terça-feira, 29 de outubro de 2024

Arnóbio Rocha: O papel da esquerda sem discurso no mundo disruptivo

A esquerda e seu papel no mundo em chamas!

Para muito além dos resultados eleitorais nos últimos 15 anos, em especial com as mudanças advindas da crise mundial de 2008 e seus efeitos para a vida humana, as questões das urgências climáticas, mais ainda dos direitos fundamentais, trabalhistas e humanos. Esse artigo procura discutir o papel da esquerda nessa nova realidade do planeta.

A esquerda tem que se atualizar, é mandatório, não porque pretensamente se diz que a luta de classes acabou, que não há mais patrões e empregados, ao contrário, a exploração aumentou de forma acentuada, é muito maior, o tempo de trabalho não pago cresceu, a introdução de alta tecnologia, diminuiu as funções, a necessidade de grandes concentrações produtivas, mesmo na circulação, o que potencializa os lucros e a exploração humana, especialmente os mais especializados.

Os fenômenos de transformação do capitalismo, principalmente no início dos anos de 1970, com a introdução de tecnologias mais avançadas, fruto da microeletrônica e do desenvolvimento das ciências físicas, química, biológicas, eletrônicas (Telecomunicações, Eletricidade e Informática), elevaram a produtividade e uma modernização da vida como jamais vista, o colapso do leste, se deu exatamente, do ponto de vista econômico, de não ter como enfrentar uma realidade tecnológica maior e mais azeitada.

Nesse sentido, a adoção pelos países centrais do Estado de Bem-estar Social foi fundamental no embate ideológico com o Leste, mas também pela concentração de investimentos, com algumas vezes com similaridade com as economias do Leste, por exemplo: A forte presença estatal na economia, planejamento, direitos sociais e trabalhistas, previdência, aposentadoria, educação e saúde, públicas, isso por um largo período, quase 80 anos (1929-2008), as conquista o fez “vencedor” ideológico sobre o Leste Europeu.

A queda do muro de Berlim foi carregada por um enorme simbolismo e significado histórico, porque ali todas as forças represadas se liberaram, não apenas para experiência do Lesto, mas principalmente para o capitalismo, um mundo quase unipolar surgiu, com o império dos EUA como senhor do mundo, mesmo a formação da União Europeia (UE) consolidada em 2001, não fez frente ao poderio de Washington e sua máquina de guerra e poder.

Entretanto, uma nova ruptura no seio capitalismo se fez decorrente da Crise 2005-2008, com a queda do muro de Wall Street, em razão da, talvez, a maior crise de superprodução de Capital da história, abriu a possibilidade de uma reorganização, ainda incompleta, do Capital, tanto econômica, quanto superestrutural.

O capitalismo passa por uma enorme mutação de suas formas de exploração, piorando as condições de vida humana com o fim real do welfare state, além de criar um aparente vazio político. A esquerda derrotada em 1989, não se ergueu ainda e não encontrou seu eixo, sua estratégia de ruptura ou mesmo de adaptação tática ao SISTEMA, nem mesmo consegue entender o que são essas novas formas de exploração e  suas formas jurídicas e políticas de Estado.

A expulsão de amplas massas do mercado mais sofisticado, com melhores benefícios e salários, cria vários estamentos dentro da classe trabalhadora, não mais como elemento fabril, mas como a classe transmutou-se, o que obriga a esquerda a não repetir fórmulas batidas ou tentar justificar seus limites políticos e ideológicos, criando culpados, como no baixo nível de consciência e identidade de classe, ao  contrário, compreender essas mudanças, deveria ser a solução de enfrentamento necessário e a razão de um programa para superar o capitalismo.

Essa fragmentação da Classe Trabalhadora, sua precarização, uberização, formas mais desumanas de exploração, voltando jornadas de trabalho mais longas e cansativas. A confusão ideológica se acentua, a ação política do capital sobre a classe, cria uma ideia invertida de que seja donos de si e de seus trabalhos, não percebendo efetivamente que a essa nova lógica de exploração, não lhes deu a autonomia, nem viraram “patrões de si”.

A extrema-direita aparece em cena justamente com a Crise, o fim do Estado de Bem-estar Social lhes deu discurso, de que o “Sistema” não funciona, que precisa ser quebrado. Mas no fundo ela, a Extrema-Direita representa apenas os novos donos do Capital, uma parcela ainda menor e mais concentrada da riqueza, da ostentação, que não precisam mais de freios morais, éticos, de expressarem seu ódio de classe, suas vidas nababescas e disruptivas, na aparência, a extrema-direita luta contra o sistema, em essência, legitima esse novo Poder.

Sem embargos, nem ilusões, a alta tecnologia se tornou o motor da mais catastrófica mudança da humanidade, além de incrementar e potencializar mais exploração, ela ser de veículo ideológico, político, de coesão e coerção, para uma hegemonia do Capital, como poucas vezes visto.

Os avanços em algoritmos, a introdução da IA e da super concentração de poder das Big Techs, são formas de imposição e de fronteiras de quebra de paradigmas para formação humana, padrão cultural, educacional, na natureza, do clima, de soberania nacional e de unidades políticas autônomas.

Por fim, a esquerda, que foi e é tão fundamental para a existência humana precisa se reconectar ao mundo e suas mudanças dramáticas que põem em risco a vida na terra. Precisa se reafirmar como fonte de vida e dignidade, para que o planeta sobreviva ao caos, não é apenas a Barbárie que assusta, mas a escravidão não mais pelo contrato formal de trabalho, mas os grilhões tecnológicos, a dominação completa, vigiada e prisões digitais.

Em conclusão, não se trata de dominar ou não as ferramentas da internet, das Redes Sociais, algoritmos, IA, aplicativos, mas há uma falta de resposta política para as necessidades do momento, isso se reflete nas urnas, nos bairros, na religião, no debate na sociedade. Falar ao vento morte, fim, crise permanente, não ajudará a esquerda a encontrar novo discurso e de como intervir neste novo cenário disruptivo.

 

¨      A destruição do Estado social. Por José Carlos de Assis

Vem por aí mais um “pacotaço” dos ministros Hadadd e Tebet para que se dê outro passo na direção da liquidação completa do Estado social brasileiro mediante cortes, ainda mais profundos que os anteriores, no orçamento primário da União. Será a repetição de tentativas fracassadas nos últimos dez anos de equilibrar o orçamento primário do Governo. Com isso, acaba recaindo sobre o presidente Lula o peso político de medidas tão absurdas como a de cortes anunciados nos benefícios de prestação continuada, atingindo as parcelas mais vulneráveis do povo.

Sinceramente, não vejo saída para essa tragédia nacional. O orçamento primário, onde aparecem todas as despesas de interesse público, além dos investimentos fundamentais do Estado em infraestrutura, deve ficar, no próximo ano, em cerca de R$ 2,2 trilhões, contra R$ 3,6 trilhões do orçamento financeiro. Só de juros sobre a dívida pública devemos pagar cerca de R$ 1 trilhão. Contudo, para se enquadrar no “arcabouço fiscal”, o governo está cortando gastos no primário, que já está esmagado pelo financeiro. E o principal sacrificado é o povo humilde!

A saída para essa situação, que se soma às catástrofes climáticas extremas que devem ser enfrentadas com inevitável aumento de despesas do orçamento primário nos próximos anos, vai recolocar a questão dos cortes orçamentários num nível superior. O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, deu ao presidente Lula uma saída institucional para escapar do “arcabouço” e de tentativas de impeachment. Autorizou o Executivo a editar e mandar ao Congresso medidas provisórias à margem da meta fiscal acima de 0,25% do PIB.

Embora isso salve Lula do destino de Dilma, que teve de recorrer a expedientes junto a fundos de bancos públicos para contornar restrições fiscais - e que, por isso, foi deposta pelo Centrão e os conservadores-neoliberais chefiados por Michel Temer e Eduardo Cunha -, o “mercado”, indiferente às vítimas dos desastres climáticos, ficou enfurecido com o Ministro porque sabe que sua decisão terá efeito sobre a economia real como um todo, independentemente da formalidade fiscal.

De fato, a autorização de despesas extraorçamentárias para enfrentar ou nos adaptar a desastres climáticos não evita seus efeitos sobre o conjunto da economia. A demanda vai aumentar, por causa das despesas com reconstrução ou reposição de ativos de empresas e famílias, e, se não houver uma contrapartida de aumento da oferta ou de importações, haverá um desequilíbrio no mercado, com risco de inflação. Para evitar isso, seria necessário que os empresários fossem estimulados a investir, o que está limitado pelas taxas de juros estratosféricas impostas pelo Banco Central - cujo aumento na próxima reunião para fixar a Selic o Bradesco, ditando a futura decisão do Copom, já antecipou em 0,5 ponto percentual.

Temos, portanto, uma política econômica invertida em relação ao que deveria e poderia ser. A obsessão com o equilíbrio (ou superávit!?) do orçamento primário, mediante cortes sucessivos nele, trava o desenvolvimento do país a altas taxas. Déficit primário não causa aumento do custo de vida e da inflação, a não ser que não haja contrapartida de investimentos responsáveis do Estado e incentivos ao setores privados para produção alimentar e de bens e serviços de consumo popular. Havendo aumento do investimento e da produção, a oferta desses itens acompanha dinamicamente a demanda, e a inflação se estabiliza.

Superávit primário é outra estupidez absoluta, recomendada apenas pelos que ignoram os rudimentos da economia. Uma vez aplicado, ele retira recursos públicos e privados do circuito econômico, reduz a liquidez e a demanda, e provoca deflação e queda do PIB. Portanto, nos casos de equilíbrio ou de superávit fiscal, quem sai ganhando são os barões do mercado financeiro especulativo, que desviam para ele seus investimentos produtivos diante de demanda real insuficiente.

Qualquer economista, mesmo que alinhado ao conservadorismo-neoliberal, sabe perfeitamente de tudo isso. O problema é que ele defende interesses próprios e de seus patrões da oligarquia econômica, principalmente financeira, e não os interesses da nação e do povo. Isso fica por conta dos desenvolvimentistas. Mas os desenvolvimentistas, supostamente favoráveis ao interesse público, não têm meios econômicos e políticos para defender suas propostas. Na verdade, são uma minoria insignificante no Congresso, e nada indica que isso mude em 2026, qualquer que seja o destino de Lula.

Diante disso, e independentemente da razão econômica, teremos de continuar tolerando as medidas de equilíbrio do orçamento fiscal similares às que estão sendo preparadas, assim como as do aumento da taxa de juros, enquanto uma guerra generalizada, uma convulsão social ou uma sucessão de desastres climáticos extremos não impuserem, como um desafio imposto pela realidade, uma inversão da política econômica brasileira.

Na verdade, estamos vivendo sob a ditadura do Capital financeiro especulativo, que subordinou o Estado a seus interesses num grau ainda mais elevado do que fez o velho Capital selvagem dos séculos XIX e princípios do século XX. Antes, para produzir bens e serviços e lucrar, o Capital produtivo havia se aliado ao Estado “apenas” para controlar os trabalhadores. Agora está migrando para a especulação financeira, dispensando trabalhadores, aumentando o desemprego formal e trazendo o Estado para uma aliança espúria contra os interesses da sociedade.

A base dessa aliança são a política fiscal e a política monetária. Com a cumplicidade do Banco Central, o Capital financeiro expropria diretamente o Tesouro mediante suas operações no mercado aberto, em especial as chamadas “operações compromissadas” que rendem juros ao dia (Selic, acima da inflação oficial) sobre reservas bancárias. Assim, com a simples troca de sinais eletrônicos com o Bacen, e sem nenhum trabalho, os barões do Capital financeiro se apropriam diariamente de parte significativa da renda nacional, ao mesmo tempo em que dispensam milhões de trabalhadores.

O Estado complementa o processo retirando direitos sociais dos trabalhadores para sobrar mais recursos para a especulação financeira. Foi o que aconteceu com as reformas Previdenciária e Trabalhista. E é o que acontece agora, com os cortes anunciados no orçamento primário. O pretexto é a necessidade de equilíbrio fiscal e de uma alta da taxa de juros para estabilizar a inflação. Esses são fetiches que apenas refletem a ideologia da classe dominante. Na ordem capitalista universal atual, agravada no Brasil, a ideologia dominante é a ideologia do Capital especulativo, martelada diariamente na grande mídia. Não se sabe aonde isso vai dar!

 

¨      A prosperidade segundo Jesus. Por Jair de Souza

Ultimamente, a questão da busca e alcance da prosperidade ganhou enorme relevância no debate que permeia os círculos de seguidores de várias ramificações de igrejas que se dizem cristãs.

Antes de tecer qualquer argumentação sobre qual é nosso entendimento do significado do termo “prosperidade”, convém deixarmos suficientemente claro que ninguém, sob nenhuma hipótese, jamais deveria ter como seu objetivo o de chegar à pobreza, ou nela permanecer. Em outras palavras, a miséria e a carência nunca deveriam servir como metas para nenhum ser humano.

Feito este esclarecimento, vamos tratar de avançar rumo ao que de fato nos interessa: definir nossa compreensão do que vem a ser a tal prosperidade e como alguém que se sinta e deseje manter-se vinculado aos compromissos de Jesus deve se empenhar para conquistá-la.

Como pudemos constatar pelas referências feitas por vários dos candidatos que disputaram as recém concluídas eleições municipais brasileiras, há quem entenda que a prosperidade é atingida quando o indivíduo dá mostras de haver acumulado um significativo patrimônio em recursos financeiros e materiais. Assim, segundo esta lógica, quanto mais expressivo for o patrimônio angariado, maior e mais intensa terá sido a bênção recebida de Deus por este indivíduo.

É inegável que a lógica mencionada no parágrafo anterior é perfeita e inteiramente congruente com as expectativas daqueles que controlam grandes fortunas e não desejam que haja mudanças nas estruturas sociais. Sendo assim, quem é rico teria todo o direito e a justificativa para ostentar sua riqueza, pois recebeu as bênçãos de Deus para que gozasse dessa condição. Por sua vez, o pobre se encontraria em situação inversa, não tendo sido abençoado e, portanto, não fazendo por merecer a prosperidade. Caberia a ele encontrar formas para cair nas graças de Deus e, com isto, também começar a prosperar.

Por isso, é muito compreensível que os capitalistas e seus admiradores se apeguem a esta visão de prosperidade, já que é uma maneira de isentá-los por completo de quaisquer responsabilidades pelas mazelas sociais existentes. No entanto, o que me parece indigno e monstruoso é tentar defender esse ponto de vista fazendo alusão a Jesus. É que esse tipo de pensamento é um verdadeiro crime contra o que o legado de vida de Jesus significa.

Sem necessidade de nos apegarmos a nenhuma referência de cunho religioso, não há dúvidas de que tudo na vida de Jesus sempre o mostrou indissoluvelmente associado às preocupações com as condições de vida das maiorias populares. Se nos resulta fácil localizar e citar episódios dos relatos de sua vida em que Jesus dá mostras de sua opção preferencial pelos mais carentes, é-nos muito difícil, ou mesmo impossível, detectar alguma passagem em que ele apareça reconhecendo que a posse de riquezas materiais seja uma dádiva divina.

A menos que se esteja imbuído de imensa perversidade e má fé, não há nenhuma possibilidade de tomar os exemplos de conduta de Jesus e seus ensinamentos como posicionamentos que induzam ao individualismo egoísta. A verdade vai exatamente no sentido contrário disto. Para Jesus, a sinceridade de seus seguidores será tanto mais verdadeira quanto menos individualistas eles forem. Em outras palavras, as lições que podem ser extraídas dos exemplos por ele dados nos levam necessariamente a pensar no mundo de forma coletiva. Para Jesus, era fundamental que todos nos dedicássemos à luta para pôr fim ao estado de miséria e penúria. Mas, não apenas para cada um de nós de maneira isolada, e sim tendo sempre em consideração o conjunto da humanidade.

Além do mais, se nos conduzimos pelo sentimento emanado de Jesus, vamos concluir que a prosperidade que almejamos não se restringe a nosso alcance do gozo de bens materiais. O principal é que estejamos dispostos a travar a luta para que a justiça, a dignidade e o bem-estar beneficiem não apenas a nós mesmos, e sim a todos. Portanto, um dos pontos cruciais desta filosofia é a convicção de que as riquezas geradas devem ser distribuídas de maneira justa, para que ninguém fique excluído. É tão somente quando temos consciência de que estamos atuando com este propósito que podemos ter certeza de que estamos no caminho da busca da prosperidade almejada por Jesus.

O caso mais exemplar da validade do que foi mencionado no parágrafo anterior nos é dado pela trajetória percorrida pelo próprio Jesus, que passou toda sua vida sem nada ostentar em termos de riquezas materiais. Porém, a determinação com a qual ele se pôs a lutar para que os mais carentes pudessem viver com dignidade o tornou o símbolo maior da luta daqueles que diferenciam a verdadeira prosperidade do mero egoísmo.

Em resumo, para quem pretende levar Jesus no coração, a prosperidade representa nosso empenho em fazer crescer as riquezas, mas com o comprometimento de atuar com o espírito do compartilhamento, da fraternidade e da solidariedade, com a aspiração de servir aos que mais precisam de nossa ajuda. Por isso, apesar de que Jesus não era proprietário de quase nada quando ele foi executado, poucos ao longo da história podem ser apontados como tendo sido tão prósperos em humanitarismo como ele foi.

 

Fonte: Brasil 247

 

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