Um respiro na
crise: três teatros reabrem em julho, em Salvador
Assistir
a peças de teatro com frequência, em Salvador, não é uma tarefa fácil. E não
por falta de tempo ou de vontade. Escassez de endereços e de novas produções -
especialmente após a pandemia - e as curtas temporadas fazem parte do problema.
A lista enorme de espaços fechados, felizmente, está um pouco mais curta agora.
Em julho, reabrem-se ao público as cortinas do Teatro Sesc Casa do Comércio, do
Espaço Cultural da Barroquinha e da Sala do Coro do Teatro Castro Alves.
O
espaço na Casa do Comércio, fechado há 3 anos, passou por intervenções no
palco, troca de poltronas na plateia, reformulação nos camarins e no foyer e
ganhou maior acessibilidade, com melhorias ainda no sistema de som, luz e nos
revestimentos acústicos. O investimento, segundo a Fecomércio, chegou a R$ 15
milhões. Nesta terça (27), na festa de reabertura, Carlinhos Brown apresentará
o show Umbalista, em um evento fechado para convidados.
Ao
longo do mês, a programação trará duas peças infantis (Histórias do Mundão e O
Jabuti e a Sabedoria do Mundo) e quatro opções para os adultos: as comédias
Fanta Maria e Pandora, da Cia Baiana de Patifaria; e Koanza, do ator Sulivã
Bispo (a Mainha); e os solos Medeia Negra, do grupo Vilavox, e Árcade - versos
para olhar o tempo, do roteirista e diretor baiano Daniel Arcades. Parte dos
eventos já tem ingressos disponíveis no Sympla.
Depois
de 1 ano com as portas cerradas ao ter cabos furtados, o Espaço Cultural da
Barroquinha voltará à cena no dia 4 de julho. Mais uma vez, Sulivã Bispo deverá
ser uma das atrações.
A
Sala do Coro, fechada desde o incêndio no TCA em fevereiro, recebe as aulas
abertas do Balé do teatro e está contratando as próximas atrações para este mês
7.
• Cenário da crise
No
pandêmico 2021, foi fechado o Teatro Eva Herz, que funcionava dentro da
Livraria Cultura do Shopping Salvador, e demolido o Teatro Acbeu, no Corredor
da Vitória. No lugar, um empreendimento imobiliário e fim de papo.
E
não é só isso. Para a produtora cultural Eliana Pedroso faltam espetáculos
grandiosos. Ela participou, em maio, de uma audiência na Câmara de Vereadores
de Salvador para cobrar a regulamentação de uma lei municipal que existe há 13
anos e que obriga os shoppings da capital a terem teatro. Eliana classifica o
cenário atual na Bahia como “cruel”, “árido”, “em crise intensa”, “um
retrocesso”.
“Não
há movimento efervescente, a não ser da música de massa. Falta estratégia por
parte do poder público de implantar projetos estruturantes a longo prazo e
determinar recursos para produções locais significativas.” Ela não economiza em
dizer que vive-se hoje um esgarçamento absurdo das artes de vanguarda na Bahia,
incluindo também a dança. “Teatro fechado é teatro morto.”
Nas
palavras do diretor teatral e gestor cultural Fernando Guerreiro, é preciso que
o teatro volte à ordem do dia. “Ele sumiu, entre aspas, está esquecido. É
lamentável, mas é verdade”, afirma Guerreiro, ele próprio afastado das
produções de teatro, uma vez que está à frente da Fundação Gregório de Mattos.
Guerreiro
cita ainda os preços altos dos ingressos, as temporadas curtas e a crise real
de criatividade – “Me incluo nisso, já que não estou produzindo” – como outros
fatores que caracterizam o teatro baiano em pleno 2023. Ele reconhece, porém, as
exceções. Uma delas foi o espetáculo da atriz Maria Menezes ao comemorar 30
anos de carreira, dirigida por João Sanches. Maria ao vivo, no entanto, já
encerrou a “temporada” no Teatro Módulo.
Com
quase 41 anos na estrada, quem está para subir ao palco após o recesso de São
João é Lelo Filho e sua Cia Baiana de Patifaria, que fechou a sede física na
Barra, espalhou o acervo de 35 anos por onde deu, incluindo a casa do ator,
virou uma empresa virtual e ressurgiu com Fanta Maria e Pandora. É um recorte
de A Bofetada, que estará em cartaz no Cine Teatro de Lauro de Freitas, no
Teatro do Saber de Camaçari, no Amélio Amorim de Feira de Santana, no Sesc Casa
do Comércio em Salvador (sessão única no dia 9 de julho) e voltará ao Teatro
Módulo de 15 de julho a 30 de setembro.
Ele
também vê uma desaceleração da produção artística de Salvador e arrisca alguns
porquês: “Há falta de investimento. Faltam casas de espetáculo. A gente tem os
projetos, mas sem verba? E onde vou me apresentar? Além disso, os teatros não
oferecem temporadas prolongadas. Mas estamos sobrevivendo e resistindo”, diz
ele, que ama fazer teatro e também assisti-lo.
Uma
boa dica é sempre conferir a programação do Teatro Vila Velha, da Escola de
Teatro da Ufba no lendário Martim Gonçalves, do Teatro Jorge Amado, do Molière
na Aliança Francesa, do Sesc Rio Vermelho e Pelourinho e ainda os Espaços Boca
de Brasa em Cajazeiras, Coutos e Valéria. Esses três contarão com apresentações
do musical A Resistência Cabocla, do Bando de Teatro Olodum, também em julho.
Deverá participar o ator Érico Brás, com direção de Jarbas Bitencourt e
coreografia de Zebrinha.
Há
outras boas novas. A Prefeitura de Salvador estuda a construção de um teatro
municipal, e o governo do estado autorizou agora a requalificação do Teatro do
Irdeb, com previsão de entrega no ano que vem.
É
hora, então, de desejar ‘Merda’! Vamos ao teatro.
Grupo Metha encerra parceria com Cine
Glauber Rocha, em Salvador
A
partir de 22 de junho de 2023, o cinema do coração de Salvador volta a se
chamar Cine Glauber Rocha. A parceria com o Grupo Metha e com o Instituto
Metha, iniciada em novembro/2021, encerra-se após um ano e sete meses. Bem
antes dos cinco anos inicialmente previstos em contrato.
Em
Nota o Cine Glauber Rocha conta que o valor do patrocínio deixou de ser pago há
cerca de cinco meses. Havia um planejamento para a manutenção de equipamentos, o
que foi completamente prejudicado. Após algum tempo sem obter respostas, foi
negociado distrato amigável que também não foi cumprido pelo Grupo Metha.
O
cinema lamentou a ruptura do contrato nesses termos e disse esperar por uma
resolução que minimize os prejuízos. O cinema agora, busca novos parceiros para
dar continuidade ao centenário cinema, um dos poucos do país que adota preços
populares e garante um acesso democrático.
• História
O
Cine Glauber Rocha é referência cultural das mais importantes da Bahia.
Inaugurado em 1919, o cinema jamais deixou de ter presença marcante na vida do
soteropolitano. Foi lá que Glauber Rocha exibiu seus filmes. Caetano Veloso
relata que deve sua formação intelectual às sessões do Clube de Cinema
comandadas por Walter da Silveira. Não apenas ele, mas toda uma geração se
formou naquele espaço.
Recuperado
em 2008, após dez anos fechado, o cinema foi capaz de revitalizar todo o
entorno que se encontrava abandonado. Hoje, a região da Praça Castro Alves
abriga importantes teatros e hotéis de Salvador.
O
Cine Glauber Rocha possui quatro salas, que estão entre as mais bem projetadas
do país, além de livraria, restaurante e café. Um verdadeiro complexo cultural
em pleno Centro Histórico. O Glauber, como apelidado carinhosamente pelo
público, concentra estreias de filmes baianos e nacionais, além de sediar
grandes festivais de cinema.
As
sessões populares são o grande destaque da programação. As matinês, além dos
Clubes (Jovem, Melhor Idade e Popular) e Cineclube, garantem o acesso à
população por R$ 5,00. Já o Clube do Professor proporciona sessões gratuitas a
educadores.
Fonte:
Correio/Tribuna da Bahia
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