Marçal defende modelo de governo suspeito
de fazer acordo com facções
O candidato à
Prefeitura da capital pelo PRTB, Pablo Marçal, relativiza em sabatina promovida
pelo Metrópoles as suspeitas levantadas pelo Departamento do Tesouro dos
Estados Unidos de que o governo de El Salvador, país da América Central onde o
influenciador esteve durante a campanha para estudar modelos para a segurança
de São Paulo, tenha feito acordo com lideranças de facções locais para reduzir
a criminalidade no país.
Diante de uma série de
acusações de violações de direitos humanos, com um estado de exceção prorrogado
mais de 30 vezes, supressão de direitos e julgamentos coletivos, Marçal afirma
que “não importa o meio” utilizado para reduzir os índices de criminalidade. O
influenciador tem apresentado o resultado obtido por El Salvador como modelo a
ser seguido, embora não detalhe quais ideias pretende trazer para São Paulo.
Sob a gestão do
presidente de direita Nayib Bukele, El Salvador reduziu a taxa de homicídios de
38 casos a cada 100 mil habitantes em 2019 para 7,8 em 2022, segundo dados
oficiais. O governo do país diz estar há cerca de 700 dias sem homicídios. No
início de setembro, Marçal foi a El Salvador e se reuniu com o ministro da
Justiça Gustavo Villatoro.
Segundo o Departamento
do Tesouro dos Estados Unidos, o vice-ministro da Justiça de El Salvador,
Osiris Luna, número 2 de Villatoro, e um outro funcionário do alto escalão do
governo “lideraram, facilitaram e organizaram reuniões secretas envolvendo lideranças
encarceradas das facções”. Nessas reuniões, membros das facções teriam sido
autorizados a entrar nas prisões e se encontrar com os seus superiores presos.
O governo americano
diz que “os encontros foram parte dos esforços do governo de El Salvador por um
acordo com as lideranças das facções”. O suposto acerto envolveria o apoio das
principais facções do país, Bairro 18 e MS-13, ao partido de Bukele, Nuevas
Ideas.
Osiris Luna foi
sancionado em 2021 pelos Estados Unidos. Todos os ativos dele sob jurisdição
americana foram congelados e ele ficou proibido de fazer transações por meio do
sistema financeiro do país.
Na sabatina, o
candidato afirma que acredita mais na versão do governo caribenho do que nas
acusações feitas pelo governo americano, chamada de “ilações”.
“Isso eu ouvi do
próprio Gustavo, são ilações que colocaram contra ele porque resolveram o
problema”, afirma Marçal. “O governo americano governa os Estados Unidos. Eu
acredito no resultado, não importa o meio”, completa.
Questionado sobre se
pretende fazer acordo com o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que
comanda o crime organizado em São Paulo, o candidato afirma que o PCC já está
instalado na gestão municipal e que o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), é um
“fantoche”.
“As facções já estão
mandando a prefeitura. Elas já estão infiltradas. A gente tem um fantoche aí. O
prefeito hoje é um fantoche. E o problema disso é que ninguém está enxergando”,
declara.
Sobre as acusações de
violação dos direitos humanos em El Salvador, Marçal afirma que o governo do
país cometeu erros e já reconheceu isso. O candidato diz ser contra o
encarceramento em massa e que defende uma mudança na Lei de Execuções Penais.
“Os caras erraram,
erraram. A gente aprende com os erros. Eu não sou a favor do encarceramento em
massa, sou a favor de atacar na educação. E essa é a última geração do crime”,
afirma.
• Insultos e agressões
Pablo Marçal compara o
soco dado por seu assessor Nahuel Medina no rosto do marqueteiro de Ricardo
Nunes (MDB), Duda Lima, durante o debate do Flow, na noite da última
segunda-feira (23/9), à cadeirada que levou de José Luiz Datena (PSDB) no
debate da TV Cultura, em 15 de setembro.
Para Marçal, o
episódio no qual ele foi agredido foi relativizado porque ele é de direita .
“Por que ninguém pegou no pé do Datena? Porque relativizou ele? Ontem ficaram
gritando no debate: ‘Tem que prender [o Nahuel]’. Mas por que o soco vale mais
do que uma cadeirada?”
Marçal sustenta que
seu assessor agiu em legítima defesa e que registrou um boletim de ocorrência
contra Duda Lima por agressão — um vídeo divulgado por ele após o debate mostra
o marqueteiro batendo no celular usado por Nahuel para filmá-lo no local do debate.
Segundo a Secretaria
da Segurança Pública, não houve registro de B.O. por parte de Nahuel e as duas
agressões serão investigadas em um mesmo inquérito policial. O assessor de
Marçal passou horas detido na delegacia e teve que esperar Duda Lima ser
atendido no hospital e prestar depoimento para ser liberado.
O candidato do PRTB
ainda nega que a postura adotada durante a campanha, com uma série de ofensas
pessoais e apelidos jocosos contra os adversários, seja um exemplo negativo
para os jovens que o seguem e disse que os episódios de violência em que se
envolveu partiram de seus rivais.
• Incitação à violência
Marçal nega que tenha
incitado a população à violência ao convocar seus seguidores para uma “revolta”
e para a “guerra” após ser expulso do debate do Flow e seu assessor ter
agredido o marqueteiro de Nunes. A declaração foi dada durante uma transmissão
ao vivo em seu Instagram. O candidato disse que a revolta será feita com
“celulares”.
“Se você continuar
ouvindo a live, eu falo, nós não precisamos de armas. A gente precisa do
celular para desbancar esses jornazistas”, afirma.
• Pesquisas eleitorais
Mais uma vez, Marçal
questiona as pesquisas de intenção de voto, que apontam para um alto índice de
rejeição do candidato, sobretudo entre as mulheres, e o colocam em terceiro
lugar, numericamente atrás de Ricardo Nunes (MDB) e de Guilherme Boulos (PSol).
Ele afirma que o único
instituto confiável é o Veritá, que o coloca em primeiro lugar nas pesquisas,
fora da margem de erro, porque foi o que mais se aproximou do resultado do
primeiro turno da eleição para governador de São Paulo, em 2022.
Questionado sobre os
erros do mesmo instituto naquele ano, como da eleição presidencial e de
Alagoas, Marçal admite que ela “pode estar erra”, mas diz que suas próprias
pesquisas mostram que seu desempenho é ainda melhor.
“É por isso que
ninguém tem que [se] curvar para pesquisa. A que não tem manipulação pode estar
errada. Imagino a que tem manipulação”, afirma.
• Empregos
Marçal reafirma a
promessa de gerar 2 milhões de empregos na capital em quatro anos e diz que o
número de postos de trabalho, quatro vezes maior do que número oficial de
desempregados na cidade, inclui os chamados “nem-nem”, que nem estudam e nem
trabalham, quem recebe auxílio como o Bolsa Família, e pessoas que devem migrar
de cidades da Grande São Paulo para a capital.
“Quando eu gero 2
milhões de empregos eu estou atraindo gente para cá. Se a gente não consegue
qualificar a nossa sociedade, eu vou ter que trazer gente de fora. Eu não quero
emprego do passado, não quero emprego que solta fumaça”, afirma.
Questionado sobre o
baixo número de funcionários com carteira assinada (CLT) que possui em suas
empresas em São Paulo — dados oficiais do Caged mostram que em 25 empresas
existem 45 funcionários registrados — Marçal nega que o número seja verdadeiro
e diz que, sozinha, a escola que possui em Goiânia tem mais funcionários com
carteira assinada.
• Prédio de 1 km
Uma das promessas de
Marçal para desenvolver a periferia da zona sul de São Paulo e alavancar o
turismo na capital é a construção de um prédio de 1 km de altura, que custaria
R$ 20 bilhões e seria erguido em 10 anos.
Ele havia prometido
que o projeto não terá dinheiro público, apesar de falar em Parceria Público
Privada (PPP), mas admite que a Prefeitura pode participar cedendo o terreno e
até “pegar uma parte do prédio”, o que não havia dito anteriormente.
“Não é uma PPP. A
gente pode entrar com o terreno ou entrar com a liberação disso e pegar parte
desse prédio para a prefeitura. Vai ter a parceria com o privado para
acelerar”, afirma.
• Centros olímpicos
O candidato do PRTB
tem apresentado como projeto para a educação a criação de mil centros
olímpicos, onde haveriam equipamentos para o desenvolvimento esportivo dos
alunos, a um custo de R$ 1,5 bilhão, também sem dinheiro público.
Segundo o candidato, a
ideia é que empresas invistam na construção de espaços para a prática de
esportes e convívio de toda a sociedade. Ele afirma que as desapropriações dos
terrenos para os centros olímpicos serão obtidas por meio de permutas de prédios
públicos.
Confrontado com o
custo de de R$ 50 milhões para construção de um Centro Educacional Unificado
(CEU), referência em espaço poliesportivo em escolas municipais, ele diz que é
possível fazer mais barato evitando corrupção.
“Mas é claro, você põe
na mão de petista para fazer. Quem foi que criou o CEU? Foi petista. Pega aí,
eles vão fazer ciclovia e gastam milhões. Parece que está pintando com ouro o
chão. É o que estou falando para vocês, se colocar esses burocratas corruptos e
comunistas, você vai pagar muito mais. É um preço que não faz sentido”, afirma.
• Acordo com facções em El Salvador
Durante a campanha,
Marçal viajou para El Salvador, país da América Central governado pelo
presidente de direita Nayib Bukele, cuja gestão tem sido acusada de violar os
direitos humanos e praticar uma política de encarceramento em massa para
reduzir a criminalidade.
O candidato do PRTB
faz uma série de elogios a El Salvador e se encontrou no início de setembro com
o ministro da Justiça, Gustavo Villatoro. Na sabatina, Marçal foi questionado
sobre a suspeita de acordo feito pelo governo daquele país com facções locais
para reduzir a criminalidade.
Segundo o Departamento
do Tesouro dos Estados Unidos, o número 2 da pasta de Villatoro, Osiris Luna, e
um outro funcionário do alto escalão do governo “lideraram, facilitaram e
organizaram reuniões secretas envolvendo lideranças encarceradas das facções,
em que membros das facções foram autorizados a entrar nas prisões e se
encontrar com os seus superiores presos”.
O governo americano
diz que “os encontros foram parte dos esforços do governo de El Salvador por um
acordo com as lideranças das facções”. Inclusive, o acordo envolveria o apoio
das principais facções do país, Bairro 18 e MS-13, ao partido de Bukele, Nuevas
Ideas.
Marçal chama as
suspeitas de ilações e diz que confia nas informações do governo de El
Salvador. “Isso eu ouvi do próprio Gustavo. Essas ilações colocaram contra ele
porque eles resolveram o problema”, afirma. Sobre as acusações de violação de
direitos humanos, com um estado de exceção renovado mais de 30 vezes, o
candidato diz: “Eu acredito no resultado, não importa o meio”.
• Processo seletivo e PCC
Questionado sobre como
pretende fazer o processo seletivo que promete para formar um eventual governo
após escolher um partido cujo presidente, Leonardo Avalanche, é suspeito de
ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e dar uma procuração a um despachante
réu por narcotráfico, Marçal diz que vai analisar a “vida pregressa das
pessoas” e que, se eleito, vai “tirar imediatamente” funcionários que “têm
alguma coisa que atrapalhe a conduta da pessoa”. Ele, no entanto, afirma que
“não pode condenar um cara à eternidade”.
“O cara teve algum
problema, seja administrativo, seja de qualquer ordem. Está resolvido? Não tem
problema. Se esse cara, na sociedade, trouxe benefício, aumentou a
produtividade, de fato tem servido a sociedade, é uma coisa. Agora, a pessoa
está lá no cargo e abre um indiciamento, igual a esses caras de máfia de
creche, aí tem que tirar todo mundo, inclusive prefeito”, afirma.
O presidente do
partido do Marçal, Leonardo Avalanche, é acusado de ligação com o PCC e
flagrado em um áudio dizendo que teria atuado para soltar membros da facção,
como André do Rap. No início de setembro, o candidato prometeu “honrar”
Avalanche e disse acreditar em sua inocência.
Fonte: Metrópoles
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