sábado, 14 de setembro de 2024

Florestan Fernandes Jr.: ‘Silas Malafaia, o Profeta do Fogo’

O dito popular não se concretizou e o que vemos hoje é uma seca pior do que a do deserto do Saara. As queimadas estão por todos os lados, são mais de 8 mil focos de incêndio em boa parte do território nacional.

Verdadeiros paraísos ecológicos estão sendo consumidos pelas chamas.

Incêndios, criminosos ou não, avançam sobre o cerrado, o segundo maior bioma do país. Imagens chocantes captadas por satélites revelam o fogo se alastrando por cerca de 500 km de extensão na floresta amazônica. As mudanças climáticas no Brasil estão eliminando biomas e transformando extensas áreas verdes em verdadeiros desertos. Nas últimas quatro décadas, o cerrado perdeu 27% da sua vegetação nativa.

O descaso das autoridades, a ganância do agronegócio e a imbecilidade humana de negacionistas ligados ao fanatismo ideológico de extrema-direita, estão colocando em risco a vida em nosso planeta.

Estamos ultrapassando a passos largos a linha do não retorno.

Quando falo do fanatismo de idiotas, não exagero. Quem se esqueceu do ‘Dia do Fogo’, ocorrido em agosto de 2019, quando fazendeiros, empresários e produtores rurais decidiram organizar uma manifestação criminosa em apoio às políticas de desmonte ambiental do governo Bolsonaro. Investigações da Polícia Federal confirmaram, na época, que esses “empresários” rurais combinaram e realizaram as queimadas em áreas de conservação da floresta amazônica no Pará. Ao todo, foram 1.457 focos de incêndio. Três grupos de extrema-direita foram identificados pela PF.

Alguma dúvida que o mesmo método está sendo utilizado nas queimadas que ocorrem hoje?

Em entrevista ao Boa Noite 247, o ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc explicou os diversos tipos de queimada que convergem neste mesmo momento. Existem aquelas produzidas por pessoas que colocam fogo no meio da estiagem e do vento, para queimar lixo ou para preparar a terra. Mas segundo Minc, “tem um fogo que é conspiração, que é golpista, bolsonarista. Isso está aliado à impunidade. Daqueles 23 que foram flagrados pela Polícia Federal no Dia do Fogo em 2019, quantos foram presos ou condenados? Nenhum! Então, isso não é Marina e nem Lula. É o judiciário que deu mole pra quem planejou o crime ambiental.”

Essa impunidade acaba incentivando os crimes continuados.

Na campanha de mobilização de bolsonarista no 7 de Setembro passado, o empresário da fé, Silas Malafaia, “conselheiro espiritual” de Jair Bolsonaro, disse em alto e bom som: “No dia sete o Brasil vai pegar fogo! Dias depois, sua profecia se realizou. O fogo estava queimando em vários estados do país, inclusive no estado de São Paulo, onde não é comum incêndio de grandes proporções em áreas de plantio.

No auge das queimadas, o estado governado pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas contabilizou mais de 380 focos de incêndio em dezenas de municípios. Imagens de satélite mostraram que o fogo se iniciou em várias regiões do estado no mesmo dia e praticamente no mesmo horário. Imagens feitas em reportagens de televisão e por internautas mostram homens ateando fogo em canaviais, sem qualquer constrangimento, em plena luz do dia. Tudo dentro de um esquema muito bem orquestrado.

Na última quarta-feira (11/9), o fogo começou a consumir parques florestais dentro de grandes cidades como Campinas, Osasco, Barueri e São Paulo. Muito suspeito isso ocorrer no mesmo dia e em regiões diferentes do estado. Na capital paulista, de agosto até a primeira semana de setembro, a Secretaria Municipal de Saúde registrou 1.523 casos de síndrome respiratória aguda grave, piorado pela poluição, e 76 óbitos decorrentes de problemas respiratórios.

A polícia do governo estadual chegou a prender uma dezena de incendiários, que foram soltos sem nada ser esclarecido. Talvez porque no último dia sete, na avenida Paulista, o próprio governador estava no carro de som ao lado de Bolsonaro e do Profeta do Fogo, Silas Malafaia. Pelo jeito, a extrema-direita não se contenta apenas em destruir a praça dos três Poderes, quer também incendiar o país.

Cabe ao governo federal, com a urgência necessária, promover um planejamento junto com estados e municípios para conter as queimadas.

Importante que se tragam a público as investigações da Polícia Federal sobre os “Demônios do Fogo”, assim que estiverem concluídas. O Secretário Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Mário Sarrubbo, disse nesta quinta-feira (12/09) que os responsáveis pelas queimadas devem indenizar a população e restaurar os biomas afetados.

Em meio a esse inferno, eu, que de profeta não tenho nada, digo amém. Que assim seja.

 

•        Marçal afina de Malafaia que o chama de "frouxo" e "psicopata"

Em mais uma capítulo da "guerra espiritual" anunciada por ele contra Silas Malafaia, o guru de Jair Bolsonaro (PL), Pablo Marçal (PRTB) afinou ao ser chamado de "frouxo", "psicopata" e uma lista de impropérios, publicou uma foto com o pastor e pediu "paz" em seu perfil no Instagram.

O bate-boca entre os dois escalou desde o último sábado, 7 de Setembro, quando Malafaia impediu Marçal de subir no trio elétrico onde estava ao lado de Bolsonaro no ato em que a horda neofacista pedia o impeachment de Alexandre de Moraes.

Na segunda-feira (8), Malafaia gravou um primeiro vídeo para falar "a verdade sobre Pablo Marçal no 7 de Setembro" e apanhou de ultraconservadores que embarcaram nos discursos vazios do ex-coach.

Ironizado, o guru de Bolsonaro voltou à tona nesta terça-feira (10) e aumentou a carga contra Marçal.

"Esse cara, ele mostra sinais de que é psicopata. Ele é megalomaníaco, manipulador e mentiroso. Vou provar isso. E agora ele dá um outro sinal: de bipolaridade. Ao mesmo tempo ele me elogia e me ataca. Me elogia e me denigre", disparou Malafaia, afirmando que o ex-coacha usa "manipulação, para mexer nas suas emoções".

Para "provar" a "megalomania", o pastor midiático mostra uma publicação em que o ex-coach diz ser "Davi", o segundo rei de Israel na narrativa bíblica.

"Me chama de Eliabe [irmão mais velho de Davi] e ele se chama de Davi. Olha a megalomania. Ele é herói, ele é o cara. E ele mente. Diz lá que eu ataco ele, porque ele não quis se submeter a mim. Tu é um mentiroso, coloco a mão na Bíblia", emenda Malafaia, totalmente descontrolado.

O guru de Bolsonaro usa a principal bandeira do ultradireita neofascista - o impeachment e os ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) - para dar a sentença sobre Marçal: "frouxo ou covarde".

"Agora tem uma pergunta que não quer calar: por que você nunca pediu o impeachment de Alexandre de Moraes? Por que você nunca abriu a boca para falar dos crimes de Alexandre de Moraes? Botando gente presa, cerceando liberdade, promovendo perseguição ao Bolsonaro. Das duas uma: você é frouxo ou covarde, que tem medo de Alexandre de Moraes ou você tem acordo com ele", diz.

Malafaia, então, recorre a uma reportagem do The Intercept que revelou a farsa do projeto de Marçal, que construiu apenas 30 das 300 casas em que arrecadou dinheiro para um projeto na África.

"Ei povo, acorda. Essa cara é uma farsa. O cara não consegue cumprir um projetinho desse lá na África. Esses projetos de megalomania em São Paulo, acha que vai fazer? Acorda evangélicos, povo da direita, cristãos, apoiadores de Bolsonaro. Ele usa técnicas de neurociência para te manipular", acusou.

Mais tarde, Malafaia voltou à rede e fez uma publicação incitando seguidores a atacar Marçal: "sobre os crimes e o impeachment de Alexandre de Moraes você não fala nada! Está calado, frouxe", escreveu o pastor, pedindo para seguidores "mandar lá no @pablomarcalporsp", perfil do ex-coach no Instagram.

<><> Foto e paz

Em resposta aos insultos de Malafaia, Marçal chegou a ironizar, mas depois afinou e pediu "paz" ao reproduzir a publicação nos stories de seu Instagram.

"A liberdade não tem dono e não vou fazer o que você deseja irmão. Coloca a foto do Pacheco ai. Paz", escreveu, referindo-se ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a quem cabe pautar o impeachment de Moraes.

Marçal também publicou uma foto antiga ao lado de Malafaia para que os seguidores do guru de Bolsonaro coloquem os comentários, em pretensa ironia.

"Como eu posto muito, quem tá vindo pelo Silas pode comentar aqui que eu leio tudo". escreveu.

<><> Entenda

A "guerra espiritual" declarada por Pablo Marçal (PRTB) após ter sido enxotado por Silas Mafalaia do trio elétrico no ato de sábado, 7 de Setembro, aprofundou o racha dentro da ultradireita neofascista que gira em torno de Jair Bolsonaro (PL).

Conforme prometido, o guru do ex-presidente divulgou um vídeo para falar "a verdade sobre Pablo Marçal no 7 de Setembro" e disparou impropérios, classificando o ex-coach como "narcísico, megalomaníaco, soberbo e lacrador".

"Esse cara é narcísico, ele é megalomaníaco, ele é soberbo, ele quer tirar proveito de tudo, ele é lacrador. Ele queria fazer cortes para sua campanha. Ele queria tirar proveito daquilo que ele não ajudou [a organizar] e não correu risco [de sofrer eventuais represálias]", disparou Malafaia.

O chilique, no entanto, não deu resultado e Malafaia apanhou dos bolsonaristas que aderiram à facção de Marçal e foram aos comentários do vídeo no Instagram.

"Vai ter que engolir", disparou um eleitor de Marçal.

"Quem é digno então? Silas Malafaia? Boulos, datena ou tabata?", indagou outro.

"Todo mundo sabe quem é Pablo Marçal, ele não tem medo e não tem acordo nenhum. Ele só não conseguiu chegar a tempo e todos sabem onde ele estava", emendou uma terceira.

Em resposta, Pablo Marçal disse que "está desafiando o Silas Malafaia" ao ser indagado se toparia um papo com o guru.

"Na verdade estou desafiando o Silas Malafaia. Vamos entrar aqui ao vivo. Você fala o que você quer e ouve o que você precisa", disparou o ex-coach em storie do Instagram.

"Todo respeito ao que você construiu na religião, mas na política todas as coisas que você faz é fora da lógica. Apoiou o [Eduardo] Paes, o Lula. Está caladinho ai por causa do [Alexandre] Ramagem para não queimar seu filme, né? Porque você está apoiando o Paes ai. Deixa aqui em São Paulo, ninguém está precisando de você aqui", emendou.

 

¨      Cansados, Trump e Bolsonaro fogem de novas surras. Por Moisés Mendes

Carregar ações e discursos extremistas nas costas também cansa. Bolsonaro mostrou, em cima do caminhão na Paulista no 7 de Setembro, e brigando até com a turma dissidente do caminhão estacionado por perto, que está sem vigor.

Trump, como se tivesse uma escora segurando o corpo, sempre meio de lado no debate com Kamala Harris na TV, também se expôs como um sujeito fragilizado pela repetição das mesmas mentiras e falas agressivas, todas desmontadas pela democrata.

Bolsonaro e Trump são duas das mais bem acabadas criaturas do fascismo. Estão diante de realidades distintas, mas enxergando logo adiante a próxima etapa que os espera. É a etapa do ajuste de contas com a Justiça, que começa a acontecer depois da eleição.

Trump ainda é competitivo e mantém o apoio da sua base conservadora como liderança da direita americana absorvida por seus extremismos. Mas Bolsonaro não desfruta desse consolo.

O brasileiro é inelegível e está sob questionamento dentro da própria estrutura que ainda pretende comandar. E começa a ser abandonado, no núcleo duro da sua base social, pelos que enxergam Pablo Marçal como alguém capaz de assegurar algum futuro ao próprio bolsonarismo. O resumo é menos tio do zap e mais mano do TikTok.

Trump e Bolsonaro vacilaram em espaços que dominam. Kamala deu uma surra no republicano na arena em que ele se sente à vontade, do púlpito, da comunicação, da conversa direta com o telespectador.

E Bolsonaro deu sinais de fraqueza, em todas as formas de expressão, incluindo a corporal, no seu palanque preferido, em cima de um caminhão e falando para multidões de amarelo e em transe quase bíblico.

São dois os sinais evidentes do cansaço com a tática e a retórica repetitiva de ambos. Trump já anunciou, depois de ser massacrado ao vivo como mentiroso desprezado até pela direita mundial, que não gostaria de enfrentar novo debate com Kamala.

E Bolsonaro abandonou a campanha em São Paulo, onde não consegue calibrar seu apoio a Ricardo Nunes, diante da ameaça de implosão da extrema direita por Pablo Marçal.

Trump não quer levar outra surra de Kamala, e Bolsonaro prefere não correr o risco de associar sua imagem, já abalada, à ausência de Nunes no segundo turno, e levar uma surra política de Marçal. Os dois, Trump e Bolsonaro, estão sendo consumidos pela exaustão provocada pelo próprio veneno que produzem.

Isso significa que o ultraconservadorismo e a extrema direita também se fragilizam, na mesma proporção da fragilização de seus líderes? Não. Nada disso. As bases do fascismo se rearticulam no Brasil e estão vivas nos Estados Unidos.

O que se percebe é que Trump e Bolsonaro talvez não consigam acompanhar, com a repetição cansativa de falas e atitudes, as demandas dos contingentes por eles mobilizados em nome do ódio, do preconceito, da difamação e do negacionismo.

Descer de onde estão também será dramático. Ambos, dependendo dos resultados das eleições lá e aqui e da capacidade de imposição do Judiciário, serão submetidos a julgamentos que ex-presidentes dos dois países nunca enfrentaram como golpistas fracassados.

 

Fonte: Brasil 247/Fórum/Brasil 247

 

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