O que é estresse térmico, causado por
temperaturas extremas
O inverno de 2024 foi
o segundo mais quente já registrado pelo Instituto Nacional de Meteorologia
(Inmet) desde o início da medição em 1961, com temperatura média de 23,1°C,
ficando atrás apenas do ano passado, quando o índice chegou a 23,3 °C. As temperaturas devem continuar altas com
chegada da primavera. Nesta semana, o Brasil enfrenta sua sétima onda de calor
do ano.
A previsão é de que
recordes de calor sejam registrados até sexta-feira (27/09) em ao menos cinco
capitais do Centro-Oeste e Sudeste. A notícia chega como um alerta para a
população que pode sofrer com uma condição chamada estresse térmico, que traz
riscos para a saúde e ainda é pouco conhecida.
O estresse térmico
ocorre quando o corpo é exposto a temperaturas extremas, baixas ou altas, mas
principalmente calor intenso, e não consegue se resfriar adequadamente e se
manter nos 36,5°C – ideal para o nosso organismo. É diferente de insolação e
golpe de calor, causados pela exposição ao sol, e no caso do segundo também por
esforço físico excessivo num ambiente quente.
Um índice chamado
bioclimático que analisa não apenas a temperatura, mas o conforto fisiológico
do corpo humano diante de algumas condições específicas como o calor, umidade
do ar, vento e índice de radiação, é utilizado para avaliar o estresse térmico.
"O corpo humano
tende a manter a temperatura constante entre 36 e 37 °C. Quando as temperaturas
se elevam o corpo dá início a mecanismos para resfriamento, como a
transpiração. Transpiração em excesso sem a adequada reposição de fluídos e
eletrólitos pode levar a perda da capacidade de controlar a temperatura,
havendo aumento muito significativo da temperatura corporal", explica
Marcelo Franken, cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
• Problemas para a saúde
O estresse térmico faz
com que o corpo perca água e sais minerais em excesso podendo acarretar
problemas de saúde que vão desde um leve desconforto, cansaço e tontura até
condições mais graves, como exaustão pelo calor e desidratação.
A frequência cardíaca
e a pressão arterial podem aumentar, como um mecanismo compensatório ao calor
extremo do corpo, podendo evoluir para um choque térmico, confusão mental e
convulsões. Em quadros mais graves e extremos, a condição pode causar falência
de múltiplos órgãos e óbito. Idosos, crianças e pessoas com comorbidades são os
mais suscetíveis.
"O coração é um
dos órgãos que mais é comprometido, podendo causar arritmias, aumento da
pressão arterial e, em casos mais severos, pode até resultar em uma parada
cardíaca, especialmente em pessoas com condições cardíacas preexistentes",
acrescenta Diego Gaia, cirurgião cardiovascular do Hospital Santa Catarina –
Paulista e professor na Universidade Federal de São Paulo.
Para amenizar os
sintomas do estresse térmico, os especialistas recomendam manter o corpo
hidratado, dando preferência para ingestão de água, água de coco ou isotônicos,
ingerir alimentos frescos, pouco gordurosos e calóricos, procurar permanecer em
locais frescos (com sombra ou espaços com ar-condicionado ou ventilador), usar
roupas leves e, se possível, evitar andar na rua nos horários de pico do calor.
• Estresse térmico também afeta o
emocional
Os efeitos do estresse
térmico vão além do físico e influenciam diretamente o estado emocional. A
psicóloga Tatiane Mosso explica que as altas temperaturas podem causar aumento
da irritabilidade, sensação constante de cansaço, dificuldade de concentração e
tomadas de decisão, além de quadros de ansiedade e apatia. A falta de energia
física pode repercutir em desmotivação para atividades de rotina e uma
consequente sensação de frustração.
"O estresse
térmico afeta o bem-estar psicológico porque coloca o nosso corpo em estado
constante de alerta, já que o organismo precisa se esforçar mais para manter a
temperatura interna equilibrada. Além disso, temperaturas extremas podem
dificultar o descanso adequado, prejudicando a qualidade do sono, fator que
compromete a capacidade do corpo e da mente de se recuperar, gerando maior
instabilidade emocional", explica.
Para lidar com esse
tipo de estresse, a psicóloga ressalta que é importante adotar algumas medidas
como usar técnicas de respiração profunda para aliviar a tensão e a ansiedade.
"Manter-se
hidratado e buscar ambientes com temperaturas mais amenas é fundamental. Dormir
adequadamente e praticar atividades físicas em horários mais frescos também
ajudam a melhorar o humor e reduzir o cansaço emocional. Além disso, buscar um
apoio social, conversar sobre o desconforto e reconhecer os limites pessoais em
situações de estresse térmico são passos importantes para promover equilíbrio
emocional", acrescenta a psicóloga.
• 38 milhões de brasileiros expostos ao
estresse térmico
No Brasil, estima-se
que ao menos 38 milhões de pessoas estejam expostas ao estresse térmico,
segundo dados são de um estudo realizado pelo Laboratório de Aplicações de
Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ).
O estudo, que teve
como objetivo analisar o fenômeno na América do Sul e como ele evoluiu ao longo
das últimas quatro décadas, analisou dados de 31 cidades da América do Sul com
mais de um milhão de habitantes, sendo 13 delas no Brasil – Rio de Janeiro, São
Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife, Fortaleza, Manaus, Belém,
Goiânia, Porto Alegre, Curitiba e Campinas.
Os pesquisadores
perceberam que a cada ano, em média, os períodos de estresse térmico ganham dez
horas extras nas cidades brasileiras analisadas. A escalada de aumento do
estresse térmico começou há 20 anos. Os moradores das cidades analisadas passam
de 17 a 25 dias por ano sob condições meteorológicas superiores às que o corpo
humano pode suportar.
Fonte: DW Brasil
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