Estreitos
no mar Negro são 'trunfo de Ancara' na mediação do conflito ucraniano, diz
analista
A Turquia não vai fazer mudanças significativas em
sua abordagem do conflito ucraniano, enquanto Washington poderá realizar várias
provocações contra Ancara. No entanto, Erdogan aguardará a chegada de Trump, ou
de alguém semelhante a ele, à presidência para discutir uma série de questões
urgentes, acreditam especialistas.
Ontem (28), o atual presidente da Turquia Recep
Tayyip Erdogan foi reeleito no segundo turno para mais um mandato, com mais de
52% dos votos, afirmou o chefe do Conselho Supremo Eleitoral da Turquia, Ahmet
Yener. Os resultados finais da eleição serão publicados depois de 1º de junho.
"Não é de esperar nenhuma mudança significativa
na abordagem paradoxal de Erdogan em relação à Ucrânia. Embora Ancara, de um
lado, tenha declarado neutralidade, do outro, deu veículos blindados à Ucrânia,
não perdendo nada com a sua abordagem entusiasmada relativamente à
mediação", disse o analista turco Engin Ozer à Sputnik.
Segundo ele, os estreitos de Bósforo e de Dardanelos
são o "trunfo mais importante de Ancara" na mediação do conflito e os
processos como o acordo de grãos só a favorecem nesse sentido.
Falando da situação política interna na Turquia,
Ozer diz que o ambiente social necessário para uma revolução colorida no país
não está totalmente pronto e não o deverá estar em um futuro próximo.
Revoluções Coloridas é a designação atribuída a uma
série de manifestações políticas de oposição nas repúblicas pós-soviéticas e
nos Estados islâmicos que envolveram a derrubada de governos, considerados
anti-ocidentais, e sua substituição por governos pró-ocidentais ou pró-OTAN.
"Os americanos sabem que o público turco vai
ver qualquer intervenção estrangeira de forma nacionalista e que esse processo
irá contra eles. Os problemas na economia, a inflação alta e os refugiados
sírios são as preocupações mais importantes do governo. Podemos esperar que os
Estados Unidos façam algumas provocações, especialmente em relação aos
refugiados, e tomem medidas que vão criar uma necessidade repentina de moeda
estrangeira no setor financeiro turco", enfatizou.
De acordo com o analista político turco e
ex-representante comercial turco em Moscou Aydin Sezer, Erdogan vai aguardar a
eleição do ex-presidente dos EUA Donald Trump ou de alguém semelhante a ele
para discutir uma série de problemas prementes nas relações entre os dois
países.
Sezer também acredita que não se deve esperar
nenhuma reviravolta no momento.
"Resolver problemas estruturais entre a Turquia
e os EUA não é fácil, pois o apoio de Washington ao Partido dos Trabalhadores
do Curdistão terrorista [...] as sanções econômicas contra a Turquia, a questão
da entrega do [sistema de mísseis antiaéreos russo] S-400 permanecem em vigor
[...] Erdogan vai esperar pelas eleições nos EUA e a eleição de Trump ou de
alguém semelhante a ele", disse o especialista.
Erdogan foi parabenizado antes de Biden por Trump,
que em sua página na Truth Social chamou a vitória do líder turco de
"grande e bem merecida".
Durante a campanha eleitoral de 2020, Biden prometeu
apoiar a oposição turca caso vencesse a eleição presidencial dos EUA.
Em resposta, o porta-voz da presidência turca,
Ibrahim Kalin, acusou Biden de ignorância, arrogância e hipocrisia. De acordo
com a CNN, Biden também chamou Erdogan de "autocrata".
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Especialistas prognosticam futura estratégia
política das autoridades turcas
A Sputnik recebeu comentários de analistas políticos
sobre os resultados das eleições e suas previsões sobre a futura estratégia
política das autoridades turcas.
Ontem (28), o atual presidente da Turquia Recep
Tayyip Erdogan foi reeleito no segundo turno para mais um mandato, com mais de
52% dos votos, afirmou o chefe do Conselho Supremo Eleitoral da Turquia, Ahmet
Yener. Os resultados finais da eleição serão publicados depois de 1º de junho.
Analista político turco Ali Fuat Gokce, da
Universidade Gaziantep, acredita que, enquanto a Turquia vai continuar sua
atual política externa, será muito importante quem vai tomar o cargo do
ministro das Relações Exteriores da Turquia.
Segundo ele, o possível candidato ao cargo é o
porta-voz do presidente Ibrahim Kalin que, de acordo com Gokce, é mais
pró-ocidental do que o atual ministro Mevlut Cavusoglu.
"No entanto, a Turquia não dará as costas ao
Oriente Médio e à Ásia de forma alguma. A política externa da Turquia
continuará a seguir um caminho equilibrado", acha o especialista.
Ele aponta que, no momento, as principais áreas da
política externa turca são a eliminação do corredor terrorista na Síria,
normalização das relações com as autoridades sírias, resolução da crise
russo-ucraniana e estabelecimento da paz entre o Azerbaijão e a Armênia.
A interação com a Grécia sobre as ilhas do mar Egeu
e a questão do Chipre também são de grande importância para a Turquia.
O cientista político e especialista em relações
internacionais da Universidade de Mármara Baris Doster considera o governo
atual da Turquia extremamente pragmático, "o que se reflete em sua
capacidade de dar uma meia-volta brusca na política externa".
"Há muitos exemplos disso, como as relações com
Israel, Catar, Emirados Árabes Unidos, Egito e Arábia Saudita. Quando as
relações com o Oriente estão ruins, a Turquia se volta para o Ocidente e,
quando as coisas estão difíceis com o Ocidente, ela se volta para o Oriente.
Contudo, na situação atual, acredito que o vetor político atual
continuará", disse ele.
Erdogan manterá uma política externa independente e
multivetorial, mas não "desafiará" os Estados Unidos e não se
retirará da OTAN, disse Amur Gadzhiev, pesquisador do Instituto de Estudos do
Oriente russo.
Segundo o especialista, as relações russo-turcas
"continuarão a se desenvolver pelo curso definido anteriormente".
"Não haverá mudanças radicais na política
externa da Turquia, o que significa que o vetor de desenvolvimento das relações
russo-turcas não será sujeito a nenhum ajuste importante", enfatiza.
Por sua vez, a cientista especializada em Oriente
Médio Alina Sbitneva acredita que a vitória eleitoral de Erdogan é "a
opção mais favorável de todas" para a Rússia, mas isso não significa que
todas as divergências em relação à Ucrânia e à Síria desaparecerão com a
reeleição de Erdogan.
Ø Lavrov diz que
acordo de grãos do Mar Negro corre risco de colapso
A Rússia alertou o Ocidente nesta segunda-feira de
que um acordo que permite a exportação de grãos ucranianos no Mar Negro cessará
a menos que um compromisso da Organização das Nações Unidas (ONU) destinado a
superar os obstáculos às exportações russas de grãos e fertilizantes seja
cumprido.
A ONU e a Turquia intermediaram o acordo do Mar
Negro por 120 dias iniciais em julho do ano passado para ajudar a enfrentar uma
crise alimentar global que foi agravada pela invasão de Moscou à Ucrânia, um
dos principais exportadores mundiais de grãos.
A Rússia tem alertado repetidamente que permitirá
que o acordo expire devido aos obstáculos às suas próprias exportações de grãos
e fertilizantes causados pelas sanções ocidentais, mas concordou em prorrogá-lo
por mais dois meses em 17 de maio.
"Se tudo permanecer como está, e aparentemente
permanecerá, então será necessário partir do fato de que (o acordo) não está
mais funcionando", disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia,
Sergei Lavrov, durante uma visita a Nairóbi, quando questionado se o acordo do
Mar Negro deveria ser prorrogado novamente.
Lavrov, cuja visita ao Quênia é o primeiro passo de
uma turnê pela África, disse que o memorando ONU-Rússia não foi cumprido
"de forma alguma". O compromisso foi alcançado ao mesmo tempo que o
acordo do Mar Negro.
Embora as exportações russas de alimentos e
fertilizantes não estejam sujeitas a sanções ocidentais, Moscou diz que elas
são prejudicadas por restrições de pagamentos, logística e seguros.
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Lavrov: apego do Ocidente à fórmula bárbara de
Zelensky diz que estão dispostos a apoiar genocídio
O ministro das Relações Exteriores russo Sergei
Lavrov, respondendo à pergunta da Sputnik durante uma coletiva de imprensa na
sua visita ao Quênia, disse que o Ocidente não pode aceitar nenhuma outra
proposta além da fórmula bárbara do presidente ucraniano Vladimir Zelensky, o
que significa que eles apoiam o genocídio.
Em 16 de maio, o presidente sul-africano Cyril
Ramaphosa disse que Putin e Zelensky haviam concordado em receber uma missão de
líderes africanos com sua iniciativa de paz sobre o conflito ucraniano.
Em 18 de maio, o ministro das Relações Exteriores da
Rússia, Sergei Lavrov, disse que uma missão africana com uma iniciativa de paz
sobre a Ucrânia planeja visitar a Rússia em meados de junho ou início de julho.
"No que diz respeito à iniciativa [de paz]
africana, Washington e Londres provavelmente não podem aceitar, como já
declararam repetida e publicamente, nada além da chamada fórmula de paz de
Zelensky, que eles estão inserindo de todas as formas em todos os documentos do
G7 [Grupo dos Sete], da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] e da
UE [União Europeia], exigindo que todos a sigam", disse Lavrov.
O ministro lembrou que a fórmula de Zelensky
implica:
# a retirada da Rússia da Crimeia e das regiões de
Donbass, Zaporozhie e Kherson;
um tribunal sobre a Rússia e sua liderança;
# o pagamento de reparações.
E somente depois de tudo isso, a fórmula pressupõe a
assinatura de um tratado de paz.
Lavrov também recordou declarações anteriores de
Zelensky e as recentes do secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional
da Ucrânia, Aleksei Danilov, e do conselheiro do chefe do gabinete do
presidente da Ucrânia, Mikhail Podolyak, sobre os russos que vivem na Ucrânia.
"Zelensky declarou, há três ou dois anos, que
se alguém se sente russo entre os cidadãos ucranianos, então, para o bem do
futuro de seus filhos e netos, 'vá para a Rússia' [...] Danilov e Podolyak
disseram [...] que, após a recuperação da Crimeia e dos territórios do leste da
Ucrânia, eles exterminariam tudo o que é russo lá, inclusive até a eliminação
física dos cidadãos russos."
Considerando tudo isso, "essa posição do
Ocidente e sua adesão exclusivamente a essa fórmula bárbara e bestial de
Zelensky significa que eles estão prontos para apoiar o genocídio. Não tenho
mais nada a acrescentar aqui", concluiu Lavrov.
Falando aos jornalistas, o chefe da chancelaria
russa abordou a questão de transferência do comércio internacional para moedas
nacionais.
"Esse é um processo objetivo, que vai ganhar
impulso, e acreditamos que vai ter um efeito saudável na economia mundial, no
comércio internacional e nos laços econômicos e de investimento", disse
ele.
A Rússia e seus parceiros estão mudando ativamente
para moedas nacionais à medida que o volume de negócios entre eles cresce, com
a participação do dólar diminuindo constantemente, afirma Lavrov.
"A transferência para pagamentos em moedas
nacionais vai ser de importância prática e o futuro vem atrás disso. Não se
trata apenas da África, mas também da América Latina, de nossos parceiros na
Ásia, do Irã, da Índia e da China", acrescentou Lavrov.
Quando perguntado sobre o treinamento dos pilotos
ucranianos para pilotar os caças F-16, o ministro afirmou que as tropas russas
serão capazes de responder a tais intenções dos países ocidentais.
"Quanto à nossa resposta, não tenho dúvidas de
que nossas Forças Armadas têm a capacidade de responder a isso", disse o
diplomata.
Segundo ele, alguns países europeus, inclusive a
Dinamarca e os Países Baixos, buscam estar na vanguarda dessa questão para
agradar aos EUA.
"Aqui, acima de tudo, há um desejo de agradar à
hegemonia. Esses países estão seguindo ativamente a linha de Washington nos
assuntos europeus", enfatizou Lavrov.
Na recente cúpula do G7 em Hiroshima, o presidente
dos Estados Unidos Joe Biden delineou para seu homólogo ucraniano Vladimir
Zelensky os planos para treinar pilotos ucranianos a pilotar F-16s.
De acordo com o assessor de Segurança Nacional da
Casa Branca, Jake Sullivan, Washington e seus aliados vão decidir nos próximos
meses quem fornecerá essas aeronaves às Forças Armadas da Ucrânia e em que
quantidade.
Ø Dinamarca planeja enviar US$ 2,6 bilhões a mais à Ucrânia em ajuda
militar, diz premiê
O anúncio dinamarquês acontece antes das visitas
esta semana do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, a
Copenhague, Suécia, Noruega e Finlândia.
A Dinamarca planeja aumentar seus gastos com ajuda
militar à Ucrânia em US$ 2,59 bilhões (R$ 12,59 bilhões) neste ano e no
próximo, disse a primeira-ministra do país, Mette Frederiksen. A premiê
concedeu a declaração em entrevista a uma rádio pública do país nesta
segunda-feira (29), de acordo com a Reuters.
O Estado dinamarquês, com uma população de menos de
seis milhões, estabeleceu em março um fundo de US$ 1 bilhão (R$ 4,99) para
ajuda militar, civil e comercial à Ucrânia em 2023.
A Rússia já deixou claro que ajuda militar enviada
por terceiros à Ucrânia serão alvos legítimos das forças russas no conflito.
Ao mesmo tempo, Frederiksen é vista como uma
possível candidata a se tornar a novo chefe da OTAN já que Jens Stoltenberg,
secretário-geral da aliança militar transatlântica, deve renunciar em setembro.
O país dinamarquês tem se mostrado bastante
empenhado em atingir a Rússia, não só através das elevadas ajudas militares a
Kiev, mas também ao colocar Moscou como um alvo a ser combatido por sua defesa.
Em meados de maio, o governo divulgou a nova
estratégia militar do país incluindo tópico para "combater a ameaça
russa", conforme noticiado.
Fonte: Sputnik Brasil/Reuters
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