Israel rejeita plano de cessar-fogo no
Líbano apoiado pelos EUA
Israel rejeitou nesta
quinta-feira os apelos globais por um cessar-fogo com o movimento Hezbollah do
Líbano, desafiando seu maior aliado, os Estados Unidos, e avançando com ataques
que mataram centenas de pessoas no Líbano e aumentaram os temores de uma guerra
regional total.
Um avião de guerra
israelense atingiu os arredores da capital Beirute, matando duas pessoas e
ferindo 15, incluindo uma mulher em estado crítico, segundo o Ministério da
Saúde do Líbano. Com isso, o número de mortes causadas por ataques durante a
noite e nesta quinta-feira chegou a 28.
O ataque matou o chefe
de uma das unidades da força aérea do Hezbollah, Mohammad Surur, de acordo com
duas fontes de segurança, o mais recente comandante sênior do Hezbollah visado
em dias de assassinatos que atingiram os altos escalões do grupo.
A fumaça foi vista
subindo após o ataque perto de uma área onde estão localizadas várias
instalações do Hezbollah e onde muitos civis também vivem e trabalham. A
emissora de televisão Al-Manar, do Hezbollah, transmitiu imagens de um andar
superior danificado de uma edificação.
No lado israelense da
fronteira com o Líbano, o Exército realizou um exercício simulando uma invasão
terrestre -- um possível próximo estágio após ataques aéreos incessantes e
explosões de dispositivos de comunicação.
Israel prometeu
proteger o norte do país e devolver às comunidades locais milhares de cidadãos
que foram retirados desde que o Hezbollah lançou uma campanha de ataques entre
fronteiras no ano passado em solidariedade aos militantes palestinos que lutam
em Gaza.
"Não haverá
cessar-fogo no norte", disse o ministro das Relações Exteriores de Israel,
Israel Katz, no X. "Continuaremos lutando contra a organização terrorista
Hezbollah com todas as nossas forças até a vitória e o retorno seguro dos moradores."
Esses comentários
acabaram com as esperanças de um acordo rápido após o primeiro-ministro libanês
Najib Mikati, cujo governo inclui elementos do Hezbollah, expressar esperança
de um cessar-fogo.
Centenas de milhares
de pessoas deixaram suas casas durante o mais pesado bombardeio israelense no
Líbano desde uma grande guerra em 2006.
O Hezbollah tem
enfrentado os militares israelenses desde que o movimento muçulmano xiita foi
criado pela Guarda Revolucionária do Irã em 1982 para combater uma invasão
israelense no Líbano. Desde então, ele se transformou no mais poderoso
representante de Teerã no Oriente Médio.
EUA, França e vários
outros aliados pediram um cessar-fogo imediato de 21 dias na fronteira entre
Israel e Líbano. Eles também expressaram apoio a um cessar-fogo em Gaza.
O secretário de Estado
dos EUA, Antony Blinken, disse à MSNBC que as principais potências mundiais
queriam um cessar-fogo e que se iria reunir com autoridades israelenses em Nova
York nesta quinta-feira.
¨ Governo reage ao assassinato de brasileiro no Líbano por Israel
O governo Lula (PT)
divulgou, nesta quinta-feira (26), uma nota lamentando a morte do adolescente
Ali Kamal Abdallah, de 15 anos, natural de Foz do Iguaçu, que faleceu no Vale
do Bekaa, no Líbano, em decorrência dos bombardeios aéreos israelenses. De acordo
com o Ministério das Relações Exteriores, o jovem e seu pai, de nacionalidade
paraguaia, foram atingidos por uma explosão resultante dos ataques aéreos na
segunda-feira (23). A Embaixada do Brasil em Beirute está prestando assistência
à família do adolescente.
No texto, a pasta,
chefiada por Mauro Vieira, destacou que o pai de Ali Kamal também perdeu a vida
na mesma explosão e que "ao solidarizar-se com a família, o governo
brasileiro reitera sua condenação, nos mais fortes termos, aos contínuos
ataques aéreos israelenses contra zonas civis densamente povoadas no Líbano e
renova seu apelo às partes envolvidas para que cessem imediatamente as
hostilidades", diz a nota.
Em meio à escalada do
conflito, o presidente Lula criticou a postura do primeiro-ministro de Israel,
Benjamin Netanyahu. Durante uma entrevista em Nova York, Lula afirmou que
Netanyahu não cumpre as resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU) e que
o comportamento de Israel "não tem o apoio da maioria do povo, que não
concorda com esse genocídio". O presidente também ressaltou que a situação
atual reforça a necessidade de fortalecer a ONU, de modo a torná-la ”mais forte
e atuante".
As tensões aumentaram
na região, especialmente após o chefe do Exército de Israel alertar suas tropas
sobre uma possível entrada por terra no Líbano, em uma ofensiva contínua contra
o grupo Hezbollah. Enquanto isso, as Forças Armadas israelenses continuam a
mobilizar tropas da reserva para o norte do país, onde ocorrem confrontos
transfronteiriços com o Hezbollah, sinalizando para uma possível invasão do
Líbano por via terrestre.
Leia a íntegra da nota
do Ministério das Relações Exteriores.
"O governo
brasileiro tomou conhecimento, com profundo pesar, da morte, no Vale do Bekaa,
Líbano, do adolescente brasileiro Ali Kamal Abdallah, de 15 anos de idade,
natural de Foz do Iguaçu. O menor e seu pai, de nacionalidade paraguaia, foram
atingidos por explosão como resultado dos intensos bombardeios aéreos
israelenses na região, na segunda-feira. A Embaixada do Brasil em Beirute está
prestando assistência aos familiares do menor. O pai do adolescente também
faleceu como resultado da explosão.
Ao solidarizar-se com
a família, o Governo brasileiro reitera sua condenação, nos mais fortes termos,
aos contínuos ataques aéreos israelenses contra zonas civis densamente povoadas
no Líbano e renova seu apelo às partes envolvidas para que cessem imediatamente
as hostilidades".
¨ Líbano pede apoio internacional: hospitais em colapso em meio
aos ataques de Israel
O Líbano enfrenta um
cenário de caos e sofrimento diante da escalada de violência entre as forças
israelenses e o grupo Hezbollah. O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, fez
um apelo desesperado durante uma sessão de emergência do Conselho de Segurança
das Nações Unidas, destacando o colapso dos hospitais no país, que estão
"repletos de civis feridos", incapazes de receber mais pacientes.
Entre as vítimas estão mulheres e crianças, e Mikati enfatizou a necessidade
urgente de intervenção da comunidade internacional para pressionar por um
cessar-fogo.
Em seu discurso, o
premier destacou as constantes violações da soberania libanesa, clamando por
uma resposta firme das Nações Unidas. "Os ataques a dispositivos
eletrônicos e a ameaça de invasão terrestre espalharam terror e medo entre os
cidadãos libaneses. Espero voltar ao meu país com uma posição explícita [do
Conselho de Segurança da ONU], exigindo a cessação dessa agressão e o respeito
à soberania e à segurança do meu país", disse Mikati aos membros do órgão.
As informações foram publicadas pela CNBC Árabe e divulgadas pelo jornal O Globo.
O colapso do sistema
de saúde no Líbano foi desencadeado após uma série de explosões devastadoras
que atingiram áreas dominadas pelo Hezbollah no último dia 17 de setembro,
resultando na morte de 37 pessoas e mais de 3 mil feridos. Essas explosões,
causadas pela detonação de pagers e walkie-talkies, provocaram um nível de
destruição que o país não estava preparado para enfrentar.
Segundo Wahida
Ghalayini, chefe do departamento de emergência do Ministério da Saúde Pública
do Líbano, 118 hospitais foram mobilizados para atender os feridos, com equipes
médicas treinadas e salas de emergência funcionando 24 horas por dia. O plano
de emergência foi unificado em todo o país, com quase 3,1 mil profissionais
prontos para atuar, afirmou Ghalayini.
Médicos estão
trabalhando sem descanso e sob intensa pressão, lutando para atender a
avalanche de feridos. De acordo com a emissora Cairo News, muitos profissionais
da saúde estão “lutando para aliviar o sofrimento dos cidadãos”.
O ministro da Saúde
libanês, Firass Abiad, falou ao jornal An-Nahar sobre a gravidade da situação,
afirmando que o impacto das explosões sobrecarregaria qualquer sistema de saúde
no mundo. Abiad descreveu a ofensiva israelense como uma "chacina",
comparando a tragédia no Líbano às devastadoras cenas que ele testemunhou na
Faixa de Gaza. Ele também falou à SBS Arabic, detalhando a gravidade dos
ferimentos, incluindo amputações e lesões oculares, e lamentando a perda de
tantas vidas, especialmente de crianças.
A situação no Líbano é
de extrema gravidade. Com os hospitais saturados, a infraestrutura de saúde no
limite e milhares de pessoas feridas ou desabrigadas, o país enfrenta uma crise
humanitária.
¨ Quais os possíveis cenários para invasão ao Líbano após
advertência de Israel
Os últimos ataques
de Israel no Líbano são uma preparação para a possível entrada de tropas por terra, segundo o chefe do Exército israelense.
"Vocês ouvem os
caças sobrevoando; estamos atacando o dia todo. Isso é tanto para preparar o
terreno para sua possível entrada, quanto para continuar a arruinar o
Hezbollah", disse Herzi Halevi aos soldados na quarta-feira (25).
A recente escalada do
conflito entre Israel e o Líbano faz com que muitos se lembrem da guerra de 2006, na qual
um intenso bombardeio aéreo foi seguido por operações terrestres israelenses
dentro do território libanês.
Após os ataques do
Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, o grupo
militante Hezbollah intensificou seus ataques a Israel a partir do sul do Líbano, e seguiu-se um ano de escalada contínua de ambos os lados.
Mas, se Israel decidir invadir o Líbano, como seria esta invasão? Será que Israel tentaria permanecer e controlar o território?
O primeiro-ministro
de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu mais de uma
vez um retorno seguro para cerca de 60 mil moradores que foram retirados de
suas casas no norte do país devido à escalada de conflitos com o Hezbollah.
Na quarta-feira (25),
ficou claro que Israel pretende entrar no Líbano de alguma forma, a fim de neutralizar a ameaça que o
Hezbollah representa para esses moradores.
Herzi Halevi disse às
tropas: "Hoje, vamos continuar, não vamos parar; vamos continuar atacando
e atingindo eles em todos os lugares. O objetivo é muito claro — levar de volta
com segurança os moradores do norte".
Ele disse que
o Exército está "preparando o processo de manobra, o que significa
que suas botas militares, suas botas de manobra, vão entrar em território
inimigo, vão entrar em vilarejos que o Hezbollah preparou como grandes bases
militares".
Antes disso, na segunda-feira (23), a recente escalada atingiu um estágio
crítico, com mais de 550 pessoas mortas após
uma intensa onda de ataques aéreos contra o que Israel disse serem alvos do Hezbollah no Líbano.
A autoridade de saúde
local informou que dezenas de civis, incluindo mulheres, crianças e médicos,
estavam entre os mortos.
Embora os ataques
aéreos tenham continuado, muitos analistas estão prevendo que Israel também vai enviar forças terrestres para o Líbano em breve.
<><> Como
seria a operação israelense no Líbano?
Em guerras anteriores
no Líbano, Israel seguiu diferentes métodos em suas operações terrestres.
Para entender os
possíveis cenários, é importante relembrar as invasões passadas de Israel no Líbano, em 1982 e 2006.
<><>
Guerra de 1982: uma invasão terrestre em grande escala
Em 1982, as
forças israelenses invadiram o Líbano para tentar impedir incursões e disparos palestinos na
fronteira, acabar com a presença e a influência síria no Líbano e "ajudar a formar um governo mais amistoso no Líbano, que seria capaz de assinar um tratado de paz com Israel" — de acordo com o site das missões diplomáticas
israelenses.
Naquele momento, os
palestinos, liderados por Yasser Arafat e sua Organização para a Libertação da
Palestina (OLP), não reconheciam Israel, e Israel não apoiava um Estado palestino.
A invasão foi de
grandes proporções, envolvendo milhares de soldados e centenas de tanques e
veículos blindados. Ela coincidiu com um intenso bombardeio aéreo, naval e de
artilharia. Os israelenses penetraram em várias frentes e, em uma semana,
chegaram aos arredores da capital libanesa, Beirute, cercando a cidade.
<><> Como
o mundo viu a invasão de 1982?
O líder da
OLP, Yasser Arafat, e cerca de 2 mil soldados sírios que o apoiavam
contra Israel foram forçados a deixar o Líbano.
Um correspondente da
BBC escreveu na época: "Parece improvável que Arafat, que agora está indo
para a Grécia de navio, encontre outro governo árabe disposto a acolhê-lo
depois do efeito calamitoso de sua permanência no Líbano".
Mas Israel foi amplamente condenado em todo o mundo, uma vez que, em
setembro de 1982, centenas de palestinos foram massacrados por milícias cristãs
em Beirute, enquanto as tropas israelenses não fizeram nada.
O episódio, que mais
tarde ficou conhecido como Massacre de Sabra e Chatila, foi noticiado na época
como uma vingança pelo assassinato do presidente eleito Bashir Gemayel quatro
dias antes.
<><>
Guerra de 2006: uma incursão terrestre limitada de Israel no Líbano
A incursão
terrestre em 2006 foi limitada e relativamente lenta em comparação à de 1982, e
restrita a cidades e seus arredores a não mais do que alguns quilômetros dentro
do Líbano.
O analista político
israelense Yoav Stern disse à BBC, em 23 de setembro, que não achava que a
próxima incursão terrestre seria semelhante à que aconteceu em 1982 — mas, sim,
que seria uma incursão lenta, cautelosa e calculada.
Ele sugeriu que Israel poderia ocupar as cidades do sul do Líbano uma a uma, em vez de lançar uma invasão rápida e em grande
escala. Seria semelhante ao que aconteceu em 2006, mas em uma profundidade
maior dentro do território libanês, chegando até o Rio Litani.
O Rio Litani é, há
muito tempo, um limiar importante para ambos os lados que buscam o controle de
áreas importantes do Líbano.
Stern baseia sua
previsão na presença de longa data do Hezbollah nas cidades do sul do Líbano, o que impediria que Israel ocupasse estas cidades e as deixasse rapidamente.
O analista militar e
ex-general Hisham Jaber argumenta que, em uma possível invasão de Israel ao sul do Líbano, as tropas israelenses não permaneceriam no local por um longo
período.
"Israel vivenciou as consequências de tentar manter o terreno em
uma invasão em 2006", ele diz, acrescentando que qualquer possível invasão
agora assumiria uma forma muito diferente.
Jaber espera que as
operações terrestres israelenses no Líbano sejam limitadas a ataques pela fronteira com um escopo
muito restrito. Isso inclui áreas limitadas, com cada ataque que Israel possa realizar não durando mais do que um dia.
Ele acredita que Israel vai dispensar a opção de uma invasão terrestre e, em vez
disso, continuar a intensificar os ataques aéreos, amplificados por
assassinatos e operações de segurança cibernética.
<><> Onde
poderia ser a invasão?
Jaber espera que
as operações terrestres israelenses sejam restritas a "áreas muito
limitadas em cidades libanesas na fronteira", mas ele não descarta
que Israel realize o que se assemelha a
"operações de comando" em outras áreas do Líbano.
Stern, por outro lado,
acredita que o escopo da possível operação terrestre inclua o sul do Líbano, ou seja, "a área entre a fronteira libanesa-israelense e
o Rio Litani".
Ele não descarta que
considerações táticas poderiam forçar Israel a se infiltrar em algumas áreas ao norte do Rio Litani, e
depois se retirar delas, ou a realizar pousos em áreas livres de combate. Ele
sugere que Israel poderia se infiltrar em áreas no
interior do Líbano, com o objetivo de criar uma vantagem de
negociação no futuro.
A incursão
na guerra de 1982 concentrou-se em três eixos principais — dois deles
partiam de uma área conhecida como Dedo da Galileia em direção ao Vale do
Bekaa, no leste do Líbano, e às regiões montanhosas no centro,
enquanto o terceiro eixo era ao longo da estrada costeira do sul até Beirute.
A invasão também
incluiu a realização de um desembarque naval de soldados de infantaria e
veículos blindados ao norte da cidade de Sidon, no sul do país.
<><> Quais
seriam os objetivos da invasão?
O objetivo declarado
da guerra de 1982 e de suas operações terrestres era retirar as cidades do
norte de Israel do alcance efetivo dos foguetes e da
artilharia dos combatentes palestinos no sul do Líbano, fazendo-os retroceder 40 km da fronteira libanesa-israelense.
Israel citou o objetivo adicional de destruir a infraestrutura da
OLP, incluindo sua sede em Beirute, e expulsar as forças sírias do Líbano.
O ataque israelense em
1982 não se limitou ao sul do Líbano, mas incluiu grandes áreas no Vale do Bekaa, nas Montanhas de
Chouf e em Beirute.
Hisham Jaber acredita
que as penetrações terrestres de curto alcance — ou incursões limitadas — podem
ter um efeito militar geral mínimo a longo prazo.
Stern, por outro lado,
acredita que Israel terá como objetivo principal, ao
promover uma possível incursão no sul do Líbano, fazer com que os combatentes do Hezbollah retrocedam para o
norte do Rio Litani, por dois motivos principais:
"Para impedir o
disparo de foguetes de curto alcance contra cidades israelenses, e para evitar
a repetição de um ataque semelhante ao ataque de 7 de outubro no norte de Israel."
Fonte: Reuters/Brasil
247/BBC News
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