“Foi o
melhor trabalho policial que já li”, diz o jurista Pedro Serrano sobre
relatório da PF sobre a tentativa de golpe
Em uma análise contundente
durante entrevista ao programa Brasil Agora, o jurista Pedro
Serrano classificou o relatório da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de
golpe no Brasil como o “melhor trabalho policial” que já leu. Segundo Serrano,
o documento de mais de 800 páginas é um marco na investigação de crimes
complexos no país.
“Não tenho dúvida de que
houve uma tentativa de golpe. Após a leitura do relatório, é insustentável
dizer o contrário”, afirmou. O jurista destacou que mesmo profissionais do
Direito alinhados à direita têm dificuldade em negar a gravidade do caso devido
à robustez das provas apresentadas.
Investigação detalhada e provas técnicas
Pedro Serrano destacou a
sofisticação da investigação, que incluiu análises de geolocalização e
identificação biométrica de suspeitos. “Eles identificaram digitais a partir de
uma simples foto de um dedo segurando um cartão. Isso mostra um nível de
precisão técnico impressionante.”
Além disso, Serrano apontou
que o relatório desmantela a narrativa de que os eventos de 8 de janeiro foram
atos isolados. “O golpe é um ‘romance em vários capítulos’ ou uma ‘peça em
vários atos’. Desde manifestações em frente a quartéis até tentativas de
ataques terroristas em Brasília, tudo foi orquestrado.”
<><> Comando unificado e articulação
criminosa
O jurista detalhou que a PF
descreve uma organização criminosa formada por núcleos especializados, atuando
em setores como sociedade civil, comunicação virtual, Forças Armadas e polícia.
“Há provas incontestáveis de que essa estrutura tinha comando unificado e
articulava ações golpistas.”
<><> Imparcialidade judicial em questão
Serrano também abordou a
controvérsia sobre a atuação do ministro Alexandre de Moraes, relator de casos
relacionados aos atos golpistas. “Ele foi atacado como magistrado, não em nível
pessoal. Isso afasta qualquer alegação de impedimento em seus julgamentos.”
Comparação histórica e gravidade do caso
Para o jurista, o caso
brasileiro é singular na história recente. “Estudo golpes há mais de dez anos e
nunca vi algo tão extenso e intenso como essa tentativa. A sorte foi a
resistência institucional e o posicionamento contrário de parte das Forças
Armadas.”
Pedro Serrano concluiu
reafirmando a gravidade da situação e a excelência técnica do trabalho da
Polícia Federal: “Não há como negar a existência de uma tentativa de golpe. O
relatório é um exemplo de investigação científica, racional e não violenta.”
¨ "Militares
davam aulas para parlamentares na CPI", diz Soraya Thronicke
Em entrevista ao
programa Bom Dia 247, a senadora Soraya Thronicke (União-MS) fez
revelações sobre os bastidores da CPI da Pandemia e a CPMI do Golpe. Segundo
ela, reuniões prévias eram realizadas entre integrantes do governo e
parlamentares para coordenar estratégias antes das sessões. "Militares
davam aulas para parlamentares", afirmou a senadora.
Soraya relatou ter
participado de algumas dessas reuniões, mencionando especificamente o
ex-ministro Eduardo Pazuello e o ex-deputado Osmar Terra e Onyx Lorenzoni.
"Cheguei quando a reunião já estava começando, todos sentados, e fiquei
chocada ao ver como eles estavam sendo instruídos sobre o que dizer, como falar
de cloroquina e outras pautas. Eu levantei no meio da reunião e disse: 'Para
mim, não dá'", afirmou.
Segundo a senadora, embora o
encontro pudesse ser considerado parte da estratégia política, as orientações
iam além das reuniões administrativas comuns. "Levavam materiais, davam
aulas para parlamentares. Não vejo ilegalidade em se reunirem, mas ali era algo
bem programado. Era para instruir mesmo: ‘Tem que falar isso, isso e isso’.”
<><> Reuniões na CPMI do Golpe
Ao comentar a CPMI do Golpe,
Soraya disse que não foi convidada para reuniões semelhantes. "Eu fui a
autora da proposta de criação da CPI do Golpe, que acabou virando uma CPMI. Se
tivesse sido apenas no Senado, teria sido mais pragmática, assertiva e sem
tantas investidas hostis, especialmente contra mulheres", avaliou.
Soraya também mencionou
dificuldades para aprovar requerimentos e convocar testemunhas durante a CPMI.
"Fizemos inúmeros requerimentos que eram engavetados pelo presidente da
comissão. Tentamos convocar o almirante Flávio Rocha várias vezes, mas nunca
conseguimos. Eles não colocavam para votação.”
¨ Exército vê
braço direito de Braga Netto como informante de influenciador bolsonarista
Integrantes da atual cúpula
do Exército apontaram o coronel da reserva Flávio Botelho como responsável por
espalhar desinformação entre a militância bolsonarista para difamar generais
que rejeitaram participar do plano golpista. O militar é o braço direito do
general Braga Netto, um dos 40 indiciados no inquérito da trama golpista.
De acordo com informações
publicadas nesta terça-feira (24) pelo jornal Folha de S.Paulo, oficiais do Quartel-General do Exército afirmaram, reservadamente, que
Flávio Botelho era um dos informantes do comentarista e influenciador
bolsonarista Paulo Figueiredo Filho nas investidas contra membros do Alto
Comando.
O influenciador bolsonarista
é neto do último ditador do regime militar, João Batista Figueiredo
(1918-1999). Paulo Figueiredo Filho foi comentarista da rádio Jovem Pan.
Ao saber das acusações, o
coronel Flávio Botelho afirmou que a acusação é "leviana e se aproveita do
anonimato da fonte". “Tenho mais de 34 anos de serviço no Exército e,
reconhecidamente, fiz uma trajetória exemplar e sem máculas, o que é comprovado
por subordinados, pares e superiores ao longo de toda a minha carreira”,
declarou.
A Polícia Federal indiciou
40 pessoas pela participação na trama golpista. O plano envolvia o assassinato
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e
do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
Além de Braga Netto, foram
indiciados nomes como Jair Bolsonaro (PL), Augusto Heleno (ex-ministro do
Gabinete de Segurança Institucional) e Paulo Sérgio Oliveira (ex-titular da
Defesa). A Procuradoria-Geral da República (PGR) analisa o caso e, se optar por
oferecer denúncia, enviará o posicionamento do órgão ao Supremo Tribunal
Federal.
¨ Defesa de
Walter Braga Netto refuta acusações da PGR e questiona prisão preventiva
A defesa do general Walter
Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil do governo Jair Bolsonaro
(PL), rebateu nesta segunda-feira (23) o parecer da Procuradoria-Geral da
República (PGR), que defendeu a manutenção de sua prisão preventiva. Segundo a
coluna da jornalista Malu Gaspar, de O Globo, em documento protocolado no Supremo
Tribunal Federal (STF), os advogados do general afirmaram que a PGR se baseia
em “mera presunção” para alegar que ele estaria obstruindo as investigações
sobre um suposto golpe para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) e manter Bolsonaro no poder.
O parecer da PGR, assinado
pelo procurador-geral Paulo Gonet, sustenta que a prisão do ex-ministro é necessária
para evitar que ele interfira nas investigações. Contudo, a defesa de Braga
Netto, liderada pelo advogado José Luis Oliveira Lima, contestou a argumentação
da procuradoria. Segundo os defensores, não há "elementos concretos"
que comprovem a tentativa de obstrução das investigações. Para eles, a
conclusão da Polícia Federal de que o ex-ministro teria agido para obter
informações sigilosas e controlar o que seria repassado à investigação é
infundada.
Em seu memorial, a defesa
argumentou que a prisão preventiva de Braga Netto não tem justificativa legal,
pois os fatos investigados são antigos, e não há indicativos de que ele tenha
cometido atos recentes de interferência. O advogado também apontou que a
conclusão da Polícia Federal sobre a manipulação das investigações se baseia em
interpretações errôneas de documentos apreendidos.
Um dos pontos em questão é
um documento encontrado na sede do Partido Liberal (PL), em Brasília, que
menciona interações relacionadas ao acordo de delação do tenente-coronel Mauro
Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. A Polícia Federal interpretou o
documento como evidência de que Braga Netto teria tentado obter informações
sigilosas sobre a delação. No entanto, a defesa contestou essa interpretação,
afirmando que o conteúdo do documento não comprova envolvimento do ex-ministro.
Além disso, a defesa
criticou o depoimento de Mauro Cid, que afirmou que Braga Netto teria fornecido
dinheiro para financiar planos para matar autoridades, alegando que as
informações apresentadas por Cid são vagas, contraditórias e carecem de
corroboradores confiáveis. Segundo os advogados, o depoimento do ex-ajudante de
ordens não oferece base sólida para justificar a prisão preventiva do general.
Em sua argumentação, a
defesa destacou que a PGR se apoia em especulações sem fundamento e pediu ao
ministro Alexandre de Moraes, responsável pela prisão de Braga Netto, que
reconsidere a decisão e libere o ex-ministro, visto que não há provas
substanciais para manter a prisão.
<><>
PGR nega habeas corpus para Mário Fernandes, militar investigado por tentativa
de golpe de Estado
O procurador-geral
da República (PGR), Paulo Gonet Branco, negou o pedido de habeas corpus do
general Mário Fernandes, protocolado no último dia 17, por não haver elementos
suficientes para a soltura do militar investigado por participar da trama para
manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder.
“A situação fática
e jurídica que autorizou a decretação da prisão preventiva de Mário Fernandes
mantém-se inalterada, não havendo nos autos fato novo capaz de modificar o
entendimento já proferido pelo eminente Ministro relator na
decisão”, informa o parecer do PGR, publicado na última terça-feira (24)
Segundo Gonet, a
prisão preventiva está amparada “elementos que traduzem o risco concreto à
ordem pública, notadamente ante a apontada posição de grande ascendência do
Requerente em relação aos demais investigados”.
Assim, o procurador
afasta a tese da defesa de que as provas não justificam a decretação da prisão.
Mário Fernandes,
número 2 da Secretaria-Geral da Presidência no governo de Jair Bolsonaro, teria
elaborado o documento intitulado de “Punhal Verde e Amarelo”, com o objetivo de
executar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além do
vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF).
Fernandes está
preso desde 19 de novembro, no Rio de Janeiro. Foi transferido em 5 de dezembro
para o Comando Militar do Planalto (CMP), em Brasília.
·
"Está acontecendo agora o debate que não foi feito no final da
ditadura", diz Genoino
Em entrevista ao
programa Conversa de Política, o ex-presidente nacional do PT, José
Genoino, analisou a prisão do general Braga Netto e o impacto na estrutura das
Forças Armadas brasileiras. Genoino destacou a importância de um debate público
para redefinir o papel das Forças Armadas no Brasil e reforçou a necessidade de
reformas institucionais.
"A prisão de Braga
Netto é um fato importante porque é a primeira vez na história do Brasil que um
militar de quatro estrelas é preso. Esse fato tem a ver com a obstrução da
Justiça, o que mostra que ninguém está acima da lei", afirmou.
O ex-presidente do PT
criticou a falta de reformas profundas desde o período de transição para a
democracia, alertando para o risco de retrocessos.
"Temos que fazer
reformas amplas e profundas no papel das Forças Armadas, na sua doutrina e na
sua estruturação. A prisão de um general de quatro estrelas envia uma mensagem
clara de que a lei deve prevalecer", destacou.
Genoino também mencionou a
cultura de impunidade nas instituições militares, ressaltando que a relação
promíscua entre as Forças Armadas e o governo Bolsonaro resultou em um ambiente
de desrespeito à hierarquia e à disciplina.
"As Forças Armadas
precisam sair dessa ideia de tutela e se submeter ao comando político
democraticamente eleito. Precisamos redefinir sua missão em relação ao povo,
priorizando o desenvolvimento tecnológico e científico para a defesa
nacional", disse.
O ex-presidente defendeu a
realização de conferências nacionais para debater o futuro das Forças Armadas e
criticou a postura de setores do governo que resistem a essas mudanças.
"Se não houver uma
reformulação séria, corremos o risco de ver essas práticas autoritárias se
repetirem. É necessário um debate amplo e público para que a sociedade
participe dessa redefinição", alertou.
Para Genoino, o momento
atual representa uma oportunidade histórica para o Brasil resolver questões
estruturais que foram negligenciadas durante a transição democrática.
"Estamos diante de uma
situação que exige reformas institucionais profundas. Não podemos perder mais
uma vez a chance de corrigir os erros do passado e consolidar uma verdadeira
democracia", concluiu.
Fonte: Brasil 247/Jornal
GGN
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