A lista de desejos da extrema direita para
o novo governo Trump
Embora Donald Trump
tenha várias vezes negado seu vínculo com o plano, após reações negativas às
propostas mais radicais, o chamado Projeto 2025 pode dar pistas sobre para qual
direção irá o novo mandato do republicano na Casa Branca.
Com 900 páginas, o
projeto foi elaborado pela fundação conservadora Heritage Foundation e
divulgado em abril do ano passado. Seu nome indica o objetivo de implementá-lo
até janeiro de 2025.
Outras entidades
também elaboraram planos que serviram como plataforma para a campanha de Trump, formando
a Agenda 47 — uma referência ao projeto, agora bem-sucedido, de torná-lo o 47° presidente americano.
Em linhas gerais, o
Projeto 2025 expandiria o poder presidencial e imporia uma visão social
ultraconservadora.
O plano estabelece
quatro objetivos principais: restaurar a família como centro da vida americana;
desmantelar o Estado intervencionista; defender a soberania e as fronteiras da
nação; e assegurar o direito divino dos indivíduos de poderem viver livremente.
O plano prevê a
demissão de milhares de servidores públicos, o desmantelamento do Ministério da
Educação e de outros órgãos federais, além de cortes de impostos.
Embora Trump tenha
minimizado o projeto, várias das propostas já foram endossadas em seus
discursos e na campanha — que ressalvou, porém, que o presidente teria a
palavra final em todas as políticas.
Dezenas de
ex-funcionários da última administração Trump — incluindo muitos que agora
podem ser chamados para servir na próxima — contribuíram para as propostas.
O presidente Joe Biden
e Kamala
Harris, que o substituiu na campanha presidencial democrata, atacaram o
projeto em diversas ocasiões.
O parlamentar
democrata Jared Huffman, da Califórnia, criou uma força-tarefa com o objetivo
de barrar o Projeto 2025. A iniciativa de Huffman foi batizada de Stop Project
2025 Task Force, em português, Força-Tarefa Pare o Projeto 2025.
"O Projeto 2025 é
mais do que uma ideia, é um plano distópico que já está em curso para
desmantelar nossas instituições democráticas, abolir pesos e contrapesos,
erodir a separação entre Igreja e Estado e impor uma agenda de extrema direita
que ataca as liberdades básicas e viola a vontade pública", disse o
parlamentar democrata durante a campanha.
"Nós precisamos
de uma estratégia coordenada para salvar a América e impedir esse golpe antes
que seja tarde demais."
O presidente da
Heritage, Kevin Roberts, rebateu afirmando que os democratas estavam tentando
provocar medo nos americanos.
"Parlamentares
democratas estão gastando dinheiro dos contribuintes para lançar uma campanha
de difamação contra um esforço conjunto para restabelecer a autogovernança para
os americanos comuns", disse Roberts.
"Sob a gestão
Biden, o governo federal virou uma arma contra cidadãos americanos, com nossas
fronteiras invadidas e nossas instituições sequestradas pela ideologia woke."
Caso sejam
implementadas, muitas das propostas do Projeto 2025 poderiam ser contestadas na
Justiça.
Confira abaixo algumas
das principais propostas.
·
Governo
O Projeto 2025 propõe
colocar toda a burocracia federal — incluindo órgãos independentes, como o
Ministério da Justiça — diretamente sob controle do presidente. Essa ideia
polêmica é conhecida como "teoria do Executivo unitário".
O objetivo é agilizar
o processo de tomada de decisões, permitindo que o presidente implemente
políticas em diversas áreas.
O plano também propõe
a eliminação da estabilidade no trabalho para milhares de servidores do
governo, que poderiam ser substituídos por indicados políticos.
O documento classifica
o FBI (a polícia federal americana) como uma "organização inflada,
arrogante e cada vez mais fora da lei" — e pede uma reforma drástica nesta
e em outras agências federais, inclusive com eliminação do ministério da Educação.
·
Imigração
Umas das promessas
mais famosas de Trump de 2016 — o financiamento do muro na fronteira entre EUA
e México — está contemplada no documento.
Além disso, ele propõe
a consolidação de diversas agências americanas de imigração e a ampliação de
seus poderes.
Outras propostas
incluem o aumento de taxas cobradas de imigrantes e a criação de um protocolo
expresso para processos de imigração mediante pagamento de mais dinheiro.
·
Clima e economia
O documento prevê
corte em verbas federais para pesquisa e investimentos em energias renováveis —
e pede que o próximo presidente "acabe com a guerra contra o petróleo e o
gás natural".
Metas de redução de
emissões seriam substituídas por esforços para aumentar produção de energia.
O documento estabelece
duas visões contraditórias sobre tarifas de importação — e se mostra dividido
sobre se o presidente deve promover um comércio mais livre ou aumentar
barreiras comerciais.
Assessores econômicos
sugerem que o segundo governo de Trump deveria cortar impostos de renda e sobre
negócios, abolir o Federal Reserve (o Banco Central americano) e até mesmo
considerar voltar ao padrão ouro no dólar.
·
Aborto
O documento do Projeto
2025 menciona o aborto cerca de 200 vezes.
Ele não pede uma
proibição total do aborto em todo o país, e Trump diz que não assinaria tal
lei.
No entanto, o projeto
propõe retirar a pílula abortiva mifepristona do mercado e usar leis
existentes, mas pouco aplicadas, para impedir que o medicamento seja enviado
pelo correio.
O documento propõe
novos esforços de coleta de dados sobre o aborto e, de forma mais geral, sugere
que o Departamento de Saúde e Serviços Humanos mantenha "uma definição de
casamento e família baseada na Bíblia e reforçada pelas ciências sociais".
Sobre o aborto, pelo
menos, o documento difere substancialmente da plataforma republicana, que
menciona a palavra "aborto" apenas uma vez.
A plataforma diz que
as leis sobre o aborto devem ser deixadas para os Estados e que os abortos
tardios (os quais não são definidos) devem ser proibidos — uma orientação que
Trump tem mantido.
A plataforma do
partido acrescenta que o acesso a cuidados pré-natais, controle de natalidade e
fertilização in vitro devem ser protegidos, e não faz menção à limitação da
distribuição de mifepristona.
·
Tecnologia e educação
Pelas propostas, a
pornografia seria banida. Empresas de tecnologia e telecomunicações que
facilitassem acesso a esses conteúdos seriam fechadas.
O documento pede maior
controle dos pais sobre as escolas e ataca o que chama de "propaganda
woke".
O plano propõe
eliminar diversas expressões em leis e normas federais, como "orientação
sexual", "diversidade, igualdade e inclusão", "igualdade de
gênero", "aborto" e "direitos reprodutivos".
·
Quem é a organização
por trás do Projeto 2025?
É comum que fundações
e entidades de Washington proponham políticas públicas para futuros governos.
Por exemplo, o Center for American Progress, um instituto progressista, já foi
chamado de "fábrica de ideias" durante o governo de Barack Obama.
A Heritage Foundation
é uma das organizações mais influentes entre as que embasaram propostas de
políticas de Trump.
Desde 1980, a Heritage
produz documentos semelhantes. A primeira vez que propôs planos para governos
republicanos foi em 1981, quando Ronald Reagan estava prestes a assumir o
cargo.
Propostas foram
apresentadas também em 2016, quando Trump ganhou a presidência pela primeira
vez.
A Heritage tem sido
bem-sucedida em influenciar governos republicanos. Um ano após o primeiro
mandato de Trump, a organização se gabou de que a Casa Branca havia adotado
quase dois terços de suas propostas.
Trump começou a
demonstrar distância do Projeto 2025 no início de julho.
"Não sei nada
sobre o Projeto 2025", ele postou em sua plataforma de mídia social, Truth
Social. "Não tenho ideia de quem está por trás disso."
"Discordo de
algumas das coisas que eles estão dizendo, e algumas das coisas que eles estão
dizendo são absolutamente ridículas e abismais."
Mas a equipe que criou
o projeto estava lotada de ex-assessores de Trump, incluindo o diretor Paul
Dans, que foi chefe de gabinete do Escritório de Gestão de Pessoal enquanto
Trump era presidente. Dans mais tarde deixou o projeto.
Russell Vought, outro
ex-funcionário do governo Trump, escreveu um capítulo importante do documento e
também atuou como diretor de política da plataforma 2024 do Comitê Nacional
Republicano.
O presidente da
Heritage Foundation, Kevin Roberts, supervisionou o Projeto 2025 e é próximo do
vice-presidente eleito, J.D. Vance.
¨ 7 coisas que Trump diz que fará como presidente
De volta à Casa Branca
a partir de 2025 após vencer as eleições nos Estados Unidos,
Donald Trump prometeu durante a campanha medidas em relação à imigração, à
economia e à guerra na Ucrânia.
Possivelmente, ele
terá um apoio amplo para avançar com sua agenda política no Congresso, já que
os republicanos conseguiram conquistar a maioria no Senado.
Em seu discurso de
vitória, Trump disse: "Irei governar com um lema simples: promessa feita,
promessa mantida. Vamos cumprir nossas promessas"
No entanto, em alguns
casos, ele deu poucos detalhes sobre como pretende atingir seus objetivos.
Questionado pela Fox
News em 2023 se abusaria de seu poder ou se visaria opositores políticos, ele
respondeu que não, "exceto no primeiro dia", prometendo "fechar
a fronteira" e "perfurar", num incentivo à produção de combustíveis fósseis.
"Depois disso,
não serei um ditador", disse.
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1 - Deportar imigrantes indocumentados
Durante a campanha, Trump
prometeu realizar as maiores deportações em massa de
migrantes indocumentados na história dos EUA.
Ele também se
comprometeu a concluir a construção de um muro na fronteira com o México,
iniciada durante sua primeira presidência.
O número de travessias
na fronteira sul dos EUA atingiu níveis recordes no final do de 2023, durante o
governo Biden-Kamala, antes de cair em
2024.
Especialistas disseram
à BBC que deportações na escala prometida por Trump enfrentariam enormes
desafios legais e logísticos — e poderiam desacelerar o crescimento econômico.
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2 - Medidas sobre economia, impostos e tarifas
Dados de pesquisas de
boca de urna sugeriram que a economia foi uma questão central para os
eleitores.
Trump prometeu
"acabar com a inflação" – que atingiu níveis históricos sob o governo de Joe Biden antes
de voltar a cair. No entanto, o poder de um presidente para influenciar
diretamente os preços é limitado.
Ele também prometeu
amplos cortes de impostos, expandindo sua reforma de 2017.
Propôs tornar isentos
de impostos os rendimentos de gorjetas (um pagamento quase
"obrigatório" nos EUA), abolir
o imposto sobre os pagamentos de seguridade social e reduzir o imposto
corporativo.
Trump propôs novas
tarifas de pelo menos 10% sobre a maioria dos produtos estrangeiros para
reduzir o déficit comercial dos EUA.
Importações da China
poderiam ter uma tarifa adicional de 60%, segundo ele. Alguns economistas
alertaram que essas medidas poderiam aumentar os preços para os consumidores.
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3 - Eliminar regulamentações climáticas
Durante sua primeira
presidência, Trump reverteu centenas de proteções ambientais e fez dos Estados
Unidos o primeiro país a se retirar do Acordo Climático de Paris.
Desta vez, ele
prometeu novamente cortar regulamentações, especialmente como uma forma de
ajudar a indústria automobilística americana.
Trump tem criticado
constantemente os veículos elétricos e
prometido reverter as metas de Biden que incentivam a mudança para carros mais
limpos.
Ele também se
comprometeu a aumentar a produção de combustíveis fósseis nos EUA, prometendo
"perfuração, perfuração, perfuração" no primeiro dia, em detrimento
de fontes de energia renovável, como a eólica.
Trump quer abrir áreas
como a região selvagem do Ártico para
a extração de petróleo, argumentando que isso reduziria os custos de energia –
embora analistas estejam céticos.
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4 - Encerrar a guerra da Ucrânia
Trump criticou as
dezenas de bilhões de dólares gastos pelos EUA para apoiar a Ucrânia em sua
guerra contra a Rússia – e prometeu acabar com o conflito "em 24
horas" por meio de um acordo negociado.
Ele não especificou o
que acredita que cada lado deveria ceder. Os democratas afirmam que essa ação
encorajaria o presidente russo, Vladimir Putin.
Trump quer que os EUA
se desvinculem de conflitos estrangeiros em geral.
Em relação à guerra em
Gaza, ele se posicionou como um forte defensor de Israel, mas pediu que o
aliado americano encerre sua operação.
Ele também prometeu
acabar com a violência no Líbano, sem dar mais detalhes.
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5 - Sem proibição do aborto
Contra o desejo de
alguns de seus apoiadores, Trump afirmou durante o debate presidencial com
Kamala Harris que não sancionaria uma proibição nacional do aborto.
Em 2022, o direito
constitucional ao aborto em nível nacional foi revogado pela Suprema Corte, que tinha uma maioria de juízes conservadores após a primeira
presidência de Trump.
Os direitos
reprodutivos tornaram-se um tema central de campanha para Kamala, e vários
Estados aprovaram medidas para proteger ou expandir os direitos ao aborto no
dia da eleição.
O próprio Trump tem
afirmado regularmente que os Estados deveriam ser livres para decidir suas
próprias leis sobre o aborto, mas tem
dificuldade em manter uma mensagem consistente sobre o tema.
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6 - Perdão a alguns manifestantes do 6 de janeiro
Trump afirmou que irá
"liberar" alguns dos condenados pelos crimes cometidos durante o
motim em Washington D.C. em 6 de janeiro de 2021, quando
seus apoiadores invadiram o Capitólio na tentativa de impedir a vitória
eleitoral de Joe Biden em 2020.
Várias mortes foram
atribuídas à violência, a qual Trump foi acusado de incitar.
Ele tem trabalhado
para minimizar a importância da invasão e retratar as centenas de apoiadores
condenados como prisioneiros políticos.
Trump continua a
afirmar que muitos deles estão "erroneamente presos", embora tenha
reconhecido que "alguns deles, provavelmente, perderam o controle".
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7 - Demitir o procurador especial Jack Smith
Trump prometeu demitir
"em dois segundos" após assumir o cargo o promotor veterano que
lidera duas investigações criminais contra
ele.
O procurador especial Jack Smith indiciou
Trump por ter tentado reverter a eleição de 2020 e por sua conduta irregular na
guarda de documentos secretos.
Trump nega qualquer
irregularidade e conseguiu impedir que qualquer um dos casos fosse a julgamento
antes da eleição. Ele afirma que Smith o submeteu a uma "caça às bruxas
política".
Trump retornará à Casa
Branca como o primeiro presidente na história dos EUA com uma condenação
criminal, tendo sido considerado culpado em Nova York por falsificação de registros empresariais.
Fonte: BBC News
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