sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Moisés Mendes: ‘A eleição do fim de Bolsonaro

Alexandre Ramagem pode ser visto como a maior expressão do bolsonarismo fiel e genuíno entre os candidatos a prefeito. Assim como Abilio Brunini representa em Cuiabá a essência do ainda líder da extrema direita brasileira.

Mas quem mais, com alguma importância relativa, pode ser apresentado como candidato do bolsonarismo nas capitais? Engana-se ou tenta enganar quem disser que Ricardo Nunes é um bolsonarista sob inspiração e proteção de Bolsonaro.

Nem Sebastião Melo, também emedebista, candidato à reeleição em Porto Alegre, é um nome de Bolsonaro. É um ex-centrista que se agarrou a facções da extrema direita para governar, depois de construir uma trajetória como político moderado.

Há um grande esforço dos jornalões em mostrar que ‘candidatos de Bolsonaro’ estariam em vantagem nas capitais. Não são candidatos do bolsonarismo, nem tutelados por Bolsonaro. Podem ter a simpatia e o apoio do sujeito, como devem ter de Braga Netto, Damares e Malafaia.

Mas não há ninguém com alguma relevância, em nenhuma das capitais, que possa ser considerado candidato de Bolsonaro em posição de liderança inquestionável. Há gente da segunda linha do bolsonarismo.

Ramagem e Brunini, do time mais fiel, não estão bem nas pesquisas. Ramagem pode levar 7 a 1 de Eduardo Paes, e Brunini ainda luta para ir para o segundo turno.

E os outros? Que outros? Quem souber, que diga depressa, sem pesquisar nomes, quais são os candidatos relevantes do bolsonarismo ou dependentes de Bolsonaro que lideram nas capitais.

Quem? Onde? Marcelo Queiroga, esse sim bolsonarista-dependente, não sabe se vai para o segundo turno em João Pessoa? Bruno Reis, em Salvador, é um novo bolsonarista de confiança?

Outros, como Reis, que estão bem nas pesquisas, são candidatos da direita, da velha e da nova, uns ainda fingindo proximidade com Bolsonaro, outros se escondendo dele. Mas são da direita, muito antes de serem rotulados como bolsonaristas.

A maioria, incluindo Melo no Rio Grande do Sul e Reis na Bahia, esconde Bolsonaro. Como Ricardo Nunes, na reta final, gostaria de esconder, porque Tarcísio o ajuda e Bolsonaro o atrapalha.

O alagoano João Henrique Holanda Caldas, que até a semana passada era ‘socialista’, candidato à reeleição imbatível em Maceió, é um novo bolsonarista confiável? Mauro Tramonte é tão bolsonarista quando Bruno Englert em Belo Horizonte?

Quem de todos eles andaria na garupa da moto de Bolsonaro depois da eleição? Que importância Bolsonaro terá para nomes da direita, mesmo os que se aproximaram da extrema direita, depois de outubro?

Para a maioria, é provável que não signifique quase nada, apesar da dívida de gratidão por ter oferecido lastro à ascensão de muita gente mediana e medíocre e para a formação da maior bancada do fascismo na Câmara. Mas essa é uma dívida quase paga.

O bolsonarismo como ideia com compromissos políticos de reciprocidade pode ter chegado, nessa eleição, ao seu momento derradeiro.

Velhos e novos direitistas continuarão sendo o que sempre foram, alguns agora mais identificados com o extremismo, mas não necessariamente com Bolsonaro.

A conexão com as pautas do reacionarismo extremado não significa dependência de Bolsonaro ou do que ainda chamam de bolsonarismo.

A direita é tutelada muito mais pela expansão do hiper conservadorismo de imposição neopentecostal, na área dos costumes, do que pelo próprio Bolsonaro. Que vai sendo reduzido a um homem de empreitadas pelos fracassos na eleição e no golpe.

 

¨      Candidatos bolsonaristas têm maiores chances para vitória em São Paulo

Pelo último Datafolha, Nunes, Marçal e Marina Helena, os candidatos bolsonaristas, teriam hoje 49% dos votos no ilustre pleito paulistano. Boulos, Tabata e Datena, que se opõem aos sequazes do infausto ex-presidente, somam 40% dos eleitores. A tristeza no coração é como a traça no pano, diria Camões.

Levando em conta apenas o sufrágio na pauliceia no segundo turno, Lula teve 53% dos votos e Bolsonaro 46%. A situação agora é outra. A extrema direita venceria com folga uma eventual frente de seus adversários. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.

Uns acham a comparação descabida porque a lógica da eleição presidencial difere de uma municipal. Outros dizem que os dejetos deixados por Bolsonaro foram tais que não deu para desentupir o Brasil. As coisas árduas e lustrosas só se alcançam com trabalho e com fadiga.

Piedosos creem que o governo claudica porque as chantagens do Congresso o impedem de deslanchar. Mas mesmo eles admitem, na muda madrugada, que Lula não correspondeu às esperanças nele depositadas —”até agora”, adicionam— e um fraco rei faz fraca a forte gente bandeirante.

A indústria cultural catapulta aspirantes à política. Reagan foi um canastrão de Hollywood até interpretar o papel de presidente dos Estados Unidos. Milei saiu de um programa de rádio para a Casa Rosada. Zelenski fez sucesso como comediante na televisão e se elegeu presidente da Ucrânia.

São Paulo se preparou por décadas para parir Datena. De disforme e grandíssima estatura, ele é um estranho colosso que empulha incautos paulistanos com um tom de voz horrendo e vicioso.

Jânio Quadros foi o Vasco da Gama dos presidentes histriões. Collor lhe seguiu a caravela com a fatiota de soldadinho de chumbo, canetas Mont Blanc e camisetas com dizeres de autoajuda. Bolsonaro faz o gênero tiozão boçal: eructa palavrões, expõe a pança obscena, tira onda com jet skis, toma tubaína em padaria.

Cada qual com suas bizarrices, os três mandatários laborfóbicos trombetearam a moralidade e foram corruptos do cocuruto à cauda. As instituições pátrias, torpes e podres, não os puseram a ferros nem por uma tarde. Marçal tem o que aprender em matéria de achincalhe, mas aprende rápido.

Desde já ele desfila o semblante tenebroso, a barba esquálida, os olhos encovados, a postura medonha e má, a cor terrosa, a bocarra sombria, o boné na testa enterrado, os caninos afiados por um odonto-veterinário.

O PT bateu o pé para que Marta Suplicy fosse candidata a vice de Boulos, e o PSOL a festejou com tubas suaves e canoras. Alegou-se que madame era benquista na periferia. E se relevou que defendeu a destituição de Dilma com denodo, a ponto de ofertar mimosas flores a Janaína Paschoal, a chefe do pessoal do impeachment.

Mal iniciada a campanha, trancaram Cinderela no sótão. Não sai da toca principesca nem para ir ao cabeleireiro. Não deu para entender. Em todo caso, ninguém sentiu sua falta. Seria fácil evitar a vileza nos debates eleitorais: é só não chamar Marçal para eles. Que vá latir e grunhir no raio que o parta. Não se amplia a voz dos imbecis, disse Millôr.

Está certo que a audiência dos debates cairia; a indústria da indignação perderia alento; a casta comentadora —inclua-me nela— teria um tema a menos para cantar a gente surda e endurecida. Pensando bem, viva a liberdade de expressão —e a hipocrisia.

Morreram 710 mil brasílicos na pandemia. Na cidade de São Paulo, 49 mil pereceram até maio passado. Quantos estariam vivos se Bolsonaro não recusasse 11 ofertas de vacinas? Em vez disso, receitou cloroquina, riu-se das máscaras, defendeu aglomerações, disseminou a Covid às mancheias.

Bolsonaro foi criminoso. E nossos ínclitos políticos, nossos vibrantes juízes e nosso iracundo Ministério Público não tiraram o buzanfã da poltrona para investigar quantos morreram por sua causa. Como não o incriminaram, segue aspergindo males e arengando a malta.

Nunes, o magriço, Marçal, o beócio, e Marina Helena, a inócua, são bolsonaristas, logo negacionistas. Têm por quem matou, lealdade. Um deles poderá ser o futuro alcaide. O que fará se outra pandemia se abater sobre a cidade? É uma questão de tempo até ela ocorrer, dizem epidemiologistas. Que Hipócrates nos proteja.

Até agora há só sinais de fumaça. A eleição crucial será em 27 de outubro. Até lá muito pode mudar. Cesse tudo o que a antiga musa canta, que outro valor mais alto se alevanta.

 

¨      Bolsonaro escala Malafaia para detonar Pablo Marçal: “psicopata”

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem medido as palavras para falar sobre o ex-coach e candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB).

Covarde, escalou um velho aliado para se prestar ao papel: o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

Sem papas na língua e sem nada a perder, Malafaia tem detonado o ex-coach de maneira virulenta, inclusive o chamando de “psicopata” e “canalha”.

A última de Malafaia foi usar um corte de vídeo da Fórum para mostrar que “o soco que o assessor dele deu é programado, é estratégico, não é de graça”. Além disso, o pastor ainda lembra que “o cara que deu o soco é especialista em cortes de vídeo para a internet”.

<><> O artigo da Fórum

A seguir, Malafaia posta o vídeo. A tese de Malafaia foi levantada pelo jornalista Plínio Teodoro, editor de Política desta Fórum, em artigo publicado nesta terça-feira (24), logo pela manhã. Plínio adverte que Marçal utiliza técnicas de "coach" para desestabilizar emocionalmente adversários e até jornalistas.

Plínio lembra no artigo, e é repetido por Malafaia, que “ao ser expulso por Tramontina, Marçal olhou para os assessores e abaixou a cabeça, em um gesto de consentimento. Imediatamente, o videomaker Nahuel Medina, assessor e sócio do candidato, desfere um soco no rosto de Duda Lima, marqueteiro de Nunes, e sai do local”.

“Com a expulsão e o soco do assessor, Marçal conquistou as manchetes e ofuscou a participação dos adversários no debate”, afirma ainda Plínio.

Malafaia repete a mesma tese e usa os mesmos cortes de vídeo da Fórum.

¨      Marçal usa Constantino para atacar Bolsonaro e mente sobre apoio de rival de Malafaia

Em franco desespero, que o levou a planejar a expulsão e o soco do sócio em Duda Lima, Pablo Marçal (PRTB) tem aumentado os ataques dentro da ultradireita usando figuras emblemáticas para tentar arrancar votos de Ricardo Nunes (MDB) e conquistar uma vaga no segundo turno das eleições em São Paulo.

Alvo de aliados mais próximos de Jair Bolsonaro (PL) - que resolveu se calar para não perder apoiadores na extrema direita -, Marçal resolveu atacar frontalmente o ex-presidente, que antes do início da campanha lhe "condecorou" com a medalha de "imbrochável".

Para isso, o ex-coach usou o comentarista Rodrigo Constantino, uma espécie de bibelô do fascismo neoliberal, para atacar Bolsonaro.

"Bolsonaro está cegando a direita por acordos irrelevantes e de interesse próprio", escreveu o ex-coach sobre um comentário editado em que Constantino ataca o ex-presidente por "justificar a cadeirada do Datena" e não defender o ex-coach sobre o soco desferido por Nahuel Medina, seu sócio, no marqueteiro de Nunes.

"Por isso que quando o Bolsonaro vai justificar a cadeirada do Datena isso é imperdoável, na minha opinião. Porque será que ele não se deu conta que o Datena, por ele ser tucano de esquerda, com poster do Che Guevara, pode dar cadeirada que nada acontece. Mas, se ele der uma cadeira, ou o Nikolas Ferreira, ou o Gustavo Gayer, acabou. Eles vão presos".

Constantino ainda defende Marçal que, segundo ele, seria o único "outsider do sistema", repetindo a velha ladainha para a já doutrinada manada bolsonarista.

"O Marçal está incomodando o sistema. E isso está visível. E se alguém está incomodando como outsider o sistema, podre, carcomido, essa pessoa cai nas graças de quem odeia o sistema e percebe o sistema como corrupto, enviesado e autoritário contra a direita", diz Constantino, que recentemente comemorou o visto permanente nos EUA com o artigo "Cidadão americano: adeus, Alexandre".

"Os Estados Unidos são o que são hoje por mérito de um modelo mais eficiente, justo e adequado à natureza humana. Infelizmente, até os americanos vêm se afastando do conceito original que tanto os distanciaram do resto do mundo. O Leviatã estatal tem crescido, alimentando-se das liberdades individuais tão valiosas. A instrumentalização do Estado para perseguição política tem marcado uma fase sem precedentes de riscos, podendo transformar os Estados Unidos numa republiqueta típica da América Latina com o tempo", diz o ex-bolsonarista que aderiu a Marçal.

<><> Guerra religiosa

Em outra frente da batalha na ultradireita neofascista, a guerra espiritual, Marçal não teve muito êxito ao tentar uma aproximação e mentir sobre o apoio do pastor José Wellington Bezerra da Costa, líder da Assembleia de Deus Ministério Belém, e principal rival político de Silas Malafaia, com quem disputa o domínio sobre a bancada evangélica no Congresso Nacional.

O eleitorado evangélico é a principal frente de batalha da ultradireita neofascista na capital paulista. Marçal liderava nesse nicho até um levante de pastores pró-Ricardo Nunes, capitaneados por Malafaia.

Para fazer frente ao avanço de Nunes, que passou a liderar as pesquisas no eleitorado evangélico, Marçal visitou o José Wellington, de 90 anos, e gravou um vídeo "fazendo o M" ao lado do religioso.

"Vim aqui tomar conselhos e oração com ele e parece que ele faz o M. Faz o M, pastor", induz Marçal, conseguindo a imagem que queria para propagar nas redes.

A publicação, no entanto, gerou revolta na família do líder da Assembleia de Deus, que acusou o ex-coach de usar "a imagem da Igreja e de um ancião sério indevidamente para fins políticos, sem o mínimo respeito aquilo que é sagrado".

O filho, o também pastor José Wellington Júnior afirmou que "nós apenas recebemos ele educadamente” e declarou que apoia Ricardo Nunes.

Filha do pastor, a vereador Rute Costa (PL), publicou nas redes o print de reportagem do Metrópoles que desmente Marçal e atacou o adversário: "a mentira desse homem, já virou rotina! Não dá mais!", escreveu Rute, que antes publicou foto do pai ao lado dela e de Ricardo Nunes, que voltará à igreja.

A deixa foi usada por Silas Malalafaia, que usou a mentira sobre o rival para fazer mais um vídeo atacando Marçal.

"A farsa de Pablo Marçal envolvendo um dos maiores líderes evangélicos do Brasil. Não é possível um evangélico continuar apoiando esse farsante", escreveu Malafaia no vídeo sobre o tema.

<><> Marçal chora e pede dinheiro a pastores enquanto vê êxodo de evangélico

Pablo Marçal, o candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, participou de uma chamada de vídeo com pastores evangélicos na tarde desta segunda-feira (23) com público bem aquém do esperado pela campanha do ex-coach.

O influenciador digital chegou a chorar, jurou que iniciaria um período de jejum e orações, além de pedir PIX aos religiosos e o apoio incondicional dos irmãos de fé.

“Começo agora, neste exato momento, sete dias de jejum. E aí você vai ver quem que vai cair por terra nesta semana”, profetizou Marçal.

Mas poucos ouviram os apelos de Marçal. A campanha do PRTB projetava um público de pelo menos 10 mil participantes – o número total de pré-cadastrados até horas antes do evento virtual. Entretanto o pico de dispositivos conectados simultaneamente à chamada de vídeo ficou entre 250 e 270, divulgado pela plataforma Zoom.

O fiasco da videoconferência se soma aos resultados das últimas pesquisas de intenção de voto indicando fuga de eleitores evangélicos da base do influenciador digital.

Segundo a última sondagem divulgada pelo Instituto DataFolha, Marçal despencou de 31% para 26% entre eleitores autodeclarados evangélicos que responderam à pesquisa e admitiram votar no ex-coach para prefeito da cidade mais populosa do hemisfério sul.

“Daqui a 15 dias não adianta chorar mais”, alertou Marçal. “A única coisa que falta é munição. Munição no campo espiritual orando, munição de gente voluntariando, munição de gente defendendo nas redes sociais”, acrescentou antes de terminar com uma oração pedindo mais apoio na campanha.

 

Fonte: Brasil 247/FolhaPress/Fórum

 

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