Sérgio Batalha: Os sindicatos,
desenvolvimento e democracia - uma
relação necessária
A mídia tem feito
diversas matérias mostrando a fila quilométrica de trabalhadores que queriam se
opor ao desconto de 2% do seu salário, previsto como contribuição para o
sindicato que celebrou a convenção coletiva da categoria.
Todo o foco das
matérias era na insatisfação dos trabalhadores na fila com a demora e o
incômodo para o cancelamento do desconto em favor do seu sindicato. Havia
reclamações sobre o não funcionamento da oposição pelo “site”, sobre o prazo
para fazer a oposição e a enorme fila formada, com o evidente viés negativo em
relação ao sindicato.
Ninguém perguntou aos
trabalhadores se eles sabiam que o desconto era relacionado a uma convenção
coletiva que assegurava direitos para eles próprios. Ninguém perguntou também
se eles sabiam que a convenção resultou da negociação efetuada pelo sindicato.
Ninguém informou aos
trabalhadores que o sindicato não recebe mais nenhum desconto compulsório,
imposto ou verba pública. Ninguém lhes disse que o sindicato vive
exclusivamente das mensalidades de seus poucos sócios e deste tipo de
contribuição prevista em normas coletivas.
Por fim, a pergunta
que não quer calar é por que os sindicatos devem negociar normas coletivas para
trabalhadores que não são seus associados e que se recusam a contribuir com sua
manutenção?
Nos EUA e na Europa é
comum que as normas coletivas beneficiem apenas os trabalhadores associados aos
sindicatos. No Brasil de hoje, a reforma trabalhista e o STF acabaram
consagrando um sistema absurdo no qual o sindicato não recebe verba alguma e é
obrigado a negociar direitos para trabalhadores que não querem se associar ou
mesmo contribuir para sua existência.
O trabalhador deveria
responder igualmente se ele acha justo usufruir das vantagens da norma
coletiva, como o reajuste no salário, vale refeição e outros, e se recusar a
contribuir com 2% do seu salário para o sindicato que a negociou.
Na sociedade
individualista de hoje, com a ênfase no chamado “empreendedorismo”, o discurso
antissindical se tornou moda. Mas, quando interessa, todos querem a assistência
do sindicato ou dela se beneficiam.
É necessário uma
mudança no sistema sindical, gravemente atingido no seu financiamento pela
reforma trabalhista, para que se estimule a sindicalização, condicionando a
aplicação de uma norma coletiva a um trabalhador com sua vinculação ao seu
sindicato de classe.
Não há democracia
plena sem sindicatos livres e atuantes. Os direitos do trabalhador são tão
importantes quanto às pautas de mulheres, negros e outros grupos que lutam por
direitos civis. Os sindicatos são o único espaço para a luta pelos direitos dos
trabalhadores e sua existência interessa a toda a sociedade. Não há país
desenvolvido com trabalhadores precarizados.
¨ A esquerda e a maldição de Cassandra. Por Eduardo Guimarães
A princesa Cassandra é
uma figura da mitologia grega que se tornaria profetisa após aceitar barganha
oferecida pelo deus Apolo. Filha dos reis de Troia, foi cortejada pela
divindade em uma época em que se acreditava que deuses e homens interagiam.
Apaixonado pela
exuberância plástica da princesa, propôs conceder-lhe o dom que tanto almejava,
o de vislumbrar o futuro, mas só se com ele se nupciasse. Cassandra acedeu, mas
exigiu que antes das núpcias recebesse o dom, no que foi atendida.
A princesa, porém,
tinha lá seus caprichos. Após ser contemplada com a capacidade de vislumbrar o
porvir, negou-se a cumprir o acordado. Eis que a fúria dos deuses -- ou, pelo
menos, a daquele deus -- despertou, e Apolo, colérico, decide não lhe retirar
o dom para aperfeiçoar sua vingança.
Cassandra, capaz de
prever o futuro, passou a ser atormentada por esse dom. A vingança de
Apolo foi condenar a ex-futura esposa a que ninguém acreditasse nas suas
profecias, que só ela saberia verdadeiras.
Como Cassandras
contemporâneas, os esquerdistas víamos uma esquerda que se deliciava com as
benesses que o abrandamento do Lulinha Paz e amor de 2002 lhe concedera, mas
que se recusava a cumprir a sua parte no acordo.
Explico: Lula trouxe
para o seu primeiro governo um misto de fórmulas econômicas capitalistas com
programas sociais socialistas -- sob inspiração de José Dirceu, diga-se.
O tri-presidente
reconheceu que para que pudesse oferecer dignidade e distribuição de renda
teria que dar algo em troca. Disse isso na Carta Ao Povo Brasileiro, lá na
primeira campanha eleitoral à Presidência, que venceu sob esse acordo.
Os formadores de
opinião e os políticos de esquerda, desfrutando das benesses do poder, entoavam
seus discursos, vá lá, revolucionários do alto de seus celulares e roupas
caras, muitas vezes de dentro de carrões ou de confortáveis habitações em
bairros "nobres".
Alguns começaram a
enxergar isso lá em 2013. Eu, por exemplo. Em 2013, enxerguei que aquela
história dos vinte centavos ia dar em algo que não cheira bem. Fui radicalmente
contra. Diziam que estavam mudando o Brasil.
E mudaram, como
mudaram...
Lá pelos idos de 7 de
setembro de 2021, comecei a ter certeza de que Bolsonaro não largaria o osso e
que apelaria para um golpe. Tudo mostrava que haveria uma tentativa sísmica de
impedir a alternância no Poder.
Comecei a falar disso
para alguns pretensos "entendidos" e me apelidaram sabe de quê? De
"Cassandra", provavelmente por não fazerem a menor ideia do que
estavam me chamando.
Como a Cassandra da
mitologia grega, pessoas como eu, que tentavam avisar a esquerda de que estava
rumando para o precipício, não eram ouvidas.
Eis que a esquerda
começou a fazer o número 2 não nas fraldas geriátricas, mas no meio da praça pública.
Fizeram uma manifestação que infernizou São Paulo por meses e que fez a
popularidade de Dilma Rousseff, lá em 2013, cair de 65% para 29% em 3
semanas.
E as burradas
continuam. Acabo de assistir a um correligionário de Guilherme Boulos dando uma
entrevista e pregando que a solução para a esquerda é pisar mais fundo nas
pautas de esquerda, como aborto, descriminalização das drogas, fim da
propriedade privada, tudo rumo a um regime semianárquico.
O autor disso é o
chileno radicado no Brasil, formado pela fefeleche, Vladimir Safatle. Ele prega
mais, prega que o PSOL se afaste do governo Lula e faça a ele "oposição
pela esquerda", tudo isso enquanto o Brasil vive ameaças de golpe e de instalação
de um novo regime de extrema-direita.
E ele foi mais longe:
disse que a derrota eleitoral da esquerda nas eleições municipais deste ano
garante que Lula não se reelegerá em 2026 e prega como solução tudo aquilo que
descrevi acima, ou seja, uma revolução socialista clássica em pleno século 21
em um país em que até os fuzis dos milicos são de extrema-direita.
Precisavam ouvir, por
exemplo, a análise de Felipe Nunes, diretor do instituto de pesquisas Quaest,
em entrevista ao jornal O Globo publicada hoje.
A saber:
-- O GLOBO -- O
presidente ficou ausente da corrida eleitoral assim como vem dizendo que não
vai se meter na disputa pela presidência da Câmara. Ele acerta ao adotar essa
estratégia?
-- FELIPE NUNES --
Lula tentou participar apenas indiretamente da eleição. Ele sabe que a história
mostra que eleição municipal não projeta absolutamente nada da presidencial.
Nos anos 90 e início dos anos 2000, MDB e PFL foram majoritários em prefeituras
e não venciam eleições presidenciais.
Em dezembro deste ano
vamos nos livrar do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que não
poderia ser mais parecido com o avô, que congelou o salário mínimo durante um
surto inflacionário em plena ditadura militar.
E aí começa o
verdadeiro plano para melhorar a performance do Lula junto à opinião
pública.
Sem a âncora
monetária, com investimentos estrangeiros chovendo aqui após o Grau de
Investimento que nos concederão as Agências de Classificação de risco, graças à
reforma Tributária, graças ao Marco Fiscal, graças a contas públicas bem
ajambradas, com emprego com carteira assinada bombando e queda na desigualdade,
a economia chegará a 2026 como chegou a 2010.
James Carville diria
"It's the economy, stupid" (É a economia, estúpido).
• Mercadante vê Brasil a caminho do grau
de investimento e defende ajuste fiscal que não comprometa investimentos
O presidente do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante,
manifestou nesta segunda-feira (28) que o Brasil está próximo de atingir o grau
de investimento em sua dívida pública — classificação que representa maior segurança
para investidores e menores riscos de inadimplência.
Durante o 7º Fórum
Brasil de Investimentos, organizado pela Agência Brasileira de Promoção de
Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Mercadante enfatizou que o governo
deve realizar um ajuste fiscal cauteloso, que não comprometa os investimentos
essenciais para o desenvolvimento econômico.
"Eu acredito que
o Brasil tem todas as condições de alcançar o grau de investimento, mas é
crucial que o governo faça cortes seletivos, com critério, para não comprometer
o crescimento", afirmou Mercadante, destacando a importância de reverter expectativas
negativas sem afetar o progresso em áreas estratégicas, segundo aponta
reportagem da Folha de S. Paulo. O evento, que também contou com a presença do
vice-presidente Geraldo Alckmin e da ministra do Planejamento, Simone Tebet,
foi palco para discussões sobre o papel dos investimentos na recuperação
econômica e nas metas fiscais do país.
Recentemente, a
agência de classificação de risco Moody's elevou a nota de crédito do Brasil
para "Ba1", uma posição abaixo do grau de investimento. Mercadante
explicou que, além dos ajustes fiscais, o controle sobre a taxa de juros é um
ponto crucial. A taxa Selic, atualmente em 10,75% ao ano, tem previsão de subir
para 11,75% até o final do ano, segundo o Boletim Focus, divulgado na mesma
segunda-feira. Em tom crítico, Mercadante reforçou a necessidade de diálogo
entre o governo e o mercado financeiro para evitar que o custo do crédito iniba
investimentos produtivos. "É preciso que a Faria Lima escute nossas
intenções e perceba que um diálogo construtivo é a melhor forma de reverter as
expectativas sobre o Brasil", alfinetou Mercadante.
Além das questões
fiscais e monetárias, Mercadante destacou os investimentos prioritários na
transição energética e a importância do papel do Brasil na pauta climática
global, especialmente com a realização da COP30, que está prevista para ocorrer
em Belém no próximo ano. "A transição energética é um processo caro e
demanda políticas públicas consistentes e duradouras", pontuou o
presidente do BNDES.
Com um cenário de
inflação e desemprego em queda, o governo espera que o compromisso com o ajuste
fiscal, aliado a políticas de incentivo ao investimento, seja um dos passos
finais para alcançar o grau de investimento e fortalecer a economia brasileira.
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Exportações de bens pelo BNDES cresce 519% e ultrapassa valor registrado nos
governos Temer e Bolsonaro
As exportações de bens
do BNDES bateram R$ 26,9 bilhões desde janeiro de 2023 até setembro deste ano,
valor que supera as aprovações do banco nos governos de Michel Temer e Jair
Bolsonaro. Nos seis últimos anos, segundo a coluna Painel S.A., da Folha de S. Paulo, as operações somadas para o setor
totalizaram R$ 21,5 bilhões, segundo o BNDES.
Na comparação do
primeiro ano do governo do presidente Lula (2023) com o primeiro ano de Jair
Bolsonaro (2019), as aprovações das exportações de bens do BNDES foram 519%
maiores - R$ 13,5 bilhões, em 2023, ante R$ 2,6 bilhões, em 2019.
Até setembro deste
ano, segundo ano do atual governo, elas representaram 235% das aprovações do
segundo ano do governo anterior - R$ 13,4 bilhões ante R$ 5,7 bilhões.
"É fundamental
apoiar a exportação industrial, especialmente aquelas com alto valor agregado.
Outros países também estão adotando políticas semelhantes", disse Aloizio
Mercadante, presidente do BNDES.
"Cerca de 98% do
mercado mundial está fora do Brasil e nossas empresas precisam disputar esse
espaço, gerando emprego de qualidade no Brasil e aumentando a escala e a
competitividade da nossa indústria."
Na gestão atual, o
BNDES ainda não financia a exportação de serviços. Para isso, o banco aguarda
aprovação de um projeto de lei que torna as diretrizes desse tipo de
financiamento mais transparentes.
• “Todas as vezes em que o Brasil
conseguiu reduzir juros foram acompanhadas de choques fiscais positivos”, diz
Campos Neto
O presidente do Banco
Central, Roberto Campos Neto, destacou na Lide Brazil Conference, em Londres,
nesta terça-feira, os desafios econômicos enfrentados pelo Brasil e pelo mundo
no cenário pós-pandêmico. Segundo ele, “o mundo pós-pandemia está muito mais
endividado”, com obstáculos fiscais significativos, desinflação em curso, mas
ainda com pressão inflacionária em serviços. Campos Neto explicou que, enquanto
os preços de bens apresentam baixa inflação, o setor de serviços continua
pressionado, algo que precisa ser ajustado.
Ao analisar o contexto
dos Estados Unidos, Campos Neto pontuou que os “pilares do debate econômico são
inflacionários”, com políticas expansionistas e protecionistas em pauta, o que
pode impulsionar ainda mais os preços. Além disso, observou que o discurso
contrário à imigração nos EUA tem o potencial de elevar os custos de mão de
obra, uma situação que pode se traduzir em pressões inflacionárias adicionais.
Para Campos Neto, o
cenário global está ainda mais complexo devido aos “maiores riscos
geopolíticos”, com uma divisão entre blocos econômicos cada vez mais evidente
desde a invasão da Ucrânia. “O Brasil é hoje um dos poucos países do mundo com
indicações de alta na taxa de juros”, ressaltou, contrastando o contexto
interno com a realidade de outros países.
Na análise sobre a
situação fiscal, o presidente do Banco Central lembrou que os países ricos
chegaram a gastar cerca de 22% do PIB durante a pandemia, enquanto os países
emergentes, como o Brasil, despenderam cerca de 10%. Segundo ele, a
produtividade está em queda em várias regiões, inclusive no Brasil, onde a
inflação converge para a meta, mas a mão de obra está “muito apertada” e as
expectativas de inflação seguem desancoradas, o que, segundo ele, preocupa a
instituição.
Campos Neto ressaltou
ainda que, no Brasil, toda tentativa bem-sucedida de reduzir juros esteve
associada a “choques fiscais positivos”, reforçando a necessidade de um
compromisso claro com o ajuste fiscal para que o mercado perceba que o cenário
econômico poderá melhorar. “É muito difícil trabalhar com juros menores sem a
percepção pelo mercado de que o fiscal irá melhorar”, concluiu.
• Gleisi: "o 'choque positivo' de
Campos Neto é corte recursos dos investimentos que fazem o país crescer"
“Campos Neto segue com
suas preleções públicas, algo não recomendado para o cargo que ocupa, ameaçando
com juros ainda mais altos para exigir o suicídio fiscal do governo. O que ele
chama de ‘choque positivo’ é cortar recursos dos investimentos que fazem o país
crescer, dos programas que atendem a população e dos aposentados, para
satisfazer o insaciável mercado financeiro. Que tal dar um choque na Selic,
baixando essa taxa de juros indecente, responsável pelo crescimento da dívida
pública, que é hoje o maior problema fiscal do Brasil?”, declarou a presidente
do PT, deputada Gleisi Hoffmann, ao rebater um comentário do presidente do
Banco Central, Campos Neto, durante o Lide Brazil Conference, em Londres, nesta
terça-feira (29).
Campos Neto ressaltou
na ocasião que, no Brasil, toda tentativa bem-sucedida de reduzir juros esteve
associada a “choques fiscais positivos”, reforçando a necessidade de um
compromisso claro com o ajuste fiscal para que o mercado perceba que o cenário
econômico poderá melhorar. “É muito difícil trabalhar com juros menores sem a
percepção pelo mercado de que o fiscal irá melhorar”.
Fonte: Brasil 247
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