A difícil escolha do Irã: escalar conflito
ou se mostrar fraco frente a Israel?
O ataque de Israel ao Irã agrava a guerra no Oriente Médio. O líder
supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, e seus principais conselheiros têm
diante de si uma série de escolhas difíceis que podem tanto evitar a escalada
de ataques israelenses ou aprofundá-la.
Eles devem decidir
qual será a alternativa possível. Em uma ponta do espectro está contra-atacar
com um novo lançamento de mísseis balísticos. Israel ameaça uma nova série de
ataques se isso acontecer.
Na outra ponta está a
decisão militar de estabelecer um equilíbrio entre os danos sofridos em seu
território e os infligidos na parte israelense. O risco para o Irã se optar
pela contenção é parecer fraco, intimidado e dissuadido pelo poder militar e
determinação política de Israel, que ainda tem o apoio dos Estados Unidos.
No fim das contas, o
líder supremo e seus conselheiros provavelmente tomarão a decisão que ameace
menos a sobrevivência do regime islâmico do Irã.
No domingo (27/10), o
líder supremo do Irã, Ali Khamenei, disse que os ataques aéreos israelenses não
devem "ser minimizados nem exagerados".
Khamenei também
afirmou que Israel fez um "erro de cálculo" sobre o Irã, e que Teerã
deve "corrigir" isso, de acordo com a agência de notícias IRNA.
"Eles não
conhecem o Irã" e "ainda não entenderam corretamente o poder, a
capacidade, a iniciativa e a vontade da nação iraniana. Devemos fazê-los
entender", acrescentou ele.
·
Ameaças vazias?
A mídia estatal
iraniana, nas horas antes e depois dos ataques de Israel, divulgou declarações
desafiadoras que, à primeira vista, sugerem que a decisão de responder já havia
sido tomada.
A linguagem se
assemelha à usada por Israel, citando o direito de autodefesa. Mas os riscos
são tão altos que o Irã pode decidir recuar das ameaças.
Desde o ataque com
mísseis balísticos contra Israel em 1º de outubro, as declarações têm
sinalizado uma resposta hostil.
Uma semana atrás, o
ministro iraniano das Relações Exteriores disse à rede NTV da Turquia que
"qualquer ataque ao Irã será considerado cruzar um sinal vermelho para
nós. Tal ataque não ficará sem resposta".
Horas antes dos
ataques israelenses, o porta-voz do ministério afirmou que "qualquer
agressão do regime israelense contra o Irã será respondida com força
total". Segundo Esmail Baqai, seria "altamente enganoso e
infundado" sugerir que o Irã não responderia a um ataque israelense.
Enquanto a aeronave
israelense retornava à base, o Ministério das Relações Exteriores do Irã
invocou seu direito à autodefesa "conforme previsto no Artigo 51 da Carta
da ONU". De acordo com um comunicado, havia o direito e a obrigação de
responder a atos estrangeiros de agressão.
·
Troca de agressões
Israel estabeleceu o
ritmo da escalada. O Irã é visto como o apoiador crucial dos ataques do Hamas
que mataram cerca de 1.200 pessoas — entre israelenses e mais de 70
estrangeiros — em 7 de outubro do ano passado.
Temendo que Israel
estivesse procurando uma chance de atacar, o Irã sinalizou repetidamente que
não queria uma guerra total com Israel.
Isso não significava
que o país interromperia seus ataques constantes — muitas vezes mortais, mas de
nível mais moderado — contra Israel e seus aliados.
Teerã achou que tinha
uma estratégia melhor do que uma guerra total. Em vez disso, contaram com
aliados iranianos do chamado "eixo de resistência" para atacar os
israelenses.
Os houthis no Iêmen
bloquearam e destruíram navios no Mar Vermelho. O lançamento de foguetes do
Hezbollah do Líbano forçou pelo menos 60 mil israelenses a deixarem suas casas.
Seis meses depois do
início da guerra, a retaliação de Israel forçou libaneses a deixarem suas casas
na região sul, mas Israel se preparou para um ataque ainda maior.
O Hezbollah foi
alertado de que se não cessasse o disparo constante de foguetes haveria uma
resposta.
Quando isso não foi
atendido, Israel decidiu sair de um conflito moldado pela estratégia de guerra
limitada, mas de desgaste, do Irã.
Foi desferido uma
série de golpes poderosos que desequilibraram o regime islâmico em Teerã e
deixaram sua estratégia em frangalhos.
É por isso que, após
os últimos ataques israelenses, os líderes iranianos têm apenas escolhas
difíceis.
Israel interpretou a
relutância do Irã em não se lançar em uma guerra total como fraqueza e aumentou
a pressão tanto sobre o Irã quanto sobre seu eixo de resistência.
O primeiro-ministro
Benjamin Netanyahu e os comandantes de Israel podiam se dar ao luxo de correr
riscos.
Eles tinham o apoio do
presidente americano Joe Biden: uma rede de segurança que veio não apenas na
forma de muita munição, mas com a decisão de enviar reforços marítimos e aéreos
para o Oriente Médio com intuito de manter o compromisso americano de defender
Israel.
Em 1º de abril, um
ataque aéreo israelense destruiu parte do complexo diplomático do Irã em
Damasco, a capital síria. Ele matou um alto comandante iraniano, Mohammed Reza
Zahedi, junto com outros oficiais de alto escalão do Exército dos Guardiães da
Revolução Islâmica.
Os americanos ficaram
furiosos por não terem sido avisados e não terem tido tempo para colocar suas próprias forças em alerta.
Mas Biden não vacilou
em seu apoio no momento em que Israel enfrentava as consequências de suas
ações. Em 13 de abril, o Irã atacou com drones, mísseis de cruzeiro e
balísticos — a maioria abatida pelas defesas de Israel, com considerável ajuda
das forças armadas dos EUA, Reino Unido, França e Jordânia.
Biden aparentemente
pediu a Israel para "cantar vitória", esperando que isso evitasse um
momento ainda mais perigoso na guerra crescente no Oriente Médio. Quando Israel
limitou sua resposta a um ataque a um local de defesa aérea, o plano de Biden
parecia estar funcionando.
Mas Israel tem
repetidamente intensificado a guerra com o Irã e seu eixo de aliados e
representantes.
Os maiores golpes
foram desferidos em uma grande ofensiva contra o aliado mais importante do Irã,
o Hezbollah no Líbano.
Os iranianos passaram
anos construindo o arsenal de armas do Hezbollah como uma parte fundamental de
sua defesa avançada. A ideia era que um ataque israelense ao Irã seria
dissuadido pelo conhecimento de que o Hezbollah atacaria Israel logo depois da
fronteira no Líbano.
Mas Israel agiu
primeiro, implementando os planos que já havia desenvolvido: a explosão de
pagers e walkie talkies que o grupo libanês foi levado a comprar, a invasão do
sul do Líbano e o assassinato do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, um homem
que havia sido um símbolo de resistência desafiadora para Israel por décadas.
As autoridades em
Beirute dizem que a ofensiva de Israel no Líbano matou até agora mais de 2.500
pessoas, exigiu que 1,2 milhão deixassem suas casas e causou enormes danos a um
país que já estava de joelhos por causa da economia em colapso.
O Hezbollah ainda
consegue alvejar soldados israelenses dentro do Líbano e dispara grandes
quantidades de foguetes. Mas está cambaleando após perder seu líder e muito de
seu arsenal.
Diante do quase
colapso de sua estratégia, o Irã concluiu que tinha que revidar.
Se permitisse que seus
aliados morressem no campo de batalha sem esboçar nenhuma reação, sua posição
como líder do eixo anti-Israel e anti-Ocidente na região ficaria comprometida.
Sua resposta foi um ataque de míssil balístico muito maior contra Israel em 1º
de outubro.
Os ataques aéreos da
sexta-feira (25/10) foram a resposta de Israel. Eles demoraram mais do que o
esperado. Vazamentos de planos israelenses podem ter sido um fator.
Israel também está
realizando uma grande ofensiva no norte de Gaza. O chefe de direitos humanos da
ONU, Volker Turk, afirmou que é o momento mais sombrio da guerra de Gaza, com o
exército israelense sujeitando uma população inteira a bombardeios, cercos e
fome.
É impossível saber ao
certo se o momento dos ataques de Israel ao Irã serve para desviar a atenção
internacional do norte de Gaza. Mas pode ter sido parte do cálculo.
·
Interrupção da
escalada
É difícil interromper
sequências de ataques e contra-ataques quando os países envolvidos acreditam
que serão vistos como fracos se não responderem. É assim que as guerras saem do
controle.
A questão agora é se o
Irã está preparado para dar a Israel a última palavra, pelo menos nesta fase da
guerra.
Biden apoiou a decisão
de Israel de retaliar após 1º de outubro. Mas, mais uma vez, ele tentou evitar
uma escalada ainda mais mortal, dizendo publicamente a Israel para não
bombardear os ativos mais importantes do Irã, suas instalações nucleares, de
petróleo e gás.
Ele aumentou as
defesas de Israel ao implantar o sistema antimísseis THAAD. Benjamin Netanyahu
concordou em seguir seu conselho.
As eleições americanas
em 5 de novembro são parte dos cálculos de Israel e do Irã sobre o que acontece
em seguida. Se Donald Trump obtiver seu segundo mandato, ele pode estar menos
preocupado do que Biden em responder à retaliação iraniana.
Mais uma vez, o
Oriente Médio está esperando.
A decisão de Israel de
não atingir os ativos mais valiosos do Irã pode, talvez, dar a Teerã a chance
de adiar uma resposta, pelo menos tempo suficiente para que os diplomatas façam
seu trabalho. Na Assembleia Geral da ONU no mês passado, os iranianos sugeriram
que estavam abertos a uma nova rodada de negociações nucleares.
Tudo isso deve
importar muito para o mundo. O Irã sempre negou que quer uma bomba nuclear. Mas
sua expertise nuclear e enriquecimento de urânio colocaram uma arma ao seu
alcance. Seus líderes devem estar procurando uma nova maneira de deter seus
inimigos. Desenvolver uma ogiva nuclear para seus mísseis balísticos pode estar
na agenda.
¨ Teerã irá responder aos ataques de Israel?
Na noite de sexta para
sábado (26/10), Israel lançou uma série de ataques aéreos contra o Irã. Explosões foram ouvidas em Teerã, a capital do país.
O exército de Israel diz que os ataques foram direcionados
contra alvos militares iranianos — e todos os aviões que participaram da
operação retornaram ao país em segurança.
Segundo as informações
divulgadas, bases militares no oeste e no sudoeste da capital iraniana foram os
alvos. O exército do Irã disse que quatro soldados foram
mortos.
As Forças de Defesa de
Israel declararam que os ataques acontecem como uma resposta aos "meses de
agressões contínuas" do Irã e depois que uma leva de mísseis iranianos atingiram Israel no dia 1º de
outubro.
Os Estados Unidos foram
informados sobre os ataques com antecedência, mas não tiveram nenhum
envolvimento na operação, de acordo com o Pentágono.
No domingo (27/10), o
líder supremo do Irã, Ali Khamenei, disse que os ataques aéreos israelenses não
devem "ser minimizados nem exagerados".
Khamenei também
afirmou que Israel fez um "erro de cálculo" sobre o Irã, e que Teerã
deve "corrigir" isso, de acordo com a agência de notícias IRNA.
"Eles não
conhecem o Irã" e "ainda não entenderam corretamente o poder, a
capacidade, a iniciativa e a vontade da nação iraniana. Devemos fazê-los
entender", acrescentou ele.
A questão agora é se e
como o Irã responderá na prática.
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Possíveis respostas iranianas
Para Jeremy Bowen,
editor de assuntos internacionais da BBC, os ataques israelenses eram
esperados.
Desde a operação com
mísseis balísticos realizada pelo Irã em 1º de outubro, Israel disse que essa
resposta viria.
A questão agora é se o
Irã dará uma nova resposta.
O presidente dos EUA,
Joe Biden, disse a Israel para não mirar em instalações nucleares, de petróleo
ou de gás do Irã. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu seguiu o
conselho no contra-ataque realizado nas últimas horas.
Bowen escreve que os
americanos esperam que o ataque focado apenas em alvos militares possa
persuadir o Irã a não lançar outra leva de mísseis contra Israel.
"É difícil
impedir rodadas sucessivas de ataques e contra-ataques quando os países
envolvidos acreditam que serão vistos como fracos e dissuadidos se não
responderem. É assim que as guerras aumentam e pioram", avalia ele.
"Em 1º de
outubro, o Irã revidava os ataques de Israel a seus aliados — especialmente o
Hezbollah no Líbano. Agora, Israel diz que está respondendo a meses de ataques
contínuos do Irã — não apenas os mísseis balísticos, mas também às ações de
aliados e representantes do Irã."
Bowen lembra que
Israel também realiza uma grande ofensiva no norte de Gaza.
O chefe de direitos
humanos da ONU, Volker Turk, classifica o momento atual como o mais sombrio da
guerra de Gaza — com o exército israelense sujeitando uma população inteira a
bombardeios, cercos e risco de fome.
"É impossível
para alguém de fora saber se o momento dos ataques de Israel ao Irã foi
projetado para desviar a atenção internacional do norte de Gaza. Mas pode ter
sido parte do cálculo", pontua Bowen.
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Irã tem direito de se defender, diz Ministério das Relações Exteriores do país
Representantes do Irã
disseram que o país tem "direito e obrigação de se defender" depois
que Israel lançou ataques aéreos de retaliação contra o país.
Em uma declaração, o
Ministério das Relações Exteriores iraniano condenou o ataque de Israel e o
descreveu como uma "clara violação" do direito internacional.
"A República
Islâmica do Irã se considera com direito e obrigação de se defender contra atos
estrangeiros de agressão", diz o texto, que cita o Artigo 51 da Carta das
Nações Unidas.
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Irã paga o preço pelos ataques recentes, diz Israel
O porta-voz das Forças
de Defesa de Israel (IDF), Daniel Hagari, declarou que o Irã "pagou o
preço" por seus ataques recentes a Israel.
Ele afirmou que Israel
realizou "ataques precisos e direcionados a alvos em diferentes partes do
Irã".
Esses alvos incluíram
instalações de fabricação de mísseis, conjuntos de mísseis ar-terra e outras
capacidades aéreas, detalhou ele.
Hagari afirmou que
Israel selecionou esses locais a partir de um "amplo banco de alvos"
e que seria capaz de "selecionar alvos adicionais e atacá-los, se
necessário".
"Esta é uma
mensagem clara. Aqueles que ameaçam o Estado de Israel pagarão um preço
alto", concluiu ele.
¨ Israel usa espaço aéreo iraquiano controlado pelos EUA para
atacar o Irã, diz Teerã
Autoridades iranianas
devem determinar a melhor forma de demonstrar o poder do Irã a Israel após o ataque
israelense ao território iraniano duas noites atrás, disse o líder supremo do
país, o aiatolá Ali Khamenei, neste domingo (27).
"O mal cometido
pelo regime sionista [Israel] duas noites atrás não deve ser minimizado nem
exagerado", disse Khamenei, citado pela IRNA.
Khamenei acrescentou
que o poder do Irã deve ser demonstrado a Israel e a maneira de fazê-lo deve
ser "determinada pelas autoridades e que aquilo que for do melhor
interesse do povo e do país deve ocorrer".
No sábado, o Irã
minimizou o ataque aéreo noturno de Israel contra alvos militares iranianos,
dizendo que ele causou apenas danos limitados. No entanto, pontuou que Tel Aviv
usou o espaço aéreo iraquiano controlado pelos EUA para conduzir seu ataque.
"Em uma clara
agressão e contra as leis internacionais, aviões de guerra do inimigo sionista
usaram no sábado [26] o espaço aéreo iraquiano que está sob controle do
Exército terrorista dos Estados Unidos para disparar uma série de mísseis de
longo alcance lançados do ar, em direção a uma série de radares de fronteira
nas províncias de Ilam e Khuzestan e ao redor da província de Teerã",
disse o comunicado, acrescentando que os mísseis que foram disparados a 100 km
de distância do espaço aéreo iraniano e tinham ogivas com um peso de um quinto
do peso das ogivas dos mísseis balísticos do Irã.
Também ontem, relatos
da mídia disseram que Teerã, através de um intermediário, disse a Tel Aviv que
"não tem planos de responder a ataques", conforme noticiado.
Neste domingo (27), no
entanto, a agência Tasnim citou o presidente do parlamento iraniano, Mohammad
Baqer Qalibaf, o qual garantiu que a República Islâmica reagirá ao ataque que
tirou a vida de quatro militares iranianos.
Fonte: BBC News Mundo/Sputnik
Brasil
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