
marco temporal na demarcação de terras indígenas, o PL 490, é decisivo para os
povos indígenas no Brasil. A ministra se posiciona de forma contrária ao
projeto e defende que a sociedade deve se mobilizar para dizer não à aprovação
da legislação.
“É um projeto de lei gravíssimo, que paralisa a
demarcação das terras indígenas e não contribui em nada no que de fato
precisamos fazer, que é reduzir as emissões de gases do efeito estufa e
combater as mudanças climáticas. Todas as pessoas precisam cobrar seus
parlamentares para que possam dizer não ao PL 490”, pediu a ministra.
Questionada sobre a decisão do Congresso de promover
anistia ao não cumprimento das metas de cotas mínimas para a presença de
mulheres e pessoas negras nos partidos políticos, a ministra dos Povos
Indígenas subiu o tom das críticas, afirmando que a instituição é atravessada
pelo machismo e racismo estruturais. Sonia Guajajara disse ainda que há
parlamentares que alimentam o ódio contra o governo Lula.
“A reação do Congresso Nacional é uma resposta de
combate à participação de mulheres nesses espaços e é também, eu diria, um
racismo impregnado, que não é somente contra pessoas negras, mas também
acontece contra indígenas todos os dias. Eu diria que é um Congresso que
destila o seu racismo, machismo e toda a raiva contrária ao governo Lula”,
frisou.
Ela admitiu que a última semana foi realmente muito
turbulenta, mas se colocou à disposição para conversar com deputados e bancadas
na tentativa de reverter alguns votos de parlamentares que se posicionaram pelo
esvaziamento de seu ministério.
Ø Parecer de Isnaldo Bulhões é grave ameaça ao meio ambiente e aos
indígenas
Em um ótimo artigo publicado no O Globo deste
domingo, os ex-ministros Celso Lafer e Rubens Ricupero condenam fortemente o
parecer do deputado Isnaldo Bulhões na Comissão Mista do Congresso esvaziando
as políticas para o Meio Ambiente e para os Povos Indígenas estabelecidas
pelo governo Lula da Silva, e que alcançou inclusive grande repercussão
internacional pela importância do tema do meio ambiente e do perigo do
aquecimento global do planeta.
Lafer e Ricupero sustentam que enfraquecer a
ministra Marina Silva funciona também como um desastre em matéria de
credibilidade internacional brasileira. De fato, os ex-ministros da Indústria e
Comércio e da Fazenda, a meu ver, têm total razão, sobretudo quando destacam o
programa de regeneração tanto do programa ambiental do país quanto da imagem
brasileira no plano internacional.
Lembro que além disso, o Brasil recebeu doações dos
Estados Unidos e de países europeus para o seu programa de combate ao
desmatamento e preservação do Meio Ambiente e do Clima, e que colocar em
prática exatamente o sentido oposto do projeto original de Lula é simplesmente
trair tantos os interesses do país quanto o relacionamento com as nações
diretamente interessadas no combate às investidas que só podem aumentar a
poluição.
Lafer e Ricupero focalizam o que classificam de
“trama em curso no Congresso” para que o Brasil não consiga realizar
concretamente o seu programa de sustentabilidade do meio ambiente. Uma das
medidas, por exemplo, dizem Lafer e Ricupero, é retirar do Meio Ambiente a
realização do cadastro rural, instrumento para controlar o desmatamento e a
grilagem de terras. O artigo é bastante oportuno tanto pela credibilidade de
seus autores quanto pela importância fundamental do tema para afastar o risco
do aquecimento global. Trata-se, portanto, de um compromisso inadiável.
Na minha opinião, no fundo, mal se oculta os interesses
comissionados peculiares às transações governamentais que inclusive não mudam
de forma através do tempo. Veja-se, por exemplo, o escândalo da privatização da
Eletrobras, acusação formalizada pelo próprio presidente Lula da Silva. No caso
da foz do Amazonas na área equatorial, não se trata apenas de considerar a
grande distância entre os postos de socorro e a possibilidade sempre existente
de problemas.
A preservação ambiental é um valor compartilhado
pela sociedade e pela opinião pública brasileira; o Congresso deve inspirar-se
nesse sentimento, fornecendo ao governo meios de assegurar o seu compromisso
assumido na campanha eleitoral, acrescentam Rubens Ricupero e Celso Lafer.
Ø “Não há perdas
danosas”, diz Guajajara sobre MP da Esplanada
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia
Guajajara, disse no domingo (28.mai.2023) que a retirada das
demarcações de terras indígenas de seu ministério não causará “perdas
danosas”. A pasta foi uma das que tiveram suas atribuições reduzidas
pela medida provisória que reestrutura a Esplanada do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Se as mudanças forem aprovadas, o Ministério dos
Povos Indígenas perderá para o Ministério da Justiça, de Flávio Dino, o poder de decisão sobre as demarcações de terras, hoje de
responsabilidade da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas).
“O Ministério da Justiça, mesmo tendo toda a
robustez para fazer esse processo, é muito lento. Tem demora de anos. Ficaria
muito melhor no Ministério dos Povos Indígenas”, avaliou Guajajara em
entrevista à GloboNews.
A ministra, no entanto, minimizou a situação. “Considerando
que estamos num governo onde o ministro [Dino] é totalmente
favorável e tem toda essa compreensão sobre essa importância [das
demarcações] e o compromisso do presidente Lula, não há perdas danosas
nesse sentido, porque o presidente Lula garantiu para a gente que o que foi
garantido vai se cumprir”, declarou.
As mudanças foram aprovadas por comissão mista do Congresso na 4ª feira (24.mai.2023). Para tratar do tema, Lula reuniu-se na 6ª feira (26.mai) com Guajajara e com as
ministras Marina
Silva (Meio Ambiente) e Esther
Dweck (Gestão e Inovação), que também tiveram as
atribuições de seus ministérios reduzidas pela MP.
Depois de ser aprovado no plenário da Câmara, o
texto precisa ser analisado no Senado até 1º de junho, em razão do prazo da MP
caducar –ou seja, perder o efeito. Marina disse que espera reversão da medida.
Ø Guajajara estuda atuação conjunta com Dino para demarcar terras indígenas
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara,
estuda a possibilidade de trabalhar em conjunto com o Ministério da Justiça e
Segurança Pública na demarcação de terras indígenas caso uma MP (medida
provisória) retire da sua pasta parte dessa atribuição. Na sua visão, isso
enfraqueceria a pasta.
"Considerando que estamos num governo em que o
ministro [Flávio Dino] tem a compreensão sobre essa importância e temos o
compromisso de Lula, não há perdas danosas nesse sentido porque o presidente
Lula garantiu que o que está da parte dele garantido vai se cumprir, que é
destravar e garantir as assinaturas das demarcações de terras indígenas",
disse em entrevista à GloboNews, na noite deste domingo (28).
A MP da reorganização da Esplanada foi aprovada na
última quarta (24) em uma comissão mista formada por deputados e senadores. O
texto, de autoria do líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões Jr. (AL),
desidratou a política ambiental do governo com a transferência de competências
das pastas de Povos Indígenas e do Meio Ambiente para outros órgãos.
Guajajara disse acreditar que a reação do Congresso
é de cunho político em relação ao governo do presidente Lula, mas também um
combate à participação de mulheres nesses espaços. Ela deu a entrevista junto
com Marina Silva, do Meio Ambiente.
"É também um racismo impregnado porque racismo
não é só contra pessoas negras. Também acontece com indígenas, é um Congresso
que destila o seu machismo, racismo e toda essa raiva contrária ao governo
Lula", destacou.
Lideranças indígenas e ambientalistas cobram do
presidente empenho para reverter a decisão do Congresso -que na última semana
também impôs outras derrotas à agenda com a aprovação de uma MP com trechos que
afrouxam a preservação da mata atlântica e a votação da urgência de um projeto
que dificulta a demarcação de terras indígenas.
Na sexta (26), Lula se reuniu com as duas ministras.
Integrantes do governo afirmam que o encontro foi produtivo e que a fala de
Marina resultou na diminuição da temperatura após as derrotas no Legislativo.
No governo, o temor é que, caso haja esforço efetivo
do governo para que o Senado altere pontos, a Câmara decida retaliar o Planalto
e deixe a MP da reorganização da Esplanada dos Ministérios perder validade. Na
prática, isso implicaria na volta da estrutura administrativa de Bolsonaro.
A proposta ainda precisa passar pelos plenários da
Câmara e do Senado e ter sua tramitação concluída até 1º de junho. O objetivo
no governo é tentar amenizar as mudanças.
Ministros de Lula tem rejeitado a ideia de recorrer
ao STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar manter a estrutura ministerial
definida pelo governo em janeiro.
No caso da demarcação de terras indígenas, já há uma
Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo que questiona a alteração de
tutela do tema.
Embora não demonstre por enquanto disposição de
brigar contra a ala majoritária da Câmara, Lula e aliados próximos estão
preocupados que a crise com Marina tenha uma repercussão internacional
negativa.
Também na entrevista à GloboNews, Marina afirmou que
a sinalização do Congresso sobre a pauta do meio ambiente nesta semana pode ser
ruim para o comércio exterior.
"Temos que enfrentar o problema a médio e longo
prazo em relação à mudança do clima. Tem uma outra questão que é nossa agenda
de investimento, tem vários investidores considerando o Brasil um país de
dificuldade de investimento em função dessas sinalizações que estão sendo dadas
pelo Congresso. Estamos negociando a finalização do acordo União Europeia e
Mercosul, todas essas sinalizações são muito difíceis para os resultados",
disse a ministra.
Ø Lula pede que ministros não lavem ‘roupa suja’ em público
Em reunião de equipe, o presidente Lula pediu a seus
ministros para lavarem “roupa suja” dentro de casa e pararem com os ataques
públicos entre colegas.
O petista lembrou que esse tipo de embate só traz
mais desgaste ao governo, gerando a imagem de uma crise permanente na Esplanada
dos Ministérios.
Segundo assessores, Lula fez questão de fazer a
reprimenda em sua equipe porque avaliou que, na última semana, as críticas
públicas entre ministros atingiram um patamar muito negativo.
O presidente disse, de forma muito direta, que não
quer embates da equipe em público e que está aberto a receber ministros no
Palácio do Planalto para debater as divergências.
Lula, por sinal, não gostou nem um pouco das
críticas feitas a ele pela ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, que
em entrevista cobrou abertamente do presidente um esforço maior para evitar o
esvaziamento de sua pasta.
Segundo assessores, Lula avaliou que as críticas
públicas da ministra a ele se devem à sua inexperiência no posto, mas que elas
não podem se repetir.
O presidente também não gostou do embate entre os
ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e a do Meio Ambiente, Marina
Silva, em torno da licença para pesquisa de petróleo na bacia da foz do Amazonas.
Os dois trocaram farpas em entrevistas durante a
semana passada e Lula acabou pedindo a seu ministro da Casa Civil, Rui Costa,
que reunisse os ministros para “lavar a roupa suja” dentro do Palácio do
Planalto.
Fonte: IstoÉ Dinheiro/Tribuna da Internet/Poder 360/FolhaPress/g1
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