terça-feira, 29 de outubro de 2024

Demência: 5,6 milhões de brasileiros terão o quadro até 2050, diz relatório

Cerca de 8,5% da população brasileira com 60 anos ou mais vive com demência, o que representa aproximadamente 2,71 milhões de pessoas. As projeções indicam que, até 2050, esse número poderá chegar a 5,6 milhões de brasileiros. Dados são de relatório lançado pelo Ministério da Saúde em setembro em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

O documento, intitulado “Relatório Nacional sobre a Demência: Epidemiologia, (re)conhecimento e projeções futuras“, foi apresentado durante evento na sede da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), em Brasília, no dia 20 de setembro.

A demência é caracterizada pela diminuição lenta e progressiva da função cognitiva, podendo afetar a memória, o pensamento, o comportamento e a capacidade de linguagem, de aprendizado e de julgamento, de acordo com definição do Manual MSD, referências médicas publicadas pela farmacêutica Merck & Co.

De acordo com Cleusa Ferri, professora do programa de pós-graduação do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e coordenadora do relatório, o aumento da expectativa de vida no Brasil tem contribuído para o crescimento do número de pessoas com demência, reforçando a necessidade de estratégias para prevenção e tratamento adequados.

Segundo o documento, a prevalência de demência é maior entre as mulheres, com 9,1% dos diagnósticos — enquanto entre os homens, esse percentual é de 7,7%. O nordeste é a região do país com maior prevalência de casos (10,4%), enquanto o sul apresentou a menor taxa (7,3%).

O relatório também aponta para o subdiagnóstico da demência no Brasil: cerca de 80% das pessoas com a doença não estão diagnosticadas formalmente, com taxas mais elevadas nas regiões norte e nordeste.

Do ponto de vista dos autores do relatório, a desinformação e o preconceito acerca da doença estão entre os obstáculos para a integração social e o apoio às pessoas com demência e seus cuidadores, tornando a conscientização pública sobre a condição uma prioridade. Além disso, o estigma associado à doença também é considerado um dos fatores para a falta de diagnóstico adequado.

“Esse trabalho conjunto é uma oportunidade de conhecer a realidade da população brasileira e os fatores de riscos modificáveis. A atenção primária tem um papel-chave, na qual podemos atuar no processo de promoção, prevenção, diagnóstico oportuno e, por fim, articular com a atenção especializada para um cuidado específico”, afirma Jérzey Timóteo, secretário-adjunto de Atenção Primária do Ministério da Saúde, em comunicado divulgado à imprensa.

O relatório busca oferecer subsídios para o desenvolvimento de ações que possam melhorar a qualidade de vida dos pacientes e suas famílias, ao abordar a demência de maneira multidisciplinar, com foco na prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficaz.

O documento destaca, ainda, que aproximadamente 48% dos casos de demência poderiam ser prevenidos ou retardados, caso os 12 fatores de risco mais bem estabelecidos pudessem ser eliminados. Entre eles estão a baixa escolaridade, perda auditiva, hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo, depressão, inatividade física e isolamento social.

 

•        Demência pugilística: entenda o que é a doença que afetou Maguila

O ex-boxeador José Adilson Maguila morreu aos 66 anos nesta quinta-feira (24). A informação foi confirmada pelo Instituto Maguila. O lutador foi diagnosticado anos atrás com encefalopatia traumática crônica (ETC), também conhecida como demência pugilística, que teria sido provocada por sua atuação no boxe, com repetidas lesões na cabeça.

A encefalopatia traumática crônica é uma degeneração progressiva de células cerebrais causada por diversas lesões na cabeça. É comum em atletas, principalmente lutadores e jogadores de futebol, mas também pode ocorrer em soldados que foram expostos a uma explosão, de acordo com o Manual MSD, referência médica publicada pela empresa farmacêutica americana Merck & Co.

“Ao longo da carreira do boxeador, vão acontecendo pequenos traumas no cérebro resultantes dos impactos e esses microtraumas vão gerando alterações cerebrais que geram processos inflamatórios, induzindo a uma doença neurodegenerativa”, explica Marcel Simis, neurologista do Hospital Albert Einstein, à CNN.

Segundo o especialista, o processo neurodegenerativo é progressivo e os sintomas costumam surgir tardiamente, cerca de 10 a 15 anos depois dos traumas. “É um processo que tende a acontecer e ir se agravando ao longo do tempo”, acrescenta.

<><> Sintomas da demência pugilística

Os sintomas da encefalopatia traumática crônica, ou da demência pugilística, podem incluir:

•        Alterações no humor, podendo incluir sintomas depressivos;

•        Mudanças no comportamento, com tendência a agir de forma impulsiva e impaciente;

•        Alterações nas funções cognitivas, com dificuldade de memória, confusão mental e dificuldade para se organizar;

•        Dificuldade para produzir a fala;

•        Descoordenação motora.

“Um dos sintomas mais comuns é a alteração no humor. O paciente pode ter sintomas de ansiedade e de depressão. Quando evolui para um quadro de demência, podem haver outras alterações cognitivas associadas, como perda de memória, dificuldade de atenção, mudanças de comportamento, podendo tornar-se mais agressiva ou impulsiva”, afirma Simis.

<><> Demência pugilística e Alzheimer: qual a diferença?

O Alzheimer é um dos principais tipos de demência e, geralmente, a idade avançada é um dos principais fatores de risco. No caso da demência pugilística, os primeiros sintomas podem acontecer em pessoas mais jovens, principalmente entre aqueles que sofrerem traumas cranianos repetitivos.

“A história do paciente e algumas características diferem a demência do boxeador do Alzheimer”, afirma o neurologista.

A causa do Alzheimer ainda é desconhecida, mas acredita-se que a doença se desenvolva por fatores genéticos, de acordo com o Ministério da Saúde.

<><> Tratamento e prevenção

Segundo Simis, não existe um tratamento específico para esse tipo de demência. “Por vezes, é possível tratar os sintomas. Então, podem ser usados antidepressivos para pacientes com sintomas de depressão, por exemplo. Para sintomas como agressividade, impulsividade e perda de inibição, também existem medicamentos específicos para lidar com esses sintomas”, afirma.

Por vezes, em alguns casos, podem ser utilizados medicamentos comuns no tratamento do Alzheimer.

De acordo com o neurologista, a principal forma de prevenir demência pugilística é evitar traumas cranianos. “Nos Estados Unidos, houve alterações nas regras do futebol americano justamente para evitar o trauma de crânio pelas complicações que estavam acontecendo com os jogadores”, exemplifica.

“Existe essa discussão para outros esportes, incluindo o nosso futebol, descrito como um fator de risco para essa condição, no caso, por cabecear a bola”, acrescenta. “Então, evitar esse tipo de esporte é a principal prevenção. Quando isso é inevitável, não existe um tratamento profilático e não existe um tratamento para reverter essas lesões”, afirma.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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