Crimes no Discord:
suspeito diz ganhar R$ 7 mil com games, diz que estuda direito
O
jovem preso no início deste mês pela Polícia Civil de São Paulo por suspeita de
associação criminosa e de armazenar e divulgar pornografia infantil na internet
disse à Justiça que cursava faculdade de direito e recebia até R$ 7 mil por mês
trabalhando com o desenvolvimento de games.
O
interrogatório dele foi gravado em vídeo. Nas imagens, Vitor Hugo Souza Rocha,
que é conhecido como o "Verdadeiro Vitor", fica em silêncio ao ser
perguntado sobre as acusações e também chora (assista acima).
Em
um dos arquivos apreendidos pela investigação com imagens das vítimas, o
universitário chama as vítimas de "vagabundas estupráveis" no Discord
(aplicativo da internet usado principalmente por adolescentes para conversar
sobre jogos).
O
rapaz aparece dando risada num vídeo quando mostra a outros rapazes um arquivo
identificado como "backup vagabundas estupráveis" (veja abaixo). Nele
estavam imagens nuas de meninas menores de 18 anos de idade. Muitas eram
vítimas do grupo, obrigadas a tirar fotos e vídeos sem roupa, e se mutilarem.
Algumas foram estupradas pelos participantes.
Vitor
tem 21 anos. Ele foi detido em flagrante em 7 de junho em Bauru, no interior
paulista. Além dele, outros três jovens, todos adultos, foram presos
temporariamente na semana passada e nesta semana por decisão judicial após o
"Fantástico" revelar outro caso de violência contra garotas envolvendo
o aplicativo Discord em maio (saiba mais abaixo). Eles também respondem pelos
mesmos crimes de Vitor, mais estupro de vulnerável e ameaça contra meninas
menores.
Segundo
a investigação, todos os quatro agressores se conheciam, integravam esse grupo
virtual no Discord e planejavam os crimes na plataforma. Além de serem
obrigadas a enviar "nudes" (fotos e vídeos íntimos) ao grupo, as
garotas tinham que se cortar para marcar as iniciais dos apelidos dos rapazes
na pele.
Algumas
das vítimas eram forçadas a ter relações sexuais com os jovens. Os abusos
sexuais e agressões eram filmados e compartilhados pelos criminosos no Discord.
Uma adolescente de 13 anos e outra de 16 acusam os rapazes de estupros. Elas
são, respectivamente, de Santa Catarina e São Paulo e tinham ido ao encontro do
grupo depois de conhecer seus participantes no aplicativo.
A
polícia também investiga a possibilidade de que os jovens tenham violentado
sexualmente e ameaçado mais cinco garotas: 3 em São Paulo, uma no Espírito
Santo e outra no Amapá.
Os
presos também são investigados por apologia ao nazismo, racismo e tráfico de
drogas. É apurado ainda se algum deles teve participação no assassinato de um
morador de rua.
• Preso de cueca e choro
Os
policiais de São Paulo viajaram até Bauru para cumprir o mandado de prisão
temporária de Vitor autorizado pela Justiça. Ele foi encontrado de cueca no
quarto da casa onde mora com a família. Acabou algemado e levado para a
delegacia em São Paulo.
Lá,
Vitor se reservou ao direito constitucional de ficar em silêncio e não
responder as perguntas dos agentes, quando foi indagado sobre as acusações de
possuir material pornográfico com menores de idade, que é proibido. Vídeo
gravado pelas autoridades mostra o momento em que o estudante é questionado (veja
acima).
"São
sádicos, são misóginos. Eles têm um asco por mulheres", disse Fábio
Pinheiro, delegado responsável pela investigação, ao Fantástico.
Outra
filmagem feita pela Justiça registrou o momento em que o estudante contou estar
no quarto ano de direito de uma universidade (veja acima). As poucas perguntas
que ele respondeu ao juiz foram para dizer que também trabalhava e recebia
entre R$ 5 mil a R$ 7 mil produzindo conteúdo para games. Vitor se negou a
comentar as denúncias de que guardava imagens com crianças e adolescentes nuas.
O
universitário ainda aparece chorando quando sua defesa perguntou se ele foi
algemado quase sem roupa e se havia necessidade disso, já que ele não teria
oferecido resistência aos policiais que invadiram sua residência. Durante toda
a audiência, as mãos do investigado estavam presas, por segurança.
• Justiça decreta prisão preventiva
O
g1 não conseguiu localizar a defesa de Vitor para comentar o assunto até a
última atualização desta reportagem. Na filmagem feita pela Justiça, seu
defensor pede ao magistrado o relaxamento da prisão em flagrante para que seja
concedida a ele a liberdade provisória, já que o rapaz nunca havia sido preso
antes, tem endereço, estuda e trabalha.
O
Ministério Público (MP) pediu a manutenção da prisão. O juiz acabou decretando
a prisão preventiva do investigado, sem prazo determinado para sair.
"Não
se trata de desafios que estão sendo praticados por adolescentes. Se trata de
criminosos: grande maioria é maior de idade", disse a promotora Maria Fernanda
Balsalobre ao Fantástico.
Os
outros detidos pela polícia são:
• Gabriel Barreto Vilares, o
"Law", de 22 anos (preso na sexta-feira passada, dia 23, na capital
paulista): investigado por associação criminosa, estupro e ameaça;
• William Maza dos Santos, o
"Joust", de 20 anos (também detido na última sexta em São Paulo):
investigado por associação criminosa, estupro e ameaça;
• Carlos Eduardo Custódio do Nascimento, o
"DPE", de 19 anos (detido nesta segunda, 26): investigado associação
criminosa, por estupro e ameaça.
A
reportagem não conseguiu localizar as defesas dos demais presos para tratar do
caso.
Além
da responsabilização individual dos agressores, o Ministério Público também
investiga o próprio Discord. Em entrevista ao Fantástico, um porta-voz disse
que a plataforma “não tolera comportamento odioso”.
Em
abril, o Fantástico havia revelado como Izaquiel Tomé dos Santos, o
"Dexter", de 20 anos, também estuprava e ameaça meninas menores de
idade que conheceu no Discord. Ele foi detido em abril. Segundo a investigação,
ele não conhecia os outros quatro presos. Sua defesa também não foi localizada.
A
Polícia Federal (PF) também investiga se outros rapazes usaram o Discord para
cometer estupros e ameaças contra outras dez garotas menores de idade.
• Polícia Civil do RJ apreende dois
menores suspeitos de usar Discord para violência sexual e estimular
automutilação e suicídio
Policiais
civis da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) apreenderam, na manhã
desta terça-feira (27), dois adolescentes de 14 e 17 anos apontados como
responsáveis por praticar estupros e induzir meninas a automutilação e suicídio
na plataforma Discord. Segundo a polícia, o adolescente de 17 anos era um dos
principais líderes do grupo.
As
investigações da Operação "Dark Room" começaram em março deste ano,
com o compartilhamento de informações entre a Polícia Federal e policiais civis
de vários estados do país. Técnicas de investigação cibernética foram usadas
para apurar crimes cometidos pelos adolescentes no meio virtual.
Os
policiais descobriram que os menores usavam três servidores da plataforma, que
oferece a comunicação com o suporte de mensagens de texto, voz e chamadas de
vídeo, para cometerem atos de extrema violência contra animais e adolescentes.
Eles ainda divulgavam pedofilia, zoofilia e faziam apologia ao racismo, nazismo
e a misoginia.
Durante
as investigações, os agentes obtiveram provas como vídeos de mutilação e
sacrifício de animais que eram parte dos desafios impostos pelos chefes dos
grupos como condição para que eles obtivessem “cargos”, que se traduziam em
permissões e acesso a funções dentro do grupo. Estas ações eram transmitidas em
chamadas de vídeo para todos os integrantes do grupo.
• Vítimas
As
investigações mostraram que adolescentes eram chantageadas e constrangidas a se
tornarem escravas sexuais dos chefes destes grupos. Segundo os policiais, eram
cometidos “estupros virtuais” que eram transmitidos ao vivo por meio de
transmissões ao vivo para todos os integrantes do servidor.
Os
registros obtidos pelos investigadores mostraram que as menores eram xingadas,
humilhadas e obrigadas a se automutilar. Ao comando do responsável pelo grupo,
que deveria ser tratado como um “Deus”, ou “dono” delas, eram obrigadas a fazer
cortes com navalha nos braços, pernas, seios e genitália. Os outros integrantes
do grupo riam e vibravam com a crueldade.
Policiais
da DCAV realizam operação nesta terça-feira (27) — Foto: Reprodução
As
vítimas eram moradoras de várias partes do país e escolhidas no próprio
Discord, em perfis abertos nas redes sociais ou mesmo indicadas por integrantes
do grupo. Eles conseguiam informações pessoais das meninas e, a partir daí,
iniciavam uma série de chantagens, afirmando que possuíam fotos comprometedoras
que seriam vazadas ou enviadas para os pais, caso não se submetessem às
chantagens.
De
acordo com os policiais, os integrantes destes grupos estavam blefando na
maioria dos casos.
Depois
da violência em salas no Discord, grupos públicos no aplicativo de mensagens
Telegram eram criados posteriormente para publicar os vídeos e expor as
vítimas.
Deputada diz que um dos presos por crimes
no Discord a ameaçava
A
deputada federal Duda Salabert (PDT) disse nesta segunda-feira (26) que o homem
que a ameaçava de morte desde 2020 foi preso por envolvimento em crimes de
violência contra adolescentes na plataforma Discord.
"Esse
caso não é pontual, é estrutural. Pode ser que essa estrutura tenha, inclusive,
o envolvimento de parlamentares e agentes políticos. Digo isso porque essa
estrutura só me ataca em contextos de campanha eleitoral", disse a
deputada, que é uma mulher trans.
William
Maza dos Santos, de 20 anos, foi um dos denunciados na reportagem do
Fantástico, que mostrava como agia o grupo que utilizava a plataforma Discord
para atrair meninas menores de idades. As vítimas eram agredidas, estupradas e
expostas em lives na rede.
Outra
reportagem, de abril deste ano, mostrou como o Discord, um aplicativo popular
entre adolescentes, havia virado uma ferramenta para envolver jovens em um
submundo de violência extrema. Até agora, cinco pessoas foram presas acusadas
de envolvimento nos crimes.
"Desde
2020 recebo ameaças de morte assinadas por símbolos nazistas de uma célula da
qual William Maza possivelmente participava. Por causa dessas ameaças, perdi
meu emprego de professora, pois eles encaminharam essas ameaças aos donos e à
direção da escola que eu trabalhava", relembrou Duda Salabert.
• 'Ponta do iceberg'
A
deputada defende que haja uma investigação aprofundada que mostre quem financia
e fortalece essas estruturas de ódio.
Segundo
Duda, um dos pontos preocupantes é que essa escalada de comportamentos
violentos tem como efeito colateral os ataques recentes às escolas.
"O
que se sabe é que essas novas tecnologias tem uma relação com pessoas mais
jovens. Não pode ser um episódio isolado. São grupos neonazistas que
infelizmente têm influenciado parte da juventude brasileira. Há uma relação
muito maior, os jovens são só a ponta do iceberg", disse ela.
• Ameaças antigas
As
ameaças foram divulgadas por Duda em agosto do ano passado. Na época, a então
vereadora mostrou que as mensagens enviadas por William tinha conteúdo racista,
homofóbico e com referências ao nazismo.
Na
época, a vereadora concorria a uma vaga na Câmara dos Deputados nas eleições de
2022, e precisou de escolta desde que recebeu as primeiras ameaças.
A
deputada relatou que durante o período de campanha chegou a receber um e-mail
anônimo com o telefone de William. Ela ligou para o suspeito e disse que
levaria o caso à polícia, dias depois, um homem que se apresentou como tio de
William foi até o gabinete da então vereadora.
"Ficamos
com medo quando o tio do William Maza chegou, sem avisar, no meu gabinete em
2022. Disse que era advogado e que seu sobrinho era inocente. Entregou-nos
papéis, entre eles um boletim de ocorrência que revelava que na casa de William
foram apreendidos coturno militar, balaclava e canivete", disse a
deputada.
A
defesa de William Maza dos Santos ainda não se posicionou sobre o ocorrido.
'Diziam que iam me esfaquear', diz mãe de
menina abusada
A
mãe de uma das vítimas de criminosos que usavam a plataforma Discord para
abusar de menores de idade relatou que também foi ameaçada pelos agressores. Em
entrevista ao Fantástico, ela conta que a filha se automutila em decorrência
das humilhações que sofreu.
"Eles
falaram coisas comigo, dizendo que iam me esfaquear", diz. "Os dois
braços dela são todos cheios de cicatrizes porque ela se automutila toda."
Cinco
pessoas foram presas acusadas de envolvimento em crimes de violência contra
meninas menores de idade no Discord. Os abusadores ameaçavam as adolescentes
pela internet e as incentivavam a se mutilar. Eles também atraíram vítimas para
locais onde foram humilhadas e agredidas.
Um
dos criminosos, Izaquiel Tomé dos Santos, 20 anos, era conhecido na plataforma
como Dexter. Preso desde abril, Dexter torturou pelo menos dez adolescentes.
Elas eram obrigadas a se mutilar com a assinatura do abusador.
Em
depoimento a Polícia Federal, Izaquiel admitiu ter chantageado garotas para que
elas se mutilassem. A Polícia Federal também visitou todas as vítimas de Dexter
para conversar com as famílias e oferecer apoio psicológico.
Trechos
de conversas obtidos pelo Fantástico mostram como Dexter agredia verbalmente
suas vítimas.
"Ajoelha.
Se prostra para mim. Eu sou a p**** de um Deus para você agora", ordena
Dexter a uma de suas vítimas. Na gravação, é possível escutar a menina soluçar.
"Você é uma vagabunda que merece sofrer mesmo", diz o abusador.
O
Fantástico mostrou a rede de criminosos que age no aplicativo muito usado por
adolescentes. Conforme destacado na reportagem, eles integram um grupo de
jovens anestesiados, insensíveis à própria dor e, principalmente, à dos outros.
“Eles
são sádicos, misóginos, eles têm um asco, um avesso por mulheres”, afirma o
delegado Fábio Pinheiro Lopes.
Delegado alerta pais para crimes no
Discord: Muito tempo no quarto e uso de casacos para esconder ferimentos
A
Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu dois adolescentes de 14 e 17 anos em
operação que investigas crimes cometidos na internet pelo aplicativo Discord.
Eles são suspeitos de induzir meninas a práticas violentas contra elas mesmas.
As
vítimas são de várias regiões do país e, segundo a polícia, eram chantageadas
pela quadrilha. Os criminosos diziam que tinham fotos comprometedoras que
seriam publicadas na internet caso elas não obedeçam a ordens.
O
delegado da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav) Luiz Henrique
Fonseca aponta alguns sinais de alerta para os pais ficarem atentos.
"O
grande alerta que se faz é de que os quartos dos nossos filhos hoje em dia
podem não ser um local seguro. Fica aí o alerta para que os pais monitorem a
permanência dos seus filhos nos seus quartos. E mais: adolescente gosta muito
de usar casaco grande e parte dessas tarefas consiste em cortar o corpo com
gilete e, assim, observar o seu filho, olhar o corpo, o braço, a perna, e ver
se tem algum sinal de violência", diz.
As
investigações começaram em março deste ano, com o compartilhamento de
informações entre a Polícia Federal e policiais civis de vários estados. Desde
abril, mais de 10 pessoas foram presas ou apreendidas por policiais federais e
civis de vários estados.
• Discord
O
Discord é uma plataforma que permite que as pessoas se comuniquem em transmissões
ao vivo de vídeo. O Fantástico exibiu uma reportagem no último domingo (26)
sobre como a plataforma é usada como ferramenta para envolver jovens em atos
violentos.
As
investigações mostraram que adolescentes tinham seus dados roubados de bancos
de dados até de hospitais. A partir disso, eram chantageadas e constrangida a
se tornarem escravas sexuais dos chefes desses grupos.
O
Jornal Hoje entrou em contato com o Discord nesta terça (27), mas não obteve
retorno. O porta-voz da empresa, no entanto, tem dito que o Discord não tolera
comportamento odioso e que remove esse tipo de conteúdo.
Fonte:
g1
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