terça-feira, 29 de outubro de 2024

América Latina é 'indiferente à ansiedade' dos EUA e região aposta na China

Depois que o Brasil levantou a mão para aderir à Iniciativa Cinturão e Rota, a representante comercial dos Estados Unidos, Katherine Tai, pediu ao país latino-americano que reconsiderasse a decisão.

"A retórica e a ansiedade de Tai não são novas", destaca um editorial do Global Times, onde o analista brasileiro Tiago Nogara lembra que a chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, Laura Richardson, já vem criticando a crescente colaboração entre a China e os países latino-americanos.

"Estas declarações fazem parte de uma estratégia mais ampla dos EUA para reviver a retórica da era da Guerra Fria sob o pretexto de 'uma nova Guerra Fria', ecoando os princípios da Doutrina Monroe e alinhando-se com os esforços dos Estados Unidos para conter a crescente influência da China. Não é surpreendente que esta retórica tenha se intensificado junto com o fortalecimento das relações entre a China e a América Latina", destaca a publicação.

Segundo o jornal, o endurecimento da postura dos Estados Unidos em relação à China tem se tornado cada vez mais evidente e reflete-se na implementação de medidas econômicas mais duras contra o gigante asiático.

Na América Latina, explica, esta estratégia materializou-se através de comentários frequentes de quadros do alto escalão do governo ​​norte-americano que questionam as intenções por trás dos projetos de cooperação da China, muitas vezes acompanhados de acusações de "imperialismo" ou "neocolonialismo" chinês na região.

"Apesar dos esforços dos Estados Unidos, os governos latino-americanos e os seus cidadãos parecem cada vez mais indiferentes a estes apelos, optando em vez disso por fortalecer os laços com a China, o maior parceiro comercial da América do Sul e o segundo maior da América Latina em geral", pondera o especialista, que destaca o fato de mais de 20 países da América Latina e do Caribe já fazerem parte da Iniciativa Cinturão e Rota.

O editorial acredita que os investimentos chineses, particularmente em energias renováveis ​​e infraestruturas, continuam a crescer, impulsionando significativamente o desenvolvimento econômico local.

Da mesma forma, o Global Times afirma ser "irônico que as acusações dos alegados interesses predatórios da China na América Latina venham de Washington, que durante décadas tratou a região como o seu quintal, intervindo rotineiramente para proteger os seus próprios interesses".

Nos anos 2000, a recuperação econômica da América Latina esteve intimamente ligada à sua crescente sinergia com a China, que se tornou um parceiro comercial indispensável que continua a fortalecer-se.

"Como resultado, é pouco provável que as declarações de responsáveis ​​norte-americanos tenham repercussão nos países latino-americanos. As suas afirmações carecem de credibilidade quando comparadas com a cooperação tangível entre a China e a América Latina e não refletem o próprio histórico dos EUA na região. Os laços entre a China e a América Latina foram construídos com base no respeito mútuo e na não interferência", conclui.

¨      Ascensão do BRICS abre caminho para o desenvolvimento global inclusivo

A 16ª Cúpula do BRICS, realizada entre os dias 22 e 24 de outubro em Kazan, na Rússia, marcou um novo passo no desenvolvimento do mecanismo de cooperação do grupo.

O grupo BRICS foi fundado em 2006 por Brasil, Rússia, Índia e China, com a África do Sul ingressando em 2011. Em 1º de janeiro de 2024, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos se tornaram membros plenos.

Apesar de existir uma lista com mais de 30 países que pedem adesão ao BRICS, os líderes do grupo decidiram não admitir novos membros neste momento, mas conceder o status de "Estados parceiros" a determinados países.

Na quinta-feira (24) foi anunciada a lista de 13 países convidados a fazer parte do BRICS como "Estados parceiros": Turquia, Indonésia, Argélia, Bielorússia, Cuba, Bolívia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã, Nigéria e Uganda.

A futura expansão do BRICS seguirá os critérios definidos pelos países membros de "status de parceiros". Será necessário um consenso entre todos os membros para que qualquer país seja admitido no grupo.

Inicialmente um acrônimo para grandes mercados emergentes com considerável potencial econômico, o BRICS evoluiu para um influente mecanismo de cooperação internacional com uma adesão expandida.

Com seus vastos mercados, recursos abundantes e colaborações inovadoras, o grupo continua atraente para muitos ao redor do mundo, especialmente para os países em desenvolvimento.

<><> Força para o desenvolvimento inclusivo

"Quanto mais turbulentos forem os nossos tempos, mais devemos nos manter firmes na linha de frente, exibindo tenacidade, demonstrando audácia para inovar e mostrando sabedoria para nos adaptar", disse o presidente chinês Xi Jinping ao discursar na 16ª Cúpula dos BRICS.

Desde o fim da Guerra Fria, as economias emergentes ampliaram sua influência global ao abraçar a globalização, com o Sul Global agora representando mais de 40% da economia mundial. No entanto, as crescentes incertezas econômicas e mudanças geopolíticas impõem novos desafios aos países em desenvolvimento, destacando a necessidade de cooperação para apoiar o desenvolvimento.

Os BRICS desempenham um papel vital na promoção da cooperação entre nações em desenvolvimento e mercados emergentes. A cooperação prática sempre foi a base do mecanismo dos BRICS. Como Xi já destacou, "os BRICS não são um fórum de debates, mas uma força-tarefa que realiza ações concretas."

Um exemplo disso é o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB). Presidido pela ex-presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, com sede em Xangai, o NDB foi fundado em 2014 por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul para mobilizar recursos destinados a projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em países membros dos BRICS e outras economias emergentes e países em desenvolvimento. Até o final de 2023, o NDB já havia aprovado empréstimos cumulativos de 35 bilhões de dólares para cerca de 100 projetos.

Em uma declaração emitida na cúpula deste ano, os líderes dos BRICS concordaram em desenvolver o NDB como um novo tipo de banco multilateral de desenvolvimento para o século 21, apoiando sua expansão de membros e acelerando a revisão de pedidos de adesão de países dos BRICS de acordo com sua estratégia geral e políticas relacionadas.

Com estruturas industriais complementares e abundância de recursos, os BRICS oferecem uma plataforma importante para que os países membros busquem crescimento econômico inovador, aprimorem a coordenação de políticas macroeconômicas e alinhem suas estratégias de desenvolvimento.

Para promover a abertura e a inovação na cooperação dos BRICS, foi estabelecido um centro de inovação da Parceria BRICS sobre a Nova Revolução Industrial em Xiamen, na província de Fujian, na China. Desde 2023, o centro já realizou mais de 10 cursos de treinamento presenciais, atraindo mais de 100 participantes de mais de 70 países.

<><> Voz por uma ordem global justa

O BRICS se tornou um importante defensor dos países em desenvolvimento no cenário global ao oferecer uma plataforma para que as nações do Sul Global encontrem alternativas às estruturas econômicas lideradas pelo Ocidente e promovam uma governança global mais justa.

Durante as reuniões de quarta-feira (24), os líderes presentes à cúpula em Kazan trocaram opiniões sobre a cooperação do BRICS e questões internacionais cruciais de interesse comum, sob o tema "Fortalecendo o Multilateralismo para um Desenvolvimento e Segurança Globais Justos", colaborando na construção de uma visão de futuro unificado.

Como Xi Jinping disse durante a cúpula: "Devemos trabalhar juntos para transformar o BRICS em um canal principal de fortalecimento da solidariedade e cooperação entre as nações do Sul Global e uma vanguarda para o avanço da reforma da governança global."

Desde sua criação, o BRICS estabeleceram um marco para a cooperação Sul-Sul e a autossuficiência coletiva entre mercados emergentes e países em desenvolvimento, defendendo ao mesmo tempo uma governança global justa. A ampliação de seus membros e o crescente impacto econômico fortaleceram o papel do bloco nos assuntos globais.

Comprometidos com o multilateralismo, os BRICS ampliam as vozes das nações em desenvolvimento e promovem a busca por uma ordem mundial mais equitativa.

 

¨      O encontro do Brics e o parasitismo do dólar. Por Jair de Souza

No recém-realizada 16ª Cúpula do BRICS, em Kazan, Rússia, uma das principais preocupações presentes nos debates e estampadas na resolução final diz respeito à necessidade de se buscar alternativas que nos possibilitem sair da armadilha mortal representada pelo atrelamento do comércio internacional ao dólar dos Estados Unidos.

Para que tenhamos uma compreensão mais bem fundamentada sobre o real significado da atual vinculação dos negócios transnacionais à moeda estadunidense, convém que façamos um breve repasso histórico do surgimento e evolução do modelo que nos aprisiona e nos causa tantos problemas.

Em 1944, pouco antes da já vislumbrada derrota definitiva da Alemanha hitlerista na II Guerra Mundial, as potências que lideravam o campo oposto ao Eixo nazista organizaram um encontro na cidade de Bretton Woods, nos Estados Unidos, para traçar as linhas básicas daquilo que viria a constituir a nova ordem internacional que deveria imperar na nova situação geopolítica que estava se consolidando.

Em função do enorme poderio militar e econômico que os Estados Unidos ostentavam naquele momento, o dólar estadunidense foi alçado à categoria de moeda base para as transações internacionais. Estipulou-se, então, que haveria uma convertibilidade entre o dólar e o ouro.

Em outras palavras, uma nação que possuísse determinada quantidade da moeda estadunidense poderia exigir sua conversão ao equivalente em ouro em qualquer momento. Foi em função de tais condições que o dólar dos Estados Unidos passou a exercer o papel de meio de pagamento referencial para o comércio exterior.

Porém, levando em conta sua enorme hegemonia sobre o conjunto dos países fora do bloco socialista, em 1971, durante o governo de Richard Nixon, as autoridades estadunidenses tomaram a decisão de pôr fim à convertibilidade de sua moeda ao ouro.

Assim, a partir de então, o comércio internacional passou a ser exercido com base em uma moeda fiduciária inteiramente subordinada às determinações arbitrárias das autoridades monetárias dos Estados Unidos.

Sustentada por este mecanismo inteiramente desvinculado dos fatores econômicos reais, a economia estadunidense adquiriu uma faceta de parasitismo como jamais havia sido visto ao longo da história.

Ao lograrem manter a continuidade do dólar como o meio de pagamento padrão sem serem mais obrigados a lastrear suas emissões monetárias em suas reservas reais de ouro, os Estados Unidos já não precisavam se preocupar com a questão de seu déficit orçamentário.

É que, ao final, quaisquer desequilíbrios que viessem a ocorrer acabariam por serem compartilhados, ou, na verdade, transferidos ao conjunto dos países do sistema internacional.

Portanto, bastaria que os Estados Unidos emitissem mais dólares para que suas contas se equilibrassem, ou seja, seriam os outros países os que deveriam arcar com os desajustes causados pelas emissões sem lastre feitas por eles.

Não há dúvidas de que esse instrumento de manipulação financeira tão potente dotou os Estados Unidos com uma capacidade de expansão e fortalecimento de seu poderio sem paralelo em todo nosso planeta. Tudo isso sem depender da força de sua real economia produtiva.

Por isso, os gigantescos custos de instalar e manter bases militares nos pontos de maior relevância de estratégia geopolítica ao redor do mundo puderam ser absorvidos quase sem nenhum sacrifício próprio.

Seriam as restantes nações do mundo as responsáveis por assumir os gastos que os Estados Unidos incorreriam para impor a todos sua incomparável força de intervenção militar.

Como sabemos, há atualmente em torno de 900 bases militares estadunidenses distribuídas por todos os continentes e aptas a entrarem em ação no momento em que os dirigentes dessa megapotência imperialista avaliem que seus interesses geopolíticos estejam correndo algum risco.

E para evitar que algum pontinho remoto do planeta pudesse ter ficado fora do alcance desse gigantesco aparato de dominação e morte, o atual presidente nazifascista da Argentina, Javier Milei, já ofereceu a seus tutores estadunidenses a possibilidade de instalar outra base na região da Antártida.

Em conseqüência, é esta gigantesca estrutura militar que serve como o principal pilar de sustentação para que o parasitário capital financeiro estadunidense siga tendo enormes ganhos sem precisar realizar nenhuma atividade econômica de utilidade real.

E para garantir que esse monstruoso mecanismo de intervenção consiga subsistir, é imperativo que o dólar estadunidense continue desempenhando o papel de moeda padrão no comércio entre as diferentes nações.

É evidente que os Estados Unidos não têm nenhuma possibilidade de bancar os custos de todo esse aparato com base na produção efetiva de sua já combalida e ultrapassada estrutura econômica.

Além do mais, no esquema atual, todo o sistema financeiro fica à mercê dos desígnios dos controladores da moeda.

Com isso, as penalizações, boicotes, confiscos e desapropriações (roubos) podem acontecer a qualquer instante, deixando os países menos potentes inteiramente submetidos às arbitrariedades daqueles que dominam as instituições reguladoras do dólar.

Para deixar patente que não estamos nos referindo a uma mera hipótese, vamos trazer à memória os acontecimentos recentes em que várias nações foram literalmente roubadas de seus patrimônios por meio de ações arquitetadas através dessas instituições financeiras subordinadas aos emissores da moeda: é o caso do ocorrido com a Líbia há pouco mais de uma década, com o Irã e, mais recentemente, com a Venezuela e com a Rússia.

Então, embora à primeira vista possa parecer algo de pouca relevância, a manutenção do atrelamento ao dólar do sistema de compensações de pagamentos internacionais se trata, na verdade, de uma condição indispensável para que os Estados Unidos continuem a exercer sua hegemonia de grande potência no cenário mundial.

Por isso, pôr fim a tal descalabro equivale a desferir um violento golpe às aspirações estadunidenses de se manterem no comando geopolítico do mundo através da sucção dos recursos dos demais países, em especial dos que compõem a periferia do capitalismo.

Parafraseando o anterior de uma maneira mais coloquial, “para que não continuem sugando o sangue das nações periféricas”.

Contudo, se abandonarmos o dólar como a moeda padrão no comércio exterior, o que vamos utilizar em substituição?

Bem, a resposta a isto não é tão simples de se efetivar como poderia parecer. Mas, as possíveis alternativas podem e devem surgir dos debates que venham a ser travados por aqueles nos diferentes países que sintam a necessidade de solucionar esta questão.

Podemos imaginar que, numa primeira etapa, surja uma moeda contábil derivada de uma ponderação entre as diferentes moedas nacionais dos atuais países integrantes do BRICS, por exemplo.

Seria uma maneira de permitir que as transações realizadas entre os integrantes e associados a este bloco se orientem por esta ponderação contábil derivada de suas moedas nacionais.

Com o avançar do processo, as coisas devem ir se ajustando e se corrigindo, até que vingue uma alternativa que demonstre ser realmente a mais apropriada e adequada para se tornar o novo padrão efetivo do comércio internacional.

O que realmente não dá para aceitar é que não se questione o atual esquema de parasitismo que impera devido ao uso do dólar para tal função.

 

¨      Biden aprova controversa mina nos EUA a fim de quebrar domínio chinês de lítio para carros elétricos

Os esforços do governo Biden para estabelecer as bases para uma cadeia de suprimentos de veículos elétricos que não dependa da China levaram à construção da primeira nova mina de lítio norte-americana em seis décadas.

Os Estados Unidos aprovaram na quinta-feira (24) a construção de uma nova e enorme mina de lítio em Nevada e estenderam incentivos fiscais a algumas mineradoras. A Ioneer, sediada na Austrália, planeja minerar lítio e boro em Rhyolite Ridge no que o CEO Bernard Rowe chamou de a primeira produção simultânea em larga escala dos dois minerais do mundo.

De acordo com o Financial Times, Rhyolite Ridge é a primeira aprovação de uma mina de lítio pelo governo Joe Biden, que ofereceu à Ioneer um empréstimo de US$ 700 milhões (R$ 3,9 bilhões) para ajudar a construir um projeto que quadruplicaria a produção de lítio do país norte-americano quando concluído em 2028.

Desde 2002, apenas três minas dos EUA entraram em operação para minerais essenciais, nenhuma delas localizada em terras públicas.

"O projeto da mina de lítio Rhyolite Ridge é essencial para promover a transição para energia limpa e impulsionar a economia do futuro", disse Laura Daniel-Davis, secretária adjunta interina do Departamento do Interior, em um comunicado.

No entanto, ativistas ambientais sustentaram que a mina ameaçaria a sobrevivência do trigo-sarraceno de Tiehm, uma flor silvestre rara de Nevada que eles descreveram como "um elemento fundamental do ecossistema local".

"Ao dar sinal verde para esta mina, o Bureau of Land Management está abandonando seu dever de proteger espécies ameaçadas de extinção", disse Patrick Donnelly, diretor da Great Basin para o Center for Biological Diversity, em uma declaração. "Precisamos de lítio para a transição energética, mas isso não pode vir com um preço de extinção", afirmou.

Também foram levantadas preocupações sobre os impactos do projeto nos recursos hídricos da área, que sustentam carneiros selvagens do deserto e veados-mulas — animais que as tribos Western Shoshone caçam ao longo da história.

A mina e uma estrada de acesso juntas abrangerão cerca de 2.899 hectares de terra. Espera-se que o projeto inclua 17 anos de extração de lítio.

 

Fonte: Sputnik Brasil/Viomundo/Fórum

 

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