'Vitória de Trump ativa imaginário de que
Jair Bolsonaro pode retornar ao poder', diz Eduardo Bolsonaro
A vitória do
republicano Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas gerou uma
onda de euforia não apenas entre os correligionários e eleitores do presidente
eleito.
No Brasil (e nos
Estados Unidos), apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também
comemoraram a vitória de Trump a passaram a divulgar a esperança de que, numa
espécie de efeito dominó, Bolsonaro tenha a sua inelegibilidade revertida e
possa disputar as eleições presidenciais em 2026.
• Acompanhe aqui nossa cobertura ao vivo
sobre as eleições nos EUA
Essa é a expectativa
de um dos principais expoentes do bolsonarismo, o filho do ex-presidente e
deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Em breve entrevista à
BBC News Brasil, Eduardo Bolsonaro disse que a vitória de Trump pode ter
efeitos sobre as eleições de 2026.
"A vitória de
Trump ativa o imaginário de que o Bolsonaro também pode retornar", diz
Eduardo Bolsonaro direto da Flórida, no Sul dos Estados Unidos, onde acompanhou
o resultado das eleições na propriedade de Trump conhecida como Mar-a-Lago.
Jair Bolsonaro ficou
inelegível em 2023 após ser condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
duas vezes.
Num primeiro processo,
ele foi condenado por abuso do poder político por ter convocado uma reunião com
embaixadores de países estrangeiros, onde questionou a confiabilidade do
sistema eleitoral brasileiro.
A segunda condenação
foi por abuso do poder econômico.
Sua defesa alegou que
ele era inocente nos dois casos. A inelegibilidade de Bolsonaro termina em
2030, quando, em tese, ele poderia disputar novas eleições.
No Brasil, no entanto,
há um movimento liderado por bolsonaristas para reverter a inelegibilidade do
ex-presidente, seja por meio de recursos jurídicos, seja por meio da aprovação
de uma lei prevendo uma espécie de anistia que abrangeria o seu caso.
Eduardo Bolsonaro, no
entanto, diz acreditar que não é apenas ativação do imaginário dos brasileiros
que seria responsável por uma eventual reversão da inelegibilidade de
Bolsonaro.
Ele diz acreditar que
a chegada de Trump ao poder poderá exercer algum tipo de influência indireta
sobre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte poderá, em tese,
julgar recursos movidos pela defesa de Bolsonaro sobre sua inelegibilidade.
"Eu não vejo eles
[o governo norte-americano] mandando recado para o TSE ou algo assim. Mas,
certamente, o STF... um ou dois juízes que ficam mais à vontade para adotar
suas políticas... eles vão ficar com o pé atrás", diz Eduardo Bolsonaro.
Confira os principais
trechos da entrevista.
• A vitória de Trump pode mudar o destino
do ex-presidente Jair Bolsonaro em relação à sua inelegibilidade? Qual é o
plano?
Eduardo Bolsonaro -
Trump não precisa fazer nada. Só a atmosfera política criada pela eleição dele
já ativa o imaginário dos brasileiros de que o Bolsonaro também pode retornar.
Os dois casos, a
vitória de Trump em 2016 e a de Bolsonaro em 2018, foram eleições improváveis.
E depois, quando eles não conseguiram a reeleição, os dois reclamaram de
suspeitas no processo eleitoral.
Com Trump retornando,
isso aumenta o imaginário do brasileiro de que o Bolsonaro também poderá
fazê-lo. Há males que vêm para o bem.
Se Trump tivesse sido
reeleito em 2020, ele não teria a mesma força no Congresso que tem hoje. Trump
terá a maioria, tanto na Câmara quanto no Senado.
Não custa para nós
imaginar que Bolsonaro, podendo concorrer em 2026, teria uma maioria mais
sólida na Câmara e no Senado, o que ajudaria muito para colocarmos adiante as
pautas que os presidentes conservadores querem [...]
A vitória de Trump é
uma mudança de paradigma. Se você começar a olhar para toda a nossa região,
para as Américas, você vê uma guinada à direita.
Os Estados Unidos com
o presidente Trump. O Equador com Daniel Noboa, o Uruguai com Luis Alberto
Lacalle Pou, o Paraguai com [Santiago] Peña, e o Javier Milei na Argentina.
Daqui a pouco, vamos
ter eleições no Brasil, em 2026... no Chile e na Colômbia. Não custa imaginar
que toda a região vai ficar mais conservadora.
• Do ponto de vista da inelegibilidade do
presidente Bolsonaro, o senhor acredita que a vitória do Trump pode pressionar
o TSE ou o STF ou que os ministros podem se sentir, de alguma forma,
pressionados por essa vitória e mudar seus entendimentos sobre o assunto?
Eduardo Bolsoanro -
Dos sete juízes do TSE, três deles vêm da Suprema Corte. Eles conversam entre
eles. Todos vimos que o Elon Musk teve um enfrentamento muito grande com o
Alexandre Moraes. O Elon Musk estava ontem com a gente lá em Mar-a-Lago e Trump
falou que vai dar para ele um cargo para ele exercer um trabalho dentro do
governo americano.
Qual é a principal
bandeira do Elon Musk? É a liberdade de expressão. Eu não vejo eles [o governo
norte-americano] mandando recado para o TSE ou algo assim. Mas, certamente, o
STF... um ou dois juízes que ficam mais à vontade para adotar suas políticas...
eles vão ficar com o pé atrás.
Porque aí não faria
mais um enfrentamento com uma empresa norte-americana como foi o caso do
Twitter [atual X] ou como foi o caso da Starlink, que o Alexandre de Moraes
enfrentou. Aí, eles estariam enfrentando um ministro do governo
norte-americano.
E aqui nos Estados
Unidos existem várias leis para não permitir esse abuso de autoridade contra
autoridades americanas. Então, o natural é que haja, por parte principalmente
de um ministro do STF, uma cautela e uma prudência maior.
Eu acho que vai haver
esse cenário de menos abuso, de botar a bola no meio de campo e dizer:
"Olha só... fomos longe demais nesses pontos". No final do dia, todo
mundo tem patrimônio nos Estados Unidos, todo mundo tem casa aqui, todo mundo
quer ter um visto americano, todo mundo tem uma conta bancária. Seja alguém do
seu meio de trabalho, da sua família... É dessa maneira que, normalmente, os
Estados Unidos exercem a influência.
Eles [o governo dos
Estados Unidos] congelaram os ativos, não só do Nicolás Maduro e do Diosdado
Cabello [ministro do Interior e da Justiça da Venezuela], mas de várias outras
autoridades venezuelanas.
Tudo bem que foi por
outros motivos, mas os Estados Unidos não se furtam de utilizar os poderes que
estão à sua mão para fazer pressão geopolítica internacional.
• O senhor espera que os Estados Unidos
exerçam pressão para que haja a reversão da inelegibilidade do presidente
Bolsonaro?
Eduardo Bolsonaro -
Como eu falei, não vejo uma atuação política direta dos EUA neste ponto. Mas a
questão da inelegibilidade de Bolsonaro é uma questão de justiça [...] E a
relação dos Estados Unidos com o Brasil é cada vez mais íntima.
Há um projeto de lei,
por exemplo, da deputada [republicana] Maria Elvira Salazar, que prevê a
retirada de vistos de autoridades estrangeiras que não respeitem a liberdade de
expressão de americanos. E foi este o caso do Twitter.
As pautas estão
andando e cada vez mais eu vejo uma atmosfera favorável para a reversão da
inelegibilidade de Jair Bolsonaro.
Quero deixar claro que
não falo por ninguém dos Estados Unidos, por nenhuma autoridade. Mas o que eu
quero dizer é que, aqui nos Estados Unidos, cada vez mais eles estão cientes do
que acontece no Brasil.
• O ex-presidente foi convidado a
participar da posse de Trump? E se for convidado, terá condições de ir?
Eduardo Bolsonaro - A
gente espera aqui que ele seja convidado para posse. Estou aqui falando com
algumas pessoas e ele deve ser convidado para posse, sim. Só que ele tem que
reaver o passaporte, né? Os advogados deverão peticionar ao Alexandre de Moraes
para que o passaporte seja devolvido e ele possa fazer essa viagem. Certamente,
Trump vai chamá-lo.
• “Acho que Trump gostaria que eu fosse
elegível”, diz Bolsonaro
O ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) afirmou nesta quarta-feira (6) que pedirá ao ministro do STF
(Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes autorização para ir à posse de
Donald Trump, marcada para o próximo dia 20 de janeiro nos Estados Unidos.
Em entrevista ao
jornal Folha de S.Paulo, o ex-presidente disse que já teve três pedidos de
viagem internacional negados por Moraes, o último deles para ir à casa de Trump
em Mar-a-Lago, na Flórida, onde o republicano recebeu convidados para
acompanhar a apuração nesta terça-feira (5).
"Se o Trump me
convidar, eu vou peticionar ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral], ao STF.
Agora, com todo o respeito, o homem mais forte do mundo... você acha que ele
vai convidar o Lula? Talvez protocolarmente", disse Bolsonaro.
Bolsonaro está com o
passaporte retido e proibido de deixar o país devido às investigações das
intentonas golpistas ocorridas durante a reta final do seu governo, em 2022 e
em 8 de janeiro de 2023.
O ex-ocupante do
Palácio do Planalto acha que Trump gostaria que ele fosse elegível.
Um dos filhos do
ex-presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) esteve em
Mar-a-Lago nesta terça-feira (5).
"Vou peticionar
ao Alexandre. Ele decide. O Eduardo [Bolsonaro] tem amizade enorme com ele
[Trump]. Tanto é que de 85 convidados ele foi e botou mais dois para dentro, o
Gilson [Machado, ex-ministro de Bolsonaro] e o filho do Gilson. Ele me tem como
uma pessoa que ele gosta, é como você se apaixona por alguém de graça, né? Essa
paixão veio da da forma como eu tratava ele, sabendo o meu lugar", disse
Bolsonaro.
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Bolsonaro quer ajuda de Temer para recuperar seu passaporte
Com a recente vitória
de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, Jair Bolsonaro intensificou
sua mobilização para tentar reaver seu passaporte e comparecer à posse do novo
presidente americano, marcada para 20 de janeiro. A informação foi divulgada
por Bela Megale, em reportagem publicada pelo Globo.
Para atingir esse
objetivo, aliados de Bolsonaro foram orientados a buscar o ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, com o propósito de convencê-lo a
liberar o documento. Segundo fontes próximas ao ex-presidente, ele autorizou contatos
diretos com Michel Temer, ex-presidente da República, para que este atue como
intermediário nas negociações com Moraes.
A estratégia de
Bolsonaro e seu entorno baseia-se na premissa de que a ausência do
ex-presidente na cerimônia de posse de Trump, um evento de grande visibilidade
internacional, reforçaria a narrativa de que ele é um perseguido político. Tal
cenário, acreditam seus aliados, poderia pressionar o STF perante a opinião
pública e abrir caminho para críticas e questionamentos internacionais à
conduta da corte.
Contudo, a perspectiva
de sucesso dessa abordagem ainda é incerta. Ministros do STF, segundo a
reportagem, não enxergam motivos concretos para alterar a situação atual de
Bolsonaro. O próprio Alexandre de Moraes tem dado sinais a seus auxiliares de
que o resultado da eleição nos EUA não influencia sua postura ou as decisões da
corte. “Nada muda” com a eleição de Trump, teria indicado o ministro.
O diretor-geral da
Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, também reforçou essa posição em
entrevista à coluna, destacando que a vitória de Trump tem “influência zero”
nas investigações em curso contra Bolsonaro.
A situação de
Bolsonaro perante o STF continua a ser monitorada de perto por aliados e
observadores políticos, mas, até o momento, não há indicações de que um gesto
de clemência ou flexibilização de Alexandre de Moraes venha a ocorrer.
Fonte: BBC News
Brasil/Brasil 247
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