sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

3 coisas que deveríamos ter aprendidos 20 anos após o tsunami mais mortal da Ásia

Em 26 de dezembro de 2004, um terremoto no Oceano Índico, próximo à Indonésia, provocou um tsunami que matou cerca de 250 mil pessoas.

Foi o desastre natural mais mortal deste século e provavelmente o tsunami mais mortal da história da humanidade.

Como engenheiros costeiros especializados em tsunamis e preparação para tsunamis, vimos como os eventos de 2004 reformularam nossos sistemas globais de gerenciamento de desastres.

<><> Entre as lições que devêramos ter aprendidos desde aquele dia, três se destacam:

·        1. A evolução dos sistemas de alerta precoce

A ausência de um sistema abrangente de alerta antecipado contribuiu para a devastadora perda de vidas em 2004.

Cerca de 35 mil pessoas morreram no Sri Lanka, por exemplo, que não tinha sido afetado até duas horas após o terremoto.

Desde então, foram feitos grandes investimentos, como o sistema de alerta de tsunami do Oceano Índico, que está em operação em 27 Estados-membros.

Esse sistema foi capaz de emitir avisos em oito minutos quando outro terremoto atingiu a mesma área da Indonésia em 2012.

Da mesma forma, quando um terremoto atingiu Noto (Japão) em janeiro de 2024, os avisos de tsunami e as ordens de evacuação emitidas rapidamente salvaram vidas.

No entanto, esses sistemas não são usados globalmente e não conseguiram detectar os tsunamis que devastaram as ilhas Tonga em 2022 após a erupção de um vulcão subaquático no Pacífico Sul.

Nesse caso, um melhor monitoramento do vulcão teria ajudado a detectar sinais precoces de um tsunami.

·        2. Educação e simulação

Os sistemas de alerta precoce não são suficientes. Ainda precisamos de campanhas de educação e conscientização, simulações de evacuação e planos de resposta a desastres.

Esse tipo de planejamento mostrou-se eficaz no vilarejo de Jike, no Japão, que foi atingido pelo tsunami de Noto em janeiro de 2024.

Depois de aprender com um grande tsunami em 2011 (que atingiu a usina nuclear de Fukushima), os engenheiros construíram novas rotas de evacuação para os abrigos contra tsunamis.

Embora a vila tenha sido destruída, os moradores foram evacuados por uma escada íngreme e não houve registro de vítimas em Jike.

·        3. O papel das defesas de engenharia

Nos anos que se seguiram ao tsunami de 26 de dezembro de 2004, os países em risco investiram em defesas de engenharia "rígidas", como muros marítimos, quebra-mares offshore e diques de inundação. Embora essas estruturas ofereçam alguma proteção, sua eficácia é limitada.

No Japão, a ideia de que medidas rígidas podem proteger contra a perda de vidas foi descartada, pois acredita-se que tsunamis de grande escala podem superar até mesmo as defesas mais fortes.

Por exemplo, em 2011, nem mesmo um quebra-mar de entulho seguido de um muro de cinco metros de altura conseguiu proteger a cidade de Watari. O tsunami cobriu metade da cidade e centenas de pessoas morreram.

Os tsunamis ocorridos nos últimos 20 anos destacaram as vulnerabilidades das estratégias de proteção existentes, e nossas pesquisas de campo mostram que os quebra-mares e outras estruturas foram severamente danificados.

Embora a falha total seja esperada em face de eventos extremos, é essencial que determinadas infraestruturas críticas, como usinas de energia, sejam projetadas para suportar os maiores tsunamis.

Isso requer mais pesquisas sobre projetos de engenharia resilientes que mesmo que possam falhar parcialmente, ainda funcionem.

Após o tsunami de 2011, os engenheiros japoneses criaram dois níveis de medição de tsunami.

Os tsunamis de nível 1 são mais frequentes (ocorrem talvez uma vez a cada século), mas são menos perigosos.

Os tsunamis de nível 2 são os grandes tsunamis que qualquer área costeira pode esperar apenas uma vez a cada mil anos, aproximadamente: Oceano Índico 2004, Japão 2011.

É para esses tsunamis que a infraestrutura essencial, como as usinas de energia, deve se preparar.

Nada pode impedir completamente um tsunami da magnitude do ocorrido em 2004, mas o objetivo é que as estruturas transbordem sem serem destruídas.

Eles ainda devem ser capazes de ajudar no processo de evacuação, reduzindo a altura do tsunami e retardando o tempo que ele leva.

Apesar da evolução das opiniões sobre defesas rígidas, ainda é útil construir e planejar áreas urbanas costeiras de forma mais sustentável e responsável.

Em particular, a infraestrutura crítica e as áreas densamente povoadas em regiões ameaçadas por tsunamis devem ser construídas em terrenos mais altos sempre que possível.

Os desenvolvimentos de engenharia também devem levar em conta as consequências ambientais, inclusive os danos aos ecossistemas e a interrupção dos processos costeiros naturais, e devem considerar soluções baseadas na natureza.

O fortalecimento dos recifes de coral com blindagem de rocha ou sacos de areia pesados e o plantio de florestas costeiras como zonas de proteção podem ser uma opção mais barata e ecologicamente mais sensível do que a construção de muros altos.

·        Mudanças climáticas e o caminho a seguir

O progresso é inegável. No entanto, os dados sobre tsunamis e terremotos ainda não são amplamente compartilhados em todo o mundo, e as autoridades e os especialistas locais muitas vezes não conseguem comunicar o risco aos moradores de comunidades propensas a inundações.

A passagem do tempo pode corroer a memória das melhores práticas de preparação para desastres.

Além disso, a rápida mudança climática está levando ao aumento do nível do mar e a eventos climáticos extremos mais frequentes, como tempestades.

Isso não causa mais tsunamis, mas pode piorá-los e tornar as defesas "rígidas" menos sustentáveis a longo prazo.

Embora ainda existam desafios significativos e urgentes, eles não são insuperáveis. Se continuarmos a aprender mais sobre tsunamis e nos prepararmos para o pior, poderemos minimizar seu impacto e proteger milhões de vidas.

 

¨      Cerca de 670 pessoas podem estar soterradas após deslizamento de terra em Papua Nova Guiné

Cerca de 670 pessoas foram soterradas por um enorme deslizamento de terra em Papua Nova Guiné, segundo as Nações Unidas.

O chefe da Organização Internacional para as Migrações na Papua-Nova Guiné, Serhan Aktoprak, disse que o impacto da tragédia que atingiu na sexta-feira (24/5) aldeias na província isolada de Enga foi maior do que se pensava inicialmente.

“Há cerca de 150 casas enterradas”, disse Aktoprak.

Os serviços de emergência estão tentando alcançar todas as áreas afetadas, mas segundo Aktoprak as equipes de resgate estão em risco porque “a terra ainda está deslizando”.

“A água está correndo e isso está criando um risco enorme para todos os envolvidos”, disse ele.

Quase 4.000 pessoas vivem na área onde ocorreu o deslizamento de terra. Mas a agência humanitária Care Australia alertou que o número de afetados “provavelmente será maior” devido ao fluxo de pessoas que fogem de conflitos nas áreas vizinhas.

A instituição acrescentou que outras aldeias também poderão estar em risco “se o deslizamento continuar montanha abaixo”.

O deslizamento de terra soterrou centenas de casas em Enga por volta das 03h da manhã locais de sexta-feira, 24 (14h de quinta-feira, 23, de Brasília).

O terreno difícil e os danos nas ruas principais estão dificultando os esforços de resgate.

A rodovia principal que dá acesso à região está bloqueada e a área é acessível apenas por helicóptero.

O deslizamento de terra criou detritos de até 8 metros de profundidade, afetando mais de 200 quilômetros quadrados de terra “incluindo 150 metros da rodovia principal que leva à província de Enga”, disse a Care Australia.

Segundo Serhan Aktoprak disse à agência de notícias AP, a área afetada pelo deslizamento de terra equivale a cerca de três a quatro campos de futebol.

Moradores das áreas vizinhas descreveram como as árvores e os destroços de uma montanha que desabou soterraram partes da comunidade, deixando-a isolada.

Imagens do local mostram moradores retirando corpos de escombros enquanto atravessam a área, coberta por pedras gigantes e árvores arrancadas.

Aktoprak disse que os voluntários estão usando todos os meios necessários para recuperar as vítimas: “As pessoas estão usando paus de escavação, pás e grandes rastelos para remover os corpos enterrados no solo”.

Até a manhã deste domingo (26/5), apenas cinco corpos tinham sido recuperados, além de restos mortais de outras vítimas.

<><> 'Não há mais casas'

Um morador de uma aldeia próxima disse que quando chegou ao local do deslizamento, “não havia mais casas [de pé]”.

Em declarações à emissora australiana ABC, Dominic Lau disse que tudo estava “simplesmente coberto por terra”.

“Não havia nada, apenas pedras e solo... não havia pessoas e não havia casas para ver”, acrescentou Lau.

O governador de Enga, Peter Ipatas, disse à AFP que "seis aldeias" foram afetadas pelo deslizamento de terra, que descreveu como um "desastre natural sem precedentes".

Enga fica a mais de 600 km da capital do país, Port Moresby.

A Sociedade da Cruz Vermelha da Papua Nova Guiné disse anteriormente que uma equipe de emergência composta por funcionários do gabinete do governador provincial, polícia, forças de defesa e ONGs locais foi enviada para o local.

O primeiro-ministro James Marape afirmou que o governo central está trabalhando com as autoridades locais para fornecer “trabalho de socorro, recuperação de corpos e reconstrução de infraestrutura”.

 

¨      Brasil liderará discussões sobre mudanças climáticas e IA durante sua presidência do BRICS

Em 1º de janeiro de 2025, o Brasil assume a presidência do BRICS e sediará pela quarta vez a cúpula do grupo, do qual também fazem parte Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.

Para o governo brasileiro, esta será uma oportunidade estratégica de promover diálogos em torno de um futuro mais sustentável e justo.

Em entrevista à Agência Brasil, o embaixador Eduardo Saboia, negociador-chefe do BRICS para o próximo ano, ressaltou a importância crescente do bloco no cenário global. Com mais de 40% da população mundial e 37% do PIB global ajustado pelo poder de compra, o BRICS tem um papel central nas questões econômicas e sociais do planeta.

"Se você quer construir um mundo melhor, um mundo sustentável, o BRICS tem que ser parte dessa construção. E é importante que haja um entendimento entre esses países, porque esse entendimento ajuda você a alcançar um entendimento mais amplo [com outros países]", destacou Saboia.

Durante a presidência brasileira, temas como a adoção de moedas locais no comércio entre os membros do grupo e a reforma da governança global continuarão a ser discutidos. Além disso, o Brasil buscará consolidar o consenso do grupo sobre questões cruciais como mudanças climáticas, redução da pobreza por meio do desenvolvimento sustentável e a governança da inteligência artificial.

A agenda ambiental ganha ainda mais relevância com a proximidade da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-30), que será realizada em Belém, no Pará. O embaixador sublinhou a importância de alinhar as discussões do grupo com os objetivos da COP-30.

"Como a gente pode aproveitar a presidência do BRICS para construir um entendimento que possa ajudar para o êxito da COP-30? Os países que são membros do BRICS têm um papel central na questão da energia, que é a principal fonte de emissões de gases do efeito estufa", afirmou Saboia à mídia estatal brasileira.

<><> Inteligência artificial

Outro tema relevante será a governança da Inteligência Artificial (IA), uma tecnologia disruptiva que, segundo o embaixador, carece de uma regulamentação global adequada.

"Não existe uma governança da inteligência artificial, mas essa é uma discussão que está ocorrendo. Quem sabe no BRICS, durante a presidência brasileira, a gente possa avançar na ideia de ter uma visão desses países sobre como deve ser a governança da inteligência artificial".

Para Saboia, o BRICS não só exerce um papel de construção, mas também de estabilização no cenário internacional.

"É estabilizadora porque se você tem esses países, que são muito diferentes e com sistemas políticos diferentes, cada um com seus desafios, se entendendo e se reunindo todo ano, isso é bom para todo mundo, porque dali saem soluções para a população", concluiu o embaixador.

 

¨      2024 nos faz sonhar com um 2025 melhor. Por Edson Capoano

2024 talvez tenha sido o ano em que a opinião pública percebeu como as mudanças climáticas afetarão o Brasil. “A ficha caiu” , assim como declarou o cientista Paulo Artaxo, quando explicou à Presidência da República o tamanho do desafio que enfrentaremos no país.

Fichas, ou sinais, não faltaram. Alguns surpreendentes, como a chuva extrema que atingiu o Rio Grande do Sul, ou a estiagem que agravou as queimadas pelo país. Outros, com cheiro de notícia velha, como os sucessivos recordes de temperatura e de emissão de CO₂, degelo nos polos e pressão sobre os oceanos.

Boas notícias também surgiram, ainda que mais acanhadas. A COP29 avançou com a governança e financiamento climáticos, (muito) aquém das expectativas. Brasil e outros países trataram do tema em seus parlamentos com mais seriedade.

A ação climática parece se instalar aos poucos na vida comum. Na maior cidade do país, a sociedade conseguiu impedir o corte de árvores de obra viária . E na educação, a USP inaugurou cátedra Clima & Sustentabilidade , sob liderança do cientista Carlos Nobre.

“Ela vai criar importante liderança para combater essa que é a maior emergência que a humanidade já enfrentou”, afirmou Nobre em discurso, ao assumir o posto de primeiro titular da cátedra. Como apresentou o professor via dados em sua palestra, o desafio é colossal.

Mas Nobre também indicou haver saídas. Segundo ele, o Brasil pretende ser o primeiro grande emissor a zerar as emissões líquidas até 2040 e proteger a maior biodiversidade do planeta. Com a COP30, o país pode convencer outras nações a fazer o mesmo, e a tornar nossas sociedades mais resilientes e sustentáveis.

A lista sobre as primeiras ações da cátedra também é animadora: criar soluções para contenção de eventos extremos nas cidades do país; capacitar professores e gestores sobre a emergência climática; debater com diferentes setores da sociedade formas de resiliência à crise do clima.

O discurso de Nobre fecha uma retrospectiva que nos permite sonhar o próximo ano com esperança no coração, planos na cabeça e mangas arregaçadas.

 

Fonte: Por Ravindra Jayaratne e Tomoya Shibayama, para The Conversation/BBC News/Sputnik Brasil/Envolverde

 

Nenhum comentário: