terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Governo admite erros na apresentação do pacote de gastos e defende freio de arrumação

Quase um mês após a divulgação do pacote de controle de gastos e do projeto de mudanças no Imposto de Renda (IR), auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Palácio do Planalto e na equipe econômica, concordam que o governo cometeu erros na apresentação das medidas e que é preciso um freio de arrumação nesse tema.

Em café com jornalistas na sexta-feira (20), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu que erros na comunicação do pacote contribuíram para a alta do dólar e a reação negativa do mercado.

No dia 27 de novembro, Haddad anunciou o pacote de cortes, em pronunciamento na TV e no rádio, junto com a proposta de isentar a partir de 2026 do pagamento de IR quem ganha até R$ 5 mil mensais. O pacote foi aprovado pelo Congresso, mas o projeto do IR não foi enviado até o momento.

Numa tentativa de corrigir os equívocos, Lula colocou em prática uma mudança no discurso em relação ao Banco Central. O petista também garantiu a aliados que não quer brigar com o mercado.

Nos próximos quatro anos, sendo os dois finais do terceiro mandato de Lula, o BC será comandado por Gabriel Galípolo, que tem uma relação muito próxima com o presidente e com Haddad.

Na sexta-feira, Lula gravou um vídeo, ao lado de Haddad e Galípolo e da ministra do Planejamento, Simone Tebet, para defender a autonomia do novo presidente do BC e prometer responsabilidade com as contas públicas.

O publicitário Sidônio Palmeira, cotado para ser ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), foi o responsável pela produção do vídeo.

Tanto Galípolo quanto Sidônio afirmaram a aliados que a iniciativa de gravar a mensagem partiu do presidente. Lula, no entanto, disse em discurso a ministros, também na sexta-feira, que Galípolo o convenceu de que era preciso pacificar a relação com o mercado.

Aliados do presidente já defendiam que ele transmitisse uma mensagem para tentar reverter a crise com o mercado e, consequentemente, amenizar a alta do dólar.

Em 6 de novembro, a moeda norte-americana era cotada a R$ 5,67. Com a demora no anúncio do pacote, a cotação fechou em R$ 5,91 no dia 27, data do anúncio das medidas. Na última semana, o dólar bateu em R$ 6,30 e encerrou a sexta em R$ 6,07 após uma série de leilões do BC.

·        Erros na comunicação

Enquanto o pacote fiscal estava em discussão, houve uma divisão no governo: integrantes da equipe econômica, incluindo Haddad e Tebet, defendiam a tese de que a divulgação do pacote deveria tratar unicamente de medidas de contenção de gastos, sem misturar o tema com a reforma da renda.

Outro grupo, que incluía auxiliares de Lula no Palácio do Planalto e ministros da área social, desejava o anúncio casado para evitar a ideia de que um governo do PT estaria operando um corte de gastos apenas com medidas que afetavam a população de baixa renda. Essa tese prevaleceu.

Sidônio, que foi o marqueteiro da campanha de Lula, teve peso importante na discussão. Ele foi um dos principais defensores do anúncio conjunto. O publicitário, inclusive, participou da produção do pronunciamento de Haddad e esteve naquela mesma noite num encontro do ministro com parlamentares do PT.

O dia seguinte ao pronunciamento foi marcado por reações opostas. O mercado respondeu negativamente, assim como o centrão no Congresso. A militância petista celebrou as medidas. Nas redes sociais, as manifestações positivas superaram as negativas, segundo integrantes do Planalto que monitoram as reações nas plataformas.

A repercussão positiva nas redes, no entanto, durou 24 horas. No dia seguinte, a alta do dólar e as críticas ao pacote contaminaram a opinião pública e derreteram a reação positiva às medidas anunciadas.

O governo planejava uma campanha ostensiva nos dias subsequentes ao anúncio do pacote, como parte da estratégia política de convencer a sociedade da importância das medidas e, assim, vencer a queda de braço com o mercado. O governo faria uma disputa política em torno do tema.

A Secom havia preparado uma série de materiais de redes sociais para destacar o impacto da isenção do IR na vida das pessoas. A Fazenda barrou as peças por entender que a divulgação agravaria a reação negativa.

O Planalto também lançaria uma campanha publicitária para os dias subsequentes ao pronunciamento sobre o pacote. Órgãos de controle do governo alertaram que seria um contrassenso gastar dinheiro com publicidade para divulgar medidas de contenção. A campanha foi engavetada.

Auxiliares de Lula avaliam que o saldo foi ruim, com o governo duplamente derrotado: em função da reação negativa do mercado, muito acima da esperada pelo governo; e por deixar de colher os louros da isenção do IR.

 

¨      Moisés Mendes: ‘Não tem mané nas facções da Faria Lima’

Nem o estagiário do Banco Central acreditou na história de que Gabriel Galípolo teria dito que a moeda dos Brics poderia salvar o mundo da hegemonia exercida pelo dólar há décadas.

Mesmo assim, foi noticiado que a fake news sobre a fala improvável, disseminada pelas redes sociais, seria investigada pela Polícia Federal, por solicitação da Advocacia-Geral da União.

Não duvidem se espalharem que o Brasil pode adotar de novo o cruzeiro como nome da nossa moeda. Tudo pode ser dito sobre moedas, que sempre sofreram ataques especulativos. Mas agora, com as redes e suas mentiras, a extrema direita ressentida e as facções organizadas da Faria Lima, fica mais complicado.

O estagiário sabe que Galípolo não diria nada sobre moeda dos Brics nesse tom e nesse contexto, muito menos às vésperas de assumir o comando do Banco Central. Mas o mercado financeiro finge que aquilo é verdade e tenta tirar vantagem da confusão que abala os mais influenciáveis, distraídos e imbecis.

O que todos sabem, inclusive um primo do estagiário, é que chamaram Galípolo para aparecer ao lado de Lula e Haddad como tática de emergência. Para que transmitissem ao mercado financeiro que há confiança mútua e respeito.

Porque o mercado é litúrgico e cerimonioso, por ser composto de gente de famílias finas. Esse mercado cheio de escrúpulos viu, dias antes do vídeo de Lula com Galípolo e Haddad, uma outra foto, de Roberto Campos Neto com Damares Alves e Michelle Bolsonaro.

Foi num jantar definido pelos jornalões como encontro de líderes do conservadorismo. Damares e Michelle seriam duas integrantes dessa turma de expoentes conservadores que defendem arcabouços e controle absoluto da inflação com juros altos.

O mercado, que cobra bons modos de Lula em relação a Galípolo e por isso impôs que ambos se encontrassem, se diverte vendendo que os encontros seriam equivalentes. A direita adora essas equivalências, sempre em conluio com os seus colunistas de Folha, Globo e Estadão.

Para o mercado financeiro, o jantar de Campos Neto com Damares e Michelle é do jogo das convivências e vale tanto quanto o vídeo de Galípolo com Lula.

Consideram normal que, dias antes de deixar o cargo, o presidente do Banco Central tenha se encontrado com duas figuras que não expressam conservadorismo, mas ideias e ações da extrema direita.

O mercado que desafiou Lula a gravar uma prova de que não incomodará Galípolo, porque esse mercado exige retidão e decoro, é o mesmo que aplaude o encontro de Campos Neto com figuras do bolsonarismo decadente cercado por Alexandre de Moraes.

O presidente do BC foi ao encontro da gente dele, sem a menor preocupação com o impacto da reunião. Porque, como aconteceu com Sergio Moro, ele também pode arranjar emprego no bolsonarismo. A foto com Damares e Michelle é o custo a ser pago, mas é também ostentação, na falta de um Paulo Guedes.

E assim a vida segue, agora com o mercado de bucho cheio, porque Galípolo tem o compromisso de Lula de que não será incomodado. E Campos Neto pode, daqui a pouco, correr livre para os braços do pessoal que, como ele, veste a camisa da Seleção.

O estagiário, que presta atenção a tudo, sabe que essa semana outras fake news, nas quais a Faria Lima finge acreditar para causar alvoroço com o dólar e lograr incautos, serão investigadas pela Polícia Federal.

Não vão pegar ninguém, porque disseminador de fake news no mercado financeiro não é bobo que nem mané amador do 8 de janeiro crente de que seria protagonista de um golpe.

Ninguém quebra relógios antigos na Faria Lima. Eles tentam quebrar realidades, reputações, programas de governo e expectativas para os próximos anos. Eles precisam quebrar Lula.

Nesse mercado, a mentira dolarizada é coisa para profissionais de um Estado em que até o governo está sendo sequestrado pelas facções criminosas.

 

¨      Jornalões passam recibo sobre denúncias de cartel do câmbio, por Luís Nassif

É curioso como os jornalões estão reagindo às notícias de denúncias contra um suposto cartel do câmbio, que opera no mercado brasileiro e provocou um salto inesperado do dólar – depois de um terrorismo sobre as contas públicas brasileiras.

Em entrevista ao Estadão, o insuspeito economista e filósofo Eduardo Gianetti, foi objetivo: “Claramente, há uma reação exagerada do mercado financeiro”, afirma. “Os indicadores fiscais brasileiros, embora preocupantes, não são calamitosos. Longe disso. Nós não estamos na beira de nenhum precipício fiscal.”

Se houve uma reação exagerada, significa que foi fora do normal. Se foi fora do normal, não se pode buscar uma explicação dentro do normal. É evidente que houve uma articulação entre algumas instituições.

O tiro de partida foi dado pelo JP Morgan, anunciando a transferência de investimentos do Brasil para o México.

<><> O que dizem do México as agências de risco?

# Moody’s: Aponta preocupações relacionadas ao desgaste fiscal, crescimento econômico fraco e pressões decorrentes do suporte à Pemex, a empresa estatal de petróleo.
# Fitch Ratings: Ressalta que uma recessão mais profunda nos Estados Unidos pode representar um risco significativo para a economia mexicana, dado o estreito relacionamento comercial entre os dois países.

# S&P: Observa que, embora espere uma gestão macroeconômica cautelosa nos próximos anos, há desafios potenciais nas relações comerciais com os EUA, especialmente considerando possíveis novas tarifas e a revisão do acordo USMCA em 2026.

Mas o principal fator a alimentar as especulações foram, justamente, editoriais dos jornalões fazendo terrorismo sobre a situação fiscal.

O susto com a possibilidade de judicialização da questão do cartel ficou nítido nos dois jornais.

O Estadão prosseguiu no seu terrorismo fiscal e incluiu um ingrediente conspiratório:

“À solidão de Haddad se soma outro problema: na cosmologia do partido e de Lula, ter um inimigo a quem culpar é o elemento preferencial para mobilizar militantes e conquistar votos. Inspirado nessa lógica pedestre, o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), por exemplo, galvanizou esse espírito ao pedir à Polícia Federal (PF) que investigue e puna a “Faria Lima””.

A Folha se superou, demonstrando mais uma vez a enorme falta de critério na seleção de colaboradores. Foi buscar uma mestre em jornalismo, totalmente jejuna em economia, para criticar os jornalistas que, a exemplo de Gianetti, estranharam os movimentos anômalos do mercado: “Culpar ataque especulativo ou memes pela alta do dólar é fábula em defesa do governo e acinte à checagem jornalística”.

Diz a notável sábia especialista: “Ora, a gastança sob Lula é um fato constatável por números. E até um neófito em economia sabe que um rombo fiscal impacta a confiança de investidores, reduzindo a entrada de dólares no país, além de pressionar a inflação e aumentar a demanda pela moeda dos EUA como ativo de proteção. Resultado: alta do dólar”.

E termina com uma lição de jornalismo econômico inacreditável, uma autocrítica clássica, não fosse o fato da autora não demonstrar sutilezas estilísticas.

“Quando a imprensa se deixa levar pelas ondas de narrativas, derruba um de seus pilares: a checagem. Para atribuir causalidades, jornalistas têm o dever de se ater aos fatos e ao conhecimento científico e empírico já produzido sobre o tema que abordam”.

O “conhecimento científico e empírico produzido”, segundo a notável analista, nada mais passa do que a repetição incessante de inverdades – como a que proclama o desajuste homérico das contas públicas -, que serve para amadores, como a articulista, se considerarem empoderados para abordar um tema que não dominam. Diferença entre déficit primário e nominal, impacto da Selic no aumento da dívida pública, desproporção entre um déficit de 0,5% e um movimento radical de elevação do dólar, nada disso faz parte do universo de conhecimento da tal especialista em semiótica.

Nem se culpe a colunista. Ela apenas aproveitou um espaço dado pelo jornal em troca de uma opinião em defesa do próprio jornal. Ela entregou o que consegue entregar. A retórica raquítica é culpa da própria falta de critérios de qualidade do jornal.

De todo modo, as duas manifestações dos jornalões comprovam que entra-se em uma nova quadra da disputa econômica, na qual finalmente o crime de cartel passa a ser visto como uma possibilidade.

Não é apenas Zeca Dirceu, solicitando à Polícia Federal os dados de operações no mercado futuro da B3. Há grandes escritórios de advocacia preparando-se para ações judiciais para discutir a cartelização tanto do mercado de dívida pública quanto de crédito.

Poderá ser um capítulo relevante em direção ao amadurecimento do mercado e do capitalismo brasileiro.

 

¨      Saldo econômico de 2024: Brasil cresceu, mas quem vai pagar a conta? Por João Victorino

Dezembro chegou, e é hora de refletir sobre o que fizemos neste ano e como isso afeta nossas vidas no futuro. Quando falamos sobre economia, seja pessoal ou nacional, é importante entender o que acontece à nossa volta. Isso nos ajuda a nos preparar para o que está por vir, seja no bolso ou no mercado de trabalho.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a economia brasileira cresceu 4% no terceiro trimestre de 2024, comparado ao mesmo período do ano anterior. Esse desempenho colocou o Brasil como a quarta economia com maior crescimento entre os países do G20, grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia. Isso é ótimo, pois significa que as pessoas estão trabalhando e ganhando mais.

Mas quem paga a conta disso tudo? Esse crescimento foi impulsionado por políticas que aumentaram os gastos públicos, como mais benefícios sociais e ajustes no salário mínimo. Isso ajudou muitas pessoas a gastar mais e a movimentar o comércio, porém, ao mesmo tempo, pressionou o bolso do governo, que vai ter que pagar essa conta no futuro (com juros nada baratos).

Quando o Brasil cresce, as importações aumentam, o que significa que compramos mais produtos de fora, o que faz o dólar subir. Como resultado, tudo o que é importado - desde eletrônicos até alimentos - fica mais caro. E, claro, isso atinge diretamente as famílias, especialmente as que já estavam lutando para fazer o dinheiro do mês durar. O impacto no custo de vida é real, e afeta especialmente quem já tem pouco.

A inflação deve encerrar o ano acima da meta estabelecida de 4,5%. Ou seja, os preços dos produtos básicos, como comida e combustível, continuam subindo. Embora o governo tenha tentado controlar a situação com juros altos, essa estratégia também prejudica o acesso ao crédito. As pessoas que precisam de um financiamento para comprar uma casa ou um carro sentem na pele os juros altos, e as empresas que querem investir e crescer também encontram dificuldades.

Apesar de mais pessoas terem conseguido emprego este ano, o poder de compra continua ameaçado. Mesmo quem está trabalhando, muitas vezes, não está conseguindo ter um salário que acompanhe o aumento dos preços, que variam de forma constante. Se a inflação continuar a crescer, haverá aumento das desigualdades, com muitos que já têm pouco perdendo ainda mais.

Quando falamos de gastos do governo, as propostas de Fernando Haddad para corte de despesas não convenceram, e estão paradas no Congresso, enquanto as projeções de aumento nas despesas públicas para os próximos anos acenderam um sinal de alerta. No fim, ninguém gosta de ver cortes no orçamento, mas é algo necessário para evitar problemas maiores mais à frente. Quanto mais adiamos, mais caro será para todos.

Se quisermos evitar que o real perca ainda mais valor, precisamos tomar atitudes mais equilibradas na economia. O impacto disso no nosso bolso é direto, principalmente para quem ganha menos, porque os preços dos produtos essenciais continuam subindo, e o custo de vida aumenta.

O saldo econômico de 2024 é um misto de crescimento e preocupações para o futuro. Embora o Brasil tenha apresentado números positivos, as dificuldades macroeconômicas ainda exigem cautela. O ano termina com uma lição importante: se preparar financeiramente para o futuro não é uma escolha, mas uma necessidade.

 

Fonte: Brasil 247/Jornal GGN/Sevempr

 

Nenhum comentário: