quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Eleição dos EUA: a teoria da conspiração que associa vice de Kamala à bandeira da Somália

Uma teoria da conspiração — envolvendo o homem que pode se tornar o próximo vice-presidente americano, as bandeiras da Somália e de Minnesota — foi amplamente compartilhada nas redes sociais dos Estados Unidos.

A teoria sugere que Tim Walz, governador do Estado americano de Minnesota, mudou recentemente a bandeira do seu Estado para se parecer com a bandeira da Somália. Ambas exibem estrelas e diferentes tons de azul em seu design.

Não há nenhuma evidência que sugira que seja este o caso. Uma teoria da conspiração é definida como a crença de que um grupo secreto, mas influente, está controlando os eventos nos bastidores. Muitas ganham força, atingindo milhares de pessoas quando são amplamente compartilhadas em plataformas de rede social.

Minnesota, com uma população de aproximadamente 5,7 milhões de habitantes, abriga a maior comunidade de origem somali dos EUA, aproximadamente 82 mil pessoas, a maioria delas muçulmanas.

·        Que usuários estavam compartilhando?

De acordo com um punhado de relatos alinhados com visões políticas de direita radical nos EUA, o novo design da bandeira foi escolhido deliberadamente para atrair essa grande comunidade somali — e mostrar a suposta ideologia extremista e falta de patriotismo de Walz.

A ideia ganhou força no início de agosto, quando Walz foi escolhido para ser o candidato a vice-presidente na chapa democrata liderada por Kamala Harris nas eleições deste ano.

A PeakMetrics, empresa de dados americana, informou que narrativas de conspiração associando Tim Walz à Somália foram amplamente compartilhadas no X (antigo Twitter) durante todo o verão no hemisfério norte.

Em agosto, foram registrados 76,2 mil tuítes sobre o assunto — que foi mencionado, inclusive, pelo apresentador Jesse Watters na rede Fox News.

No entanto, a teoria foi amplamente desmentida por vários analistas de rede social.

·        Novo design

Minnesota mudou oficialmente sua bandeira em maio deste ano, após lançar uma campanha online para encontrar um novo design.

O design anterior da bandeira de Minnesota, adotado em 1957, mostrava um homem nativo americano a cavalo ao fundo, e um colono branco arando um campo na frente. Ele foi considerado problemático por muitos em Minnesota, entre eles representantes de povos nativos americanos.

A nova bandeira exibe uma estrela de oito pontas à esquerda sobre um fundo azul escuro, com um tom azul claro à direita.

O campo azul escuro representa o formato de Minnesota, e o campo azul claro representa a importância da água para o Estado. A estrela de oito pontas representa a Estrela do Norte.

Em contrapartida, a bandeira da Somália tem um fundo azul claro sobre o qual há uma estrela de cinco pontas, representando as cinco regiões somalis.

Andrew Prekker, o designer que criou a nova bandeira de Minnesota, conta que o que o motivou foi reconhecer que a bandeira anterior tinha problemas.

"Me deparei com um site chamado Minnesotans for a Better Flag — e foi isso que me apresentou à ideia de que nossa bandeira estadual realmente não era eficaz, e suas imagens eram muito problemáticas em termos de promoção do colonialismo em relação às nossas comunidades indígenas", relata.

Ele explica que as poucas semelhanças entre as duas bandeiras — a estrela, embora de formato diferente, e o uso da cor azul — foram escolhas baseadas em características de Minnesota. Ele admite que sabia muito pouco sobre a Somália, incluindo a aparência da sua bandeira.

"Eu não tinha conhecimento sobre a Somália, sei que é uma postura um tanto ignorante. Não tinha a menor ideia sobre a Somália", diz ele.

Prekker afirmou que o governador Tim Walz não estava envolvido na supervisão da competição nem na seleção do projeto vencedor — alegação que foi reforçada pela Comissão de Redesenho de Emblemas Estaduais de Minnesota, que selecionou o design vencedor.

·        'História sensacionalista'

Embora a semelhança entre as bandeiras da Somália e Minnesota possa parecer bastante vaga, não é surpreendente que isso tenha levado a conversas amplamente compartilhadas nas redes sociais, diz o professor Samuel Woolley, chefe do departamento de Estudos da Desinformação na Universidade de Pittsburgh, nos EUA.

"As redes sociais são projetadas para promover conteúdo com base na quantidade de atenção que ele recebe, em vez de quão confiável ele é", afirma.

"Pesquisas mostram que rumores se espalham nas redes sociais muito mais rápido do que a verdade. Parte disso se deve simplesmente ao fato de que as pessoas adoram uma boa história sensacionalista."

Woolley explica que os algoritmos de tendências e recomendações das plataformas de rede social alimentam ainda mais as teorias da conspiração, uma vez que são "desenvolvidos sobretudo para priorizar conteúdo popular".

"Grupos coordenados de contas gerenciadas por humanos, contas de bots (robôs) automatizadas e alimentadas por inteligência artificial e outros mecanismos, possibilitam que grupos políticos burlem as verificações e contrapesos que existem nesses sistemas algorítmicos para viralizar", afirma.

John P. Wihbey, professor da Northeastern University, nos EUA, e membro da Iniciativa para a Democracia na Internet, baseada na universidade, acredita que a teoria da conspiração sobre Walz e a bandeira da Somália "claramente tem conotações racistas e xenófobas".

"Há muitas bandeiras ao redor do mundo que possuem elementos visuais semelhantes, como estrelas. O principal objetivo desta teoria parece ser confundir a população somali-americana com algum tipo de pauta progressista entre os líderes de Minnesota — e insinuar que líderes como o governador de Minnesota, Tim Walz, estão implementando uma agenda estrangeira em nome de populações (geralmente muçulmanas)", avalia.

Mas, segundo ele, o fato de tuítes terem sido curtidos não significa que as pessoas acreditam no material ou na mensagem.

"As pessoas geralmente sinalizam aprovação em relação ao conteúdo não porque acreditam racionalmente nele, mas porque estão indicando algum tipo de solidariedade em relação a uma visão geral de mundo — neste caso, uma visão de mundo que é antidemocrata e, talvez, antissomali", diz.

Para Andrew Prekker, o homem por trás da nova bandeira de Minnesota, a ideia de que seu design indica algum tipo de associação entre Tim Waltz e a Somália é uma loucura.

"Acho que a teoria da conspiração é simplesmente ridícula", afirma.

 

¨      Quem está à frente na corrida pela Presidência dos EUA?

Os eleitores vão às urnas no dia 5 de novembro, nos Estados Unidos, para eleger o próximo presidente do país.

Inicialmente, a eleição era uma revanche de 2020, mas isso mudou em julho, quando o presidente americano, Joe Biden, encerrou sua campanha, retirou sua candidatura e apoiou a de sua vice, Kamala Harris.

A grande questão agora é: o resultado vai significar um segundo mandato de Donald Trump ou será eleita a primeira mulher presidente dos EUA?

À medida que o dia da eleição se aproxima, vamos acompanhar as pesquisas de intenção de votos — e observar que efeito grandes eventos, como o debate presidencial desta terça-feira (10/9), vão ter na corrida pela Casa Branca.

<><> Quem está liderando as pesquisas?

Nos meses que antecederam a decisão de Biden de desistir da disputa, as pesquisas mostraram o democrata consistentemente atrás do ex-presidente Trump. Embora fosse um cenário hipotético na época, várias pesquisas sugeriam que Harris não se sairia muito melhor.

Mas a disputa ficou mais acirrada depois que ela começou a campanha e desenvolveu uma pequena vantagem sobre seu adversário, — de acordo com a média das pesquisas nacionais — que ela mantém desde então. As médias dos dois candidatos nas últimas pesquisas são apresentadas abaixo, arredondadas para o número inteiro mais próximo.

No gráfico de monitoramento de pesquisas abaixo, as linhas de tendência mostram como essas médias mudaram desde que Harris entrou na corrida eleitoral, e os pontos mostram a dispersão dos resultados individuais das pesquisas.

Harris alcançou 47% das intenções de voto durante a convenção de quatro dias do seu partido em Chicago, que ela encerrou com um discurso, em 22 de agosto, prometendo um "novo caminho a seguir" para todos os americanos. Seus números mudaram muito pouco desde então.

A média de Trump também permaneceu relativamente estável, oscilando em torno de 44%, e não houve aumento significativo com o endosso de Robert F Kennedy, que suspendeu sua candidatura independente em 23 de agosto.

Embora estas pesquisas nacionais sejam um guia útil sobre a popularidade de um candidato em todo o país, elas não são necessariamente uma maneira precisa de prever o resultado da eleição.

Isso acontece porque os EUA utilizam um sistema de Colégio Eleitoral para eleger seu presidente, então conseguir a maioria dos votos pode ser menos importante do que onde eles são conquistados.

Há 50 Estados nos EUA, mas como a maioria deles quase sempre vota no mesmo partido, na verdade há apenas um punhado em que ambos os candidatos têm chance de vencer. Conhecidos como Estados-pêndulo, eles são os lugares onde a eleição vai ser decidida.

<><> Quem está vencendo nos Estados decisivos?

No momento, as pesquisas estão muito apertadas nos sete Estados considerados decisivos para a disputa, o que torna difícil saber quem realmente está liderando a corrida eleitoral. Há menos pesquisas estaduais do que nacionais, então temos menos dados para trabalhar — e cada pesquisa tem uma margem de erro que significa que os números podem ser maiores ou menores.

Da forma como está, as pesquisas recentes sugerem que há um ou menos de um ponto percentual separando os dois candidatos em vários Estados. Isso inclui a Pensilvânia, que é fundamental, uma vez que tem o maior número de votos no Colégio Eleitoral — e, por isso, torna mais fácil para o vencedor alcançar os 270 votos necessários.

Pensilvânia, Michigan e Wisconsin eram todos redutos democratas antes de Trump torná-los republicanos na sua trajetória para conquistar a presidência em 2016. Biden os reconquistou em 2020, e se Harris conseguir fazer o mesmo este ano, ela vai estar a caminho de ganhar a eleição.

Em um sinal de como a corrida eleitoral mudou desde que Harris se tornou a candidata democrata, no dia em que Joe Biden desistiu da disputa, ele estava atrás de Trump por quase cinco pontos percentuais, em média, nestes sete Estados decisivos.

<><> Como estas médias são criadas?

Os números que usamos nos gráficos acima são médias criadas pelo site de análise de pesquisas 538, que faz parte da rede de notícias americana ABC News.

Para criá-las, o 538 coleta dados de pesquisas individuais realizadas tanto nacionalmente quanto em Estados-pêndulo por várias empresas de pesquisa.

Como parte de seu controle de qualidade, o 538 inclui apenas pesquisas de empresas que atendem a certos critérios, como ser transparente sobre quantas pessoas entrevistaram, quando a pesquisa foi realizada e como a pesquisa foi conduzida (por telefone, mensagem de texto, online, etc.).

<><> Podemos confiar nas pesquisas?

No momento, as pesquisas sugerem que Kamala Harris e Donald Trump estão a alguns pontos percentuais um do outro, tanto nacionalmente quanto em Estados decisivos — e quando a disputa é tão acirrada, é muito difícil prever os vencedores.

As pesquisas subestimaram o apoio a Trump tanto em 2016 quanto em 2020. As empresas de pesquisa tentam corrigir esse problema de várias maneiras, inclusive como fazer com que seus resultados reflitam a composição da população que vota.

Esses ajustes são difíceis de acertar, e os pesquisadores ainda precisam fazer suposições baseadas em outros fatores, como quem realmente vai comparecer para votar em 5 de novembro.

 

¨      Imigrantes comendo pets? De onde vem afirmação infundada de Trump em debate

Uma afirmação infundada de que imigrantes ilegais estão comendo animais domésticos em uma pequena cidade de Ohio tem sido repetida por Donald Trump.

Durante o debate presidencial da terça-feira (10/9), Trump disse que "em Springfield, eles estão comendo cachorros. As pessoas que chegaram estão comendo gatos. Elas estão comendo – estão comendo os pets das pessoas que vivem aqui".

Mas autoridades da cidade disseram à BBC Verify, o serviço de verificação da BBC, que não há "nenhum relato confiável" de que isso de fato tenha acontecido.

A afirmação infundada de Trump se espalhou nas redes sociais, com o candidato a vice na chapa republicana, J.D. Vance, repetindo a fala no X (antigo Twitter). Nesta quarta (11/9), o post tinha mais de 11 milhões de visualizações.

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, chamou os comentários de Vance "perigosos" e parte de uma "teoria da conspiração baseada em elementos racistas".

<><> De onde vem essa afirmação?

A afirmação parece ter surgido de várias fontes diferentes, que a transformaram numa narrativa coesa – embora sem fundamento – por contas pró-Trump nas redes sociais.

Em uma reunião da Comissão da Cidade de Springfield em 27 de agosto, um morador local que se descreve como influenciador digital fez um discurso contra imigrantes haitianos.

Ele apresentou uma longa lista de queixas, incluindo a acusação de que estariam abatendo patos de um parque para se alimentar, e acusou as autoridades municipais de serem pagas para trazer imigrantes, mas não apresentou provas.

Durante o debate presidencial na terça-feira, Trump também afirmou ter visto "pessoas na televisão dizendo: 'Meu cachorro foi levado e usado como alimento'".

O BBC Verify analisou vídeos de arquivo de todas as principais emissoras dos EUA, incluindo Fox, CNN e CBS. Também usamos palavras-chave para procurar vídeos nas redes sociais e não encontramos nenhuma entrevista televisionada dessa natureza.

Uma alegação sobre um gato sendo morto por imigrantes haitianos foi feita em uma postagem no Facebook sobre crimes em Springfield e atribuída pelo autor à "amiga da filha de um vizinho".

As afirmações também foram refletidas em uma foto postada no Reddit, uma plataforma com fóruns de discussão, de um homem carregando o que parece ser um ganso morto em Columbus, Ohio.

Separadamente, uma notícia de agosto – bem como imagens de câmeras corporais da polícia – sobre uma mulher presa por matar e comer um gato também circulou online.

Muitos comentaristas de direita referiram-se à mulher como haitiana e apontaram o texto como prova para a alegação infundada de que imigrantes haitianos estavam envolvidos em atividades semelhantes.

No entanto, o incidente ocorreu em Canton, Ohio, a cerca de 273 km de Springfield.

A polícia de Canton disse à BBC que a suspeita nasceu em 1997 e que ela é cidadã dos EUA. "Não recebemos nenhuma queixa sobre imigrantes haitianos", acrescentou o departamento.

Além de Vance, Elon Musk também postou memes referindo-se às alegações infundadas, que foram visualizados milhões de vezes.

Charlie Kirk, diretor-executivo do grupo ativista conservador Turning Point, disse: "Moradores de Springfield estão relatando que haitianos estão comendo seus pets".

Canais oficiais nas redes do Partido Republicano, como a conta da Comissão Judiciária da Câmara no X, também fizeram referência a essas alegações.

A conta publicou uma imagem gerada por inteligência artificial (IA) do ex-presidente Trump abraçando um pato e um gato, com a legenda "Proteja nossos patos e gatinhos em Ohio!".

Essa postagem foi vista quase 70 milhões de vezes.

O BBC Verify conversou com a Comissão da Cidade de Springfield sobre as alegações.

As autoridades nos informaram: "Não houve relatos confiáveis ou alegações específicas de que animais de estimação tenham sido prejudicados, feridos ou maltratados por indivíduos da comunidade imigrante".

Na terça-feira, Vance pareceu recuar em seu comentário anterior e disse no X: "É possível, claro, que todos esses rumores sejam falsos".

A BBC entrou em contato com a campanha de Trump para comentar o caso.

<><> Imigrantes haitianos em Springfield

Springfield, uma cidade da região conhecida como "rust belt" (cinturão da ferrugem), no sudoeste de Ohio, tem cerca de 60 mil habitantes e viu a chegada de milhares de imigrantes nos últimos anos.

Muitos são do Haiti, e as autoridades da cidade afirmam que até 20 mil imigrantes estabeleceram-se em Springfield nos últimos anos, revertendo um longo declínio que viu a população da cidade diminuir em mais de 20 mil nos últimos 60 anos.

Os novos moradores revitalizaram as indústrias locais, mas também têm colocado uma pressão sobre os serviços públicos.

Vance, um senador que representa Ohio e cresceu a cerca de uma hora de Springfield, falou repetidamente sobre a cidade durante a campanha.

 

Fonte: BBC News Mundo

 

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