quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Argentina: O desastre do Plano Motosserra

Um balanço do governo Milei: desmonte da indústria, investimento estancado, explosão da pobreza – e, ainda assim, inflação de quase 100% até agosto. O plano: reprimarização radical do país. E ele ainda não desistiu do projeto de dolarização

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O PIB (Produto Interno Bruto) da Argentina caiu 1,7% no 2º trimestre de 2024 em relação ao mesmo período de 2023, segundo relatório do Instituto de Censos e Estatísticas (Indec), divulgado na semana passada. A queda foi puxada principalmente pelos setores de Construção (-22,2%), Indústria de Transformação (-17,4%) e Comércio Atacadista, Varejista e Reparos (-15,7%). O setor de Agricultura, Pecuária, Caça e Silvicultura apresentou a maior alta: 81,2%. Na comparação com o 1º trimestre deste ano, o PIB recuou1,7%.

Do ponto de vista da demanda, o recuo mais avassalador foi o da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, parcela do PIB que é reinvestido na produção), que caiu 29,4% no segundo trimestre de 2024, em relação ao mesmo período do ano passado. A queda se deveu ao recuo de 30,7% nos investimentos do setor de Construção, recuo de 3,3% de Outras Construções, diminuição de 30,2% no setor de Máquinas e Equipamentos e pela queda de 39,6% em Equipamentos de Transporte.

O PIB da Argentina vem de três trimestres seguidos de queda. Formalmente, uma economia entra em recessão quando completa dois trimestres seguidos de queda no PIB. Normalmente, quando se provoca uma recessão na economia, como no caso da Argentina, a inflação recua. Mas no acumulado de 12 meses a inflação alcançou 236,4%. Somente em agosto os preços subiram 4,2%, que é a inflação anual do Brasil. Em 2024, até agosto a inflação no país soma alta de 94,8%. Ou seja, mesmo com a brutal recessão, provocada pela queda dramática do poder aquisitivo de trabalhadores e aposentados, e da quebradeira de empresas mais ligadas ao mercado interno, a inflação na Argentina não cedeu significativamente. O que mostra que o diagnóstico do governo Milei, de uma suposta centralidade da inflação de demanda na economia, é totalmente furado.

Os setores empresariais que apoiaram Milei, porque sabiam que ele iria tentar destruir a organização dos trabalhadores e liquidar o poder aquisitivo da população (como fez), já se mostram incomodados. O governo não está conseguindo, apesar de tudo, reduzir a inflação e, na expressão dos porta-vozes empresariais, “realizar ações com foco no longo prazo”. O fato de que Milei não tenha reduzido a inflação até o momento, apesar de todo o estrago feito na indústria, no mercado interno, e na malha de pequenos, médios e até grandes negócios, o coloca em situação difícil também com a população. Afinal, uma parte dos argentinos até aceitou o remédio amargo do “plano motosserra”, porque viu aí a possibilidade de redução de uma inflação destruidora e crescente. O plano até agora ofereceu aos argentinos o pior dos mundos: destruiu empregos, provocou o aumento exponencial da fome e da pobreza, e mesmo assim a inflação não cedeu.

Nos números do PIB, a evolução do valor agregado dos diferentes setores da economia, no segundo trimestre, demonstram qual papel Javier Milei veio cumprir na realidade argentina. Enquanto o Setor de Agricultura, Pecuária e Caça cresceu 81% no período, em relação a igual período do ano passado, a indústria recuou 17,4%, como vimos. O setor de Eletricidade, Gás e Água, aumentou meros 2,8% no segundo trimestre do ano em relação ao mesmo período de 2023. Construção Civil apresentou uma queda de 22,2% no mesmo período. O setor de Comércio apresentou uma queda de 15,7% e Hotéis e Restaurantes, um recuo de 4,5%.

É uma devastação da indústria, que tem o objetivo, inconfessável (mesmo para Milei), de liquidar o setor e transformar o país, em definitivo, em uma plataforma de produção de grãos e commodities minerais, dependente absoluta das importações industriais. O governo Milei tem engambelado parte da população com a ideia de que déficit fiscal zero iria controlar a inflação, atrair investimentos internacionais e incentivar inversões privadas de capital nacional. Como vimos, a taxa de investimento caiu 29,4% em um ano, resultado que mostra que a política que está sendo operada é de guerra contra a produção de riquezas e os salários. Qual o capitalista estrangeiro vai querer investir em setores da economia argentina voltados para um mercado interno que está sendo desmantelado? Os grandes capitais internacionais querem liberdade e desregulamentação da economia para se lambuzar nos imensos recursos naturais do país: grandes extensões de terras férteis, chumbo, zinco, estanho, cobre e minério de ferro.

A natureza do ajuste econômico da Argentina é revelada pelos dados concretos: em nome da queda da inflação, desde o começo do governo, os preços de água, gás, luz e transporte público estão bem mais altos, o poder aquisitivo de salários e aposentadorias despencou, juntamente com a produção industrial e os serviços. Além disso, segundo o Observatório da Dívida Social Argentina da Universidade Católica Argentina (ODSA-UCA), nos primeiros seis meses deste ano, o índice de pobreza subiu para 55,5% da população e o índice de indigência para 17,5%.

Pelos critérios do Indec, os indigentes são aqueles que não dispõem de renda suficiente para adquirir a quantidade mínima de alimentos para a subsistência. Pelos cálculos são cerca de 8,1 milhões de argentinos na condição de indigência. De acordo com relatório da Bolsa de Comércio de Rosário, o consumo médio de carne bovina na Argentina (quinto maior produtor do mundo), deverá ser de 44,8 quilos por habitante neste ano, o menor volume desde 1920, mais de um século atrás.

Ao mesmo tempo em que trabalha para constituir uma maioria de pobres e indigentes, o presidente da República vive em um universo paralelo, no qual alimenta firme convicção que o problema da Argentina começou há um século, quando o país teria “abandonado” o modelo capitalista para aderir as ideias do “socialismo” ou do “coletivismo”. Essa versão nada tem a ver com a realidade, como mostram os historiadores argentinos: há um século a Argentina amargava uma crise dramática decorrente justamente do seu atraso econômico. Não por acaso, o movimento peronista, que tem grande base popular no país por ter realizado importantes mudanças em favor da população, faz sucesso a partir da década de 1940. Mas o que significa a “simples realidade” comparada com as inabaláveis convicções de Milei?

Como acredita que o problema da economia argentina é “moral” e não econômico, Milei ainda não desistiu do projeto de dolarização da economia, que se viabilizado, seria uma completa loucura, de consequências imprevisíveis para o país e região. Como é conhecido, atualmente na América Latina três países têm economias dolarizadas: Equador, El Salvador e Panamá. O PIB somado destes três países equivale a cerca de 23% do PIB da Argentina. Os três países, juntos, possuem população equivalente a 6,2% da população da Argentina (45,2 milhões). Fora da América Latina, dois países mantêm o dólar como moeda: Zimbábue (África) e Estados Federados da Micronésia (Oceania), que na prática é uma colônia dos EUA, com 112.000 habitantes.

A Argentina é a terceira economia da América Latina, atrás apenas do Brasil e do México. Propor renunciar à moeda nacional, instrumento fundamental de macroeconomia, em favor da moeda do país mais imperialista do mundo, será o caminho mais curto para o inferno. A tendência global vai exatamente na direção contrária. Os países do Brics, por exemplo, estão gradativamente construindo as condições para realizarem transações entre si, com suas próprias moedas e não mais com dólar. Fica cada vez mais evidente a importância dos membros do chamado Sul global terem independência das moedas dos países ricos, e dos bancos dos países imperialistas, Banco Mundial, FMI e outros.

Quanto mais tempo durar o atual governo da Argentina, maior será o estrago que provocará. Estamos assistindo, por exemplo, a rápida inviabilização da indústria. Praticamente todos os países do mundo têm políticas industriais, especialmente os países ricos, tão idolatrados por Milei. Esses países, inclusive, privilegiam mecanismos como subvenções a setores da indústria, financiamento público subsidiado e apoio estatal em geral, inclusive proibindo empresas mundiais de atuarem em seus territórios. Nos países subdesenvolvidos, os mecanismos mais comuns de incentivo à indústria têm sido a aplicação de tarifas de importação, empréstimos públicos e políticas de incentivos fiscais.

Por acreditar em fábulas, o governo argentino é contra todos esses mecanismos de incentivo à produção industrial nacional, deixando tudo sob responsabilidade da “indiscutível eficiência do mercado”. Alguns populares na Argentina, quando entrevistados, costumam responder que Milei “está loco, pero lo sabe” (é louco, mas sabe). Acho que não demorará muito para a maioria perceber que Milei de fato é um louco; só que, além disso, não tem a menor ideia do que está fazendo.

¨      Procurador-geral da Venezuela pede à Interpol que emita mandado de prisão contra Javier Milei

A disputa decorre da apreensão de um avião venezuelano em Buenos Aires em junho de 2022 junto à crescente troca de farpas e declarações entre Javier Milei e Nicolás Maduro, principalmente após as eleições presidenciais de Caracas.

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, disse nesta terça-feira (24) que solicitou à Interpol um mandado de prisão para o presidente argentino, Javier Milei. A ação é a mais recente investida em uma disputa diplomática entre os dois países.

A Venezuela acusou Milei de sete crimes, incluindo roubo, segundo a Reuters.

Na noite de segunda-feira (23), o órgão de justiça federal da Argentina solicitou a prisão de Maduro, alegando violações de direitos humanos, após o pedido de um grupo de defesa argentino, conforme noticiado.

Presidente Luís Inácio Lula da Silva discursa na abertura da 8ª Cúpula de Chefes de

De acordo com o g1, o pedido de Saab não implica necessariamente incluir o presidente argentino na lista vermelha da Interpol, em que a polícia internacional emite notificações internacionais para localizar e prender pessoas procuradas. Um governo pode pedir a inclusão de qualquer um, mas há um processo para isso, e a Interpol pode acatar ou não.

Saab já havia pedido a prisão de Milei à Justiça venezuelana na semana passada, episódio que a Argentina repudiou. Venezuela e Argentina não mantêm relações, e Maduro e Milei costumam trocar críticas e insultos.

O governo da Venezuela também condenou nesta terça-feira (24) a decisão de Buenos Aires sobre o pedido de prisão de Maduro e do ministro do Interior, Justiça e Paz, Diosdado Cabello, classificando a medida como uma "reação grosseira de retaliação".

"A Venezuela repudia a decisão irracional de um órgão do desacreditado Poder Judiciário argentino contra o presidente, Nicolás Maduro, e o ministro do Interior, Justiça e Paz, Diosdado Cabello Rondón, que nada mais é do que uma reação grosseira de retaliação, instruída pelo senhor Javier Milei", indicou um comunicado oficial divulgado pelo ministro das Relações Exteriores do país sul-americano, Yván Gil, em sua conta no Telegram.

 

¨      Após se reunir pela 3ª vez com Milei, Musk anuncia que suas 'empresas apoiarão' Argentina

Javier Milei e Elon Musk se reuniuram pela terceira vez para discutir a implementação de várias iniciativas econômicas. A Argentina é o quarto maior produtor mundial de lítio, um componente essencial das baterias de veículos elétricos.

O bilionário e CEO da Tesla, SpaceX e X (antigo Twitter), disse que suas empresas estavam procurando maneiras de investir na Argentina e apoiar o país sul-americano.

"Minhas empresas estão buscando ativamente maneiras de investir e apoiar a Argentina", disse Musk.

A declaração de Elon Musk acontece após ter se encontrado com Milei em Nova York na segunda-feira (23), às margens da Assembleia Geral das Nações Unidas.

O gabinete da presidência argentina anunciou que Karina Milei, irmã e secretária da Presidência, também participou da reunião, junto com o ministro da Economia, Luis Caputo, o embaixador da Argentina nos Estados Unidos, Gerardo Werthein, e o chefe do Conselho de Assessores do Presidente, Demian Reidel.

Durante a conversa, Milei e Musk, que usava um boné com o tema da campanha presidencial de Donald Trump, discutiram a implementação da Lei de Bases, aprovada em junho. Essa lei estabelece a estrutura legal para uma profunda transformação econômica e social da Argentina, segundo a revista Exame.

Essa é a terceira vez que os dois se reúnem. O presidente e o bilionário já haviam se encontrado em abril, na fábrica da Tesla, no Texas, e em maio, no Instituto Milken, em Los Angeles.

Musk enfrenta diversos processos movidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em relação ao X no país, uma vez que o STF acusa a rede social de não cumprir com as regras brasileiras e decisões tomadas pelos ministros do órgão acerca de contas vinculadas a fake news e discurso de ódio.

Após Musk fechar o escritório do X no Brasil e não indicar um representante legal no país, o STF suspendeu a plataforma em território nacional no dia 2 de setembro.

O bilionário também trocou farpas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do STF, Alexandre de Moraes.

¨      Ante 'esfriamento com Venezuela', Brasília dá novo passo na negociação da dívida de Cuba com Brasil

De acordo com autoridades de Brasília e Havana, citadas pelo jornal O Globo, no período entre quarta-feira (18) e sexta-feira (20) passada, uma missão de técnicos dos Ministérios da Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e do BNDES esteve com autoridades cubanas.

Naquela que foi a primeira reunião oficial entre os dois governos para discutir o assunto, Brasil e Cuba deram mais um passo na busca de caminhos para o pagamento da dívida do país caribenho com o governo brasileiro. A estimativa é de que o total de débitos vencidos e a vencer é de US$ 1,1 bilhão, o equivalente a R$ 5,5 bilhões, relata a mídia.

De acordo com o embaixador do Brasil em Havana, Christian Vargas, o encontro foi voltado exclusivamente para a conciliação de valores.

"Esta é etapa prévia necessária para que se possa avançar, em um segundo momento, na discussão sobre formas de retomar o fluxo de pagamentos", afirmou o embaixador.

No entanto, o jornal aponta que ainda não se chegou a uma fase de negociação propriamente dita. A ideia agora é que cada lado tenha os mesmos valores para iniciar uma conversa.

Em visita a Cuba, em setembro do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado que, embora tenha interesse em quitar os débitos com o Brasil, os cubanos não podem pagar a dívida, pois as sanções aplicadas pelos Estados Unidos deixaram a economia da ilha caribenha em uma das piores crises de sua história. Daí a busca de uma solução negociada.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro com o Presidente

A maioria dos recursos teve como origem o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que financiava a exportação de serviços prestados por empresas brasileiras em vários países. O exemplo mais conhecido é o Porto de Mariel, localizado a cerca de 40 quilômetros a leste de Havana.

Além de Cuba, um dos países que o governo Lula tentou reaquecer o pagamento das dívidas foi a Venezuela, mas, de acordo com a mídia, as tratativas esfriaram depois que a eleição de Nicolás Maduro não foi reconhecida por Brasília.

Agora, diz o jornal, a renegociação da dívida da Venezuela com a área econômica do governo Lula deve deixar de ser prioridade.

No começo do ano passado, a Venezuela indicou disposição para pagar dívida milionária que tem com BNDES, que é de cerca de US$ 1,5 bilhão, ou cerca de R$ 8,5 bilhões.

 

Fonte: Por José Alvaro de Lima Cardoso, em Outras Palavras/Sputnik Brasil

 

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