3 prefeitos baianos se tornaram milionários
em 4 anos e candidata à reeleição teve ganho de R$ 10 milhões
Poderia parafrasear a
música “Xibom Bombom”, de As Meninas, e falar que “o rico cada vez fica mais
rico”, ou então relembrar a Escolinha do Professor Raimundo, reclamar dos meus
vencimentos, e dizer “e o salário, ó”. Não é “jogo do tigrinho”, nem promessa
na bet, mas a prefeita de Nova Viçosa, Luciana Sousa (União), enriqueceu mais
1.758,19% nos últimos 4 anos, tendo um incremento de quase R$ 10 milhões em seu
patrimônio.
Conforme divulgado
pela Agência Tatu, três prefeitos baianos que disputam à reeleição neste ano
ficaram milionários durante a sua gestão. Além de Luciana, foi o caso de Dona
Ana (PSB), prefeita de Mucugê, e de Artur (PP), que comanda a prefeitura de
Barra.
E o motivo todo mundo
já conhece, é que o de cima sobe…Vamos agora desmembrar o patrimônio dos novos
milionários e entender como os prefeitos chegaram a conquistar esta fortuna.
LUCIANA SOUSA (UNIÃO)
- NOVA VIÇOSA
Ao todo, a fortuna da
candidata à reeleição no município chega na casa dos R$ 11,45 milhões. Há
quatro anos, quando assumi u a prefeitura, o patrimônio de Luciana era de R$
622 mil. Entre 2016 e 2020, a candidata já havia ganho um incremento
considerável, crescendo 93,74% ao sair dos R$ 321 mil.
Neste ano, o que mais
chama atenção na declaração de bens da candidata é sua participação de 45,98%
na Holding Patrimonial Futuro LTDA, que foi fundada em julho de 2022. No quadro
societário da companhia, além dela, aparece o nome do deputado estadual Robinho
(União), o qual é casado com a prefeita. O capital social da empresa foi
divulgado na casa dos R$ 23,3 milhões.
Em 2022, quando se
candidatou à reeleição na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Robinho
declarou um patrimônio de R$ 6,6 milhões, ainda sem sua participação na
Patrimonial Futuro. Dentre os bens, se destacam as diversas “benfeitorias na
fazenda ilha da fantasia”, que fica em Nova Viçosa. O terreno possui valor de R$ 1,43 milhão.
O deputado também
possui terreno na Fazenda Garrafão, em Rondon do Pará (PA). Neste caso, a área
possui valor de R$ 2,1 milhões.
O salário de Luciana,
de acordo com o Portal da Transparência, é de R$ 19,5 mil.
Aproveitando a deixa,
em 2022 a AL-BA aprovou um aumento do salário dos próprios deputados. No caso,
o reajuste chega a um reajuste de R$ 10 mil em três anos. Atualmente, Robinho
ganha R$ 33 mil, contudo, a partir de fevereiro de 2025, os vencimentos vão
para R$ 34,7 mil.
“E o meu salário, ó”.
DONA ANA (PSB) -
MUCUGÊ
Prefeita de Mucugê,
nas belíssimas cachoeiras da Chapada Diamantina, o patrimônio de Ana Olímpia Hora Medrado, conhecida como Dona
Ana, subiu 621,49% nos últimos quatro anos, totalizando a quantia de R$ 4,1
milhões. Em 2020, quando se elegeu, a prefeita havia declarado R$ 579 mil em
bens.
Vale ressaltar que ela
também se candidatou e venceu o pleito para a prefeitura do município em 2012.
Na época, o seu patrimônio era de R$ 284 mil. Ou seja, primeiro os valores
dobraram em oito anos, entre 2012 e 2020, e depois subiram mais de 620% nos quatro
anos subsequentes.
No caso de Dona Ana, o
que chama atenção em seu patrimônio é um empréstimo de R$ 3,5 milhões para
Antônio Carlos Hora Medrado. Familiar o nome, né? Não é à toa.
Então, de acordo com
reportagem elaborada pelo The Intercept, que entrou em contato com a assessoria
da prefeita, Antônio é filho de Dona Ana. Tá, mas de onde surgiu os R$ 3
milhões?
Segundo a assessoria,
o valor faz parte da venda de uma fazenda, que é herança deixada pelo marido e
teve trânsito em julgado em 2009. A prefeita afirmou que não declarou o bem
antes, pois a fazenda foi vendida recentemente e que ainda há bens a serem vendidos.
Aprofundando sobre o filho da prefeita,
Antônio Medrado é sócio da Dona Empreendimentos, que foi fundada em 1996. O
negócio possui atividades no Brasil, inclusive em Mucugê, e também em zonas de
luxo de Portugal, em Cascais, por exemplo. Segundo o cadastro da empresa, o
capital social da companhia é de R$ 11 milhões.
No final de 2023, a prefeita sancionou a Lei
Municipal nº 632/2023, que instituiu o 13º para ela mesma e também para os vereadores da Câmara de
Mucugê. O projeto foi enviado à Casa Legislativa pela própria Dona Ana.
O salário atual da
prefeita possui um valor base de R$ 15 mil.
ARTUR (PP) – BARRA
O patrimônio do
prefeito de Barra teve uma variação maior que Dona Ana, mas não alcançou os
invejáveis R$ 4,1 milhões. Artur registrou a fortuna de R$ 2,6 milhões nas
eleições deste ano, enquanto há quatro anos o prefeito declarou a quantia de R$
329 mil.
Artur também foi
eleito prefeito de Barra em 2008, sendo reeleito depois em 2012. Em sua
primeira eleição seu patrimônio era de R$ 120 mil e, quatro anos depois, saltou
para R$ 348 mil.
O que chama a atenção
nos bens do prefeito neste ano é uma fazenda milionária, denominada “Fazenda
Vale Verde”, localizada na zona rural do município de Barra, segundo
informações da declaração. O terreno possui valor de R$ 1,5 milhão e, de acordo
como publicado no TSE, foi adquirida nos anos 2000.
Uma questão é que o
prefeito disputou as eleições de 2008, 2012 e 2020, mas nunca havia declarado a
fazenda antes.
Artur também possui
diversos imóveis que variam entre R$ 150 mil e R$ 400 mil, além de alguns bens
que foram declarados como herança.
O Bahia Notícias não
conseguiu ter acesso ao salário de prefeito do município de Barra.
O levantamento de
novos milionários foi realizado pela Agência Tatu.
• Prefeito candidato à reeleição de cidade
líder em queimadas possui R$ 9 milhões em multas no Ibama
No interior do Pará,
São Félix do Xingu se destaca por ser um dos principais focos de queimadas da
Amazônia Legal e também pela controvérsia envolvendo seu atual prefeito, João
Cléber (MDB). O gestor, que busca reeleição, acumula mais de R$ 9 milhões em multas
registradas junto ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama).
Esse valor inclui
penalidades de R$ 7,5 milhões e uma recente multa de R$ 1,6 milhão. Até o
momento, nenhuma multa foi quitada, sendo que quatro são contestadas.
Com um histórico de
queimadas e ação de garimpeiros e grilheiros, São Félix do Xingu ocupa a lista
de municípios prioritários no Plano de Ação para Prevenção e Controle do
Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) desde 2008.
Em 2022, a cidade
registrou mais de 5,2 mil focos de queimadas, tornando-se a líder no número de
ocorrências na região. Em 2023, continuou a ser uma das mais afetadas, ocupando
a terceira posição no ranking de desmatamento, segundo o Programa de Monitoramento
da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes).
• Acusação de fake news
Além dos desafios
ambientais, João Cléber enfrentou acusações de propagar fake news em outubro de
2023. A Justiça Federal o proibiu de tentar impedir ou dificultar a retirada de
intrusos da Terra Indígena (TI) Apyterewa, uma das áreas mais desmatadas do Brasil,
localizada no sudeste do Pará.
Essa decisão foi
tomada após um pedido do Ministério Público Federal (MPF), que apontou que o
prefeito "tem atuado contra a operação, realizada em cumprimento a
sentença judicial".
Nos vídeos, o
candidato afirma ter contatado o governador e o presidente, resultando na
suspensão da desintrusão da TI. Ele ainda alegou que as pessoas não indígenas
na área só deixariam o local após receber indenizações.
Contudo, o MPF
desmentiu essas alegações, afirmando que não havia qualquer suspensão da
desintrusão, e enfatizou que o prefeito "incita a população contra a
operação", colocando em risco a segurança de todos os envolvidos e
comprometendo a conclusão da desintrusão.
• “Plantam narrativa de que sou contra o
ambiente”, diz candidato pró-garimpo em Belém. Por Ana Carolina do Amaral
O som estridente do
jingle “Éder Mauro é meu prefeito” estoura nos alto-falantes da avenida João
Paulo II, na região central de Belém, em uma campanha que gera suspense
internacional: se for eleito, o candidato pró-garimpo será anfitrião da COP30
do Clima da ONU, prevista para acontecer na capital paraense em novembro do
próximo ano.
Aliado do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi a Belém no fim de junho para
demonstrar apoio à sua candidatura, Éder Mauro (PL-PA) está no terceiro mandato
na Câmara dos Deputados, onde mantém posições contrárias à proteção ambiental.
Na corrida pela prefeitura em Belém, está em segundo lugar nas pesquisas de
intenção de voto, atrás de Igor Normando (MDB).
Ao longo da gestão
bolsonarista, Mauro levou garimpeiros a Brasília para tentar legalizar a
atividade, que explodiu no período, especialmente no Pará, elevando o
desmatamento e a contaminação por mercúrio na região.
A fama, no entanto,
vem da defesa aberta da violência policial. Ex-delegado da Polícia Civil do
Pará, ele admite a autoria de assassinatos: “Matei muita gente”, já declarou
aos microfones da Câmara dos Deputados. Na corregedoria da Polícia Civil, o
nome do deputado aparece em 53 processos – boa parte deles arquivada –
envolvendo acusações de tortura, extorsão e execuções.
Trocando a expressão
sisuda por sorrisos a cada vez que é surpreendido por celulares e câmeras, o
candidato não chega a parar o trânsito durante um “adesivaço”, acompanhado pela
Pública no final de agosto. É a movimentação de bandeiras erguidas por cabos
eleitorais no canteiro central da avenida que chama atenção de quem começa a
“sextar” nos bares e lojas de conveniência da esquina com a travessa Antônia
Baena.
Cercado por
apoiadores, Mauro pede que sua equipe abaixe o som das caixas por cerca de 5
minutos, durante os quais aceita conversar com a reportagem.
Segundo ele, uma
prefeitura bolsonarista não deve representar obstáculos ou embaraços à
realização da COP30, levada a Belém por seus opositores – o governador Helder
Barbalho (MDB) e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Não existe isso.
Tenho oposição a eles como deputado, não penso como eles, mas como gestor e
prefeito, pode ter certeza, por questões institucionais, vou sentar com o
governador para tratar da COP30 e Belém, assim como vou sentar com o presidente
Lula. O relacionamento será o melhor possível”, afirma.
“A COP30 é uma grande
oportunidade para sentar à mesa com cientistas e políticos do mundo todo, para
discutir soluções para os problemas que a própria natureza traz ou o homem
traz”, diz, deixando aberta a interpretação de que a crise climática poderia não
ser causada pela ação humana.
Embora a causa
antropogênica do aquecimento global seja um consenso científico, a questão é a
principal dúvida levantada por negacionistas do clima. Questionado se concorda
com as posições de líderes bolsonaristas que negam o aquecimento global, o
candidato tergiversa. “Todo brasileiro, de esquerda ou direita, se você
pergunta para ele: você quer que derrube árvore? Ele não quer”, afirma.
No Climômetro, o
levantamento feito pela Pública com os candidatos das capitais, Mauro também
evitou se distanciar do tema da COP ao dizer que, se eleito, pretende priorizar
ações para combater as mudanças climáticas. Mas afirmou que não concorda nem
discorda de que a população que se preocupa com as mudanças climáticas deveria
votar nele.
“O que eu coloco pra
você de ideológico é que a gente não pode apenas tratar a questão ambiental sem
falar do progresso e sem que o homem do campo seja prejudicado. É mais uma
questão de conversar e tratar o problema e fazer com que a COP30 seja um grande
sucesso, sem prejudicar o homem do campo”, ressalva.
O agronegócio – citado
por Mauro através do eufemístico “homem do campo” – tem contado com seu apoio
na Câmara dos Deputados, onde ele figura entre os três parlamentares mais
antiambientais da casa, sendo o líder do ranking entre os deputados federais paraenses.
A avaliação é do Ruralômetro, monitor da Repórter Brasil que mediu a atuação de
deputados federais entre 2019 e 2022 nos temas socioambientais.
Além de ter votado a
favor de pautas antiambientais – como o PL da regularização fundiária,
apelidado de “PL da grilagem”, e o projeto do marco temporal das terras
indígenas –, Mauro é autor de pelo menos três projetos de lei que ameaçam a
proteção ambiental.
No PL 2.974/2021, ele
propõe que o Estado pague uma pensão indenizatória a ocupantes de regiões da
Amazônia nos anos 1970, onde hoje passam as rodovias BRs 163 e 230.
O deputado também
defende, no PL 5.246/2019, que os municípios possam fazer o licenciamento
ambiental de lavras garimpeiras – o modelo, que enfraquece a fiscalização,
vigora apenas no estado do Pará.
Ainda na esteira dos
projetos pró-garimpo, Mauro propôs no PL 5.822/2019 que a atividade seja
permitida em reservas extrativistas, alvo recorrente de invasões por
garimpeiros.
Apesar da atuação
ruralista contra a proteção ambiental no Congresso, o agronegócio já sofre
prejuízos bilionários por conta de eventos climáticos extremos, como as
enchentes no Rio Grande do Sul no último maio e, atualmente, a seca na
Amazônia.
Questionado sobre a
necessidade do setor se comprometer com a agenda climática diante dos prejuízos
já presentes, o candidato se reposiciona.
“Com certeza. Você vê
a questão do Rio Grande do Sul: lá atrás foi feito um estudo, que precisaria
ter sido financiado, que dizia que era preciso tomar as providências prévias
para que não acontecesse o que aconteceu. Mas a presidente do PT [Dilma Rousseff]
na época não quis dar importância pra isso. O governo federal ainda não deu a
atenção que deveria dar”, responde.
“Não só pela questão
do agro. Todos nós, tanto do Rio Grande do Sul como nós aqui do Pará, do Norte,
com a questão da seca, pra você ver que sofremos problemas da seca, temos que
pensar seriamente em problemas climáticos que ocorrem não só por ação natural,
como pela ação do homem também e possamos nos prevenir para que isso não
aconteça”, continua, repetindo a indefinição sobre a causa dos desastres
climáticos ser antropogênica ou natural.
O volume das caixas de
som volta a subir e a reportagem consegue fazer uma última pergunta: essa fala
sobre a necessidade de pensar os problemas climáticos implica uma revisão de
posicionamento?
“Não. Meu discurso
nunca foi contrário ao que falei hoje”, afirma. “O que acontece é que
opositores de esquerda plantam essa narrativa de que somos contra o meio
ambiente, de que somos homofóbicos, isso e aquilo”, continua.
“Não tenho nada contra
a questão do meio ambiente. O que a gente não pode aceitar é que o homem do
campo que precisa derrubar uma árvore pra fazer a plantação dele tenha problema
por causa disso”, conclui, sem definir se o que considera um problema para o
homem do campo é a resposta da lei ou do clima.
Fonte:
BN/Terra/Agencia Pública
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