Argentina: O desastre do Plano Motosserra
Um balanço
do governo Milei: desmonte da indústria, investimento estancado, explosão da
pobreza – e, ainda assim, inflação de quase 100% até agosto. O plano:
reprimarização radical do país. E ele ainda não desistiu do projeto de
dolarização
##
O PIB (Produto Interno
Bruto) da Argentina caiu 1,7% no 2º trimestre de 2024 em relação ao mesmo
período de 2023, segundo relatório do Instituto de Censos e Estatísticas
(Indec), divulgado na semana passada. A queda foi puxada principalmente pelos
setores de Construção (-22,2%), Indústria de Transformação (-17,4%) e Comércio
Atacadista, Varejista e Reparos (-15,7%). O setor de Agricultura, Pecuária,
Caça e Silvicultura apresentou a maior alta: 81,2%. Na comparação com o 1º
trimestre deste ano, o PIB recuou1,7%.
Do ponto de vista da
demanda, o recuo mais avassalador foi o da Formação Bruta de Capital Fixo
(FBCF, parcela do PIB que é reinvestido na produção), que caiu 29,4% no segundo
trimestre de 2024, em relação ao mesmo período do ano passado. A queda se deveu
ao recuo de 30,7% nos investimentos do setor de Construção, recuo de 3,3% de
Outras Construções, diminuição de 30,2% no setor de Máquinas e Equipamentos e
pela queda de 39,6% em Equipamentos de Transporte.
O PIB da Argentina vem
de três trimestres seguidos de queda. Formalmente, uma economia entra em
recessão quando completa dois trimestres seguidos de queda no PIB. Normalmente,
quando se provoca uma recessão na economia, como no caso da Argentina, a inflação
recua. Mas no acumulado de 12 meses a inflação alcançou 236,4%. Somente em
agosto os preços subiram 4,2%, que é a inflação anual do Brasil. Em 2024, até
agosto a inflação no país soma alta de 94,8%. Ou seja, mesmo com a brutal
recessão, provocada pela queda dramática do poder aquisitivo de trabalhadores e
aposentados, e da quebradeira de empresas mais ligadas ao mercado interno, a
inflação na Argentina não cedeu significativamente. O que mostra que o
diagnóstico do governo Milei, de uma suposta centralidade da inflação de
demanda na economia, é totalmente furado.
Os setores
empresariais que apoiaram Milei, porque sabiam que ele iria tentar destruir a
organização dos trabalhadores e liquidar o poder aquisitivo da população (como
fez), já se mostram incomodados. O governo não está conseguindo, apesar de
tudo, reduzir a inflação e, na expressão dos porta-vozes empresariais,
“realizar ações com foco no longo prazo”. O fato de que Milei não tenha
reduzido a inflação até o momento, apesar de todo o estrago feito na indústria,
no mercado interno, e na malha de pequenos, médios e até grandes negócios, o
coloca em situação difícil também com a população. Afinal, uma parte dos
argentinos até aceitou o remédio amargo do “plano motosserra”, porque viu aí a
possibilidade de redução de uma inflação destruidora e crescente. O plano até
agora ofereceu aos argentinos o pior dos mundos: destruiu empregos, provocou o
aumento exponencial da fome e da pobreza, e mesmo assim a inflação não cedeu.
Nos números do PIB, a
evolução do valor agregado dos diferentes setores da economia, no segundo
trimestre, demonstram qual papel Javier Milei veio cumprir na realidade
argentina. Enquanto o Setor de Agricultura, Pecuária e Caça cresceu 81% no
período, em relação a igual período do ano passado, a indústria recuou 17,4%,
como vimos. O setor de Eletricidade, Gás e Água, aumentou meros 2,8% no segundo
trimestre do ano em relação ao mesmo período de 2023. Construção Civil
apresentou uma queda de 22,2% no mesmo período. O setor de Comércio apresentou
uma queda de 15,7% e Hotéis e Restaurantes, um recuo de 4,5%.
É uma devastação da
indústria, que tem o objetivo, inconfessável (mesmo para Milei), de liquidar o
setor e transformar o país, em definitivo, em uma plataforma de produção de
grãos e commodities minerais, dependente absoluta das importações industriais. O
governo Milei tem engambelado parte da população com a ideia de que déficit
fiscal zero iria controlar a inflação, atrair investimentos internacionais e
incentivar inversões privadas de capital nacional. Como vimos, a taxa de
investimento caiu 29,4% em um ano, resultado que mostra que a política que está
sendo operada é de guerra contra a produção de riquezas e os salários. Qual o
capitalista estrangeiro vai querer investir em setores da economia argentina
voltados para um mercado interno que está sendo desmantelado? Os grandes
capitais internacionais querem liberdade e desregulamentação da economia para
se lambuzar nos imensos recursos naturais do país: grandes extensões de terras
férteis, chumbo, zinco, estanho, cobre e minério de ferro.
A natureza do ajuste
econômico da Argentina é revelada pelos dados concretos: em nome da queda da
inflação, desde o começo do governo, os preços de água, gás, luz e transporte
público estão bem mais altos, o poder aquisitivo de salários e aposentadorias despencou,
juntamente com a produção industrial e os serviços. Além disso, segundo o
Observatório da Dívida Social Argentina da Universidade Católica Argentina
(ODSA-UCA), nos primeiros seis meses deste ano, o índice de pobreza subiu para
55,5% da população e o índice de indigência para 17,5%.
Pelos critérios do
Indec, os indigentes são aqueles que não dispõem de renda suficiente para
adquirir a quantidade mínima de alimentos para a subsistência. Pelos cálculos
são cerca de 8,1 milhões de argentinos na condição de indigência. De acordo com
relatório da Bolsa de Comércio de Rosário, o consumo médio de carne bovina na
Argentina (quinto maior produtor do mundo), deverá ser de 44,8 quilos por
habitante neste ano, o menor volume desde 1920, mais de um século atrás.
Ao mesmo tempo em que
trabalha para constituir uma maioria de pobres e indigentes, o presidente da
República vive em um universo paralelo, no qual alimenta firme convicção que o
problema da Argentina começou há um século, quando o país teria “abandonado”
o modelo capitalista para aderir as ideias do “socialismo” ou do “coletivismo”.
Essa versão nada tem a ver com a realidade, como mostram os historiadores
argentinos: há um século a Argentina amargava uma crise dramática decorrente
justamente do seu atraso econômico. Não por acaso, o movimento peronista, que
tem grande base popular no país por ter realizado importantes mudanças em favor
da população, faz sucesso a partir da década de 1940. Mas o que significa a
“simples realidade” comparada com as inabaláveis convicções de Milei?
Como acredita que o
problema da economia argentina é “moral” e não econômico, Milei ainda não
desistiu do projeto de dolarização da economia, que se viabilizado, seria uma
completa loucura, de consequências imprevisíveis para o país e região. Como é
conhecido, atualmente na América Latina três países têm economias dolarizadas:
Equador, El Salvador e Panamá. O PIB somado destes três países equivale a cerca
de 23% do PIB da Argentina. Os três países, juntos, possuem população
equivalente a 6,2% da população da Argentina (45,2 milhões). Fora da América
Latina, dois países mantêm o dólar como moeda: Zimbábue (África) e Estados
Federados da Micronésia (Oceania), que na prática é uma colônia dos EUA, com
112.000 habitantes.
A Argentina é a
terceira economia da América Latina, atrás apenas do Brasil e do México. Propor
renunciar à moeda nacional, instrumento fundamental de macroeconomia, em favor
da moeda do país mais imperialista do mundo, será o caminho mais curto para o inferno.
A tendência global vai exatamente na direção contrária. Os países do Brics, por
exemplo, estão gradativamente construindo as condições para realizarem
transações entre si, com suas próprias moedas e não mais com dólar. Fica cada
vez mais evidente a importância dos membros do chamado Sul global terem
independência das moedas dos países ricos, e dos bancos dos países
imperialistas, Banco Mundial, FMI e outros.
Quanto mais tempo
durar o atual governo da Argentina, maior será o estrago que provocará. Estamos
assistindo, por exemplo, a rápida inviabilização da indústria. Praticamente
todos os países do mundo têm políticas industriais, especialmente os países
ricos, tão idolatrados por Milei. Esses países, inclusive, privilegiam
mecanismos como subvenções a setores da indústria, financiamento público
subsidiado e apoio estatal em geral, inclusive proibindo empresas mundiais de
atuarem em seus territórios. Nos países subdesenvolvidos, os mecanismos mais
comuns de incentivo à indústria têm sido a aplicação de tarifas de importação,
empréstimos públicos e políticas de incentivos fiscais.
Por acreditar em
fábulas, o governo argentino é contra todos esses mecanismos de incentivo à
produção industrial nacional, deixando tudo sob responsabilidade da
“indiscutível eficiência do mercado”. Alguns populares na Argentina, quando
entrevistados, costumam responder que Milei “está loco, pero lo sabe” (é louco,
mas sabe). Acho que não demorará muito para a maioria perceber que Milei de
fato é um louco; só que, além disso, não tem a menor ideia do que está fazendo.
¨ Procurador-geral da Venezuela pede à Interpol que emita mandado
de prisão contra Javier Milei
A disputa decorre da
apreensão de um avião venezuelano em Buenos Aires em junho de 2022 junto à
crescente troca de farpas e declarações entre Javier Milei e Nicolás Maduro,
principalmente após as eleições presidenciais de Caracas.
O procurador-geral da
Venezuela, Tarek William Saab, disse nesta terça-feira (24) que solicitou à
Interpol um mandado de prisão para o presidente argentino, Javier Milei. A ação
é a mais recente investida em uma disputa diplomática entre os dois países.
A Venezuela acusou
Milei de sete crimes, incluindo roubo, segundo a Reuters.
Na noite de
segunda-feira (23), o órgão de justiça federal da Argentina solicitou a prisão
de Maduro, alegando violações de direitos humanos, após o pedido de um grupo de
defesa argentino, conforme noticiado.
Presidente Luís Inácio
Lula da Silva discursa na abertura da 8ª Cúpula de Chefes de
De acordo com o g1, o
pedido de Saab não implica necessariamente incluir o presidente argentino na
lista vermelha da Interpol, em que a polícia internacional emite notificações
internacionais para localizar e prender pessoas procuradas. Um governo pode pedir
a inclusão de qualquer um, mas há um processo para isso, e a Interpol pode
acatar ou não.
Saab já havia pedido a
prisão de Milei à Justiça venezuelana na semana passada, episódio que a
Argentina repudiou. Venezuela e Argentina não mantêm relações, e Maduro e Milei
costumam trocar críticas e insultos.
O governo da Venezuela
também condenou nesta terça-feira (24) a decisão de Buenos Aires sobre o pedido
de prisão de Maduro e do ministro do Interior, Justiça e Paz, Diosdado Cabello,
classificando a medida como uma "reação grosseira de retaliação".
"A Venezuela
repudia a decisão irracional de um órgão do desacreditado Poder Judiciário
argentino contra o presidente, Nicolás Maduro, e o ministro do Interior,
Justiça e Paz, Diosdado Cabello Rondón, que nada mais é do que uma reação
grosseira de retaliação, instruída pelo senhor Javier Milei", indicou um
comunicado oficial divulgado pelo ministro das Relações Exteriores do país
sul-americano, Yván Gil, em sua conta no Telegram.
¨ Após se reunir pela 3ª vez com Milei, Musk anuncia que suas
'empresas apoiarão' Argentina
Javier Milei e Elon
Musk se reuniuram pela terceira vez para discutir a implementação de várias
iniciativas econômicas. A Argentina é o quarto maior produtor mundial de lítio,
um componente essencial das baterias de veículos elétricos.
O bilionário e CEO da
Tesla, SpaceX e X (antigo Twitter), disse que suas empresas estavam procurando
maneiras de investir na Argentina e apoiar o país sul-americano.
"Minhas empresas
estão buscando ativamente maneiras de investir e apoiar a Argentina",
disse Musk.
A declaração de Elon
Musk acontece após ter se encontrado com Milei em Nova York na segunda-feira
(23), às margens da Assembleia Geral das Nações Unidas.
O gabinete da
presidência argentina anunciou que Karina Milei, irmã e secretária da
Presidência, também participou da reunião, junto com o ministro da Economia,
Luis Caputo, o embaixador da Argentina nos Estados Unidos, Gerardo Werthein, e
o chefe do Conselho de Assessores do Presidente, Demian Reidel.
Durante a conversa,
Milei e Musk, que usava um boné com o tema da campanha presidencial de Donald
Trump, discutiram a implementação da Lei de Bases, aprovada em junho. Essa lei
estabelece a estrutura legal para uma profunda transformação econômica e social
da Argentina, segundo a revista Exame.
Essa é a terceira vez
que os dois se reúnem. O presidente e o bilionário já haviam se encontrado em
abril, na fábrica da Tesla, no Texas, e em maio, no Instituto Milken, em Los
Angeles.
Musk enfrenta diversos
processos movidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em relação ao X no país,
uma vez que o STF acusa a rede social de não cumprir com as regras brasileiras
e decisões tomadas pelos ministros do órgão acerca de contas vinculadas a fake
news e discurso de ódio.
Após Musk fechar o
escritório do X no Brasil e não indicar um representante legal no país, o STF
suspendeu a plataforma em território nacional no dia 2 de setembro.
O bilionário também
trocou farpas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do STF,
Alexandre de Moraes.
¨ Ante 'esfriamento com Venezuela', Brasília dá novo passo na
negociação da dívida de Cuba com Brasil
De acordo com
autoridades de Brasília e Havana, citadas pelo jornal O Globo, no período entre
quarta-feira (18) e sexta-feira (20) passada, uma missão de técnicos dos
Ministérios da Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e do
BNDES esteve com autoridades cubanas.
Naquela que foi a
primeira reunião oficial entre os dois governos para discutir o assunto, Brasil
e Cuba deram mais um passo na busca de caminhos para o pagamento da dívida do
país caribenho com o governo brasileiro. A estimativa é de que o total de débitos
vencidos e a vencer é de US$ 1,1 bilhão, o equivalente a R$ 5,5 bilhões, relata
a mídia.
De acordo com o
embaixador do Brasil em Havana, Christian Vargas, o encontro foi voltado
exclusivamente para a conciliação de valores.
"Esta é etapa
prévia necessária para que se possa avançar, em um segundo momento, na
discussão sobre formas de retomar o fluxo de pagamentos", afirmou o
embaixador.
No entanto, o jornal
aponta que ainda não se chegou a uma fase de negociação propriamente dita. A
ideia agora é que cada lado tenha os mesmos valores para iniciar uma conversa.
Em visita a Cuba, em
setembro do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado
que, embora tenha interesse em quitar os débitos com o Brasil, os cubanos não
podem pagar a dívida, pois as sanções aplicadas pelos Estados Unidos deixaram a
economia da ilha caribenha em uma das piores crises de sua história. Daí a
busca de uma solução negociada.
Presidente da
República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro com o Presidente
A maioria dos recursos
teve como origem o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), que financiava a exportação de serviços prestados por empresas
brasileiras em vários países. O exemplo mais conhecido é o Porto de Mariel,
localizado a cerca de 40 quilômetros a leste de Havana.
Além de Cuba, um dos
países que o governo Lula tentou reaquecer o pagamento das dívidas foi a
Venezuela, mas, de acordo com a mídia, as tratativas esfriaram depois que a
eleição de Nicolás Maduro não foi reconhecida por Brasília.
Agora, diz o jornal, a
renegociação da dívida da Venezuela com a área econômica do governo Lula deve
deixar de ser prioridade.
No começo do ano
passado, a Venezuela indicou disposição para pagar dívida milionária que tem
com BNDES, que é de cerca de US$ 1,5 bilhão, ou cerca de R$ 8,5 bilhões.
Fonte: Por José Alvaro
de Lima Cardoso, em Outras Palavras/Sputnik Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário