O que são reações e efeitos adversos dos
medicamentos?
Eventos, reações e
efeitos adversos dos medicamentos podem parecer a mesma coisa, mas, na verdade,
são conceitos diferentes utilizados principalmente na farmacovigilância, um
conjunto de procedimentos relacionados à detecção, avaliação, compreensão e
prevenção de reações adversas a medicamentos ou outros problemas com fármacos.
Quando há suspeita de eventos adversos, é preciso notificar a empresa farmacêutica
ou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
• O que são os medicamentos?
Os medicamentos são
produtos farmacêuticos tecnicamente obtidos ou elaborados, com finalidade
profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico segundo a
definição da Anvisa. São diferentes de remédios pois são elaborados em
laboratório e possuem toda uma regulação para serem comercializados e podem ser
obtidos nos seguintes tipos: de referência, similar ou genérico.
• Qual a diferença entre fármaco e droga?
Apesar de também
usados como sinônimos, os fármacos são considerados medicamentos, enquanto a
droga, na maioria das vezes, é vista como um tipo de substância que afeta
negativamente o organismo.
• O que são eventos adversos relacionados
a medicamentos?
Efeitos adversos se
referem a um resultado negativo ou prejudicial que parece estar associado ao
tratamento – isso inclui a ausência de efeitos.
Já os eventos adversos
a medicamentos (EAM) se referem a qualquer ocorrência negativa prejudicial que
ocorre durante ou após o tratamento, podendo estar associada ou não a um
medicamento.
O conceito de eventos
adversos é amplo e abarca diversas situações:
• Suspeita de reações adversas a
medicamentos;
• Eventos adversos por desvios da
qualidade de medicamentos;
• Eventos adversos decorrentes do uso não
aprovado de medicamentos;
• Interações medicamentosas;
• Inefetividade terapêutica, total ou
parcial;
• Intoxicações relacionadas a
medicamentos;
• Uso abusivo de medicamentos;
• Erros de medicação, potenciais e reais.
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Reações adversas a medicamentos
As reações adversas a
medicamentos (RAM) são tipos de efeitos adversos. Toda reação adversa é um
evento adverso, mas nem todo evento adverso é uma reação adversa.
De acordo com o
glossário de termos de farmacovigilância, reação adversa a medicamentos (RAM) é
um efeito prejudicial suspeito de ser causado por um medicamento.
Esse problema tem
consequências diversas. Estudos norte-americanos mostraram que as reações
adversas graves estão entre as dez principais causas de morte nos Estados
Unidos. Além disso, elas são responsáveis por uma elevada carga financeira dos
sistemas de saúde.
• Eventos adversos por desvios da
qualidade de medicamentos
Os efeitos adversos
dos medicamentos podem ser causados pela qualidade do remédio. Em algum
momento, a eficácia pode não ser a mesma ou pode haver alguma alteração na
fórmula. É preciso investigar e, ao passar por algum efeito adverso, comunicar
à Anvisa.
A Anvisa valoriza
fortemente a avaliação de medicamentos a partir de três pontos: segurança,
eficácia e qualidade do produto. Por isso, é realizado o monitoramento de
medicamentos para coletar informações e entender seus eventos adversos. No
Portal da Anvisa, é possível acessar o Notivisa e relatar informações de alguma
situação de efeitos dos medicamentos.
• Eventos adversos decorrentes do uso não
aprovado de medicamentos (off-label)
Quando o medicamento é
utilizado em situações diferentes das que ele é indicado e que constam na bula,
trata-se de um uso não aprovado do medicamento, também chamado de uso
off-label. Isso traz riscos de ocorrência de efeitos adversos, bem como
inefetividade.
• Interações medicamentosas
Interação
medicamentosa é um evento que pode ocorrer entre um medicamento e outro, entre
medicamentos e alimentos ou medicamentos e drogas (como álcool e cigarro).
Algumas substâncias,
como os antiácidos, podem interagir com outros medicamentos e alterar as taxas
de dissolução e absorção. Por isso, ao receber uma nova receita, é fundamental
informar ao profissional se já estiver utilizando outro medicamento.
• Inefetividade terapêutica, total ou
parcial
A inefetividade
terapêutica acontece quando os medicamentos não exercem os efeitos esperados.
Isso pode acontecer por problemas com a síntese do fármaco ou mesmo pela
administração do medicamento ao paciente. Como ela está relacionada à ausência
ou diminuição de efeito, é considerada um efeito adverso.
Um dos motivos comuns
da inefetividade terapêutica dos medicamentos é o prazo de validade.
Medicamentos fora de validade podem apresentar possíveis alterações na
composição química resultantes do armazenamento da embalagem de remédio. De
acordo com a agência estadunidense Food and Drug Administration (FDA), tomar
remédio vencido, como antibióticos, pode prejudicar o tratamento de infecções,
levando a doenças mais graves e resistência ao medicamento.
• Intoxicações relacionadas a medicamentos
A intoxicação por
medicamentos é um grande problema no Brasil. Segundo uma pesquisa, entre os
anos 2010 e 2017, foram notificados 565.271 casos de intoxicação, sendo que
298.976 – o equivalente a 52,8% – tiveram o medicamento como agente tóxico.
A intoxicação pode
levar a diarreia, vômitos, tontura, mudança de comportamento e também pode ser
letal. Dentre suas principais causas está a automedicação, um costume presente
entre os brasileiros que consiste em tomar remédios sem as orientações de um profissional
especializado para isso.
Uma pesquisa,
realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), constatou que a
automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros. Quase metade (47%) se
automedica pelo menos uma vez por mês.
Outra pesquisa
realizada pelo Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação (ICTQ), em 2018, mostra
que 68% das recomendações de medicação são de familiares, 41% de amigos, 27% de
vizinhos e 48% de balconistas de farmácia.
• Uso abusivo de medicamentos
O uso abusivo de
medicamentos pode ter diversos efeitos negativos à saúde. No relatório anual de
2013, a Junta Internacional de Fiscalização a Entorpecentes (JIFE) divulgou um
alerta sobre o uso de drogas, ressaltando que o abuso de medicamentos é uma
grande ameaça à saúde pública.
Em 2019, o relatório
incentivou os governos a colaborarem com as autoridades de saúde pública,
farmacêuticos, médicos, fabricantes, distribuidores e associação de proteção ao
consumidor a fim de conscientizar o público sobre os riscos associados aos medicamentos
prescritos e adotar as medidas adequadas para reduzir seu uso indevido.
Uma classe de fármacos
que merece atenção em relação ao uso abusivo são os antibióticos. Quando os
antibióticos são usados inadequadamente, eles se tornam menos eficazes contra
determinados tipos de bactérias, que acabam melhorando suas defesas, resultando
em superbactérias. Esses organismos resistentes são uma preocupação de diversos
especialistas e organizações, pois traz o risco de uma crise de resistência a
medicamentos.
• Erros de medicação, potenciais e reais
Erros de medicação,
segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), são responsáveis por pelo menos
uma morte por dia em todo o mundo. Eles estão relacionados à prática
profissional e também a problemas com informação e comunicação, tais como:
• Falta de informações detalhadas sobre o
paciente;
• Falta de informação atualizada sobre o
medicamento;
• Falhas de comunicação entre
profissionais de saúde;
• Instruções de uso do medicamento
passadas ao paciente de forma inadequada ou pouco clara;
• Problemas nos rótulos e embalagens de
medicamentos.
Os erros podem estar
relacionados, ainda, a fatores ambientais, como baixa luminosidade.
Diante disso,
organizações e profissionais têm se esforçado para adotar procedimentos e
minimizar esses erros. O National Coordinating Council for Medications Error
Reporting and Prevention (NCCMERP) elaborou um instrumento que tem servido de
base para estudar as causas dos erros de medicação em alguns países. É uma
espécie de taxonomia de erros que permite que as unidades de saúde saibam
avaliar, classificar e corrigir as falhas.
Junto às unidades de
saúde, organizações e especialistas, os consumidores também precisam se
empenhar. Cuidar da saúde é um passo importante, pois previne a necessidade do
uso de medicamentos. Quando necessário, o uso deve ser feito sem exageros e
automedicação, para evitar intoxicações e outros eventos adversos.
Além disso, em
qualquer suspeita de eventos adversos, é preciso notificar a empresa
farmacêutica ou a Anvisa. Existe uma equipe de farmacovigilância que cuida
especificamente desse assunto em cada indústria farmacêutica.
• O que são efeitos colaterais
relacionados a medicamentos?
Os efeitos colaterais
dos medicamentos são não intencionais, mas previsíveis ao uso dos fármacos.
Eles podem acontecer diante do consumo de doses normais e recomendadas e não
estão relacionados à finalidade do medicamento.
Diferentemente dos
efeitos adversos, os efeitos colaterais podem ser prejudiciais, benéficos ou
neutros. No tratamento da diabetes, por exemplo, um efeito colateral do
medicamento pode levar à perda de peso. Entretanto, eles variam de acordo com o
propósito e a composição do fármaco e são, na maioria das vezes, listados na
bula. Lembre-se de utilizar medicamentos apenas por recomendação médica.
As reações adversas,
embora similares aos efeitos colaterais no sentido de não serem intencionais,
são negativos e prejudiciais à saúde. De acordo com a Organização Mundial da
Saúde, as reações adversas são uma resposta prejudicial e não intencional a um
medicamento.
• Quais os cuidados da enfermagem na
administração de medicamento?
Existem algumas
práticas de cuidados com os medicamentos que podem evitar o aparecimento de
alguns efeitos adversos, além de garantir a segurança, como cuidados extras
durante o armazenamento e consumo dos fármacos. Entre eles estão:
• Otimize seu armazenamento deixando sua
caixa de remédio (aquela sua farmácia particular) sempre organizada. Mantenha
os medicamentos em suas respectivas caixas, em local seco e longe da luz;
• Evite a automedicação;
• Só tome água com o remédio, outros
líquidos – mesmo sucos e refrigerantes – podem afetar a eficácia dos compostos
e impactar o tratamento;
• Se possível, só reparta comprimido com
indicação médica — os medicamentos são desenvolvidos para serem absorvidos pelo
melhor local e, aos poucos, o revestimento de cada comprimido irá resistir ou
não ao suco gástrico do estômago para chegar ao intestino, onde é melhor
absorvido, e liberar o princípio ativo lentamente;
• Não consuma fármacos falsificados e
vencidos — mesmo medicamentos vencidos há 2 meses podem afetar negativamente a
saúde;
<><> Como
descartar remédios?
E como descartar
remédios? O processo de descarte de medicamentos é importante para evitar tanto
seu consumo indevido, que pode resultar em efeitos adversos, tanto para reduzir
os impactos ambientais derivados do seu desuso incorreto. Ele é feito a partir
de uma separação das embalagens primárias e secundárias. Confira seu passo a
passo:
1. Separe as caixas de medicamentos (as
caixinhas de papel que acompanham blisters, fracos e vidros), em conjunto com
as bulas e, após inutilizá-las para evitar sua reutilização por pessoas má
intencionadas, encaminhe-as para a reciclagem — essas são as embalagens
secundárias e não apresentam riscos para a saúde e o meio ambiente;
2. As embalagens primárias (blisters,
frascos e vidros, como os recipientes de xarope) deverão ser deixadas em pontos
de descarte de medicamentos, que podem ser encontrados em farmácias e drogarias
populares, hospitais e Unidades Básicas de Saúde (UBSs).
• Resíduos perfurocortantes
Alguns pontos de
coleta de remédio não aceitam produtos como perfurocortantes, que são resíduos
do Grupo E. De acordo com o artigo 86, da resolução 222/2018 da Anvisa, “os
materiais perfurocortantes devem ser descartados em recipientes identificados,
rígidos, providos com tampa, resistentes à punctura, ruptura e vazamento“.
Esses recipientes, que podem ser feitos de garrafa PET, devem ser encaminhados
a Unidades de Saúde e jamais descartados no lixo doméstico ou nos resíduos
recicláveis comuns.
Pessoas com diabetes,
por exemplo, que fazem uso da insulinoterapia em casa, devem armazenar as
agulhas conforme o artigo citado anteriormente e descartar os recipientes em
uma Unidade de Saúde. O mesmo se aplica para outras terapias que fazem uso de
materiais perfurocortantes.
Após o descarte
correto de medicamentos, o consumidor não exerce mais nenhum papel nesse
processo. A partir de sua chegada nesses pontos, fabricantes e distribuidores
são responsáveis pela coleta de medicamentos vencidos e em desuso, como
previsto pelo decreto federal n.º 10.388 da Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS).
Todo processo de
descarte é o mesmo! Ambos medicamentos vencidos e dentro do prazo podem ser
encaminhados para os pontos de descarte de medicamentos em farmácias, drogarias
e algumas unidades de saúde.
Entretanto, em vez de
descartar os resíduos, você também pode pesquisar onde doar remédios sem
jogá-los fora. A doação de medicamentos é incentivada pelo Projeto de Lei 4091
de 2019, que propõe que sejam instituídas diretrizes para programas, projetos e
ações, sob responsabilidade do poder público, que envolvam a doação de
medicamentos à população.
• Impactos socioambientais do descarte
incorreto de medicamentos
Mas para que descartar
os remédios do jeito correto? E o que acontece no descarte de medicamentos e
seus impactos ambientais? Os efeitos dos medicamentos não são limitados apenas
aos seres humanos. O descarte incorreto de medicamentos, por exemplo, pode impactar
o meio ambiente.
Embora exista uma
regulamentação de descarte de medicamentos vencidos e em desuso criada pela
Anvisa dentro da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a falta de
divulgação do projeto dificulta a sua eficácia. Além de contribuir para a
contaminação do solo por medicamentos, o descarte ineficaz também pode afetar
ambientes aquáticos.
Isso acontece quando
descartamos medicamentos no lixo ou pelo vaso sanitário. O ato de descarte de
remédios no meio ambiente direta ou indiretamente, pode levar a alterações do
sistema endócrino e na fisiologia de espécies, como a feminização de peixes decorrente
da exposição a hormônios encontrados em anticoncepcionais. Ainda mais
preocupante é o desenvolvimento de superbactérias como efeito do descarte
incorreto de antibióticos. Além disso, os agentes mutagênicos presentes nos
antineoplásicos e imunossupressores, que são utilizados em tratamentos
quimioterápicos, podem afetar diversos organismos se descartados no meio
ambiente.
Para evitar o impacto
ambiental de medicamentos, é necessário criar um hábito do descarte consciente
de medicamentos, que é fiscalizado pelo Ministério da Saúde e é,
essencialmente, um processo simples e fácil, mas que depende do consumidor.
Fonte: eCycle
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