quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Meditação pode aliviar dor e não é “efeito placebo”, mostra estudo

Um novo estudo, publicado na revista científica Biological Psychiatry no final de agosto, mostrou que a meditação mindfulness pode ajudar a reduzir a dor por meio de mecanismos cerebrais específicos que são diferentes daqueles que acontecem no “efeito placebo”. A descoberta diverge da ideia, até então difundida, de que os benefícios da técnica para o sintoma estavam relacionados a uma ativação dos mecanismos relacionados ao efeito placebo no cérebro.

O trabalho, conduzido por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia San Diego, nos Estados Unidos, usou técnicas avançadas de imagem cerebral para comparar os efeitos da redução da dor causados pela meditação mindfulness, um creme placebo e uma meditação mindfulness “simulada” em participantes saudáveis.

Os pesquisadores descobriram que a técnica produziu reduções significativas na intensidade e no desconforto causados pela dor, reduzindo, também, os padrões de atividade cerebral associados ao sintoma e às emoções negativas. Por outro lado, o creme placebo reduziu apenas o padrão de atividade cerebral associado ao efeito placebo, sem afetar a experiência de dor da pessoa.

“A mente é extremamente poderosa, e ainda estamos trabalhando para entender como ela pode ser aproveitada para o gerenciamento da dor”, afirma Fadel Zeidan, professor de anestesiologia e professor titular em Pesquisa de Empatia e Compaixão no Instituto Sanford de Empatia e Compaixão da UC San Diego, em comunicado à imprensa.

“Ao separar a dor do eu e abrir mão do julgamento avaliativo, a meditação mindfulness é capaz de modificar diretamente como vivenciamos a dor de uma forma que não usa medicamentos, não custa nada e pode ser praticada em qualquer lugar”, completa.

<><> O que é efeito placebo?

O efeito placebo é um fenômeno conhecido cientificamente como um mecanismo pelo qual o cérebro pode buscar maneiras de aliviar um sintoma mesmo quando não há uso de medicamentos ou técnicas de tratamento próprias para isso.

Em ensaios clínicos, que avaliam a eficácia de um medicamento para tratar uma determinada doença, o efeito placebo é comumente visto nos grupos de controle (que não recebem a substância em teste). Essas pessoas recebem uma pílula falsa e espera-se que ninguém do grupo veja benefício ao receber esse tipo de tratamento. Afinal, ele não contém a molécula com potencial efeito benéfico para um determinado sintoma ou condição de saúde. Ainda assim, alguns participantes relatam benefício.

No caso da meditação mindfulness, a técnica milenar tem sido usada há muitos anos para controle da dor em diferentes culturas. Porém, por muito tempo, sua resposta ao sintoma foi considerada um “efeito placebo”. O estudo atual mostra que isso pode ser um equívoco.

<><> Como o estudo foi feito?

O estudo incluiu 115 participantes e consistiu em dois ensaios clínicos separados. Eles foram colocados aleatoriamente em grupos para receber quatro intervenções: uma meditação mindfulness guiada, uma meditação simulada que consistia apenas em respiração profunda, um creme placebo (vaselina) que os participantes foram treinados para acreditar que reduz a dor e, como controle, um grupo ouviu um audiolivro.

Os pesquisadores aplicaram um estímulo de calor doloroso, mas inofensivo, na parte de trás da perna e escanearam os cérebros dos participantes antes e depois das intervenções. A análise da atividade cerebral foi feita a partir da análise de padrões multivariados (MVPA), uma técnica que usa aprendizado de máquina para desembaraçar mecanismos neurais complexos subjacentes à experiência da dor.

A partir disso, os cientistas foram capazes de identificar se a meditação mindfulness e o placebo envolvem processos cerebrais semelhantes ou distintos. Embora o creme placebo e a meditação simulada de atenção plena tenham reduzido a dor, os pesquisadores descobriram que a meditação mindfulness foi significativamente mais eficaz na redução da dor em comparação ao creme placebo, à meditação simulada de atenção plena e aos controles.

Além disso, eles descobriram que o alívio da dor proporcionado pela meditação mindfulness reduziu a sincronização entre áreas cerebrais envolvidas na introspecção, autoconsciência e regulação emocional. Essas partes do cérebro juntas constituem o sinal neural da dor (NPS), um padrão documentado de atividade cerebral que pode ser comum à dor em diferentes indivíduos e diferentes tipos de dor. Em comparação, o creme placebo e a meditação simulada não demonstraram mudanças significativas nessa mesma área.

“Há muito tempo se supõe que o efeito placebo se sobrepõe aos mecanismos cerebrais desencadeados por tratamentos ativos, mas esses resultados sugerem que, quando se trata de dor, esse pode não ser o caso”, observa Zeidan. “Em vez disso, essas duas respostas cerebrais são completamente distintas, o que apoia o uso da meditação mindfulness como uma intervenção direta para dor crônica, em vez de uma forma de envolver o efeito placebo.”

Os pesquisadores acreditam que, a longo prazo e com mais estudos, será possível criar intervenções mais eficazes e acessíveis que utilizem os benefícios do mindfulness para reduzir a dor em pessoas com diferentes problemas de saúde.

 

•        Prática de ioga pode estimular a memória de idosos

A prática de uma modalidade de ioga chamada kundalini – que combina posturas, exercícios de respiração, mantras e meditação – pode trazer benefícios para a memória de idosos, mostra um novo estudo feito por cientistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.

Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica Translational Psychiatry.

Para chegar a essa conclusão, os autores compararam os efeitos desse estilo de ioga com técnicas de treinamento de memória em 79 mulheres na pós-menopausa. Todas eram portadoras de condições cardiovasculares, como infarto, diabetes, hipertensão (conhecidos fatores de risco para a demência), e haviam reportado problemas de memória e declínio cognitivo.

As voluntárias foram divididas em dois grupos, sendo que 40 foram encaminhadas para a chamada kundalini ioga. Elas tiveram uma aula semanal com um instrutor e orientações gravadas para praticar todos os dias sozinhas. As demais tiveram um treinamento de estímulo da memória que consistia em tarefas diárias com técnicas de associação verbal, estratégias organizacionais, como categorizar itens de uma lista, e dicas de associação visual para lembrar faces e nomes, entre outras.

Antes de começar o programa, as pacientes foram submetidas a testes de cognição e memória. Depois, foram avaliadas ao final de 12 semanas e após seis meses. Os pesquisadores também colheram amostras de sangue para dosar as substâncias inflamatórias associadas ao declínio cognitivo.

Todas apresentaram ganhos na memória e nenhuma teve declínio cognitivo. No entanto, o grupo que praticou a ioga também teve melhoras nas taxas de marcadores inflamatórios e, após seis meses, reportou menos queixas nos lapsos de memória do que as demais mulheres.

Para Maria Ester Azevedo Massola, coordenadora da Equipe de Medicina Integrativa do Hospital Israelita Albert Einstein, a prática de ioga exerce efeitos positivos na memória por diversos mecanismos neurobiológicos e fisiológicos. “Um dos motivos é a redução do estresse. Ao promover o relaxamento, a prática reduz a produção de substâncias inflamatórias desencadeadas pelo estresse”, explica a especialista, que ressalta que a inflamação crônica está associada a condições neurodegenerativas, como o Alzheimer.

A prática também promove o estímulo cognitivo, já que as posturas testam a coordenação, o equilíbrio e a concentração. “Esses desafios podem estimular o cérebro e promover a plasticidade cerebral, contribuindo para a melhoria da memória e outras funções cognitivas”, diz Massola. A especialista lembra que esses benefícios também podem ser obtidos com outros tipos de ioga, como o hatha ioga, que é a mais comum no Brasil.

“Esses achados sugerem que a ioga pode ser uma intervenção valiosa, não invasiva e não medicamentosa, eficiente em termos de custo para promover a saúde cerebral e cognitiva em idosos. A prática regular pode oferecer benefícios físicos e mentais, ajudando a manter a função cognitiva e a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem”, diz a especialista do Einstein.

<><> Cuidados antes de começar

Especialmente os mais velhos devem observar alguns cuidados e precauções para garantir uma prática segura. São elas:

•        Consulte um profissional de saúde antes de iniciar qualquer programa de exercícios, especialmente se tiver condições médicas preexistentes, lesões, limitações físicas ou se estiver tomando medicamentos;

•        Escolha o tipo de ioga adequado para você. Há diferentes estilos e alguns podem ser mais intensos do que outros. Para iniciantes e idosos, é recomendável começar com estilos mais suaves e acessíveis, como hatha ioga e ioga restaurativa;

•        Comunique-se com o instrutor: ao participar das aulas, certifique-se de informá-lo sobre quaisquer condições médicas, lesões ou preocupação que você tenha para que ele possa adaptar as posturas e os exercícios a suas necessidades e limitações;

•        Respeite seus limites, não force o corpo além do que é confortável. Preste atenção nas sensações de dor, desconforto e tensão e ajuste as posturas conforme o necessário. Lembre-se que o objetivo é promover o relaxamento e o bem-estar. Não é para sentir dor;

•        Use o equipamento adequado: certifique-se de usar roupas confortáveis, bem como o tapete antiderrapante, para garantir a estabilidade e a segurança ao executar as posturas.

<><> Prática não é indicada para todos

Embora seja considerada segura para a maioria das pessoas, em alguns casos a prática de ioga não é recomendada. Por exemplo:

•        Lesões agudas ou recentes

•        Problemas cardíacos não controlados

•        Pressão alta não controlada

•        Glaucoma não controlado

•        Labirintite

•        Problemas graves nas articulações

É essencial discutir quaisquer preocupações de saúde com um profissional de saúde antes de iniciar a prática de ioga e seguir as orientações do instrutor durante a aula, para evitar lesões e complicações.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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