‘Líderes de motim
querem sufocar Rússia com conflitos sangrentos’, diz Putin
O
presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusou os líderes do motim de Wagner no
fim de semana passado de querer "ver a Rússia sufocada em um conflito
sangrento".
Em
um breve discurso, Putin prometeu levar os organizadores da revolta "à
justiça".
Mas
ele chamou as tropas de mercenários conhecida como Wagner de
"patriotas" que teriam permissão para ingressar no exército, ir para
a Bielorrússia ou voltar para casa.
Ele
não citou diretamente o chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, que
anteriormente negou ter tentado derrubar o regime de Putin.
Wagner
é um exército privado de mercenários que luta ao lado do exército regular da
Rússia na invasão da Ucrânia.
A
rebelião de curta duração, que viu os combatentes de Wagner tomarem uma grande
cidade russa antes de seguirem para o norte em direção a Moscou em uma coluna
de veículos militares, foi uma resposta aos planos do governo de assumir o
controle direto de Wagner, afirmou Prigozhin em uma declaração feito por meio
de um áudio de 11 minutos. O áudio foi publicado no Telegram nesta
segunda-feira.
Em
junho, a Rússia disse que "formações de voluntários" seriam
solicitadas a assinar contratos com o Ministério da Defesa, em um movimento
amplamente visto como uma ameaça ao domínio de Prigozhin sobre Wagner.
O
chefe mercenário disse que sua rebelião também foi um protesto contra erros
cometidos por oficiais de defesa durante a guerra com a Ucrânia.
Mas
ele insistiu que Wagner agiu sempre e apenas no interesse da Rússia.
Estes
foram os primeiros comentários públicos de Prigozhin desde o acordo para deter
a rebelião, que supostamente inclui sua ida à Bielorrússia com todas as
acusações criminais contra ele retiradas - embora a mídia estatal russa,
citando autoridades, tenha relatado que Prigozhin continua sob investigação.
Prigozhin
disse que pôs fim ao motim para parar de "derramar o sangue dos soldados
russos", acrescentando que alguns civis ficaram desapontados com o fim da
marcha.
Ele
também enfatizou que não tinha intenção de “tentar derrubar as autoridades
eleitas da Rússia.”
A
declaração era apenas um áudio, então não está claro onde Prigozhin está agora
ou o que ele fará a seguir.
Em
seu breve discurso ao povo russo, Putin disse que os organizadores da marcha em
Moscou seriam "levados à justiça" e descreveu seu antigo aliado
Prigozhin como alguém que tentou “esfaquear a Rússia pelas costas.”
Ele
usou o discurso como uma tentativa de reafirmar sua autoridade e esmagar a
visão agora comum de que sua resposta ao motim de Wagner foi fraca. Seu tom no
breve discurso era de raiva.
A
mensagem do presidente era que “aqueles que organizaram uma insurreição traíram
seu país e seu povo”. E estavam “fazendo o trabalho de todos os inimigos da
Rússia, tentando arrastá-la para o derramamento de sangue e a divisão interna.”
Putin
acusou o Ocidente de querer que os russos "se matem".
Já
o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse em entrevista coletiva na segunda-feira
que seu país e seus aliados não tiveram envolvimento na rebelião de Wagner.
Putin
argumentou que sua própria gestão da crise evitou o desastre. Mas não foi isso
que muitos russos viram no fim de semana e é difícil pensar que eles ficarão
convencidos com esse desempenho.
O
presidente também disse que manteria sua promessa de permitir que as tropas de
Wagner que não "se voltassem para o sangue fratricida" partissem para
a Bielorrússia.
"Agradeço
aos soldados e comandantes do Grupo Wagner que tomaram a única decisão certa.
Eles não recorreram ao derramamento de sangue fratricida, pararam na última
linha", disse Putin.
"Hoje,
você tem a oportunidade de continuar seu serviço na Rússia assinando um
contrato com o [Ministério da Defesa] ou outras estruturas militares e de
aplicação da lei, ou voltar para sua família e entes queridos. Quem quiser pode
partir para a Bielorrússia. A promessa que fiz será cumprida", afirmou
Putin
Ele
acrescentou que "medidas foram tomadas para evitar derramamento de
sangue" logo no início do motim, e que seus organizadores "perceberam
que suas ações eram criminosas".
Ele
elogiou a “unidade da sociedade russa” e agradeceu ao líder bielorrusso
Alexander Lukashenko, que supostamente negociou um acordo para acabar com a
rebelião, por seus esforços para resolver a situação pacificamente.
A
fala de Vladimir Putin sobre um país unido em seu apoio contrasta fortemente
com as imagens de sábado da cidade de Rostov, no sul, onde o grupo Wagner
assumiu o controle e os moradores aplaudiram os combatentes nas ruas,
abraçando-os e posando para selfies.
É
provavelmente por isso que Putin ofereceu aos membros de Wagner uma saída,
sugerindo que eles foram enganados e usados.
A
rebelião da semana passada ocorreu após meses de tensões crescentes entre
Wagner e a liderança militar da Rússia.
As
lutas internas chegaram ao auge na noite de sexta-feira, quando os mercenários
de Wagner cruzaram a fronteira de seus acampamentos na Ucrânia e entraram na
cidade de Rostov-on-Don, no sul - de onde a guerra da Rússia está sendo
dirigida.
Eles
então assumiram o comando regional enquanto uma coluna de veículos militares se
movia para o norte em direção a Moscou.
Prigozhin
afirmou que sua "marcha pela justiça" revelou "sérios problemas
de segurança em todo o país".
Ele
também mencionou o papel que Lukashenko desempenhou na intermediação do acordo
para encerrar o motim, dizendo que o líder ofereceu a Wagner uma maneira de
continuar operando em uma "jurisdição legal".
Prigozhin
reconheceu que sua marcha resultou na morte de alguns soldados russos quando
mercenários de Wagner abateram helicópteros de ataque.
Mas
ele acrescentou que "nem um único soldado foi morto no chão".
"Lamentamos termos de atacar a aeronave, mas eles estavam nos atacando com
bombas e mísseis", disse ele.
Ø
'Não
foi golpe': líder do grupo Wagner quebra silêncio sobre marcha de mercenários a
Moscou
O
líder do grupo mercenário Wagner, que protagonizou uma impressionante marcha
militar desde a Ucrânia em direção a Moscou no sábado (23/6), quebrou o silêncio
sobre sua fugaz rebelião contra o Exército russo.
Yevgeny
Prigozhin divulgou um comunicado na segunda-feira (26/6) por meio de um áudio
de 11 minutos em um canal do Telegram. Na mensagem, ele disse que iniciou a
marcha em resposta aos planos do Ministério da Defesa da Rússia para que sua
empresa "deixe de existir" no próximo mês.
"O
objetivo da marcha era evitar a destruição do (grupo) Wagner e chamar a atenção
dos funcionários que, por meio de suas ações não profissionais, cometeram um
grande número de erros", disse ele em sua mensagem.
"Não
estamos marchando para derrubar a liderança da Rússia", disse ele.
A
crise começou entre sexta e sábado, quando Prigozhin convocou um levante contra
o Exército russo.
O
presidente russo, Vladimir Putin, denunciou o chamado para a rebelião como uma
"traição" e chamou o movimento de tropas de "uma facada nas
costas".
Após
horas de tensão com o exército russo, Prigozhin anunciou a retirada dos
milicianos do Wagner para seu quartel-general e, desde então, só se sabe que
ele havia deixado a Rússia pela fronteira com Belarus.
Prigozhin
é uma das principais figuras militares da Rússia e um aliado de Putin há anos.
Desde
a invasão russa da Ucrânia, que começou em fevereiro de 2022, ele atuou nas
frentes de guerra para assegurar os territórios ucranianos a favor de Moscou.
·
O grupo Wagner deixa de existir?
No
áudio transmitido nesta segunda-feira, Prigozhin insistiu que o objetivo da
marcha a Moscou não era "um golpe militar", mas "uma marcha por
Justiça".
Ele
anunciou que a companhia mercenária estava condenada a deixar de existir no dia
1º de julho por causa dos planos do Kremlin.
Ele
também disse ter se arrependido por "ter atacado aeronaves russas".
Ele explicou que deu a ordem de voltar "para evitar derramar o sangue dos
soldados russos".
“Estávamos
em uma marcha para mostrar nosso protesto, não para derrubar o governo”, disse
ele.
Falando
sobre os termos do acordo que supostamente foi feito para conter a rebelião,
Prigozhin observou que o grupo era "categoricamente contra a decisão de
fechar o Wagner em 1º de julho de 2023 e incorporá-lo para o Ministério da
Defesa".
Os
comandantes se recusaram a aceitar o pedido de assinatura de contratos com o
Ministério da Defesa da Rússia, disse ele.
Pelo
contrário, ele afirma que cerca de 30 de seus homens "foram mortos por
ataques russos".
A
BBC não conseguiu confirmar essa afirmação.
Prigozhin
também disse que o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, desempenhou um
papel importante no acordo com Moscou.
"Ele
estendeu a mão e se ofereceu para encontrar maneiras do Wagner continuar seu
trabalho legalmente", disse o líder sem dar detalhes.
Desde
a retirada no sábado, seu paradeiro não foi revelado e na mensagem de áudio ele
não deu detalhes sobre isso.
Vários
relatos sugerem que, como parte do acordo com Moscou, Prigozhin concordou em ir
para Belarus.
·
'Problemas de segurança' na Rússia
Nas
últimas semanas, Prigozhin criticou fortemente as forças de segurança da
Rússia, e isso se refletiu em sua mensagem de áudio.
Ele
disse que a marcha para Moscou no sábado revelou "problemas de segurança
mais sérios em todo o país", e disse que suas unidades conseguiram
bloquear "todas" as unidades militares russas e aeródromos em seu
caminho.
Segundo
ele, contou ainda com o apoio das localidades por onde passou durante a curta
rebelião na qual as suas forças percorreram 780 km.
Essa
distância é equivalente à que as forças russas percorreram no dia 24 de
fevereiro de 2022, quando iniciaram a invasão da Ucrânia.
Para
Prigozhin, se forças como as tropas de Wagner tivessem realizado aquele
primeiro ataque de 2022, "a operação militar especial na Ucrânia"
teria terminado muito antes.
Fonte:
BBC News Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário