Diretores
de maiores entidades científicas da França pedem punição de Didier Raoult, o
"Dr. Cloroquina"
A imprensa francesa desta segunda-feira (29)
repercute a publicação de uma tribuna no jornal Le Monde que contesta a
ausência de punição contra o médico francês Didier Raoult, especialista em
doenças infecciosas, que virou celebridade no auge da pandemia de Covid-19. Na
época, ele utilizou uma série de medicamentos sem eficácia científica
comprovada em pacientes contaminados pelo vírus: "um enorme escândalo
sanitário", sem nenhuma consequência até hoje, dizem os signatários do
manifesto.
"Na ausência de reação das autoridades, falhas
graves podem se tornar comuns", afirmam diretores de 16 grandes
organizações francesas de pesquisas científicas, além do professor Alain
Fischer, uma das maiores autoridades médicas da França, presidente da Academia
das Ciências. Esses especialistas alertam que alguns testes clínicos realizados
durante a pandemia pelo Instituto Hospitalar Universitário de Doenças
Infecciosas de Marselha, no sul da França - dirigido por Raoult até 2022 -
desrespeitaram protocolos científicos e normas jurídicas.
"A prescrição sistemática a pacientes com
Covid-19, quaisquer que sejam sua idade e sintomas, de medicamentos tão
variados como hidroxicloroquina, zinco, ivermectina ou azitromicina, foi
realizada inicialmente sem bases farmacológicas sólidas e na ausência de
qualquer prova de eficácia", diz o texto publicado pelo jornal Le Monde no
domingo (28). Os autores do manifesto ressaltam que o mais grave é que esses
testes continuaram durante mais de um ano, após a demonstração formal de sua ineficácia,
"fora de qualquer autorização científica e de qualquer quadro ético ou
jurídico".
Os signatários ainda apontam que o grande destaque
que essas práticas tiveram na época ajudaram a contribuir a desconfiança de
muitos cidadãos na ciência, na pesquisa, nas autoridades sanitárias e nos
especialistas. "No contexto particularmente tóxico da crise sanitária, as
declarações peremptórias proclamando a eficácia desses tratamentos,
infelizmente, tiveram grande sucesso entre o público", com consequências
graves até hoje, reiteram.
·
Nenhum indiciamento
Em sua edição desta segunda-feira, o jornal Le
Parisien lembra que, em abril, a Agência Nacional de Segurança do Medicamento
da França (ANSM) indicou que a utilização da hidroxicloroquina "expõe
pacientes a potenciais efeitos colaterais que podem se tornar graves".
Após a publicação de um relatório contundente da entidade sobre as más práticas
realizadas por Raoult durante a pandemia, em julho de 2022, o Ministério
Público de Marselha abriu uma investigação, mas até o momento sem nenhum
indiciamento, afirma o diário.
Questionado durante um programa de rádio e TV no
domingo, o ministro francês da Saúde, François Braun, indicou que sua pasta e o
Ministério do Ensino e da Pesquisa notificaram a justiça sobre o modo de
funcionamento do Instituto Hospitalar Universitário de Doenças Infecciosas
Mediterranée de Marselha e que uma investigação está sendo realizada.
Aposentado desde 2021, Raoult foi substituído na
direção da entidade por Pierre-Edouard Fournier. "Todos os testes clínicos
em humanos foram suspensos desde então", conclui o jornal Le Parisien.
"Na ausência de medidas apropriadas, o que
aconteceu continuará sendo visto pelos cidadãos como um comportamento
aceitável, até mesmo desejável, podendo semear dúvidas com consequências
dramáticas na participação de pacientes na pesquisa", dizem ainda os
autores do manifesto. Por isso, para esses especialistas, "a inação não é
mais uma opção".
Fonte: RFI
Nenhum comentário:
Postar um comentário