Remédio para obesidade pode ajudar a tratar
doença de pele, diz estudo
Um estudo apresentado
nesta quarta-feira (25) no Congresso da Academia Europeia de Dermatologia e
Venereologia (EADV) 2024 mostra que a semaglutida — princípio ativo de
medicamentos para obesidade e diabetes tipo 2, como o Wegovy e o Ozempic,
respectivamente — ajudou a reduzir sintomas e crises de hidradenite supurativa
(HS), uma doença de pele comum e crônica.
Durante o congresso,
que acontece em Amsterdã, na Holanda, os pesquisadores mostraram que a
semaglutida, além de atuar para a perda de peso significativa, também pode ser
aliada no tratamento da doença de pele em pessoas com obesidade.
O trabalho examinou
dados de junho de 2020 a março de 2023 e avaliou os resultados de saúde de 30
pacientes obesos, sendo 27 mulheres e três homens com idade média de 42 anos.
Esses pacientes tinham estágios variados de hidradenite supurativa e receberam
semaglutida em dose média semanal de 0,8 mg por cerca de 8 meses.
Os pesquisadores
monitoraram as alterações no índice de massa corporal (IMC), peso, frequência
de crises da doença de pele, além do valor do Índice de Qualidade de Vida em
Dermatologia (DLQI) e de níveis de dor dos pacientes antes e depois do início
do tratamento com semaglutida. Eles também avaliaram marcadores bioquímicos,
como níveis de proteína C-reativa (PCR), glicose e hemoglobina A1c (HbA1c).
Segundo o estudo, os
pacientes apresentaram menos crises de hidradenite supurativa, com a frequência
desses episódios reduzindo de uma média de uma vez a cada 8,5 semanas para uma
vez a cada 12 semanas. A qualidade de vida também melhorou significativamente,
de acordo com os autores, refletindo na redução do DLQI de 13/30 para 9/30.
Em relação ao IMC e ao
peso, também houve resultados significativos. Segundo a pesquisa, o IMC médio
dos pacientes diminuiu de 43,1 para 41,5 e seu peso médio caiu
significativamente de 117,7 kg para 111,6 kg, com um terço dos pacientes
perdendo 10 kg ou mais durante o período de tratamento. Os níveis de
hemoglobina glicada também diminuíram, indicando o melhor controle glicêmico, e
os níveis de PCR também caíram, significando uma menor inflamação no corpo.
“Nossas descobertas
sugerem que a semaglutida, mesmo em doses modestas, pode oferecer benefícios
substanciais no tratamento da HS. Embora o papel do medicamento na promoção da
perda de peso esteja bem estabelecido, o que é particularmente empolgante é seu
potencial para também reduzir a frequência de surtos de HS, contribuindo para
as melhorias notáveis observadas na qualidade de vida dos pacientes”, afirma
Daniel Lyons, pesquisador-chefe do St. Vincent’s University Hospital, Dublin,
Irlanda, em comunicado à imprensa.
“Os resultados são
altamente encorajadores e podem representar um grande avanço no tratamento da
HS. Para desenvolver esse progresso, ensaios clínicos randomizados maiores são
necessários para validar essas descobertas. Além disso, pesquisas futuras devem
explorar o impacto de doses mais altas de semaglutida e seus efeitos
independentemente de medicamentos concomitantes para entender completamente seu
potencial”, acrescenta.
• O que é hidradenite supurativa?
A hidradenite
supurativa é uma doença de pele crônica inflamatória que acomete,
principalmente, áreas da pele como axilas, mamas, virilha, região genital e dos
glúteos. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a condição é
mais frequente em mulheres, após a puberdade, e pode estar relacionada à
inflamação dos folículos pilosos dessas regiões, mas as causas exatas ainda não
estão bem estabelecidas.
Os sintomas da
hidradenite supurativa incluem lesões inflamadas, dolorosas, como nódulos, ou
caroços, que podem evoluir com abertura e drenagem de pus. Atualmente, o
tratamento é feito com medicamentos tópicos (antissépticos e antibióticos),
sistêmicos (para reduzir a inflamação e controlar a infecção), injeções de
corticosteroides, tratamentos a laser e, em casos graves, cirurgia, terapia
biológica e analgésicos potentes.
Segundo a SBD, estudos
indicam que a hidradenite supurativa pode estar associada à obesidade e ao
tabagismo. Desta forma, uma das recomendações de prevenção da doença é o
controle do peso, não fumar e manter uma alimentação balanceada.
• Ozempic e Mounjaro ajudam a emagrecer,
mas uso requer cuidados; entenda
Medicamentos como o
Ozempic, da Novo Nordisk, e o Mounjaro, da Eli Lilly, ganharam popularidade
devido aos seus efeitos no emagrecimento. Apesar de serem indicados para o
tratamento de diabetes tipo 2, esses remédios reduzem o apetite e aumentam a
sensação de saciedade, promovendo uma significativa perda de peso.
No entanto, para que
esses efeitos sejam duradouros, sustentáveis e,
“Essas medicações
precisam estar associadas a uma reeducação alimentar, a um acompanhamento
médico contínuo e, acima de tudo, a um planejamento a longo prazo para evitar o
retorno dos quilos perdidos e assegurar uma boa saúde geral”, afirma Isabella
Reis, nutricionista da Seed, clínica de nutrição localizada em São Paulo.
<><> Como
Ozempic e Mounjaro levam à perda de peso?
O Ozempic e o
Mounjaro, apesar de terem a mesma indicação e resultados semelhantes, são
compostos por princípios ativos diferentes. O primeiro é composto pela
semaglutida, uma droga da classe dos análogos do hormônio GLP-1 que atua na
secreção de insulina pelo pâncreas, regulando a glicose no sangue e promovendo,
também, a redução do apetite, conforme explica Lorena Lima Amato, em matéria
publicada anteriormente na CNN.
Inclusive, a
semaglutida é o mesmo princípio ativo do Wegovy, medicamento da Novo Nordisk
indicado para o tratamento de obesidade. A caneta emagrecedora foi aprovada no
Brasil em janeiro de 2023, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), e está disponível para comercialização desde o final de julho deste
ano.
Já o Mounjaro é
composto de tirzepatida, uma molécula agonista duplo de GLP-1 e GIP, hormônios
gerados no intestino e liberados depois das refeições. Isso significa que o
medicamento tem a capacidade de estimular a ação tanto do GLP-1, quanto do GIP,
aumentando a produção de insulina pelo pâncreas para manter o controle do
açúcar no sangue.
Em estudo, o Mounjaro
mostrou ser mais potente que o Ozempic e o Wegovy para a perda de peso. Na
análise, ambos os medicamentos foram eficazes para o emagrecimento, mas 82% das
pessoas que tomaram tirzepatida alcançaram uma redução de 5% do peso inicial após
um ano de uso, em comparação com cerca de 67% daquelas que tomaram semaglutida.
<><> Como
manter a redução de peso por mais tempo e sem riscos à saúde?
Apesar dos benefícios
para tratar a obesidade, o uso de medicamentos como Ozempic e Mounjaro deve ser
feito com cautela e orientação médica. Isso por que a redução do apetite
causada por eles pode levar a deficiências nutricionais, como a perda de vitaminas
e minerais. “Comer menos não significa necessariamente comer melhor”, alerta
Reis. “É aqui que a nutrição personalizada se torna crucial para evitar efeitos
colaterais indesejados, como perda de massa muscular ou fraqueza.”
Para isso, uma das
recomendações é fracionar as refeições para oferecer maior suporte nutricional
ao corpo. “Com a redução do apetite, o ideal é consumir alimentos com grande
potencial nutricional e não consumir ‘calorias vazias’. Isso significa ter uma dieta
com bastante nutriente e, inclusive, com suplementação alimentar, que pode ser
bem interessante nesses casos”, orienta Mônica Magalhães, nutricionista da
Seed.
Além de evitar a
deficiência de nutrientes, manter um acompanhamento nutricional é fundamental
para evitar o chamado “efeito sanfona” — ou seja, o retorno do peso após o fim
do uso desses medicamentos. Segundo Magalhães, é importante ter um plano de
desmame controlado, associado a um programa de manutenção alimentar e física
para evitar os rebotes.
“Talvez seja
interessante utilizar outro substituto na forma de suplementos ao terminar o
uso desses medicamentos. Existem algumas sugestões de fórmula que podem ter
efeito bem parecido, ajudando na saciedade, modulando o índice glicêmico dos
alimentos e a resistência insulínica”, afirma a especialista.
A prática de atividade
física, associada a um plano alimentar bem estruturado, também deve fazer parte
do tratamento. Isso porque medicamentos que promovem a rápida perda de peso
podem levar à perda de massa muscular — e, consequentemente, a efeitos estéticos
não desejados, como flacidez e a “cabeça de Ozempic”, conforme aponta Ricardo
Barroso, endocrinologista e diretor da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo), em matéria publicada
anteriormente na CNN.
“Para prevenir a perda
de massa muscular, é importante que se tenha um suporte proteico durante todo o
tratamento. Além do suplemento de proteína, a creatina pode ser interessante
para fazer a manutenção da massa magra”, indica Reis. “Tudo isso sem contar a
prática de exercício físico. A musculação não deve ser deixada de lado nesse
processo”, reitera.
<><>
Fatores psicológicos também devem ser levados em conta
Ter apoio de
profissionais de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras, também é
importante durante o processo de emagrecimento. Isso porque o uso desinformado
desse tipo de tratamento pode gerar ansiedade, frustração e expectativas
irreais. “Muitos pacientes acabam se comparando a padrões irreais de corpos
perfeitos propagados nas redes sociais, o que pode desestabilizar o
tratamento”, comenta Magalhães.
Ao promover um estilo
de vida saudável, equilibrado e sustentável, há, também, a importância de um
tratamento informativo, que prepare o paciente não apenas fisicamente, mas
mental e emocionalmente, para as mudanças que o corpo e a mente enfrentarão.
Fonte: CNN Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário