CNJ
determina correição extraordinária em unidades da Lava Jato
O corregedor-geral de Justiça, ministro Luís Felipe
Salomão, decidiu realizar uma correição extraordinária nos gabinetes da Oitava
Turma do Tribunal Regional Federal da 4a Região (TRF4), com sede em Porto
Alegre, e também na 13ª Vara Federal em Curitiba. Nos locais tramitam os
processos remanescentes da Operação Lava Jato.
Os dois ganharam notoriedade durante a Operação Lava
Jato ao condenar Lula (PT) duas vezes a até 17 anos de prisão. A 13ª Vara foi
comandada pelo então juiz Sergio Moro nos anos da Lava Jato e, até a semana
passada, era liderada por seu substituto Eduardo Appio, que foi afastado da
função.
A operação da corregedoria, órgão do CNJ (Conselho
Nacional de Justiça), que fiscaliza a magistratura, passará um pente fino
rigoroso no trabalho da 13ª Vara e nos gabinetes dos desembargadores da Oitava
Turma da Corte, com acesso, inclusive, a documentos arquivados em seus
computadores.
A Oitava Turma é integrada justamente pelos
magistrados que condenaram Lula e outros réus da Lava Jato. Atualmente, ela é
composta por Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, Loraci Flores de Lima e
Marcelo Malucelli.
O procedimento ocorrerá entre quarta (31) e
sexta-feira (2) desta semana. Intimações serão feitas para que pessoas prestem
depoimentos sobre tudo o que ocorre na vara e no TRF-4.
A portaria informando a providência foi publicada
nesta terça (30). “Os trabalhos que se iniciam já nesta quarta-feira, 31/5,
deverão ser concluídos na sexta-feira, dia 2”, informou o Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), em nota. Os prazos processuais de ambas as unidades não serão
suspensos.
Na portaria que determina a correição, Salomão demanda
a disponibilização de uma sala para a condução das oitivas e equipamento que
permita a captação de som e de imagem. Aqueles que forem chamados a prestar
depoimento terão seus celulares recolhidos, a fim de garantir a
“incomunicabilidade”.
Os trabalhos serão conduzidos por um juiz federal,
um desembargador federal e um juiz de direito, todos indicados por Salomão. Os
três receberam poderes para intimar e interrogar servidores e magistrados, bem
como para garantir a incomunicabilidade dos depoentes. Para isso, celulares
poderão ser recolhidos.
O procedimento visa à “apuração de fatos
relacionados ao conhecimento e à verificação do funcionamento dos serviços
judiciais e auxiliares, havendo ou não evidências de irregularidades”, diz a
portaria.
A medida foi tomada após Salomão ter recebido, na
semana passada, diversas reclamações disciplinares contra o juiz federal
Eduardo Appio, atual titular da 13ª Vara, e contra desembargadores da Oitava
Turma do TRF4. Nas últimas semanas, as duas instâncias judiciais responsáveis
pela Lava Jato têm protagonizado um embate de decisões e providências
relacionadas à operação.
Na semana passada, Appio foi afastado da 13ª Vara
Federal por decisão da Corte Especial Administrativa do TRF4. A justificativa
foi de que o magistrado teria se passado por outra pessoa ao ligar para o filho
do desembargador Marcelo Malucelli, revisor dos casos da Lava Jato.
A intenção seria confirmar a identidade de João
Eduardo Malucelli, filho do desembargador e advogado que é sócio do escritório
do senador Sergio Moro (União Brasil-PR), ex-juiz responsável pela Lava Jato,
conforme o registro de sociedades na seccional do Paraná da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB). Ele também é genro do parlamentar.
O desembargador Malucelli foi nomeado em abril para
supervisionar os casos da Lava Jato. Ele é autor de uma decisão que, na
prática, resultaria na prisão de Rodrigo Tacla Duran, advogado que já atuou
para a empreiteira Odebrecht e que acusa Moro de tentativa de extorsão em casos
ligados à Lava Jato.
Tal decisão cassava uma outra, assinada por Appio,
que havia revogado a prisão preventiva de Tacla Duran, após ter colhido novo
depoimento dele, neste ano. Após a revelação das ligações entre Malucelli e a
família, o CNJ abriu procedimento disciplinar contra o desembargador, que pouco
depois se declarou impedido de atuar em processos da Lava Jato.
A ordem de prisão preventiva contra Tacla Duran, que
motivou o embate de reclamações disciplinares, havia sido determinada por Moro
e constava há anos como pendente de cumprimento. Isso porque o advogado se
refugiou na Espanha, país em que é naturalizado.
O caso também é analisado no Supremo Tribunal
Federal (STF). Antes da aposentadoria, em maio, o ministro Ricardo Lewandowski
determinou a suspensão de qualquer processo e decisão relacionados ao caso
Tacla Duran. Tal decisão teria sido desrespeitada por Malucelli, alega Appio. O
desembargador faz a mesma reclamação em relação ao magistrado.
O atual relator, ministro Dias Toffoli, reiterou a
suspensão dos processos relacionais ao caso Tacla Duran e pediu que os autos
sejam todos remetidos ao Supremo, para análise.
Caso seja confirmada a ocorrência de “fatos graves
ou relevantes”, o órgão pode determinar medidas “necessárias, urgentes ou
adequadas” para suprir “as necessidades ou deficiências constatadas”, de acordo
com o regimento interno do CNJ, que regulamenta as atribuições do órgão.
O TRF-4 teve papel de destaque na Lava Jato porque
cabia à Corte revisar os atos e decisões do então juiz Sergio Moro, hoje
senador do União Brasil pelo estado do Paraná.
Durante os anos da operação, as medidas de Moro no
processo que levou Lula à prisão foram irrestritamente aprovadas pelos
desembargadores.
Em 2018, o TRF-4 analisou recurso de Lula e não
apenas manteve a decisão de Moro, de condená-lo no processo do triplex do
Guarujá, como aumentou a pena, de 9 anos e seis meses de prisão para 12 anos e
um mês.
No ano seguinte, a Corte do Sul do país voltou à
carga. Ao analisar recurso de Lula em outro processo, o do sítio de Atibaia, o TRF-4
aumentou também essa segunda pena, de 12 anos e 11 meses para 17 anos, um mês e
dez dias de detenção.
No decorrer das ações, os desembargadores negaram
todos os pedidos de suspeição e queixa-crime apresentados contra o então juiz
feitos pela defesa de Lula.
Na semana passada, a Corte voltou às manchetes ao
afastar o juiz Eduardo Appio da 13ª Vara Federal de Curitiba.
O magistrado estava revendo todas as decisões
tomadas por Moro na Lava Jato.
Ele é acusado de telefonar para o filho de um dos
desembargadores se passando por terceira pessoa para ter acesso a seus dados
pessoais.
O ato foi entendido como ameaça. A defesa do juiz
nega.
CNJ
intima Malucelli e 13ª Vara Federal de Curitiba a se explicarem sobre caso
Tacla Duran
O corregedor nacional de Justiça, ministro Luís
Felipe Salomão, intimou o desembargador Marcelo Malucelli, do Tribunal Regional
Federal da 4ª Região (TRF-4), e o juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR)
para se explicarem sobre suspeitas que são apuradas em pedido de providências no
Conselho Nacional de Justiça (CNJ). As informações são do Conjur.
Trata-se de intimações distintas: uma delas é movida
pelo advogado Rodrigo Tacla Duran, que apresentou queixas contra as decisões
tomadas contra ele pelo TRF-4. Tacla Duran pede o afastamento do desembargador
Marcelo Malucelli e a instauração de processo administrativo disciplinar contra
ele.
A segunda intimação é fruto de um pedido realizado
pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). Calheiros se refere às decisões tomadas
na ação contrária a Tacla Duran, mas pede, liminarmente, a suspensão de todas
as decisões assinadas por Malucelli "nos processos onde seu filho figura
como parte, interessado ou advogado de outras partes, até o julgamento final
desta representação".
Por fim, a terceira intimação atende a um pedido do
senador Rogério Carvalho (PT-SE). Carvalho defende a instauração de processo
administrativo disciplinar em razão de possível suspeição do desembargador por
vínculos familiares com a família do ex-juiz e senador Sérgio Moro (União
Brasil-PR) e com a deputada federal Rosângela Moro (Podemos-SP).
• Appio
sugere retaliação do TRF-4 por postura crítica à Lava Jato
A defesa do juiz Eduardo Appio protocolou junto ao
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), na noite desta sexta-feira (26), uma
apelação contra o afastamento do magistrado de suas funções na 13ª Vara Federal
de Curitiba, responsável pelos processos oriundos da Lava Jato.
Crítico ferrenho dos métodos da operação, Appio foi
afastado na segunda-feira (22) após o Tribunal Regional Federal da 4ª Região
(TRF-4) acolher uma representação protocolada pelo desembargador Marcelo
Malucelli, da 8ª turma da corte, que acusou o juiz de ameaça por um suposto
telefonema feito ao seu filho, João Eduardo Barreto Malucelli - que é sócio do
escritório de advocacia do senador e ex-juiz da 13ª Vara Federal, Sergio Moro
(UB-PR), e namorado da filha do ex-juiz.
Segundo Malucelli, Appio teria fingido ser um
servidor da Justiça Federal, questionado se João era mesmo seu filho e
supostamente feito perguntas com tom ameaçador.
Na apelação contra o afastamento, o advogado Pedro
Serrano, que assumiu o caso de Appio, afirma que os desembargadores do TRF-4
não possuem imparcialidade para julgá-lo e sugere também que a punição seja, na
verdade, uma retaliação do tribunal à postura crítica do magistrado contra a
Lava Jato, o que estaria gerando "indisposições locais".
"Referidas indisposições locais, inclusive,
ensejaram redução injustificada da estrutura administrativa à disposição",
diz um trecho do documento, que solicita uma correição extraordinária na 13ª
Vara Federal.
De acordo com a apelação, Appio foi
"violentamente privado de qualquer acesso ao prédio da Justiça
Federal" e, por competência, o caso deveria ser julgado em Brasília, e não
pelo TRF-4, cuja sede é em Porto Alegre (RS).
A defesa argumenta que o juiz não foi ouvido para o
"mínimo contraditório" e destaca a falta de sigilo sobre o
procedimento, que estava em segredo na corregedoria do tribunal e se tornou
público quando foi para a corte administrativa.
"Outro aspecto que justifica a pronta avocação
por parte do CNJ é que o afastamento do juiz natural repercute sensivelmente
sobre casos relativos à Lava Jato, bem como para investigações e processos
penais em curso de grande magnitude", diz um trecho do documento.
Inspeção
"vai dar problema" para Lava Jato e TRF-4, afirma jurista
O jurista e advogado Fernando Fernandes concedeu uma
entrevista ao programa Fórum Onze e Meia desta terça-feira (30). O especialista
esclareceu quais serão os próximos passos da inspeção comandada pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), instituída hoje, contra o Tribunal Regional Federal
da 4ª Região, da 13ª Vara de Curitiba e da Operação Lava Jato.
Segundo Fernandes, a inspeção poderá abrir todos os
processos instituídos pela Lava Jato e poderá avaliar quais são os segredos
obscuros da operação que prendeu centenas de políticos, incluindo a prisão
ilegal do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Vai dar problema para eles. Porque veja: essa
inspeção funciona da seguinte maneira: é correição. Na correição, tudo pára na
vara. Há uma fiscalização de todos os processos e procedimentos naquela
serventia, de forma que os membros da fiscalização podem olhar, investigar,
concatenar todos os procedimentos que estão naquela jurisdição", explicou
Fernandes.
Para o jurista, existe uma questão clara: o problema
está nas delações premiadas e nos acordos entre a Lava Jato e os delatores,
além da garantia de remuneração.
“E aqui digo, e mando aqui um recado e uma luz. Eu
tenho repetido o tempo inteiro: a hora que analisarem os procedimentos
sigilosos de sequestro e liberação de bens que tramitam na 13ª Vara aos
cuidados de Sérgio Moro, vai dar problema”, disse o especialista.
A correição foi instituída depois que o juiz Eduardo
Appio, um garantista, foi removido da 13ª Vara Criminal de Curitiba por um
suposto telefonema ameaçando o filho de um desembargador do TRF-4.
A remoção foi a gota d'água para o CNJ, que ordenou
a inspeção a partir da “existência de diversas Reclamações Disciplinares em
face dos Juízes e Desembargadores que atuam na 13ª Vara Federal da Subseção
Judiciária de Curitiba e na 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª
Região”.
Para Fernandes, a abertura dos processos abrirá uma
"Lava Jato da Lava Jato" e pode causar problemas contra Sérgio Moro e
sua turma.
Fonte: IstoÉ/FolhaPress/Fórum
Nenhum comentário:
Postar um comentário