AS
SANDÁLIAS DE LAMPIÃO FORAM FEITAS PARA QUE ELE FUGISSE DA POLÍCIA
Ao ver o pai ser assassinado durante um conflito
agrário, Virgulino Ferreira da Silva deixou de existir para dar lugar ao famoso
e temido Lampião, considerado o "rei do cangaço"
brasileiro na década de 1930.
Ele ganhou o apelido devido à facilidade que tinha
em manejar o rifle que, de tanto atirar, parecia um candeeiro aceso nas escuras
noites da caatinga. Foi assim que ele se tornou um fenômeno, sobretudo,
histórico e político, de um anti-herói ou bandido que nem mesmo a história sabe
dizer – e que depende da perspectiva de quem conta. “Não sou cangaceiro por vontade
minha, mas pela maldade dos outros”, dizia ele.
O que ninguém pode negar, no entanto, é que sua luta
o tornou um dos mais emblemáticos personagens da história brasileira. Nem por
isso ele deixou de ser perseguido. Tão famosas quanto seu histórico, foram suas
artimanhas para fugir das autoridades. A sagacidade dele foi tanta
que Lampião mandou fazer suas sandálias sob medida para fugir da polícia.
·
O símbolo agreste
Aos 21 anos, um pouco antes de sua vida virar de
cabeça para baixo, Lampião era alfabetizado – algo muito incomum para a região
sertaneja e pobre onde morava – e sonhava em dar uma vida melhor a sua família.
Assim que seu pai morreu, em 1919, durante um confronto com a polícia, tudo
isso desapareceu.
Jurando vingá-lo, ele se juntou aos dois irmãos e
integrou o grupo do cangaceiro Sinhô Pereira. Três anos depois, Lampião já se
tornava o líder do bando em Pernambuco e assassinava o informante que entregou
seu pai à polícia. O cangaceiro também realizou o maior assalto da história do
cangaço contra a Baronesa de Água Branca, em Alagoas. Ali começavam seus anos
de fuga.
Lampião foi perseguido por toda a polícia do
Nordeste ao longo de 20 anos, desafiando não só as autoridades locais, como o
poder central do Brasil. Ele sequestrava coronéis, assassinava seus inimigos e
desafiantes com crueldade, na mesma proporção que distribuía doces para
crianças e remédios aos necessitados. Lampião também se fez presente em
casamentos, festas comemorativas e até batizados, dançando xaxado e cantando
repentes com seu bando.
Além de suas habilidades, o homem ficou conhecido
por criar um dress code que acabou se tornando um símbolo
cultural por todo o sertão. Ele percebeu que a roupa seria motivo de orgulho
dos seus comparsas e imporia respeito por onde passasse.
Seu apurado e extravagante senso estético incluía
símbolos como a cruz de malta (associada aos cavaleiros de Malta), a estrela de
Davi (que oferecia proteção mística) e a flor-de-lis (usada nos escudos da
realeza francesa). Eles foram alinhados com lenços, broches, anéis,
cartucheiras e coletes. Tudo isso o conferiu um ar de realeza.
·
História sendo feita
Mas nem tudo era apenas sobre estilo. Lampião também
pensou em seu conforto e facilidade para conseguir se safar da polícia quando
encomendou uma sandália com o artesão Raimundo Seleiro.
Por meio de um mandante, o homem disse que queria
uma sandália diferente, com solado quadrado e sem marca da curva da sola do pé
para não indicar qual era a frente do calçado. Desse modo, deixaria uma pegada
quadrada na poeira, impedindo que a polícia soubesse sua direção. Ele chegou
até a fazer um desenho de como queria suas sandálias.
Seleiro fez exatamente como o cliente pediu. Dias
depois quando o capanga veio buscar a encomenda, ele ficou sabendo que era para
Lampião. De acordo com seu filho, Espedito Velozo de Carvalho, o pai disse para
que levasse a sandália sem precisar pagar.
O filho Espedito foi responsável por carregar a
marca de Lampião e o legado que as sandálias se tornaram para a família,
fazendo delas o item de moda mais revolucionário da história nacional.
Fonte: Mega Curioso
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