quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Argentina: demissões e cortes de investimentos em ciência ameaçam desenvolvimento de energia nuclear

O governo demitiu 230 trabalhadores envolvidos na construção do reator nuclear CAREM, uma aposta central para o desenvolvimento energético do país. Além disso, a execução orçamentária para a ciência despencou 40%.

Os funcionários atuavam no Complexo Atucha e estavam envolvidos na construção do reator nuclear CAREM, o primeiro feito integralmente em território nacional e crucial para posicionar a Argentina entre os principais produtores de energia limpa.

Situada na cidade de Lima, na província de Buenos Aires (centro), a Central Argentina de Elementos Modulares (CAREM) é um reator nuclear em pequena escala projetado para fornecer energia a populações afastadas dos grandes centros urbanos ou industriais.

Embora tenha sido projetado na década de 1980, a construção da obra civil começou em 2014, e sua entrada em operação estava prevista para antes de 2030, com uma vida útil de aproximadamente 40 anos.

O CAREM desenvolve Pequenos Reatores Modulares no continente, os SMR (sigla em inglês para Small Modular Reactors) que possuem potência de até 300 megawatts elétricos (MWe) por unidade. Eles podem ser construídos em pequenas instalações e transportados como módulos.

O CAREM foi o primeiro reator modular de média potência a começar a ser construído mundialmente, e seu desenvolvimento coloca o país entre os líderes do cenário global, competindo com potências como China, Rússia e Estados Unidos.

A Argentina começou a desenvolver a tecnologia nuclear por volta de 1950, com a criação da Comissão Nacional de Energia Atômica. Atualmente, funcionam três centrais nucleares que abastecem 5% da demanda elétrica nacional.

A Lei de Bases proposta pelo governo e aprovada pelo Congresso, determina a privatização parcial da Nucleoeléctrica Argentina, a empresa pública responsável pela administração das usinas nucleares do país. Sob sua gestão estavam Atucha I, Atucha II e Embalse, as três centrais nacionais.

Segundo o Centro Ibero-Americano de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Inovação, a execução orçamentária da ciência caiu 40,1% em agosto em comparação com o ano anterior, afetando o funcionamento de organismos emblemáticos como o Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (CONICET) e a Comissão Nacional de Atividades Espaciais (CONAE).

<><> Desenvolvimento nuclear à beira do abismo

"Este é um ponto de ruptura para o país, porque vai contra mais de 45 anos de investimento sustentado. O governo nunca apostou muito no desenvolvimento da energia nuclear, e agora tememos que isso seja interrompido", disse à Sputnik Adriana Serquis, ex-presidente da Comissão Nacional de Energia Atômica.

"O CAREM recebeu este ano metade do orçamento que tinha em 2023, apesar de que sua construção já havia avançado 80% e que havia 100 contratos com empresas para garantir o desenvolvimento da energia nuclear em nosso país. Esperamos que isso seja apenas um ajuste transitório e não um freio total ao desenvolvimento deste setor", afirmou a especialista.

Segundo Serquis, a energia nuclear "é fundamental na transição para fontes renováveis, principalmente porque avança a um ritmo muito mais rápido do que as outras alternativas. O crucial é que a Argentina é líder na construção de pequenos reatores nucleares e tem o orgulho de ser um dos poucos países que alcançou esse nível de desenvolvimento.

"Essa era uma grande oportunidade de nos tornarmos exportadores de energia e, assim, gerar uma receita líquida em dólares", destacou. "A Argentina tem três centrais nucleares, que contribuem com entre 3% e 11% da matriz energética. Para 2025, esperava-se uma triplicação da matriz nuclear; no entanto, isso agora é uma grande incógnita", afirmou a pesquisadora.

A situação relativa ao desenvolvimento do CAREM insere-se em um contexto de extrema fragilidade do complexo científico argentino.

Consultada pela Sputnik, a pesquisadora do CONICET Laura Romano denunciou que "estamos em um momento de absoluto desmantelamento.

O governo decidiu retirar o financiamento do setor e isso afeta todo o sistema de pesquisas, mas também as universidades".

"Há 300 pesquisadores a menos no organismo, mas essas vagas não foram preenchidas. Além disso, houve um corte brutal nas bolsas de estudo. O governo tem o objetivo claro de esvaziar o CONICET", alertou a especialista.

¨      Governo da Argentina decreta sigilo militar sobre obras de infraestrutura e armamento

Buenos Aires assinou um decreto que torna segredo militar a aquisição de armas e a contratação para construção de obras de infraestrutura.

A norma também valida a importação de 24 aeronaves F-16 da Dinamarca, contrato que havia sido autorizado em abril e estava sujeito a condições de confidencialidade.

"A contratação e construção de obras de infraestrutura e a importação de materiais relativos à incorporação do sistema de armas são declaradas segredo militar, nos termos do Decreto nº 9.390/63", afirma a nota publicada no Diário Oficial, nesta terça-feira (10).

Essas tarefas "são essenciais para a adaptação de instalações como pista, pista de táxi, pátio de estacionamento, hangares, armazéns de materiais sensíveis e centro de treino e para a importação de materiais sensíveis, como peças integrantes de aeronaves, como motores, peças sobressalentes, armas reais e de treino", afirma o texto.

No dia 2 de setembro, o Executivo presidido por Javier Milei restringiu o acesso à informação pública.

O porta-voz presidencial, Manuel Adorni, garantiu que "a única limitação" que o governo estabeleceu foi o "abuso da ferramenta".

"O acesso à informação pública não terá qualquer tipo de limitação, porque não é o nosso espírito", assegurou.

No entanto, o decreto afetou assim a Lei de Acesso à Informação Pública aprovada em 2016, que obriga os três Poderes do governo e qualquer organização que receba contribuições públicas a responder aos pedidos de informação de qualquer cidadão em um prazo não superior a um mês.

 

¨      Venezuela diz que o asilo concedido a González foi decidido após 'extensas conversas' com a Espanha

Delcy Rodríguez, vice-presidente da Venezuela, repreendeu, neste domingo (8), o ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, por garantir que não houve um acordo entre os dois Estados para conceder asilo ao ex-candidato presidencial Edmundo González, e afirmou que tal decisão derivou de "extensas conversas".

"A falsidade não é boa conselheira. Foram realizadas extensas conversas e contatos para operacionalizar a saída do opositor González Urrutia do país com todas as garantias oferecidas por um salvo-conduto, produto do acordo entre os dois governos", indicou Rodríguez em seu canal oficial do Telegram.

Na mensagem, a vice-presidente acrescentou que "o fato de uma aeronave da Força Aérea Espanhola aterrissar com autorização das autoridades aeronáuticas da Venezuela é fruto da comunicação".

Rodríguez fez este comentário em referência a uma declaração de Albares na qual referia que "não houve qualquer tipo de negociação política entre o governo de Espanha e o governo da Venezuela, que o asilo político foi um pedido pessoal de Edmundo González".

<><> Brasil preocupado

O assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República do Brasil, Celso Amorim, disse estar "chocado" com a atitude da Venezuela de revogar a custódia da Embaixada da Argentina em Caracas, na capital venezuelana.

A Venezuela rompeu relações com a Argentina após a eleição presidencial. O Brasil, assim como a Colômbia e o México, pediu ao governo venezuelano que publicasse os resultados completos da votação.

O Ministério das Relações Exteriores da Argentina solicitou ao Tribunal Penal Internacional na sexta-feira (6) que emitisse um mandado de prisão contra Nicolás Maduro e outros altos funcionários do governo pelos eventos que ocorreram após as eleições.

Na noite de sexta-feira, alguns membros da oposição na residência argentina relataram em suas contas no X que o prédio estava sob vigilância e não tinha eletricidade. Eles postaram vídeos mostrando homens vestidos de preto e patrulhas da agência de inteligência do governo, a SEBIN.

<><> Maduro diz que entende passo de Edmundo González após saída da Venezuela: 'Espero que se saia bem

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, na segunda-feira (9), se referiu à saída de Edmundo González do país, antigo candidato presidencial, manifestando o seu "respeito" pela decisão de González de pedir asilo à Espanha.

"Posso lhe dizer, digo ao embaixador [Edmundo] González Urrutia em Madri, o meu respeito por sua decisão, todo o meu respeito pela decisão que tomou [...]", disse Maduro durante a transmissão do seu programa Con Maduro Más.

González deixou Caracas no último sábado (7) após pedir asilo político na Espanha e de o governo de Nicolás Maduro ter lhe concedido o salvo-conduto necessário.

"Posso dizer ao embaixador [Edmundo] González Urrutia com quem tive um duro confronto depois de 29 de julho, estive atento a tudo isso, entendo o passo que ele deu e o respeito, e espero que ele se saia bem em seu caminho e em sua nova vida e que tenha a certeza de que seus desejos de paz e harmonia para o país serão cumpridos, na Venezuela a paz reinará acima de tudo", acrescentou o presidente.

Em meio a análises dos meios de comunicação, Maduro garantiu que "hoje o país está calmo", afirmando que "aplaude o que aconteceu".

Ao mesmo tempo, o presidente apelou à oposição para que regresse à via eleitoral "para que faça política verdadeira" e defendeu um diálogo nacional, bem como o combate a "todas as formas possíveis de fascismo".

O ex-candidato da Plataforma Unitária Democrática (PUD, na sigla em espanhol), garantiu na segunda-feira (9) que decidiu pedir asilo político com o objetivo de construir uma nova etapa para o seu país.

Na Venezuela, o opositor foi alvo de um mandado de prisão do Ministério Público pelos crimes de usurpação de funções, falsificação de documento público, instigação à desobediência de leis, formação de quadrilha, sabotagem para danificar sistemas e associação criminosa.

No dia 1º de agosto, o Supremo Tribunal de Justiça venezuelano admitiu o recurso eleitoral interposto pelo presidente Maduro e iniciou uma investigação sobre as eleições, para a qual convocou os dez candidatos que participaram do pleito.

No dia 22 de agosto, a Corte garantiu que o processo de perícia foi concluído e que os boletins emitidos pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela "são totalmente coincidentes com os registros das bases de dados dos centros nacionais de apuração".

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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