quarta-feira, 28 de junho de 2023

Crimes no Discord: suspeito diz ganhar R$ 7 mil com games, diz que estuda direito

O jovem preso no início deste mês pela Polícia Civil de São Paulo por suspeita de associação criminosa e de armazenar e divulgar pornografia infantil na internet disse à Justiça que cursava faculdade de direito e recebia até R$ 7 mil por mês trabalhando com o desenvolvimento de games.

O interrogatório dele foi gravado em vídeo. Nas imagens, Vitor Hugo Souza Rocha, que é conhecido como o "Verdadeiro Vitor", fica em silêncio ao ser perguntado sobre as acusações e também chora (assista acima).

Em um dos arquivos apreendidos pela investigação com imagens das vítimas, o universitário chama as vítimas de "vagabundas estupráveis" no Discord (aplicativo da internet usado principalmente por adolescentes para conversar sobre jogos).

O rapaz aparece dando risada num vídeo quando mostra a outros rapazes um arquivo identificado como "backup vagabundas estupráveis" (veja abaixo). Nele estavam imagens nuas de meninas menores de 18 anos de idade. Muitas eram vítimas do grupo, obrigadas a tirar fotos e vídeos sem roupa, e se mutilarem. Algumas foram estupradas pelos participantes.

Vitor tem 21 anos. Ele foi detido em flagrante em 7 de junho em Bauru, no interior paulista. Além dele, outros três jovens, todos adultos, foram presos temporariamente na semana passada e nesta semana por decisão judicial após o "Fantástico" revelar outro caso de violência contra garotas envolvendo o aplicativo Discord em maio (saiba mais abaixo). Eles também respondem pelos mesmos crimes de Vitor, mais estupro de vulnerável e ameaça contra meninas menores.

Segundo a investigação, todos os quatro agressores se conheciam, integravam esse grupo virtual no Discord e planejavam os crimes na plataforma. Além de serem obrigadas a enviar "nudes" (fotos e vídeos íntimos) ao grupo, as garotas tinham que se cortar para marcar as iniciais dos apelidos dos rapazes na pele.

Algumas das vítimas eram forçadas a ter relações sexuais com os jovens. Os abusos sexuais e agressões eram filmados e compartilhados pelos criminosos no Discord. Uma adolescente de 13 anos e outra de 16 acusam os rapazes de estupros. Elas são, respectivamente, de Santa Catarina e São Paulo e tinham ido ao encontro do grupo depois de conhecer seus participantes no aplicativo.

A polícia também investiga a possibilidade de que os jovens tenham violentado sexualmente e ameaçado mais cinco garotas: 3 em São Paulo, uma no Espírito Santo e outra no Amapá.

Os presos também são investigados por apologia ao nazismo, racismo e tráfico de drogas. É apurado ainda se algum deles teve participação no assassinato de um morador de rua.

•        Preso de cueca e choro

Os policiais de São Paulo viajaram até Bauru para cumprir o mandado de prisão temporária de Vitor autorizado pela Justiça. Ele foi encontrado de cueca no quarto da casa onde mora com a família. Acabou algemado e levado para a delegacia em São Paulo.

Lá, Vitor se reservou ao direito constitucional de ficar em silêncio e não responder as perguntas dos agentes, quando foi indagado sobre as acusações de possuir material pornográfico com menores de idade, que é proibido. Vídeo gravado pelas autoridades mostra o momento em que o estudante é questionado (veja acima).

"São sádicos, são misóginos. Eles têm um asco por mulheres", disse Fábio Pinheiro, delegado responsável pela investigação, ao Fantástico.

Outra filmagem feita pela Justiça registrou o momento em que o estudante contou estar no quarto ano de direito de uma universidade (veja acima). As poucas perguntas que ele respondeu ao juiz foram para dizer que também trabalhava e recebia entre R$ 5 mil a R$ 7 mil produzindo conteúdo para games. Vitor se negou a comentar as denúncias de que guardava imagens com crianças e adolescentes nuas.

O universitário ainda aparece chorando quando sua defesa perguntou se ele foi algemado quase sem roupa e se havia necessidade disso, já que ele não teria oferecido resistência aos policiais que invadiram sua residência. Durante toda a audiência, as mãos do investigado estavam presas, por segurança.

•        Justiça decreta prisão preventiva

O g1 não conseguiu localizar a defesa de Vitor para comentar o assunto até a última atualização desta reportagem. Na filmagem feita pela Justiça, seu defensor pede ao magistrado o relaxamento da prisão em flagrante para que seja concedida a ele a liberdade provisória, já que o rapaz nunca havia sido preso antes, tem endereço, estuda e trabalha.

O Ministério Público (MP) pediu a manutenção da prisão. O juiz acabou decretando a prisão preventiva do investigado, sem prazo determinado para sair.

"Não se trata de desafios que estão sendo praticados por adolescentes. Se trata de criminosos: grande maioria é maior de idade", disse a promotora Maria Fernanda Balsalobre ao Fantástico.

Os outros detidos pela polícia são:

•        Gabriel Barreto Vilares, o "Law", de 22 anos (preso na sexta-feira passada, dia 23, na capital paulista): investigado por associação criminosa, estupro e ameaça;

•        William Maza dos Santos, o "Joust", de 20 anos (também detido na última sexta em São Paulo): investigado por associação criminosa, estupro e ameaça;

•        Carlos Eduardo Custódio do Nascimento, o "DPE", de 19 anos (detido nesta segunda, 26): investigado associação criminosa, por estupro e ameaça.

A reportagem não conseguiu localizar as defesas dos demais presos para tratar do caso.

Além da responsabilização individual dos agressores, o Ministério Público também investiga o próprio Discord. Em entrevista ao Fantástico, um porta-voz disse que a plataforma “não tolera comportamento odioso”.

Em abril, o Fantástico havia revelado como Izaquiel Tomé dos Santos, o "Dexter", de 20 anos, também estuprava e ameaça meninas menores de idade que conheceu no Discord. Ele foi detido em abril. Segundo a investigação, ele não conhecia os outros quatro presos. Sua defesa também não foi localizada.

A Polícia Federal (PF) também investiga se outros rapazes usaram o Discord para cometer estupros e ameaças contra outras dez garotas menores de idade.

•        Polícia Civil do RJ apreende dois menores suspeitos de usar Discord para violência sexual e estimular automutilação e suicídio

Policiais civis da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) apreenderam, na manhã desta terça-feira (27), dois adolescentes de 14 e 17 anos apontados como responsáveis por praticar estupros e induzir meninas a automutilação e suicídio na plataforma Discord. Segundo a polícia, o adolescente de 17 anos era um dos principais líderes do grupo.

As investigações da Operação "Dark Room" começaram em março deste ano, com o compartilhamento de informações entre a Polícia Federal e policiais civis de vários estados do país. Técnicas de investigação cibernética foram usadas para apurar crimes cometidos pelos adolescentes no meio virtual.

Os policiais descobriram que os menores usavam três servidores da plataforma, que oferece a comunicação com o suporte de mensagens de texto, voz e chamadas de vídeo, para cometerem atos de extrema violência contra animais e adolescentes. Eles ainda divulgavam pedofilia, zoofilia e faziam apologia ao racismo, nazismo e a misoginia.

Durante as investigações, os agentes obtiveram provas como vídeos de mutilação e sacrifício de animais que eram parte dos desafios impostos pelos chefes dos grupos como condição para que eles obtivessem “cargos”, que se traduziam em permissões e acesso a funções dentro do grupo. Estas ações eram transmitidas em chamadas de vídeo para todos os integrantes do grupo.

•        Vítimas

As investigações mostraram que adolescentes eram chantageadas e constrangidas a se tornarem escravas sexuais dos chefes destes grupos. Segundo os policiais, eram cometidos “estupros virtuais” que eram transmitidos ao vivo por meio de transmissões ao vivo para todos os integrantes do servidor.

Os registros obtidos pelos investigadores mostraram que as menores eram xingadas, humilhadas e obrigadas a se automutilar. Ao comando do responsável pelo grupo, que deveria ser tratado como um “Deus”, ou “dono” delas, eram obrigadas a fazer cortes com navalha nos braços, pernas, seios e genitália. Os outros integrantes do grupo riam e vibravam com a crueldade.

Policiais da DCAV realizam operação nesta terça-feira (27) — Foto: Reprodução

As vítimas eram moradoras de várias partes do país e escolhidas no próprio Discord, em perfis abertos nas redes sociais ou mesmo indicadas por integrantes do grupo. Eles conseguiam informações pessoais das meninas e, a partir daí, iniciavam uma série de chantagens, afirmando que possuíam fotos comprometedoras que seriam vazadas ou enviadas para os pais, caso não se submetessem às chantagens.

De acordo com os policiais, os integrantes destes grupos estavam blefando na maioria dos casos.

Depois da violência em salas no Discord, grupos públicos no aplicativo de mensagens Telegram eram criados posteriormente para publicar os vídeos e expor as vítimas.

 

       Deputada diz que um dos presos por crimes no Discord a ameaçava

 

A deputada federal Duda Salabert (PDT) disse nesta segunda-feira (26) que o homem que a ameaçava de morte desde 2020 foi preso por envolvimento em crimes de violência contra adolescentes na plataforma Discord.

"Esse caso não é pontual, é estrutural. Pode ser que essa estrutura tenha, inclusive, o envolvimento de parlamentares e agentes políticos. Digo isso porque essa estrutura só me ataca em contextos de campanha eleitoral", disse a deputada, que é uma mulher trans.

William Maza dos Santos, de 20 anos, foi um dos denunciados na reportagem do Fantástico, que mostrava como agia o grupo que utilizava a plataforma Discord para atrair meninas menores de idades. As vítimas eram agredidas, estupradas e expostas em lives na rede.

Outra reportagem, de abril deste ano, mostrou como o Discord, um aplicativo popular entre adolescentes, havia virado uma ferramenta para envolver jovens em um submundo de violência extrema. Até agora, cinco pessoas foram presas acusadas de envolvimento nos crimes.

"Desde 2020 recebo ameaças de morte assinadas por símbolos nazistas de uma célula da qual William Maza possivelmente participava. Por causa dessas ameaças, perdi meu emprego de professora, pois eles encaminharam essas ameaças aos donos e à direção da escola que eu trabalhava", relembrou Duda Salabert.

•        'Ponta do iceberg'

A deputada defende que haja uma investigação aprofundada que mostre quem financia e fortalece essas estruturas de ódio.

Segundo Duda, um dos pontos preocupantes é que essa escalada de comportamentos violentos tem como efeito colateral os ataques recentes às escolas.

"O que se sabe é que essas novas tecnologias tem uma relação com pessoas mais jovens. Não pode ser um episódio isolado. São grupos neonazistas que infelizmente têm influenciado parte da juventude brasileira. Há uma relação muito maior, os jovens são só a ponta do iceberg", disse ela.

•        Ameaças antigas

As ameaças foram divulgadas por Duda em agosto do ano passado. Na época, a então vereadora mostrou que as mensagens enviadas por William tinha conteúdo racista, homofóbico e com referências ao nazismo.

Na época, a vereadora concorria a uma vaga na Câmara dos Deputados nas eleições de 2022, e precisou de escolta desde que recebeu as primeiras ameaças.

A deputada relatou que durante o período de campanha chegou a receber um e-mail anônimo com o telefone de William. Ela ligou para o suspeito e disse que levaria o caso à polícia, dias depois, um homem que se apresentou como tio de William foi até o gabinete da então vereadora.

"Ficamos com medo quando o tio do William Maza chegou, sem avisar, no meu gabinete em 2022. Disse que era advogado e que seu sobrinho era inocente. Entregou-nos papéis, entre eles um boletim de ocorrência que revelava que na casa de William foram apreendidos coturno militar, balaclava e canivete", disse a deputada.

A defesa de William Maza dos Santos ainda não se posicionou sobre o ocorrido.

 

       'Diziam que iam me esfaquear', diz mãe de menina abusada

 

A mãe de uma das vítimas de criminosos que usavam a plataforma Discord para abusar de menores de idade relatou que também foi ameaçada pelos agressores. Em entrevista ao Fantástico, ela conta que a filha se automutila em decorrência das humilhações que sofreu.

"Eles falaram coisas comigo, dizendo que iam me esfaquear", diz. "Os dois braços dela são todos cheios de cicatrizes porque ela se automutila toda."

Cinco pessoas foram presas acusadas de envolvimento em crimes de violência contra meninas menores de idade no Discord. Os abusadores ameaçavam as adolescentes pela internet e as incentivavam a se mutilar. Eles também atraíram vítimas para locais onde foram humilhadas e agredidas.

Um dos criminosos, Izaquiel Tomé dos Santos, 20 anos, era conhecido na plataforma como Dexter. Preso desde abril, Dexter torturou pelo menos dez adolescentes. Elas eram obrigadas a se mutilar com a assinatura do abusador.

Em depoimento a Polícia Federal, Izaquiel admitiu ter chantageado garotas para que elas se mutilassem. A Polícia Federal também visitou todas as vítimas de Dexter para conversar com as famílias e oferecer apoio psicológico.

Trechos de conversas obtidos pelo Fantástico mostram como Dexter agredia verbalmente suas vítimas.

"Ajoelha. Se prostra para mim. Eu sou a p**** de um Deus para você agora", ordena Dexter a uma de suas vítimas. Na gravação, é possível escutar a menina soluçar. "Você é uma vagabunda que merece sofrer mesmo", diz o abusador.

O Fantástico mostrou a rede de criminosos que age no aplicativo muito usado por adolescentes. Conforme destacado na reportagem, eles integram um grupo de jovens anestesiados, insensíveis à própria dor e, principalmente, à dos outros.

“Eles são sádicos, misóginos, eles têm um asco, um avesso por mulheres”, afirma o delegado Fábio Pinheiro Lopes.

 

       Delegado alerta pais para crimes no Discord: Muito tempo no quarto e uso de casacos para esconder ferimentos

 

A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu dois adolescentes de 14 e 17 anos em operação que investigas crimes cometidos na internet pelo aplicativo Discord. Eles são suspeitos de induzir meninas a práticas violentas contra elas mesmas.

As vítimas são de várias regiões do país e, segundo a polícia, eram chantageadas pela quadrilha. Os criminosos diziam que tinham fotos comprometedoras que seriam publicadas na internet caso elas não obedeçam a ordens.

O delegado da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav) Luiz Henrique Fonseca aponta alguns sinais de alerta para os pais ficarem atentos.

"O grande alerta que se faz é de que os quartos dos nossos filhos hoje em dia podem não ser um local seguro. Fica aí o alerta para que os pais monitorem a permanência dos seus filhos nos seus quartos. E mais: adolescente gosta muito de usar casaco grande e parte dessas tarefas consiste em cortar o corpo com gilete e, assim, observar o seu filho, olhar o corpo, o braço, a perna, e ver se tem algum sinal de violência", diz.

As investigações começaram em março deste ano, com o compartilhamento de informações entre a Polícia Federal e policiais civis de vários estados. Desde abril, mais de 10 pessoas foram presas ou apreendidas por policiais federais e civis de vários estados.

•        Discord

O Discord é uma plataforma que permite que as pessoas se comuniquem em transmissões ao vivo de vídeo. O Fantástico exibiu uma reportagem no último domingo (26) sobre como a plataforma é usada como ferramenta para envolver jovens em atos violentos.

As investigações mostraram que adolescentes tinham seus dados roubados de bancos de dados até de hospitais. A partir disso, eram chantageadas e constrangida a se tornarem escravas sexuais dos chefes desses grupos.

O Jornal Hoje entrou em contato com o Discord nesta terça (27), mas não obteve retorno. O porta-voz da empresa, no entanto, tem dito que o Discord não tolera comportamento odioso e que remove esse tipo de conteúdo.

 

Fonte: g1

 

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