Moisés Mendes: ‘A eleição do fim de
Bolsonaro
Alexandre Ramagem pode
ser visto como a maior expressão do bolsonarismo fiel e genuíno entre os
candidatos a prefeito. Assim como Abilio Brunini representa em Cuiabá a
essência do ainda líder da extrema direita brasileira.
Mas quem mais, com
alguma importância relativa, pode ser apresentado como candidato do
bolsonarismo nas capitais? Engana-se ou tenta enganar quem disser que Ricardo
Nunes é um bolsonarista sob inspiração e proteção de Bolsonaro.
Nem Sebastião Melo,
também emedebista, candidato à reeleição em Porto Alegre, é um nome de
Bolsonaro. É um ex-centrista que se agarrou a facções da extrema direita para
governar, depois de construir uma trajetória como político moderado.
Há um grande esforço
dos jornalões em mostrar que ‘candidatos de Bolsonaro’ estariam em vantagem nas
capitais. Não são candidatos do bolsonarismo, nem tutelados por Bolsonaro.
Podem ter a simpatia e o apoio do sujeito, como devem ter de Braga Netto, Damares
e Malafaia.
Mas não há ninguém com
alguma relevância, em nenhuma das capitais, que possa ser considerado candidato
de Bolsonaro em posição de liderança inquestionável. Há gente da segunda linha
do bolsonarismo.
Ramagem e Brunini, do
time mais fiel, não estão bem nas pesquisas. Ramagem pode levar 7 a 1 de
Eduardo Paes, e Brunini ainda luta para ir para o segundo turno.
E os outros? Que
outros? Quem souber, que diga depressa, sem pesquisar nomes, quais são os
candidatos relevantes do bolsonarismo ou dependentes de Bolsonaro que lideram
nas capitais.
Quem? Onde? Marcelo
Queiroga, esse sim bolsonarista-dependente, não sabe se vai para o segundo
turno em João Pessoa? Bruno Reis, em Salvador, é um novo bolsonarista de
confiança?
Outros, como Reis, que
estão bem nas pesquisas, são candidatos da direita, da velha e da nova, uns
ainda fingindo proximidade com Bolsonaro, outros se escondendo dele. Mas são da
direita, muito antes de serem rotulados como bolsonaristas.
A maioria, incluindo
Melo no Rio Grande do Sul e Reis na Bahia, esconde Bolsonaro. Como Ricardo
Nunes, na reta final, gostaria de esconder, porque Tarcísio o ajuda e Bolsonaro
o atrapalha.
O alagoano João
Henrique Holanda Caldas, que até a semana passada era ‘socialista’, candidato à
reeleição imbatível em Maceió, é um novo bolsonarista confiável? Mauro Tramonte
é tão bolsonarista quando Bruno Englert em Belo Horizonte?
Quem de todos eles
andaria na garupa da moto de Bolsonaro depois da eleição? Que importância
Bolsonaro terá para nomes da direita, mesmo os que se aproximaram da extrema
direita, depois de outubro?
Para a maioria, é
provável que não signifique quase nada, apesar da dívida de gratidão por ter
oferecido lastro à ascensão de muita gente mediana e medíocre e para a formação
da maior bancada do fascismo na Câmara. Mas essa é uma dívida quase paga.
O bolsonarismo como
ideia com compromissos políticos de reciprocidade pode ter chegado, nessa
eleição, ao seu momento derradeiro.
Velhos e novos
direitistas continuarão sendo o que sempre foram, alguns agora mais
identificados com o extremismo, mas não necessariamente com Bolsonaro.
A conexão com as
pautas do reacionarismo extremado não significa dependência de Bolsonaro ou do
que ainda chamam de bolsonarismo.
A direita é tutelada
muito mais pela expansão do hiper conservadorismo de imposição neopentecostal,
na área dos costumes, do que pelo próprio Bolsonaro. Que vai sendo reduzido a
um homem de empreitadas pelos fracassos na eleição e no golpe.
¨ Candidatos bolsonaristas têm maiores chances para vitória em São
Paulo
Pelo último Datafolha,
Nunes, Marçal e Marina Helena, os candidatos bolsonaristas, teriam hoje 49% dos
votos no ilustre pleito paulistano. Boulos, Tabata e Datena, que se opõem aos
sequazes do infausto ex-presidente, somam 40% dos eleitores. A tristeza no
coração é como a traça no pano, diria Camões.
Levando em conta
apenas o sufrágio na pauliceia no segundo turno, Lula teve 53% dos votos e
Bolsonaro 46%. A situação agora é outra. A extrema direita venceria com folga
uma eventual frente de seus adversários. Mudam-se os tempos, mudam-se as
vontades.
Uns acham a comparação
descabida porque a lógica da eleição presidencial difere de uma municipal.
Outros dizem que os dejetos deixados por Bolsonaro foram tais que não deu para
desentupir o Brasil. As coisas árduas e lustrosas só se alcançam com trabalho e
com fadiga.
Piedosos creem que o
governo claudica porque as chantagens do Congresso o impedem de deslanchar. Mas
mesmo eles admitem, na muda madrugada, que Lula não correspondeu às esperanças
nele depositadas —”até agora”, adicionam— e um fraco rei faz fraca a forte
gente bandeirante.
A indústria cultural
catapulta aspirantes à política. Reagan foi um canastrão de Hollywood até
interpretar o papel de presidente dos Estados Unidos. Milei saiu de um programa
de rádio para a Casa Rosada. Zelenski fez sucesso como comediante na televisão e
se elegeu presidente da Ucrânia.
São Paulo se preparou
por décadas para parir Datena. De disforme e grandíssima estatura, ele é um
estranho colosso que empulha incautos paulistanos com um tom de voz horrendo e
vicioso.
Jânio Quadros foi o
Vasco da Gama dos presidentes histriões. Collor lhe seguiu a caravela com a
fatiota de soldadinho de chumbo, canetas Mont Blanc e camisetas com dizeres de
autoajuda. Bolsonaro faz o gênero tiozão boçal: eructa palavrões, expõe a pança
obscena, tira onda com jet skis, toma tubaína em padaria.
Cada qual com suas
bizarrices, os três mandatários laborfóbicos trombetearam a moralidade e foram
corruptos do cocuruto à cauda. As instituições pátrias, torpes e podres, não os
puseram a ferros nem por uma tarde. Marçal tem o que aprender em matéria de achincalhe,
mas aprende rápido.
Desde já ele desfila o
semblante tenebroso, a barba esquálida, os olhos encovados, a postura medonha e
má, a cor terrosa, a bocarra sombria, o boné na testa enterrado, os caninos
afiados por um odonto-veterinário.
O PT bateu o pé para
que Marta Suplicy fosse candidata a vice de Boulos, e o PSOL a festejou com
tubas suaves e canoras. Alegou-se que madame era benquista na periferia. E se
relevou que defendeu a destituição de Dilma com denodo, a ponto de ofertar mimosas
flores a Janaína Paschoal, a chefe do pessoal do impeachment.
Mal iniciada a
campanha, trancaram Cinderela no sótão. Não sai da toca principesca nem para ir
ao cabeleireiro. Não deu para entender. Em todo caso, ninguém sentiu sua falta.
Seria fácil evitar a vileza nos debates eleitorais: é só não chamar Marçal para
eles. Que vá latir e grunhir no raio que o parta. Não se amplia a voz dos
imbecis, disse Millôr.
Está certo que a
audiência dos debates cairia; a indústria da indignação perderia alento; a
casta comentadora —inclua-me nela— teria um tema a menos para cantar a gente
surda e endurecida. Pensando bem, viva a liberdade de expressão —e a
hipocrisia.
Morreram 710 mil
brasílicos na pandemia. Na cidade de São Paulo, 49 mil pereceram até maio
passado. Quantos estariam vivos se Bolsonaro não recusasse 11 ofertas de
vacinas? Em vez disso, receitou cloroquina, riu-se das máscaras, defendeu
aglomerações, disseminou a Covid às mancheias.
Bolsonaro foi
criminoso. E nossos ínclitos políticos, nossos vibrantes juízes e nosso
iracundo Ministério Público não tiraram o buzanfã da poltrona para investigar
quantos morreram por sua causa. Como não o incriminaram, segue aspergindo males
e arengando a malta.
Nunes, o magriço,
Marçal, o beócio, e Marina Helena, a inócua, são bolsonaristas, logo
negacionistas. Têm por quem matou, lealdade. Um deles poderá ser o futuro
alcaide. O que fará se outra pandemia se abater sobre a cidade? É uma questão
de tempo até ela ocorrer, dizem epidemiologistas. Que Hipócrates nos proteja.
Até agora há só sinais
de fumaça. A eleição crucial será em 27 de outubro. Até lá muito pode mudar.
Cesse tudo o que a antiga musa canta, que outro valor mais alto se alevanta.
¨ Bolsonaro escala Malafaia para detonar Pablo Marçal: “psicopata”
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem medido as palavras para falar sobre o ex-coach e
candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB).
Covarde, escalou um
velho aliado para se prestar ao papel: o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
Sem papas na língua e
sem nada a perder, Malafaia tem detonado o ex-coach de maneira virulenta,
inclusive o chamando de “psicopata” e “canalha”.
A última de Malafaia
foi usar um corte de vídeo da Fórum para mostrar que “o
soco que o assessor dele deu é programado, é estratégico, não é de graça”. Além
disso, o pastor ainda lembra que “o cara que deu o soco é especialista em
cortes de vídeo para a internet”.
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O artigo da Fórum
A seguir, Malafaia
posta o vídeo. A tese de Malafaia foi levantada pelo jornalista Plínio
Teodoro, editor de Política desta Fórum, em artigo publicado nesta terça-feira
(24), logo pela manhã. Plínio adverte que
Marçal utiliza técnicas de "coach" para desestabilizar emocionalmente
adversários e até jornalistas.
Plínio lembra no
artigo, e é repetido por Malafaia, que “ao ser expulso por Tramontina, Marçal
olhou para os assessores e abaixou a cabeça, em um gesto de consentimento.
Imediatamente, o videomaker Nahuel Medina, assessor e sócio do candidato,
desfere um soco no rosto de Duda Lima, marqueteiro de Nunes, e sai do
local”.
“Com a expulsão e o
soco do assessor, Marçal conquistou as manchetes e ofuscou a participação dos
adversários no debate”, afirma ainda Plínio.
Malafaia repete a
mesma tese e usa os mesmos cortes de vídeo da Fórum.
¨ Marçal usa Constantino para atacar Bolsonaro e mente sobre apoio
de rival de Malafaia
Em franco desespero,
que o levou a planejar a expulsão e o soco do sócio em Duda Lima, Pablo Marçal
(PRTB) tem aumentado os ataques dentro da ultradireita usando figuras
emblemáticas para tentar arrancar votos de Ricardo Nunes (MDB) e conquistar uma
vaga no segundo turno das eleições em São Paulo.
Alvo de aliados mais
próximos de Jair Bolsonaro (PL) - que resolveu se calar para não perder
apoiadores na extrema direita -, Marçal resolveu atacar frontalmente o
ex-presidente, que antes do início da campanha lhe "condecorou" com a
medalha de "imbrochável".
Para isso, o ex-coach
usou o comentarista Rodrigo Constantino, uma espécie de bibelô do fascismo
neoliberal, para atacar Bolsonaro.
"Bolsonaro está
cegando a direita por acordos irrelevantes e de interesse próprio",
escreveu o ex-coach sobre um comentário editado em que Constantino ataca o
ex-presidente por "justificar a cadeirada do Datena" e não defender o
ex-coach sobre o soco desferido por Nahuel Medina, seu sócio, no marqueteiro de
Nunes.
"Por isso que
quando o Bolsonaro vai justificar a cadeirada do Datena isso é imperdoável, na
minha opinião. Porque será que ele não se deu conta que o Datena, por ele ser
tucano de esquerda, com poster do Che Guevara, pode dar cadeirada que nada acontece.
Mas, se ele der uma cadeira, ou o Nikolas Ferreira, ou o Gustavo Gayer, acabou.
Eles vão presos".
Constantino ainda
defende Marçal que, segundo ele, seria o único "outsider do sistema",
repetindo a velha ladainha para a já doutrinada manada bolsonarista.
"O Marçal está
incomodando o sistema. E isso está visível. E se alguém está incomodando como
outsider o sistema, podre, carcomido, essa pessoa cai nas graças de quem odeia
o sistema e percebe o sistema como corrupto, enviesado e autoritário contra a
direita", diz Constantino, que recentemente comemorou o visto permanente
nos EUA com o artigo "Cidadão americano: adeus, Alexandre".
"Os Estados
Unidos são o que são hoje por mérito de um modelo mais eficiente, justo e
adequado à natureza humana. Infelizmente, até os americanos vêm se afastando do
conceito original que tanto os distanciaram do resto do mundo. O Leviatã
estatal tem crescido, alimentando-se das liberdades individuais tão valiosas. A
instrumentalização do Estado para perseguição política tem marcado uma fase sem
precedentes de riscos, podendo transformar os Estados Unidos numa republiqueta
típica da América Latina com o tempo", diz o ex-bolsonarista que aderiu a
Marçal.
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Guerra religiosa
Em outra frente da
batalha na ultradireita neofascista, a guerra espiritual, Marçal não teve muito
êxito ao tentar uma aproximação e mentir sobre o apoio do pastor José
Wellington Bezerra da Costa, líder da Assembleia de Deus Ministério Belém, e
principal rival político de Silas Malafaia, com quem disputa o domínio sobre a
bancada evangélica no Congresso Nacional.
O eleitorado
evangélico é a principal frente de batalha da ultradireita neofascista na
capital paulista. Marçal liderava nesse nicho até um levante de pastores
pró-Ricardo Nunes, capitaneados por Malafaia.
Para fazer frente ao
avanço de Nunes, que passou a liderar as pesquisas no eleitorado evangélico,
Marçal visitou o José Wellington, de 90 anos, e gravou um vídeo "fazendo o
M" ao lado do religioso.
"Vim aqui tomar
conselhos e oração com ele e parece que ele faz o M. Faz o M, pastor",
induz Marçal, conseguindo a imagem que queria para propagar nas redes.
A publicação, no
entanto, gerou revolta na família do líder da Assembleia de Deus, que acusou o
ex-coach de usar "a imagem da Igreja e de um ancião sério indevidamente
para fins políticos, sem o mínimo respeito aquilo que é sagrado".
O filho, o também
pastor José Wellington Júnior afirmou que "nós apenas recebemos ele
educadamente” e declarou que apoia Ricardo Nunes.
Filha do pastor, a
vereador Rute Costa (PL), publicou nas redes o print de reportagem do
Metrópoles que desmente Marçal e atacou o adversário: "a mentira desse
homem, já virou rotina! Não dá mais!", escreveu Rute, que antes publicou
foto do pai ao lado dela e de Ricardo Nunes, que voltará à igreja.
A deixa foi usada por
Silas Malalafaia, que usou a mentira sobre o rival para fazer mais um vídeo
atacando Marçal.
"A farsa de Pablo
Marçal envolvendo um dos maiores líderes evangélicos do Brasil. Não é possível
um evangélico continuar apoiando esse farsante", escreveu Malafaia no
vídeo sobre o tema.
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Marçal chora e pede dinheiro a pastores enquanto vê êxodo de evangélico
Pablo Marçal, o
candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, participou de uma chamada de vídeo
com pastores evangélicos na tarde desta segunda-feira (23) com público bem
aquém do esperado pela campanha do ex-coach.
O influenciador
digital chegou a chorar, jurou que iniciaria um período de jejum e orações,
além de pedir PIX aos religiosos e o apoio incondicional dos irmãos de fé.
“Começo agora, neste
exato momento, sete dias de jejum. E aí você vai ver quem que vai cair por
terra nesta semana”, profetizou Marçal.
Mas poucos ouviram os
apelos de Marçal. A campanha do PRTB projetava um público de pelo menos 10 mil
participantes – o número total de pré-cadastrados até horas antes do evento
virtual. Entretanto o pico de dispositivos conectados simultaneamente à chamada
de vídeo ficou entre 250 e 270, divulgado pela plataforma Zoom.
O fiasco da
videoconferência se soma aos resultados das últimas pesquisas de intenção de
voto indicando fuga de eleitores evangélicos da base do influenciador digital.
Segundo a última
sondagem divulgada pelo Instituto DataFolha, Marçal despencou de 31% para 26%
entre eleitores autodeclarados evangélicos que responderam à pesquisa e
admitiram votar no ex-coach para prefeito da cidade mais populosa do hemisfério
sul.
“Daqui a 15 dias não
adianta chorar mais”, alertou Marçal. “A única coisa que falta é munição.
Munição no campo espiritual orando, munição de gente voluntariando, munição de
gente defendendo nas redes sociais”, acrescentou antes de terminar com uma
oração pedindo mais apoio na campanha.
Fonte: Brasil 247/FolhaPress/Fórum
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