Carne:
vilã para o planeta e a saúde humana?
O consumo de carne vem aumentando
drasticamente desde a década de 1960, especialmente da década de 1980 em
diante. Alguns estudos sugerem que, de 1960 a 2010, houve um aumento de 204% na oferta de
produtos cárneos; outros relatam aumentos de até 500%, de 1992 até
2016.
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Por que o consumo de carne aumentou?
Segundo uma pesquisa publicada na revista Science, em 2018, a quantidade média de carne consumida por pessoa
globalmente quase dobrou nos últimos cinquenta anos, comparada a outros
alimentos, passando de cerca de 23 quilos em 1961 para 43 quilos em 2014. E, à
medida que a população mundial e a renda individual continuam crescendo, esse
consumo deve subir ainda mais.
Um relatório da ONU, publicado em 2012, estima que o
consumo global de carne aumente 76% até a metade do século 21,
especialmente a bovina. Mas, na prática, quais seriam os impactos dessa taxa
crescente? Cientistas são praticamente unânimes ao afirmar que o consumo
exacerbado de carne desempenha um papel significativo nas emissões
de gases do efeito estufa e na redução da biodiversidade.
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Qual é a definição de carne?
A carne é o todo o tecido que cobre o
esqueletos dos animais. Ela é dividida em duas principais categorias,
a carne branca e a carne vermelha. A primeira refere-se a
peixes e aves, enquanto a segunda é caracterizada pela carne de boi e de porco.
Esse tipo de alimento tem alto valor biológico e é rico em proteínas,
vitaminas, gorduras e minerais.
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Benefícios e importância para humanos
A carne magra é considerada uma excelente
fonte de proteína, fornecendo todos os aminoácidos essenciais para a saúde. Uma porção de
cem gramas de carne bovina magra, por exemplo, fornece 205 calorias,
27 gramas de proteína. Além disso, ela contém riboflavina, niacina, vitamina
B6, vitamina B12, fósforo, zinco e selênio. O porco, particularmente, também é
rico em tiamina, segundo pesquisas.
O fígado e outros órgãos também são ricos em
vitamina A, vitamina B12, ferro e selênio, além de colina. Este último, por sua vez, é um nutriente importante para a saúde do
cérebro, músculos e fígado. Estudos também sugerem que dietas ricas em carne aumentam a taxa
metabólica, reduzem a fome e promovem saciedade. Outros benefícios do consumo
de carne incluem retenção de massa muscular, ossos mais fortes e
melhor absorção de ferro.
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Desvantagens do consumo de carne
Embora seja uma importante fonte de nutrientes,
também é evidente que um grande consumo desta fonte de proteínas também tem um
impacto ambiental negativo. Segundo um estudo de 2020, a produção de carne tem uma
influência negativa nas emissões de gases do efeito estufa, pegada hídrica, poluição e escassez de água. No que diz respeito à saúde humana, a
Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC) associou o consumo
de carne vermelha e carne processada ao desenvolvimento de câncer em seres humanos.
A maioria dos contaminantes ambientais
frequentemente encontrados em carnes são altamente solúveis em gorduras.
Portanto, evitar a ingestão de gorduras saturadas de carnes vermelhas e
derivados ajudaria na prevenção de doenças cardiovasculares já relacionadas ao
consumo de gorduras e de certos tipos de câncer, principalmente o colorretal.
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Impacto ambiental da carne
O aquecimento global é uma grande preocupação do nosso século, em um cenário de
enfrentamento às mudanças
climáticas. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as atividades humanas foram as responsáveis pelo aumento de 1 °C na temperatura da Terra,
sendo 1,53 °C mais alto entre 2006 e 2015 em relação às temperaturas da era pré-industrial, entre 1850 e 1900. Além disso,
essas atividades estão atualmente aumentando a temperatura global a uma taxa de
0,2 °C por década.
Até 23% do total de emissões de gases do efeito
estufa são derivados da agricultura, silvicultura e outros usos da terra. Dessa forma, eles estão entre os
principais contribuintes para o aquecimento global, de acordo com o IPCC.
Para piorar, a superexploração agrícola, com
fazendas e campos maiores, e o uso de pesticidas e fertilizantes, estão
causando uma perda de biodiversidade natural e habitats. Entre as
práticas agrícolas, a pecuária também é um importante contribuinte para as
mudanças climáticas globais. Ela contribui com 12% a 18% para o total de
emissões dos gases do efeito estufa.
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Reduzir consumo de carne é urgente
É importante lembrar que diferentes sistemas de
produção podem ter mais ou menos impacto no meio ambiente. Um estudo de 2010
avaliou as consequências ambientais de sistemas diversos de produção
de carne bovina na União Europeia. Como resultado, concluiu-se que a
criação intensiva de bezerros leiteiros contribuiu menos para o aquecimento
global do que a carne engordada a partir de rebanhos em aleitamento.
Tal prática é um método de produção extensivo.
Assim, é fundamental priorizar sistemas de produção
de carne menos nocivos ao planeta. Porém, há também uma necessidade
urgente de mudar os hábitos alimentares das populações globais. Essa urgência
cai, sobretudo, nos países ocidentais desenvolvidos, em um esforço para reduzir
o consumo de carne.
Segundo um estudo de 2020, somente cerca de 5% da população mundial se
considera vegetariana, enquanto 14 e 60% se definem como flexitarianos, pessoas que
evitam ou tentam reduzir o consumo de carne no dia a dia, mas não a
eliminam completamente da dieta.
No entanto, existem alguns motivos pelos quais
adotar dietas de baixo ou nenhum teor de carne pode ser um ponto
positivo para a saúde do planeta e humana.
Algumas pesquisas relatam diferenças significativas nas emissões de carbono de dietas que
incluem carne e dietas vegetarianas. Um estudo de 2014, por exemplo, concluiu que dietas ricas
em carne emitem 7,19 equivalentes de dióxido de
carbono por dia. Uma dieta vegetariana, entretanto,
emite somente 3,81. Isso equivale a uma redução de quase metade das emissões de
gases do efeito estufa. A diminuição é ainda menor quando se trata de dietas veganas, que emitem somente 2,89 de CO2 por dia.
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Efeitos da ingestão de carne na saúde humana
Desde 2015, a carne processada é
classificada pela Organização Mundial da Saúde em um grupo de 120 cancerígenos
comprovados ao lado de álcool, amianto e tabaco. De acordo com o Cancer Research
do Reino Unido, se ninguém comesse carne processada ou vermelha na
Grã-Bretanha, haveria 8.800 casos a menos de câncer por ano.
De acordo com um estudo publicado em 2020, o consumo excessivo de
carne e produtos de origem animal pode ser prejudicial à saúde humana. Isso
porque esse alimento pode estar relacionado ao câncer, a doenças do coração, à
doença metabólica, à obesidade, a diabetes e a episódios de acidente vascular
cerebral. Além disso, o consumo de carne também promove o surgimento e a
disseminação de patógenos resistentes a antibióticos.
Em termos gerais, o consumo
de carne vermelha deve ser reduzido para menos de 50 gramas por dia
para evitar um risco aumentado de câncer de próstata, câncer de mama ou câncer
colorretal. Uma hipótese levantada pelos cientistas para justificar a
associação entre a carne e o desenvolvimento de diversos tipos de
câncer são os contaminantes químicos frequentemente encontrados
em carnes e produtos cárneos. As aves (carnes brancas) contêm
menores quantidades de poluentes ambientais, estando menos associadas ao
desenvolvimento de certas doenças.
Uma pesquisa publicada na revista Science em 2020 também encontrou evidências de que o
aumento do consumo de carne estaria associado ao desenvolvimento de
problemas respiratórios, como a asma, em crianças. Os responsáveis seriam
compostos pró-inflamatórios, chamados produtos finais de glicação avançada
(AGEs), presentes na carne cozida.
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Questões éticas e ambientais
Algumas pessoas optam por não
comer carne porque não acreditam que seja legítimo matar animais para
se alimentar quando existem outras maneiras de atender às suas necessidades
nutricionais. Este é o caso dos veganos e de adeptos de alguns tipos de
vegetarianismo.
Um dos grandes problemas éticos envolvidos no
consumo de carne é o tratamento cruel dispensado aos animais criados
para abate. Eles vivem em confinamento e em grandes complexos industriais superlotados, sob condições
indignas de vida e saúde. Para prevenir doenças, os animais muitas vezes
recebem antibióticos, o que pode levar à resistência a antibióticos em
seres humanos.
Além disso, muitos animais também recebem hormônios esteroides como estrogênio, progesterona e testosterona para
acelerar o crescimento. Isso levanta mais preocupações éticas e de saúde. Para
quem não consome carne, essa atitude é um dos passos para lutar por boas
práticas pecuárias e pelo bem estar animal.
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Considere alternativas
Entretanto, existem alternativas para reduzir os
impactos da produção de carne no planeta. Alguns exemplos incluem dar
preferência a fazendas pequenas. Essas fazendas criam os animais de forma mais
humanizada, sem hormônios e antibióticos. Além disso, fornecem a eles
alimentação natural.
Outra dica é optar por produtos não processados e,
preferencialmente, orgânicos. Evitar o cozimento em altas temperaturas também
torna o produto menos nocivo à saúde. Se você está pensando em reduzir ou
eliminar o consumo de carne da sua dieta, mas tem encontrado dificuldades,
procure retirá-la aos poucos da rotina.
Para começar, você pode aderir à campanha Segunda
sem carne. Ela incentiva a adoção à dieta vegetariana pelo menos uma vez
por semana.
Além disso, muitos produtos vegetarianos disponíveis
no mercado já oferecem textura e sabor muito similares aos de produtos de
origem animal. Muitas vezes, também reforçados com nutrientes essenciais.
Se você considera adotar uma dieta vegetariana,
procure orientação especializada para fazer a transição de forma saudável. Isso
garante a ingestão apropriada de proteínas e vitaminas diárias.
Por outro lado, se você é do time do churrasco e nem
pensa em cortar a carne do cardápio, lembre-se de que reduzir o
consumo já é um grande passo para ajudar no combate às mudanças climáticas.
Aliás, segundo especialistas, é mais efetivo do que deixar de andar de carro!
Fonte: eCycle
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