sexta-feira, 8 de novembro de 2024

A lista de desejos da extrema direita para o novo governo Trump

Embora Donald Trump tenha várias vezes negado seu vínculo com o plano, após reações negativas às propostas mais radicais, o chamado Projeto 2025 pode dar pistas sobre para qual direção irá o novo mandato do republicano na Casa Branca.

Com 900 páginas, o projeto foi elaborado pela fundação conservadora Heritage Foundation e divulgado em abril do ano passado. Seu nome indica o objetivo de implementá-lo até janeiro de 2025.

Outras entidades também elaboraram planos que serviram como plataforma para a campanha de Trump, formando a Agenda 47 — uma referência ao projeto, agora bem-sucedido, de torná-lo o 47° presidente americano.

Em linhas gerais, o Projeto 2025 expandiria o poder presidencial e imporia uma visão social ultraconservadora.

O plano estabelece quatro objetivos principais: restaurar a família como centro da vida americana; desmantelar o Estado intervencionista; defender a soberania e as fronteiras da nação; e assegurar o direito divino dos indivíduos de poderem viver livremente.

O plano prevê a demissão de milhares de servidores públicos, o desmantelamento do Ministério da Educação e de outros órgãos federais, além de cortes de impostos.

Embora Trump tenha minimizado o projeto, várias das propostas já foram endossadas em seus discursos e na campanha — que ressalvou, porém, que o presidente teria a palavra final em todas as políticas.

Dezenas de ex-funcionários da última administração Trump — incluindo muitos que agora podem ser chamados para servir na próxima — contribuíram para as propostas.

O presidente Joe Biden e Kamala Harris, que o substituiu na campanha presidencial democrata, atacaram o projeto em diversas ocasiões.

O parlamentar democrata Jared Huffman, da Califórnia, criou uma força-tarefa com o objetivo de barrar o Projeto 2025. A iniciativa de Huffman foi batizada de Stop Project 2025 Task Force, em português, Força-Tarefa Pare o Projeto 2025.

"O Projeto 2025 é mais do que uma ideia, é um plano distópico que já está em curso para desmantelar nossas instituições democráticas, abolir pesos e contrapesos, erodir a separação entre Igreja e Estado e impor uma agenda de extrema direita que ataca as liberdades básicas e viola a vontade pública", disse o parlamentar democrata durante a campanha.

"Nós precisamos de uma estratégia coordenada para salvar a América e impedir esse golpe antes que seja tarde demais."

O presidente da Heritage, Kevin Roberts, rebateu afirmando que os democratas estavam tentando provocar medo nos americanos.

"Parlamentares democratas estão gastando dinheiro dos contribuintes para lançar uma campanha de difamação contra um esforço conjunto para restabelecer a autogovernança para os americanos comuns", disse Roberts.

"Sob a gestão Biden, o governo federal virou uma arma contra cidadãos americanos, com nossas fronteiras invadidas e nossas instituições sequestradas pela ideologia woke."

Caso sejam implementadas, muitas das propostas do Projeto 2025 poderiam ser contestadas na Justiça.

Confira abaixo algumas das principais propostas.

·        Governo

O Projeto 2025 propõe colocar toda a burocracia federal — incluindo órgãos independentes, como o Ministério da Justiça — diretamente sob controle do presidente. Essa ideia polêmica é conhecida como "teoria do Executivo unitário".

O objetivo é agilizar o processo de tomada de decisões, permitindo que o presidente implemente políticas em diversas áreas.

O plano também propõe a eliminação da estabilidade no trabalho para milhares de servidores do governo, que poderiam ser substituídos por indicados políticos.

O documento classifica o FBI (a polícia federal americana) como uma "organização inflada, arrogante e cada vez mais fora da lei" — e pede uma reforma drástica nesta e em outras agências federais, inclusive com eliminação do ministério da Educação.

·        Imigração

Umas das promessas mais famosas de Trump de 2016 — o financiamento do muro na fronteira entre EUA e México — está contemplada no documento.

Além disso, ele propõe a consolidação de diversas agências americanas de imigração e a ampliação de seus poderes.

Outras propostas incluem o aumento de taxas cobradas de imigrantes e a criação de um protocolo expresso para processos de imigração mediante pagamento de mais dinheiro.

·        Clima e economia

O documento prevê corte em verbas federais para pesquisa e investimentos em energias renováveis — e pede que o próximo presidente "acabe com a guerra contra o petróleo e o gás natural".

Metas de redução de emissões seriam substituídas por esforços para aumentar produção de energia.

O documento estabelece duas visões contraditórias sobre tarifas de importação — e se mostra dividido sobre se o presidente deve promover um comércio mais livre ou aumentar barreiras comerciais.

Assessores econômicos sugerem que o segundo governo de Trump deveria cortar impostos de renda e sobre negócios, abolir o Federal Reserve (o Banco Central americano) e até mesmo considerar voltar ao padrão ouro no dólar.

·        Aborto

O documento do Projeto 2025 menciona o aborto cerca de 200 vezes.

Ele não pede uma proibição total do aborto em todo o país, e Trump diz que não assinaria tal lei.

No entanto, o projeto propõe retirar a pílula abortiva mifepristona do mercado e usar leis existentes, mas pouco aplicadas, para impedir que o medicamento seja enviado pelo correio.

O documento propõe novos esforços de coleta de dados sobre o aborto e, de forma mais geral, sugere que o Departamento de Saúde e Serviços Humanos mantenha "uma definição de casamento e família baseada na Bíblia e reforçada pelas ciências sociais".

Sobre o aborto, pelo menos, o documento difere substancialmente da plataforma republicana, que menciona a palavra "aborto" apenas uma vez.

A plataforma diz que as leis sobre o aborto devem ser deixadas para os Estados e que os abortos tardios (os quais não são definidos) devem ser proibidos — uma orientação que Trump tem mantido.

A plataforma do partido acrescenta que o acesso a cuidados pré-natais, controle de natalidade e fertilização in vitro devem ser protegidos, e não faz menção à limitação da distribuição de mifepristona.

·        Tecnologia e educação

Pelas propostas, a pornografia seria banida. Empresas de tecnologia e telecomunicações que facilitassem acesso a esses conteúdos seriam fechadas.

O documento pede maior controle dos pais sobre as escolas e ataca o que chama de "propaganda woke".

O plano propõe eliminar diversas expressões em leis e normas federais, como "orientação sexual", "diversidade, igualdade e inclusão", "igualdade de gênero", "aborto" e "direitos reprodutivos".

·        Quem é a organização por trás do Projeto 2025?

É comum que fundações e entidades de Washington proponham políticas públicas para futuros governos. Por exemplo, o Center for American Progress, um instituto progressista, já foi chamado de "fábrica de ideias" durante o governo de Barack Obama.

A Heritage Foundation é uma das organizações mais influentes entre as que embasaram propostas de políticas de Trump.

Desde 1980, a Heritage produz documentos semelhantes. A primeira vez que propôs planos para governos republicanos foi em 1981, quando Ronald Reagan estava prestes a assumir o cargo.

Propostas foram apresentadas também em 2016, quando Trump ganhou a presidência pela primeira vez.

A Heritage tem sido bem-sucedida em influenciar governos republicanos. Um ano após o primeiro mandato de Trump, a organização se gabou de que a Casa Branca havia adotado quase dois terços de suas propostas.

Trump começou a demonstrar distância do Projeto 2025 no início de julho.

"Não sei nada sobre o Projeto 2025", ele postou em sua plataforma de mídia social, Truth Social. "Não tenho ideia de quem está por trás disso."

"Discordo de algumas das coisas que eles estão dizendo, e algumas das coisas que eles estão dizendo são absolutamente ridículas e abismais."

Mas a equipe que criou o projeto estava lotada de ex-assessores de Trump, incluindo o diretor Paul Dans, que foi chefe de gabinete do Escritório de Gestão de Pessoal enquanto Trump era presidente. Dans mais tarde deixou o projeto.

Russell Vought, outro ex-funcionário do governo Trump, escreveu um capítulo importante do documento e também atuou como diretor de política da plataforma 2024 do Comitê Nacional Republicano.

O presidente da Heritage Foundation, Kevin Roberts, supervisionou o Projeto 2025 e é próximo do vice-presidente eleito, J.D. Vance.

 

¨      7 coisas que Trump diz que fará como presidente

De volta à Casa Branca a partir de 2025 após vencer as eleições nos Estados Unidos, Donald Trump prometeu durante a campanha medidas em relação à imigração, à economia e à guerra na Ucrânia.

Possivelmente, ele terá um apoio amplo para avançar com sua agenda política no Congresso, já que os republicanos conseguiram conquistar a maioria no Senado.

Em seu discurso de vitória, Trump disse: "Irei governar com um lema simples: promessa feita, promessa mantida. Vamos cumprir nossas promessas"

No entanto, em alguns casos, ele deu poucos detalhes sobre como pretende atingir seus objetivos.

Questionado pela Fox News em 2023 se abusaria de seu poder ou se visaria opositores políticos, ele respondeu que não, "exceto no primeiro dia", prometendo "fechar a fronteira" e "perfurar", num incentivo à produção de combustíveis fósseis.

"Depois disso, não serei um ditador", disse.

<><> 1 - Deportar imigrantes indocumentados

Durante a campanha, Trump prometeu realizar as maiores deportações em massa de migrantes indocumentados na história dos EUA.

Ele também se comprometeu a concluir a construção de um muro na fronteira com o México, iniciada durante sua primeira presidência.

O número de travessias na fronteira sul dos EUA atingiu níveis recordes no final do de 2023, durante o governo Biden-Kamala, antes de cair em 2024.

Especialistas disseram à BBC que deportações na escala prometida por Trump enfrentariam enormes desafios legais e logísticos — e poderiam desacelerar o crescimento econômico.

<><> 2 - Medidas sobre economia, impostos e tarifas

Dados de pesquisas de boca de urna sugeriram que a economia foi uma questão central para os eleitores.

Trump prometeu "acabar com a inflação" – que atingiu níveis históricos sob o governo de Joe Biden antes de voltar a cair. No entanto, o poder de um presidente para influenciar diretamente os preços é limitado.

Ele também prometeu amplos cortes de impostos, expandindo sua reforma de 2017.

Propôs tornar isentos de impostos os rendimentos de gorjetas (um pagamento quase "obrigatório" nos EUA), abolir o imposto sobre os pagamentos de seguridade social e reduzir o imposto corporativo.

Trump propôs novas tarifas de pelo menos 10% sobre a maioria dos produtos estrangeiros para reduzir o déficit comercial dos EUA.

Importações da China poderiam ter uma tarifa adicional de 60%, segundo ele. Alguns economistas alertaram que essas medidas poderiam aumentar os preços para os consumidores.

<><> 3 - Eliminar regulamentações climáticas

Durante sua primeira presidência, Trump reverteu centenas de proteções ambientais e fez dos Estados Unidos o primeiro país a se retirar do Acordo Climático de Paris.

Desta vez, ele prometeu novamente cortar regulamentações, especialmente como uma forma de ajudar a indústria automobilística americana.

Trump tem criticado constantemente os veículos elétricos e prometido reverter as metas de Biden que incentivam a mudança para carros mais limpos.

Ele também se comprometeu a aumentar a produção de combustíveis fósseis nos EUA, prometendo "perfuração, perfuração, perfuração" no primeiro dia, em detrimento de fontes de energia renovável, como a eólica.

Trump quer abrir áreas como a região selvagem do Ártico para a extração de petróleo, argumentando que isso reduziria os custos de energia – embora analistas estejam céticos.

<><> 4 - Encerrar a guerra da Ucrânia

Trump criticou as dezenas de bilhões de dólares gastos pelos EUA para apoiar a Ucrânia em sua guerra contra a Rússia – e prometeu acabar com o conflito "em 24 horas" por meio de um acordo negociado.

Ele não especificou o que acredita que cada lado deveria ceder. Os democratas afirmam que essa ação encorajaria o presidente russo, Vladimir Putin.

Trump quer que os EUA se desvinculem de conflitos estrangeiros em geral.

Em relação à guerra em Gaza, ele se posicionou como um forte defensor de Israel, mas pediu que o aliado americano encerre sua operação.

Ele também prometeu acabar com a violência no Líbano, sem dar mais detalhes.

<><> 5 - Sem proibição do aborto

Contra o desejo de alguns de seus apoiadores, Trump afirmou durante o debate presidencial com Kamala Harris que não sancionaria uma proibição nacional do aborto.

Em 2022, o direito constitucional ao aborto em nível nacional foi revogado pela Suprema Corte, que tinha uma maioria de juízes conservadores após a primeira presidência de Trump.

Os direitos reprodutivos tornaram-se um tema central de campanha para Kamala, e vários Estados aprovaram medidas para proteger ou expandir os direitos ao aborto no dia da eleição.

O próprio Trump tem afirmado regularmente que os Estados deveriam ser livres para decidir suas próprias leis sobre o aborto, mas tem dificuldade em manter uma mensagem consistente sobre o tema.

<><> 6 - Perdão a alguns manifestantes do 6 de janeiro

Trump afirmou que irá "liberar" alguns dos condenados pelos crimes cometidos durante o motim em Washington D.C. em 6 de janeiro de 2021, quando seus apoiadores invadiram o Capitólio na tentativa de impedir a vitória eleitoral de Joe Biden em 2020.

Várias mortes foram atribuídas à violência, a qual Trump foi acusado de incitar.

Ele tem trabalhado para minimizar a importância da invasão e retratar as centenas de apoiadores condenados como prisioneiros políticos.

Trump continua a afirmar que muitos deles estão "erroneamente presos", embora tenha reconhecido que "alguns deles, provavelmente, perderam o controle".

<><> 7 - Demitir o procurador especial Jack Smith

Trump prometeu demitir "em dois segundos" após assumir o cargo o promotor veterano que lidera duas investigações criminais contra ele.

procurador especial Jack Smith indiciou Trump por ter tentado reverter a eleição de 2020 e por sua conduta irregular na guarda de documentos secretos.

Trump nega qualquer irregularidade e conseguiu impedir que qualquer um dos casos fosse a julgamento antes da eleição. Ele afirma que Smith o submeteu a uma "caça às bruxas política".

Trump retornará à Casa Branca como o primeiro presidente na história dos EUA com uma condenação criminal, tendo sido considerado culpado em Nova York por falsificação de registros empresariais.

 

Fonte: BBC News

 

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