segunda-feira, 30 de setembro de 2024

3 prefeitos baianos se tornaram milionários em 4 anos e candidata à reeleição teve ganho de R$ 10 milhões

Poderia parafrasear a música “Xibom Bombom”, de As Meninas, e falar que “o rico cada vez fica mais rico”, ou então relembrar a Escolinha do Professor Raimundo, reclamar dos meus vencimentos, e dizer “e o salário, ó”. Não é “jogo do tigrinho”, nem promessa na bet, mas a prefeita de Nova Viçosa, Luciana Sousa (União), enriqueceu mais 1.758,19% nos últimos 4 anos, tendo um incremento de quase R$ 10 milhões em seu patrimônio.

Conforme divulgado pela Agência Tatu, três prefeitos baianos que disputam à reeleição neste ano ficaram milionários durante a sua gestão. Além de Luciana, foi o caso de Dona Ana (PSB), prefeita de Mucugê, e de Artur (PP), que comanda a prefeitura de Barra.

E o motivo todo mundo já conhece, é que o de cima sobe…Vamos agora desmembrar o patrimônio dos novos milionários e entender como os prefeitos chegaram a conquistar esta fortuna.

LUCIANA SOUSA (UNIÃO) - NOVA VIÇOSA

Ao todo, a fortuna da candidata à reeleição no município chega na casa dos R$ 11,45 milhões. Há quatro anos, quando assumi u a prefeitura, o patrimônio de Luciana era de R$ 622 mil. Entre 2016 e 2020, a candidata já havia ganho um incremento considerável, crescendo 93,74% ao sair dos R$ 321 mil.

Neste ano, o que mais chama atenção na declaração de bens da candidata é sua participação de 45,98% na Holding Patrimonial Futuro LTDA, que foi fundada em julho de 2022. No quadro societário da companhia, além dela, aparece o nome do deputado estadual Robinho (União), o qual é casado com a prefeita. O capital social da empresa foi divulgado na casa dos R$ 23,3 milhões.

Em 2022, quando se candidatou à reeleição na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Robinho declarou um patrimônio de R$ 6,6 milhões, ainda sem sua participação na Patrimonial Futuro. Dentre os bens, se destacam as diversas “benfeitorias na fazenda ilha da fantasia”, que fica em Nova Viçosa.  O terreno possui valor de R$ 1,43 milhão.

O deputado também possui terreno na Fazenda Garrafão, em Rondon do Pará (PA). Neste caso, a área possui valor de R$ 2,1 milhões.

O salário de Luciana, de acordo com o Portal da Transparência, é de R$ 19,5 mil.

Aproveitando a deixa, em 2022 a AL-BA aprovou um aumento do salário dos próprios deputados. No caso, o reajuste chega a um reajuste de R$ 10 mil em três anos. Atualmente, Robinho ganha R$ 33 mil, contudo, a partir de fevereiro de 2025, os vencimentos vão para R$ 34,7 mil.

“E o meu salário, ó”.

DONA ANA (PSB) - MUCUGÊ

Prefeita de Mucugê, nas belíssimas cachoeiras da Chapada Diamantina, o patrimônio de  Ana Olímpia Hora Medrado, conhecida como Dona Ana, subiu 621,49% nos últimos quatro anos, totalizando a quantia de R$ 4,1 milhões. Em 2020, quando se elegeu, a prefeita havia declarado R$ 579 mil em bens.

Vale ressaltar que ela também se candidatou e venceu o pleito para a prefeitura do município em 2012. Na época, o seu patrimônio era de R$ 284 mil. Ou seja, primeiro os valores dobraram em oito anos, entre 2012 e 2020, e depois subiram mais de 620% nos quatro anos subsequentes.

No caso de Dona Ana, o que chama atenção em seu patrimônio é um empréstimo de R$ 3,5 milhões para Antônio Carlos Hora Medrado. Familiar o nome, né? Não é à toa.

Então, de acordo com reportagem elaborada pelo The Intercept, que entrou em contato com a assessoria da prefeita, Antônio é filho de Dona Ana. Tá, mas de onde surgiu os R$ 3 milhões?

Segundo a assessoria, o valor faz parte da venda de uma fazenda, que é herança deixada pelo marido e teve trânsito em julgado em 2009. A prefeita afirmou que não declarou o bem antes, pois a fazenda foi vendida recentemente e que ainda há bens a serem vendidos.

 Aprofundando sobre o filho da prefeita, Antônio Medrado é sócio da Dona Empreendimentos, que foi fundada em 1996. O negócio possui atividades no Brasil, inclusive em Mucugê, e também em zonas de luxo de Portugal, em Cascais, por exemplo. Segundo o cadastro da empresa, o capital social da companhia é de R$ 11 milhões.

 No final de 2023, a prefeita sancionou a Lei Municipal nº 632/2023, que instituiu o 13º para ela mesma  e também para os vereadores da Câmara de Mucugê. O projeto foi enviado à Casa Legislativa pela própria Dona Ana.

O salário atual da prefeita possui um valor base de R$ 15 mil.

ARTUR (PP) – BARRA

O patrimônio do prefeito de Barra teve uma variação maior que Dona Ana, mas não alcançou os invejáveis R$ 4,1 milhões. Artur registrou a fortuna de R$ 2,6 milhões nas eleições deste ano, enquanto há quatro anos o prefeito declarou a quantia de R$ 329 mil.

Artur também foi eleito prefeito de Barra em 2008, sendo reeleito depois em 2012. Em sua primeira eleição seu patrimônio era de R$ 120 mil e, quatro anos depois, saltou para R$ 348 mil.

O que chama a atenção nos bens do prefeito neste ano é uma fazenda milionária, denominada “Fazenda Vale Verde”, localizada na zona rural do município de Barra, segundo informações da declaração. O terreno possui valor de R$ 1,5 milhão e, de acordo como publicado no TSE, foi adquirida nos anos 2000.

Uma questão é que o prefeito disputou as eleições de 2008, 2012 e 2020, mas nunca havia declarado a fazenda antes.

Artur também possui diversos imóveis que variam entre R$ 150 mil e R$ 400 mil, além de alguns bens que foram declarados como herança.

O Bahia Notícias não conseguiu ter acesso ao salário de prefeito do município de Barra.

O levantamento de novos milionários foi realizado pela Agência Tatu.

 

•        Prefeito candidato à reeleição de cidade líder em queimadas possui R$ 9 milhões em multas no Ibama

No interior do Pará, São Félix do Xingu se destaca por ser um dos principais focos de queimadas da Amazônia Legal e também pela controvérsia envolvendo seu atual prefeito, João Cléber (MDB). O gestor, que busca reeleição, acumula mais de R$ 9 milhões em multas registradas junto ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama).

Esse valor inclui penalidades de R$ 7,5 milhões e uma recente multa de R$ 1,6 milhão. Até o momento, nenhuma multa foi quitada, sendo que quatro são contestadas.

Com um histórico de queimadas e ação de garimpeiros e grilheiros, São Félix do Xingu ocupa a lista de municípios prioritários no Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) desde 2008.

Em 2022, a cidade registrou mais de 5,2 mil focos de queimadas, tornando-se a líder no número de ocorrências na região. Em 2023, continuou a ser uma das mais afetadas, ocupando a terceira posição no ranking de desmatamento, segundo o Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes).

•        Acusação de fake news

Além dos desafios ambientais, João Cléber enfrentou acusações de propagar fake news em outubro de 2023. A Justiça Federal o proibiu de tentar impedir ou dificultar a retirada de intrusos da Terra Indígena (TI) Apyterewa, uma das áreas mais desmatadas do Brasil, localizada no sudeste do Pará.

Essa decisão foi tomada após um pedido do Ministério Público Federal (MPF), que apontou que o prefeito "tem atuado contra a operação, realizada em cumprimento a sentença judicial".

Nos vídeos, o candidato afirma ter contatado o governador e o presidente, resultando na suspensão da desintrusão da TI. Ele ainda alegou que as pessoas não indígenas na área só deixariam o local após receber indenizações.

Contudo, o MPF desmentiu essas alegações, afirmando que não havia qualquer suspensão da desintrusão, e enfatizou que o prefeito "incita a população contra a operação", colocando em risco a segurança de todos os envolvidos e comprometendo a conclusão da desintrusão.

 

•        “Plantam narrativa de que sou contra o ambiente”, diz candidato pró-garimpo em Belém. Por Ana Carolina do Amaral

O som estridente do jingle “Éder Mauro é meu prefeito” estoura nos alto-falantes da avenida João Paulo II, na região central de Belém, em uma campanha que gera suspense internacional: se for eleito, o candidato pró-garimpo será anfitrião da COP30 do Clima da ONU, prevista para acontecer na capital paraense em novembro do próximo ano.

Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi a Belém no fim de junho para demonstrar apoio à sua candidatura, Éder Mauro (PL-PA) está no terceiro mandato na Câmara dos Deputados, onde mantém posições contrárias à proteção ambiental. Na corrida pela prefeitura em Belém, está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás de Igor Normando (MDB).

Ao longo da gestão bolsonarista, Mauro levou garimpeiros a Brasília para tentar legalizar a atividade, que explodiu no período, especialmente no Pará, elevando o desmatamento e a contaminação por mercúrio na região.

A fama, no entanto, vem da defesa aberta da violência policial. Ex-delegado da Polícia Civil do Pará, ele admite a autoria de assassinatos: “Matei muita gente”, já declarou aos microfones da Câmara dos Deputados. Na corregedoria da Polícia Civil, o nome do deputado aparece em 53 processos – boa parte deles arquivada – envolvendo acusações de tortura, extorsão e execuções.

Trocando a expressão sisuda por sorrisos a cada vez que é surpreendido por celulares e câmeras, o candidato não chega a parar o trânsito durante um “adesivaço”, acompanhado pela Pública no final de agosto. É a movimentação de bandeiras erguidas por cabos eleitorais no canteiro central da avenida que chama atenção de quem começa a “sextar” nos bares e lojas de conveniência da esquina com a travessa Antônia Baena.

Cercado por apoiadores, Mauro pede que sua equipe abaixe o som das caixas por cerca de 5 minutos, durante os quais aceita conversar com a reportagem.

Segundo ele, uma prefeitura bolsonarista não deve representar obstáculos ou embaraços à realização da COP30, levada a Belém por seus opositores – o governador Helder Barbalho (MDB) e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Não existe isso. Tenho oposição a eles como deputado, não penso como eles, mas como gestor e prefeito, pode ter certeza, por questões institucionais, vou sentar com o governador para tratar da COP30 e Belém, assim como vou sentar com o presidente Lula. O relacionamento será o melhor possível”, afirma.

“A COP30 é uma grande oportunidade para sentar à mesa com cientistas e políticos do mundo todo, para discutir soluções para os problemas que a própria natureza traz ou o homem traz”, diz, deixando aberta a interpretação de que a crise climática poderia não ser causada pela ação humana.

Embora a causa antropogênica do aquecimento global seja um consenso científico, a questão é a principal dúvida levantada por negacionistas do clima. Questionado se concorda com as posições de líderes bolsonaristas que negam o aquecimento global, o candidato tergiversa. “Todo brasileiro, de esquerda ou direita, se você pergunta para ele: você quer que derrube árvore? Ele não quer”, afirma.

No Climômetro, o levantamento feito pela Pública com os candidatos das capitais, Mauro também evitou se distanciar do tema da COP ao dizer que, se eleito, pretende priorizar ações para combater as mudanças climáticas. Mas afirmou que não concorda nem discorda de que a população que se preocupa com as mudanças climáticas deveria votar nele.

“O que eu coloco pra você de ideológico é que a gente não pode apenas tratar a questão ambiental sem falar do progresso e sem que o homem do campo seja prejudicado. É mais uma questão de conversar e tratar o problema e fazer com que a COP30 seja um grande sucesso, sem prejudicar o homem do campo”, ressalva.

O agronegócio – citado por Mauro através do eufemístico “homem do campo” – tem contado com seu apoio na Câmara dos Deputados, onde ele figura entre os três parlamentares mais antiambientais da casa, sendo o líder do ranking entre os deputados federais paraenses. A avaliação é do Ruralômetro, monitor da Repórter Brasil que mediu a atuação de deputados federais entre 2019 e 2022 nos temas socioambientais.

Além de ter votado a favor de pautas antiambientais – como o PL da regularização fundiária, apelidado de “PL da grilagem”, e o projeto do marco temporal das terras indígenas –, Mauro é autor de pelo menos três projetos de lei que ameaçam a proteção ambiental.

No PL 2.974/2021, ele propõe que o Estado pague uma pensão indenizatória a ocupantes de regiões da Amazônia nos anos 1970, onde hoje passam as rodovias BRs 163 e 230.

O deputado também defende, no PL 5.246/2019, que os municípios possam fazer o licenciamento ambiental de lavras garimpeiras – o modelo, que enfraquece a fiscalização, vigora apenas no estado do Pará.

Ainda na esteira dos projetos pró-garimpo, Mauro propôs no PL 5.822/2019 que a atividade seja permitida em reservas extrativistas, alvo recorrente de invasões por garimpeiros.

Apesar da atuação ruralista contra a proteção ambiental no Congresso, o agronegócio já sofre prejuízos bilionários por conta de eventos climáticos extremos, como as enchentes no Rio Grande do Sul no último maio e, atualmente, a seca na Amazônia.

Questionado sobre a necessidade do setor se comprometer com a agenda climática diante dos prejuízos já presentes, o candidato se reposiciona.

“Com certeza. Você vê a questão do Rio Grande do Sul: lá atrás foi feito um estudo, que precisaria ter sido financiado, que dizia que era preciso tomar as providências prévias para que não acontecesse o que aconteceu. Mas a presidente do PT [Dilma Rousseff] na época não quis dar importância pra isso. O governo federal ainda não deu a atenção que deveria dar”, responde.

“Não só pela questão do agro. Todos nós, tanto do Rio Grande do Sul como nós aqui do Pará, do Norte, com a questão da seca, pra você ver que sofremos problemas da seca, temos que pensar seriamente em problemas climáticos que ocorrem não só por ação natural, como pela ação do homem também e possamos nos prevenir para que isso não aconteça”, continua, repetindo a indefinição sobre a causa dos desastres climáticos ser antropogênica ou natural. 

O volume das caixas de som volta a subir e a reportagem consegue fazer uma última pergunta: essa fala sobre a necessidade de pensar os problemas climáticos implica uma revisão de posicionamento?

“Não. Meu discurso nunca foi contrário ao que falei hoje”, afirma. “O que acontece é que opositores de esquerda plantam essa narrativa de que somos contra o meio ambiente, de que somos homofóbicos, isso e aquilo”, continua.

“Não tenho nada contra a questão do meio ambiente. O que a gente não pode aceitar é que o homem do campo que precisa derrubar uma árvore pra fazer a plantação dele tenha problema por causa disso”, conclui, sem definir se o que considera um problema para o homem do campo é a resposta da lei ou do clima.

 

Fonte: BN/Terra/Agencia Pública

 

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