quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Principal conferência de segurança da China visa 'esclarecer posições' e não dar soluções

O Fórum Xiangshan em Pequim provavelmente não levará a progresso na prevenção de conflitos ou medidas para aliviar as tensões regionais, dizem analistas à mídia asiática.

De acordo com o South China Morning Post (SCMP), é provável que Pequim busque aprofundar a comunicação militar com Washington sobre questões espinhosas como o mar do Sul da China, mas segundo analistas ouvidos pela apuração, as tensões devem persistir.

Abordando uma série de questões, incluindo segurança regional, segurança na Europa e no Oriente Médio, bem como o futuro da inteligência artificial (IA), o fórum deste ano acontece enquanto a China e os EUA intensificaram recentemente as comunicações militares.

Segundo analistas, no entanto, é provável que os canais de comunicação estabelecidos não reduzam mensuravelmente as tensões em pontos críticos do mar do Sul da China, mar da China Oriental e estreito de Taiwan.

Shi Yinhong, professor de relações internacionais na Universidade Renmin, estava cético sobre o papel do fórum em promover uma comunicação profunda e substancial entre os militares chineses e norte-americanos.

"O Fórum Xiangshan foi projetado principalmente para abordar princípios gerais", disse Shi. "No entanto, é improvável que leve a acordos específicos sobre prevenção de conflitos ou medidas concretas para abordar situações particulares. Essa não é a missão do fórum."

Timothy Heath, pesquisador sênior de defesa internacional no think tank Rand Corporation, disse que as negociações podem ajudar a administrar as tensões sobre a corrida armamentista na região da Ásia-Pacífico.

"Embora um grande avanço nessas questões difíceis seja improvável, manter negociações é um primeiro passo importante para aliviar as tensões e estabelecer uma relação de trabalho para administrar tais questões", disse ele ao se referir ao contato militar entre Pequim e Washington.

Para o diretor da Iniciativa Taiwan da Rand Corporation, Raymond Kuo, os EUA continuaram a reforçar sua coordenação de segurança com o Japão, as Filipinas e Taipé para "competir com a China no mar da China Oriental, no mar do Sul da China e no estreito de Taiwan, respectivamente".

"Os EUA estão buscando administrar a competição — avançando seus interesses de segurança e os de seus parceiros, mas não tanto que as situações se transformem em conflitos mais abertos e perigosos", disse Kuo, enfatizando seu ceticismo sobre possíveis acordos "para resolver os desafios subjacentes às suas tensões. Trata-se de comunicar e esclarecer posições, não de alcançar algum tipo de solução".

De acordo com o Ministério da Defesa chinês, o Fórum Xiangshan de três dias — a principal conferência anual de segurança da China, vista como a resposta de Pequim ao Diálogo Shangri-La em Cingapura — será realizado em Pequim do dia 12 ao dia 14 de setembro e vai contar com a presença de mais de 700 participantes e delegações oficiais de mais de 90 países, incluindo ministros da defesa e chefes do estado-maior.

¨      Sánchez sobre guerra comercial com Pequim: 'Precisamos construir pontes entre a UE e a China'

O primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez disse que Madri está "reconsiderando" sua posição sobre as tarifas da União Europeia (UE) sobre veículos elétricos (VE) chineses em meio a preocupações de que as crescentes tensões comerciais possam atingir os exportadores nacionais.

Em uma coletiva de imprensa em Kunshan, perto de Xangai, nesta quarta-feira (11), Sánchez disse que era importante encontrar um "compromisso" entre a UE e a China antes da aguardada votação de outubro sobre novas tarifas sobre os VEs chineses.

"Tenho que ser direto e franco [...]. Acho que precisamos reconsiderar, todos nós, não apenas os Estados-membros, mas também a Comissão [Europeia], nossa posição em relação a esse movimento", disse ele aos jornalistas. "Não precisamos de outra guerra, neste caso, uma guerra comercial."

De acordo com o Financial Times (FT), os comentários do premiê espanhol, feitos durante sua segunda viagem à China desde o fim da pandemia de COVID-19, representam uma intervenção significativa em uma disputa comercial entre a China e a UE nos últimos meses e sinalizam uma mudança na própria posição da Espanha.

Ainda no ano passado, a UE empreendeu uma investigação de meses sobre supostos subsídios injustos na indústria automobilística da China, em relação à baixa competitividade das montadoras europeias diante da produção chinesa. Na conclusão da investigação, o bloco de 27 membros propôs em junho um aumento acentuado nas tarifas em até 37,6% sobre os VEs chineses, elevando as tarifas gerais para quase 50% e refletiria medidas semelhantes dos EUA, acusadas de protecionistas por Pequim. Para serem aprovadas, no entanto, as novas taxas precisam obter maioria de 15 Estados-membros na votação.

A Espanha foi um dos 11 países que votaram a favor do aumento das tarifas em uma pesquisa consultiva em julho. Apenas quatro países votaram contra a medida, e nove se abstiveram.

Segundo a apuração do FT, a China respondeu fazendo um forte lobby contra as tarifas, lançando uma série de contramedidas, incluindo uma investigação sobre importações de carne suína da Europa que podem afetar os produtores espanhóis. A China importou US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 8,5 bilhões) em produtos suínos da Espanha no ano passado, mais do que qualquer outro país da UE.

Na segunda-feira (9), o presidente chinês Xi Jinping encorajou Sánchez a desempenhar um "papel construtivo" nos laços entre a China e a UE, enquanto o primeiro-ministro espanhol pediu relações "mais próximas, mais ricas e mais equilibradas", afirmando achar "que precisamos construir pontes entre a União Europeia e a China".

As tensões comerciais são parte de uma deterioração mais ampla nas relações entre Pequim e os governos ocidentais pela falta de planejamento industrial e franca exposição às cadeias de suprimentos chineses, a segunda maior economia do mundo.

O superávit comercial da China com a UE foi de US$ 162,13 bilhões (cerca de R$ 918,2 bilhões) nos primeiros oito meses de 2024, um aumento de quase 6% na relação ano a ano. O superávit comercial da China com a Espanha foi de US$ 17,99 bilhões (aproximadamente R$ 101,9 bilhões) nos sete meses até julho, praticamente inalterado em relação ao ano anterior.

¨      Índia diz que Nova Deli 'não está fechada para negócios da China', mas a questão 'são os termos'

Não estamos excluindo negociar com Pequim, mas a questão é em quais setores e em que termos, disse o ministro das Relações Exteriores, Subrahmanyam Jaishankar, em Berlim nesta terça-feira (10).

Os laços entre os gigantes asiáticos com armas nucleares ficaram tensos desde que estouraram confrontos entre suas fronteiras em 2020. Posteriormente, a Índia reforçou seu escrutínio sobre investimentos de empresas chinesas e interrompeu grandes projetos.

No entanto, autoridades do governo, incluindo a ministra das Finanças, Nirmala Sitharaman, apoiaram recentemente sugestões para permitir mais investimentos chineses no país.

"Não estamos fechados para negócios da China [...]. Acho que a questão é: com quais setores vocês fazem negócios e em quais termos vocês fazem negócios? É muito mais complicado do que uma resposta binária em preto e branco", disse Jaishankar em uma conferência em Berlim, segundo a Reuters.

Em julho, foi ventilado que Nova Deli poderia aliviar as restrições ao investimento chinês em setores não sensíveis, como painéis solares e fabricação de baterias, áreas que o Estado indiano carece de experiência, o que dificulta a fabricação nacional, conforme noticiado.

As negociações diplomáticas e militares para pôr fim ao impasse militar no Himalaia têm progredido lentamente. Em junho, mesmo com aceno do primeiro-ministro, Narendra Modi, a Taiwan, Pequim disse querer "trabalhar a disputa fronteiriça" com a Índia.

Junto ao escrutínio dos investimentos, a Índia também bloqueou virtualmente os vistos para todos os cidadãos chineses desde 2020, mas está considerando facilitá-los para técnicos chineses, pois isso impediu investimentos no valor de bilhões de dólares, escreve a mídia.

¨      EUA: senador admite enfraquecimento do papel do dólar como moeda de reserva principal no mundo

O senador dos Estados Unidos Ron Johnson afirmou nesta terça-feira (10) que o ano de 2023 viu o enfraquecimento do papel do dólar norte-americano como a principal moeda de reserva devido às sanções impostas a Moscou por conta da operação militar especial na Ucrânia.

"Em 2023, o papel do dólar dos EUA como a principal moeda de reserva do mundo enfraqueceu, com nossa dívida nacional ultrapassando US$ 35 trilhões [R$ 198,2 trilhões]. Essa realidade deve preocupar a todos", disse Johnson durante uma comissão do Senado.

Além disso, Johnson acredita que os Estados Unidos estão caminhando para perder sua posição como a moeda de reserva mundial e a chamou de um "problema sério".

Recuo do PIB eleva temor de recessão nos EUA  - Sputnik Brasil, 1920, 09.08.2024

Panorama internacional

Mídia: processo de desdolarização global acelera com BRICS, e 'agora é irreversível'

9 de agosto, 19:30

No início de setembro, o ex-presidente dos EUA Donald Trump expressou uma visão semelhante ao afirmar que as sanções acabam minando o valor do dólar e sua importância global.

Em uma entrevista com Tucker Carlson em fevereiro, o presidente russo, Vladimir Putin, chamou o uso do dólar pelos EUA como uma ferramenta de política externa de um dos maiores erros estratégicos da liderança norte-americana. Até mesmo os aliados do país estão agora reduzindo suas reservas em dólares, com mais nações mudando para moedas nacionais no comércio bilateral, disse Putin.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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