Para autor da Ficha
Limpa, Bolsonaro não seria condenado sem a lei
O
ex-juiz Márlon Reis, um dos autores responsáveis pela elaboração da Lei da
Ficha Limpa, disse que a norma viabilizou julgamentos como o que pode levar à
inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo TSE (Tribunal
Superior Eleitoral).
Atual
secretário na Comissão Nacional de Direitos Difusos e Coletivos da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil), Reis afirmou que, sem a lei, “Bolsonaro não seria
condenado e, mesmo que isso fosse possível, não ficaria de fora da próxima
eleição presidencial”. A declaração foi feita em entrevista publicada pelo
jornal O Globo nesta 2ª feira (26.jun.2023).
Na
avaliação de Reis, a vigência da lei superou o entendimento anterior de que o
abuso de poder político só seria configurado caso alterasse o resultado de uma
eleição, aumentando o risco de corrupção e de impunidade.
“O
argumento de que era preciso o abuso ter impacto na eleição era uma das maiores
fontes de impunidade. Até os eleitos escapavam. Além disso, a inelegibilidade
por abuso de poder era de três anos. Você ficava inelegível e já podia
concorrer para o mesmo cargo na eleição seguinte”, disse.
Ele
detalha o dispositivo –incluído na legislação por sua iniciativa– que passou a
reger sobre a atuação de agentes políticos no curso de uma eleição: “Para a
configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato
alterar o resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o
caracterizam”.
Na
avaliação do ex-juiz, Bolsonaro deu uma “aula de inelegibilidade, com todos os
elementos necessários”, incluindo o abuso de poder com uso de mídias oficiais
do governo.
“Bastava
ter se aproveitado de um ambiente público, em um evento oficial acompanhado
pela imprensa […]. Mas ele foi além: isso foi veiculado em canal público de TV.
Com isso, perfez outro tipo de abuso de poder, o de uso indevido dos meios de
comunicação.”
O
ex-chefe do Executivo é acusado de abuso de poder político e uso indevido dos
meios de comunicação em uma ação protocolada pelo PDT (Partido Democrático
Trabalhista) em agosto de 2022. O julgamento, iniciado na última 5ª (22.jun),
deve ser retomada na 3ª feira (27.jun).
Conforme
o ex-juiz, a Lei da Ficha Limpa não tem a função de purificar as práticas da
política brasileira, mas “evitar situações mais grosseiras e grotescas”.
“Algumas
pessoas de fora do meio jurídico podem acreditar que o papel dela devesse ser
varrer do mapa todo tipo de erro. Mas isso não existe. A política é um espaço
de disputa de poder. Não é exatamente um lugar onde se encontre mais a
santidade”, afirmou Márlon Reis.
O
ex-juiz concorreu a deputado federal por Tocantins pelo PSB nas eleições de
2022, mas não foi eleito. Ele declarou voto no presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) no pleito do último ano.
Advogado publicará em livro denúncia
contra Bolsonaro no TSE
O
advogado Walber Agra, autor da ação que pode resultar na condenação de Jair
Bolsonaro, acertou com a editora Sankoré a publicação de um livro com a íntegra
da sustentação oral feita na última quinta-feira (22) no plenário do TSE
(Tribunal Superior Eleitoral).
Agra
é advogado do PDT e se manifestou na tribuna pro 15 minutos no primeiro dia de
julgamento. No livro, que terá cerca de 50 páginas, será incluída uma
apresentação e uma exposição mais minuciosa do processo. A previsão é que a
obra seja lançada em agosto. Até lá, se não houver pedido de vista, Bolsonaro
provavelmente estará inelegível pelo prazo de oito anos.
Na
sustentação oral, Agra responsabilizou Bolsonaro pela chamada minuta do golpe,
o documento encontrado na na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres com
um plano para deslegitimar o resultado das eleições do ano passado. “A minuta,
não sabemos a indicação pessoal de quem o fez, mas sabemos a responsabilidade.
É do Palácio do Planalto. Impossível negar a claridade dessa luz”, afirmou.
Na
mesma ocasião, o advogado citou os escritores José Saramago e Goethe para
chamar de “cegueira endêmica” dizer que não há provas suficientes para condenar
Bolsonaro. “Será que vamos entrar novamente em estágio de cegueira
coletiva?Houve uma reunião com claro desvio de finalidade com o objetivo de
desmoralizar as instituições, de forma internacional, o que é grave.
Envergonhou o corpo diplomático brasileiro, sem provas, com alegações descabidas,
tentando transformar nossa nação em um pária internacional”, declarou.
Estratégia de Bolsonaro no TSE contesta
provas e tira peso de fala a embaixadores
A
defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no julgamento no TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) que pode torná-lo inelegível por oito anos tem como
estratégia jurídica o questionamento de parte das provas incluídas no processo.
Além
disso, argumenta que a reunião feita pelo então presidente com embaixadores
teria sido um debate legítimo, sem caráter eleitoral e sem gravidade capaz de
prejudicar o processo eleitoral. O encontro é o elemento central da ação movida
pelo PDT.
Na
ocasião, em julho de 2022, a menos de três meses do primeiro turno, Bolsonaro
fez afirmações falsas e distorcidas sobre o processo eleitoral, a partir de um
inquérito da Polícia Federal sobre um ataque hacker contra o tribunal em 2018.
Ele também buscou desacreditar ministros da corte eleitoral.
Em
sua sustentação oral na última quinta-feira (22), no primeiro dia do
julgamento, o advogado Tarcísio Vieira, que representa Bolsonaro, disse que as
falas do então presidente na reunião podem ter sido feitas em um "tom
inadequado, ácido", mas as chamou de diálogo institucional público.
Carvalho
classificou a ação movida pelo PDT como "impostora e eivada de falsidade
ideológica" e afirmou que não está em julgamento o movimento político
representado pelo ex-mandatário. A sessão de análise do caso será retomada
nesta terça (27), com o voto do relator, a partir das 19h.
Em
suas alegações finais, a equipe jurídica de Bolsonaro questiona a competência
da Justiça Eleitoral para decidir sobre o encontro com os embaixadores,
argumentando que ele seria um ato de governo.
Para
a professora e advogada eleitoralista Elaine Harzheim Macedo, ex-presidente do
TRE-RS (Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul), o conteúdo discutido
no encontro atrai a competência do tribunal.
"Foi
discutido tema eleitoral, levantadas críticas sobre eleição passada e feito
juízo de valor sobre o sistema do TSE quase que como vacinando eventual
resultado negativo", diz.
Segundo
o PDT, autor da ação, houve desvio de finalidade na reunião. Bolsonaro teria
usado o evento para fins eleitorais, pois os ataques ao sistema eletrônico de
votação seriam parte de sua estratégia de campanha.
Entre
as provas, a inclusão na ação da chamada minuta golpista de decreto de estado
de defesa encontrada em janeiro na casa de Anderson Torres, ex-ministro de
Bolsonaro, tem sido alvo de maior contestação pela defesa.
Em
uma primeira camada, os advogados dizem que a minuta não poderia ter sido
incluída depois de estar definido o objeto da ação, no caso, a apresentação aos
embaixadores.
O
argumento é o de que estaria havendo "a admissão de fato novo, e não de
documento novo". A controvérsia nesse caso é se a minuta estaria de fato
ampliando o objeto da ação ou se seria uma elemento novo conectado ao objeto da
ação.
A
defesa cita o julgamento da chapa de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB),
em 2017, quando o TSE decidiu por maioria desconsiderar a inclusão de novas
provas apresentadas após a ação ser protocolada. O material apontava para
outras suspeitas, relacionadas a caixa 2, contra os dois políticos.
Em
seu relatório resumindo o processo, o corregedor-geral eleitoral Benedito
Gonçalves, relator da ação no TSE, escreve que a defesa renovou questionamento
de pontos já decididos pelo plenário da corte, como é o caso da inclusão da
minuta golpista como prova.
A
defesa de Bolsonaro alega ainda que a minuta é "imprestável" para ser
usada como prova, apontando que a perícia atesta que o documento não teria sido
tocado por Bolsonaro e que as únicas digitais encontradas são de pessoas que
acompanharam a busca e apreensão efetivada pela PF.
Para
Ana Carolina Clève, presidente do Iprade (Instituto Paranaense de Direito
Eleitoral), não caberia rediscutir questões já pacificadas que passaram pelo
crivo coletivo, por questão de segurança jurídica.
Já
o advogado eleitoralista e secretário-geral da Abradep (Academia Brasileira de
Direito Eleitoral e Política), Luiz Gustavo de Andrade, diz que, como no
processo eleitoral não cabe recursos contra decisões interlocutórias, é
possível que o colegiado retome as discussões.
Andrade
afirma que concordaria com o argumento, se a minuta fosse a única prova do
processo, o que não é o caso. "A minuta se soma a tudo que o presidente
vinha falando."
Ana
Cláudia Santano, professora de direito eleitoral e coordenadora da
Transparência Eleitoral Brasil, a importância que vai ser dada à minuta no
julgamento depende essencialmente do entendimento dos julgadores.
"Tem
inclusive um princípio processual que diz que é do livre convencimento do juiz
analisar provas", diz.
Também
provas incluídas de ofício (sem pedido das partes) pelo relator da ação são
contestadas pela defesa. Por determinação do ministro, lives sobre o sistema
eleitoral feitas por Bolsonaro em 2021 também passaram a compor a ação, assim
como documentos de outras investigações.
A
defesa de Bolsonaro considera que a atuação do ministro ultrapassou os limites
do que prevê a legislação eleitoral, que em Aijes (ações de investigação
judicial eleitoral) dá poderes mais amplos ao juiz, possibilitando atuação mais
proativa.
Segundo
os advogados, não é crível que, com base nisso, se atue para "suprir
atuação deficiente" do PDT, autor da ação.
"Você
não tem ampliação do conteúdo", opina Volgane Carvalho, membro da
coordenação acadêmica da Abradep e servidor da Justiça Eleitoral no Maranhão.
"O que a prova vai fazer é trazer elementos que confirmem que, antes da
conversa com os embaixadores e depois, foi seguido esse ambiente de
desinformação."
O
PDT, ao afirmar que houve desvio de finalidade no evento com a propagação de
desinformação sobre o sistema eleitoral, acusa Bolsonaro de abuso de poder
político e uso indevido dos meios de comunicação social.
Segundo
Volgane, ao se debruçar sobre a questão, o TSE deverá primeiro analisar o
conteúdo do discurso e avaliar se houve deslegitimação do sistema eletrônico ou
se foi discurso legítimo. No caso de se entender que ultrapassa o limite da
livre manifestação, a corte deve então passar à analise da gravidade.
Os
advogados de Bolsonaro sustentam que, no mérito, ele não cometeu nenhum ilícito
eleitoral no evento.
O
ex-presidente, dizem, não teria tido nenhuma intenção de interferência na
vontade do eleitor, sua atuação ali seria como chefe de Estado, com objetivo de
"contrapor ideias e dissipar dúvidas sobre a transparência do processo
eleitoral".
A
defesa diz que a conduta de Bolsonaro não "se reveste da gravidade mínima
necessária à procedência de ação de tamanha envergadura".
Para
os advogados, ainda que se reconhecesse que haveria gravidade suficiente no ato
do ponto de vista qualitativo, não há que se falar em gravidade quantitativa.
A
defesa usa, por exemplo, a baixa abstenção no 2º turno da eleição como
argumento para dizer que ficou comprovado que "não houve qualquer efeito
de descrédito generalizado".
Para
Ana Carolina (Iprade), o conteúdo do discurso é simbólico e causa impacto,
dando a gravidade qualitativa exigida para caracterizar o abuso de poder
político.
O
aspecto quantitativo, por sua vez, estaria no fato de as falas terem sido
replicadas nas redes sociais, perdendo o controle sobre o seu alcance junto aos
eleitores.
Bolsonaro se reúne com deputados do PL em
SP na tentativa de construir imagem de ‘perseguido’
O
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve na capital paulista nesta
segunda-feira, 26, para um encontro com parlamentares federais e estaduais do
PL na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Marcada para as
10h30, a reunião contará com a presença do presidente da sigla, Valdemar Costa
Neto, e está dentro de um “road show” que o Bolsonaro tem feito pelo País para
dizer que está sendo “perseguido”.
Como
mostrou a Coluna da Vera Rosa, do Estadão, a estratégia apela para a influência
política do ex-presidente para construir uma imagem de mártir. A expectativa é
que Bolsonaro retorne a Brasília depois do encontro da segunda-feira. Ele deve
acompanhar de casa a sessão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que retoma na
terça-feira, 27, o julgamento do processo que pode torná-lo inelegível.
No
encontro nesta segunda, estarão os 17 deputados federais e 19 deputados
estaduais do Partido Liberal. A reunião será fechada. Bolsonaro já está em São
Paulo. Neste domingo, 25, assistiu ao jogo entre Palmeiras e Botafogo no
Allianz Parque.
No
dia 1° de junho, última vez em que esteve em São Paulo, o ex-presidente repetiu
o gesto ao lado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), com quem
assistiu à partida de futebol entre São Paulo Futebol Clube e Sport Recife,
depois de um dia no qual compartilharam agendas. No estádio, o público ficou
divido entre aplausos e vaias, mas nas redes sociais o ex-presidente repercutiu
vídeos da sua ida ao estádio como demonstração de que tem apelo popular.
• Julgamento
Na
quinta-feira, 22, o TSE deu início ao julgamento do processo que pode tornar
Bolsonaro inelegível. O PDT acusa o ex-presidente de abuso do poder político e
dos meios de comunicação por causa do discurso que ele fez no dia 18 de julho
de 2022 a cerca de 70 embaixadores. Na ocasião, ele atacou o sistema eleitoral
e disse que as urnas são frágeis, o que foi interpretado como um discurso
antecipado de campanha.
Durante
a sessão, Bolsonaro desembarcou em Porto Alegre (RS) para participar de
reuniões com membros do PL. Ao longo do dia, ele publicou vídeos e fotos
mostrando a recepção de simpatizantes. O julgamento na Corte eleitoral continua
na terça com a leitura dos votos dos ministros.
Também
como parte das viagens pelo País, no sábado, 17, Valdemar e Bolsonaro estiveram
em Jundiaí (interior de São Paulo), em um evento que trouxe o prefeito da
cidade, Luiz Fernando Machado, para o partido. Tarcísio, o senador Marcos Pontes
(PL-SP) e o presidente da Alesp, André do Prado (PL-SP), estavam na comitiva.
O
astronauta é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, mas, até o momento, o
bolsonarismo está dividido entre o ex-ministro e Ricardo Nunes (MDB), atual
prefeito da capital paulista, cujo apadrinhamento está condicionado à sua ida
para o PL.
Fonte:
UOL/Poder 360/FolhaPress/IstoÉ
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