sexta-feira, 8 de novembro de 2024

O que esperar da agenda econômica de Donald Trump

Eleito presidente dos Estados Unidos nesta quarta-feira (6), o republicano Donald Trump carrega uma agenda econômica conservadora e protecionista para a maior economia do mundo.

➡️O que é uma agenda protecionista? 

O protecionismo é a teoria que defende favorecer e dar prioridade à atividade doméstica de um país, limitando a concorrência estrangeira. Isso pode ser feito de diversas formas e em diferentes graus, como limitando ou reduzindo a importação de produtos, incentivando o desenvolvimento interno com subsídios, entre outros.

Entre as propostas de seu plano econômico, está a elevação de tarifas para produtos importados – incluindo uma guerra comercial com a China – e o corte de impostos no país, além da promessa de reduzir a inflação e do endurecimento das regras de imigração.

"Vamos reduzir a dívida, reduzir impostos, podemos fazer coisas que ninguém mais pode fazer, ninguém mais será capaz de fazer isso. A China não tem o que nós temos, ninguém tem o que nós temos. Temos as melhores pessoas também, isso é o mais importante", disse Trump durante seu discurso de vitória na quarta-feira.

·        Quais os principais pontos do plano econômico de Trump?

Entre as medidas de maior impacto propostas por Trump estão questões que envolvem o aumento de tarifas para produtos importados – principalmente aqueles vindos da China –, uma redução dos impostos domésticos, o apoio à indústria norte-americana e a contrariedade a incentivos para transição energética.

<><> Entenda nos pontos abaixo:

  • 💲Tarifaço

Uma das medidas de Trump que mais trazem preocupações a especialistas é de um aumento de tarifas para produtos importados.

A proposta é de impor uma alíquota de 10% a 20% sobre todas as importações – ou seja, todos os parceiros comerciais dos Estados Unidos seriam afetados.

Especificamente para a China – que já vinha experimentando taxas mais altas por parte dos EUA há anos (mesmo no governo de Joe Biden) –, a proposta é de impor tarifas de 60% ou mais sobre os produtos importados do gigante asiático. (Entenda os efeitos para o Brasil mais abaixo)

  • ✂️ Cortes de impostos domésticos

Além disso, outra promessa do plano econômico de Trump era a de reduzir ou limitar os impostos domésticos para tentar incentivar a indústria e a atividade norte-americana. Entre os pontos citados nesse caso, estavam:

  • A redução da alíquota corporativa de 21% para 15%;
  • A eliminação dos impostos sobre horas extras e sobre gorjetas de trabalhadores; e
  • A ampliação de um corte de impostos para todas as classes, incluindo os mais ricos.

O cenário tende a reduzir a arrecadação norte-americana e traz novas preocupações ao mercado sobre a capacidade dos Estados Unidos em cumprir com o pagamento da dívida do país. 

  • 🔒 Endurecimento das regras de imigração

Trump também defende um plano agressivo para dificultar a imigração ao país, retomando parte da estratégia de seu último mandato, entre 2017 e 2021.

Além do endurecimento das regras de imigração, com um aumento de penalidades para a entrada ilegal e para a permanência além do prazo dos vistos, o republicano também pretende iniciar o que chama de “maior programa de deportação da história dos Estados Unidos”.

  • 🏭 Apoio à indústria doméstica e mudanças no mercado de energia

Outra medida proposta pelo republicano é o fim das restrições para o mercado de petróleo, gás natural e carvão, além do aumento da produção de energia em todas as fontes – incluindo a nuclear.

O republicano também prometeu o fim dos incentivos fiscais para a compra de veículos elétricos, e quer impedir a importação de veículos chineses. Segundo a proposta, a ideia é “revitalizar” a indústria automobilística dos Estados Unidos.

Além disso, a proposta dos republicanos também diz trazer um plano robusto para proteger trabalhadores, agricultores e indústrias dos EUA contra a “concorrência estrangeira desleal”.

“Nos comprometemos a reequilibrar o comércio, garantir a independência estratégica e revitalizar a manufatura”, diz o texto, que também diz querer acabar com as regulamentações que “sufocam empregos, liberdade e inovação”.

  • 💰 Inflação na mira e corte de gastos públicos

A proposta de Trump também endereça o aumento da inflação visto no país nos últimos anos. Em suas promessas, o republicano diz querer “reverter a pior crise de inflação em quatro décadas”.

Trump também promete cortar gastos governamentais “desperdiçados” e regulamentações custosas e onerosas para o país.

<><> Quais os efeitos da vitória do Trump para o Brasil?

Segundo especialistas, apesar de o Brasil não estar no foco da política externa de Trump, seus posicionamentos podem ter efeitos no país.

Entre as medidas que devem trazer mais efeito estão a imposição das tarifas comerciais, a redução de impostos para empresas norte-americanas e o endurecimento das regras de imigração, que incluem um possível fechamento das fronteiras.

“Essas medidas são vistas como inflacionárias e potencialmente prejudiciais para a economia de outros países, especialmente para os mercados emergentes, como Brasil e México, que dependem fortemente do comércio global”, explica o vice-presidente executivo do Grupo Travelex Confidence, João Manuel Freitas.

Além disso, a imposição de tarifas maiores para a China também pode acabar intensificando a guerra comercial dos Estados Unidos com o gigante asiático e encarecendo parte dos preços.

De acordo com analistas da XP Investimentos, essa medida poderia ter um impacto limitado sobre os produtores de aço e mineradores, por exemplo.

“Como os EUA são um importador chave de ferro e aço, e a China provavelmente não ajustará sua oferta em resposta, essa situação poderia levar a um desequilíbrio entre oferta e demanda, impactando os preços do aço”, afirmaram os analistas em relatório.

A China é a maior fornecedora de aço do Brasil e isso também impactaria os preços por aqui.

<><> Alta de juros

Os especialistas ainda destacam que o potencial aumento da inflação norte-americana, trazido pelas medidas protecionistas propostas por Trump, que também podem impactar o Brasil.

Além de possivelmente encarecer os produtos importados do país pelo Brasil, uma pressão inflacionária nos Estados Unidos também pode impor uma nova alta de juros por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).

Esse quadro é agravado, ainda, pela possível perda de arrecadação do governo norte-americano caso Trump resolva cumprir suas promessas de cortes de impostos domésticos.

Com menos recursos entrando no caixa do governo, há um aumento das preocupações com a capacidade de o país cumprir com o pagamento da dívida norte-americana. Essas dúvidas também tendem a aumentar a exigência de investidores por um prêmio maior, ou seja, juros mais altos.

E juros mais altos nos Estados Unidos tornam os países emergentes, como o Brasil, menos atrativos — o que pode acabar afastando investidores e dólares do país. Com impacto no câmbio, fica maior a pressão na inflação por aqui.

"No Brasil, essa conjuntura pode exigir ajustes nas políticas monetárias e mudanças no controle de inflação, impactando o custo do crédito, o consumo e o crescimento econômico”, diz o analista da Ouro Preto Investimentos, Sidney Lima.

“Já no cenário global, um dólar forte pode reduzir o ritmo de crescimento das economias emergentes, afetando o comércio internacional e a demanda por commodities, com reflexos diretos no Brasil, dada sua dependência de exportações de produtos básicos", acrescenta.

Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, de acordo com projeção da Associated Press divulgada nesta quarta-feira (6). O republicano já governou o país entre 2017 e 2021 e, agora, se prepara para assumir seu segundo mandato.

Durante a campanha, Trump apresentou propostas conservadoras e protecionistas para temas como imigração, economia, aborto e política externa. Veja algumas a seguir:

  1. Imigração: ele promete retomar políticas migratórias da época em que era presidente. Afirma também que irá fazer a maior deportação em massa da história dos EUA.
  2. Economia: Trump foca seu plano econômico no corte de impostos e aumento de tarifas para produtos importados. Trump também diz ser contrário a incentivos para transição energética.
  3. Aborto: o republicano afirmou que vetaria uma proibição federal ao aborto. Em junho, ele também disse que não vai banir o acesso a medicamentos abortivos, caso seja eleito.
  4. Conflitos internacionais: Trump pediu que Israel termine o conflito, sob o risco de encerrar o apoio militar ao país. Ele também pôs em xeque o apoio dos EUA à Ucrânia.

Basicamente, o presidente eleito prometeu retomar boa parte das políticas que adotou durante o seu primeiro mandato. Veja, a seguir, os detalhes das propostas do republicano neste ano e a comparação de como ele atuou enquanto esteve na Casa Branca.

<><> 1. Imigração

▶️ Propostas para agora

Em fevereiro deste ano, o Congresso dos EUA chegou a discutir uma proposta bipartidária sobre a fronteira. O projeto, no entanto, não avançou. À época, Trump pediu para que os republicanos votassem contra o texto para evitar uma vitória política de Biden.

Na campanha, Trump promete retomar políticas migratórias da época em que era presidente, entre 2017 e 2021. Ele também afirma que irá fazer a maior deportação em massa da história dos Estados Unidos.

Para Donald Trump, a entrada de imigrantes ilegais nos Estados Unidos está resultando em uma onda de crimes. No entanto, não existem dados que comprovem isso. Em setembro deste ano, o FBI afirmou que os Estados Unidos vivem uma redução nos registros de crimes violentos.

No discurso da vitória, o presidente eleito disse que vai fechar as fronteiras e que apenas imigrantes legais poderão entrar nos Estados Unidos.

▶️ O que ele fez no primeiro mandato

Uma das principais bandeiras durante o primeiro mandato de Trump foi a construção de um muro entre os Estados Unidos e o México. À época, ele afirmou que faria o país vizinho pagar pela obra. O Congresso aprovou orçamento para a construção, mas pouco da estrutura foi feita.

Além disso, durante o governo, Trump endureceu as regras para que trabalhadores estrangeiros entrassem nos Estados Unidos. Isso resultou em um grande número de recusas para a emissão ou extensão de vistos.

Segundo a NBC News, as políticas de Trump fizeram com que muitas empresas e o setor rural perdessem a força de trabalho, que era estrangeira. De certa forma, especialistas dizem que as medidas também impactaram o crescimento do PIB dos Estados Unidos.

<><> 2. Economia

Donald Trump, presidente dos EUA, mostra máscara em discurso na Casa Branca nesta terça (21) — Foto: Evan Vucci/AP

▶️ Propostas para agora

O republicano foca seu plano econômico no corte de impostos e aumento de tarifas para produtos importados. Trump também diz ser contrário a incentivos para transição energética. Confira as propostas:

  • Imposto sobre importações: impor tarifas de 10% a 20% sobre todas as importações, além de tarifas de 60% ou mais sobre produtos vindos da China.
  • Imposto corporativo: reduzir a alíquota de 21% para 15%, para incentivar a produção nacional.
  • Corte de impostos: eliminar os impostos sobre horas extras e gorjetas dos trabalhadores, além de ampliar um corte de impostos para todas as classes, incluindo os mais ricos.
  • Indústria: apoiar a indústria de petróleo e gás para impulsionar a economia, além de acabar com o incentivo fiscal para a compra de veículos elétricos.

Analistas orçamentários dizem que os cortes de impostos prometidos por Trump podem gerar um déficit entre US$ 3,6 trilhões e US$ 6,6 trilhões ao longo de 10 anos.

▶️ O que ele fez no primeiro mandato

Trump reduziu de 35% para 21% a aliquota de impostos para corporações. O objetivo foi estimular o investimento e o consumo, para impulsionar o crescimento econômico dos Estados Unidos. Por outro lado, as medidas provocaram aumento do déficit fiscal.

O presidente também apostou na desregulamentação de alguns setores, como o de energia, em busca de um estímulo na atividade econômica.

Durante o primeiro governo Trump, os Estados Unidos tiveram crescimento no emprego e no PIB. No entanto, a economia do país foi fortemente afetada pela pandemia de Covid-19, resultando em inflação e fechamento de postos de trabalho.

Além disso, o republicano adotou uma postura protecionista em relação ao comércio internacional, impondo tarifas contra importações da China para tentar valorizar bens produzidos nos Estados Unidos.

<><> 3. Aborto

▶️ Propostas para agora

Trump defende que o debate sobre o aborto continue no âmbito estadual. A campanha republicana argumenta que centros "pró-vida" precisam ser criados, com o objetivo de dar assistência a mulheres que querem ter filhos.

O presidente eleito também afirmou que vetaria uma proibição federal ao aborto. Em junho, ele disse que não vai banir o acesso a medicamentos abortivos em um provável segundo mandato.

▶️ O que ele fez no primeiro mandato

Donald Trump já demonstrou várias vezes ter orgulho de ter nomeado juízes conservadores para a Suprema Corte durante o primeiro mandato. Essas nomeações ajudaram a derrubar a lei "Roe contra Wade", que garantia o direito ao aborto nos Estados Unidos desde os anos 1970.

No entanto, desde que a lei perdeu validade, o apoio ao aborto legal cresceu nos Estados Unidos. Além disso, a medida gerou legislações diferentes em cada um dos estados, que possuem autonomia para decidir sobre o tema.

Diante deste cenário, mulheres grávidas que vivem em estados onde o aborto é proibido têm viajado para outras regiões onde conseguem realizar o procedimento legalmente e em segurança.

<><> 4. Conflitos internacionais

▶️ Propostas para agora

Trump afirmou que vai encerrar as guerras no Oriente Médio e na Ucrânia, sem explicar como. Ele se reuniu com o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, e com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, durante a campanha.

Sobre o Oriente Médio, republicanos têm posição semelhante aos de democratas, e concordam sobre o apoio a Israel no direito de se defender contra as ações do Hamas e de outros grupos extremistas.

Trump afirma que, se fosse presidente, essa guerra jamais teria se iniciado. Ele pediu para que Israel termine o conflito imediatamente, sob o risco de encerrar o apoio militar ao país.

O presidente eleito também já pôs em xeque o apoio dos Estados Unidos à Ucrânia. Em abril, ele se recusou a apoiar a aprovação de um pacote de ajuda ao governo ucraniano no valor de US$ 95 bilhões. Parte dos republicanos já não vê o assunto como algo de interesse norte-americano.

▶️ O que ele fez no primeiro mandato

Entre 2017 e 2021, Trump retirou os EUA de uma série de tratados e acordos internacionais. Um deles foi o acordo nuclear histórico com o Irã, que foi costurado pelo ex-presidente Barack Obama.

Trump aplicou uma série de sanções contra o Irã, que retomou seu programa nuclear. Atualmente, o governo iraniano ameaça usá-lo para fins militares, em meio às tensões com Israel.

Ele também repetiu ameaças de que retiraria os EUA da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), alegando que outros países membros, principalmente os europeus, deveriam aumentar seus gastos militares para engordar o arsenal da aliança.

Atualmente, a Otan tem demonstrado papel importante no apoio à Ucrânia por meio do fornecimento de armas e treinamento de tropas.

 

Fonte: g1

 

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