Por que homens não pensam no câncer de
mama?
Alguns anos atrás,
tive um paciente do sexo masculino que veio até mim reclamando de aumento dos
seios. A princípio, pensamos que era um efeito colateral de um de seus
medicamentos, mas durante o exame, algo simplesmente não parecia certo para
mim.
Decidi pedir uma
mamografia para dar uma olhada mais de perto. Os resultados mostraram uma
mancha anormal, o que o levou a consultar um especialista. O diagnóstico para
esse homem? Câncer de mama.
O câncer de mama em
homens pode ser diagnosticado incorretamente ou ignorado porque é muito raro. A
detecção precoce pode salvar vidas.
• A realidade do câncer de mama nos homes
Quando as pessoas
pensam em câncer de mama, a maioria pensa em “rosa” e em mulheres. Mas a
verdade é que os homens também podem desenvolver a doença.
Os homens representam
cerca de 1% de todos os casos de câncer de mama, o que significa que 1 em 726
homens será diagnosticado durante a vida. O diagnóstico é raro, mas ainda assim
muitos homens têm câncer de mama.
Um dos maiores
desafios do câncer de mama masculino é que ele geralmente passa despercebido.
Muitos homens não percebem que podem desenvolver a doença, e não há diretrizes
de triagem de rotina como as que existem para as mulheres.
Na verdade, mais de
40% dos casos de câncer de mama masculino são diagnosticados em estágios
avançados (estágio 3 ou 4). Como resultado, os homens recebem tratamentos mais
agressivos em comparação com as mulheres devido ao atraso no diagnóstico.
Os sintomas podem ser
sutis — caroços, secreção nos mamilos, alterações na pele ou inchaço ao redor
da área dos seios. Se você notar alguma alteração nos seios masculinos, não
ignore. É sempre melhor fazer um check-up.
• O papel da genética no câncer de mama
masculino
Mutações nos genes
BRCA1 e BRCA2, que são mais comumente associados ao câncer de mama e ovário
feminino, podem aumentar o risco de câncer de mama em um homem.
Cerca de 0,2% a 1,2%
dos homens com uma alteração mutada herdada no BRCA1 e 1,8% a 7,1% com uma
alteração mutada herdada no BRCA2 desenvolverão câncer de mama aos 70 anos. Em
contraste, cerca de 0,1% dos homens na população em geral desenvolverão câncer de
mama na mesma idade.
Homens com mutações no
BRCA2 têm um risco de 7% a 8% de desenvolver câncer de mama ao longo da vida,
muito maior do que a população masculina em geral.
Portanto, homens com
histórico familiar de câncer de mama, especialmente aqueles com mutações no
BRCA, devem considerar o teste genético e ser mais sensíveis a quaisquer
alterações no tecido mamário.
• A ligação entre BRCA e câncer de próstata
Essas mesmas mutações
no BRCA também aumentam o risco de câncer de próstata em homens.
Um paciente jovem veio
recentemente ao meu consultório com uma preocupação que muitos não esperariam
para sua idade — câncer de próstata. Sua mãe e irmã foram diagnosticadas com
câncer de mama e, apesar de estar na faixa dos 40 anos, ele solicitou testes
genéticos para o gene BRCA e um exame de sangue de antígeno prostático
específico, ou PSA.
Enquanto esperávamos
pelos resultados do teste genético, seu PSA voltou mais alto do que o esperado.
Nesse ponto, o teste genético se tornou menos significativo. Ele passou por uma
biópsia, e os resultados confirmaram que ele tinha câncer de próstata em estágio
inicial.
Então, se você tem
histórico familiar de câncer de mama, não são apenas as mulheres da família que
devem estar cientes. Os homens da família também precisam fazer parte da
conversa.
• Comparando o câncer de mama masculino e
feminino
Os cânceres de mama
masculino e feminino compartilham semelhanças, mas também existem algumas
diferenças importantes.
Como os homens têm
menos tecido mamário, o câncer geralmente está mais próximo da parede torácica,
o que pode afetar como ele se espalha.
A taxa de
sobrevivência de cinco anos para homens com câncer de mama é de cerca de 77,6%,
em comparação com 86,4% em mulheres, em parte devido a diagnósticos
posteriores. No entanto, os tratamentos — cirurgia, radiação, quimioterapia —
são em grande parte os mesmos para homens e mulheres.
A grande diferença é a
conscientização. Houve um ótimo trabalho sobre conscientização sobre o câncer
de mama em mulheres, mas os homens geralmente são deixados de fora da conversa.
Isso precisa mudar.
• Examinando os seios masculinos
Não há diretrizes
oficiais para autoexames de mama masculinos, mas os homens podem tomar medidas
proativas para monitorar a saúde de suas mamas por meio de técnicas de
autoexame sugeridas. É aconselhável realizar esses exames no mesmo horário todo
mês — talvez no mesmo horário do seu exame testicular mensal.
Comece ficando de pé
em seu traje de aniversário (também conhecido como sem camisa) na frente de um
espelho para inspecionar quaisquer anormalidades, como inchaço, caroços,
covinhas ou alterações nos mamilos, ambos com os braços ao lado do corpo e
levantados acima da cabeça.
Para o exame manual,
deite-se com um travesseiro sob o ombro e o braço do lado que você está
examinando atrás da cabeça. Use a mão oposta para pressionar suavemente os
dedos em pequenos círculos em toda a área do peito e axila, aplicando várias
pressões, e aperte suavemente o mamilo para verificar se há secreção.
Se você descobrir
quaisquer alterações ou irregularidades, consulte seu médico. Lembre-se, essas
etapas do autoexame são sugestões para ajudar os homens a identificar problemas
potenciais precocemente, pois essa detecção pode ser crucial, especialmente para
aqueles com maior risco devido ao histórico familiar ou fatores genéticos, como
mutações BRCA.
• Do caroço para as próximas etapas
Se uma anormalidade
for encontrada, as próximas etapas geralmente envolvem uma mamografia ou
ultrassom para avaliar o caroço em detalhes. Se a imagem sugerir algo suspeito,
uma biópsia será feita.
Durante uma biópsia, o
tecido mamário é analisado em um microscópio para determinar se é benigno ou
maligno. Com base nos achados da biópsia, seu médico pode discutir as opções de
tratamento apropriadas, que podem incluir cirurgia, radiação ou outras terapias,
dependendo do estágio e do tipo de câncer encontrado na biópsia e na imagem de
estadiamento.
Todos esses
tratamentos são semelhantes ao que é oferecido às mulheres diagnosticadas com
câncer de mama.
• Quebrando barreiras mentais e de gênero
Há um estigma infeliz
associado aos homens com câncer de mama. Muitos homens ficam envergonhados ou
chocados com o diagnóstico, o que pode fazê-los hesitar em procurar ajuda
precocemente. Mas o câncer não se importa com gênero, e você também não
deveria.
A detecção precoce é a
melhor maneira de combater essa doença, seja qual for seu gênero. A chave é ser
aberto sobre isso. O que os homens podem fazer proativamente A coisa mais
importante que os homens podem fazer é prestar atenção aos seus corpos.
Se você notar algum
caroço, dor, inchaço ou alterações na área do seu peito ou mama, não ignore.
Converse com seu médico. E se você tem histórico familiar de câncer de mama ou
próstata, considere fazer um teste genético.
O câncer de mama em
homens é raro, mas isso não significa que seja menos sério. Ao aumentar a
conscientização durante o Mês de Conscientização sobre o Câncer de Mama,
quebrando estigmas e encorajando os homens a conversarem com seus médicos,
podemos ajudar a detectar o câncer precocemente e ajudar os homens a viver
mais.
• Mortes por câncer já ocupam primeiro
lugar em algumas regiões do Brasil
O câncer já é a
primeira causa de morte em algumas regiões do Brasil, ocupando o lugar das
doenças cardiovasculares. Um estudo inédito revela uma transição epidemiológica
no país, tendência que já vem sendo observada em nações ricas.
O trabalho, conduzido
por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e outras
instituições, como Fundação Getúlio Vargas e Universidade Federal de
Uberlândia, em Minas Gerais, acaba de ser publicado no The Lancet Regional
Health – Americas.
Para chegar ao
resultado, os autores analisaram dados de 5.570 municípios brasileiros
fornecidos pelo Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) entre os anos de
2000 e 2019. Também foram avaliadas as mortes prematuras, aquelas que ocorrem
na faixa dos 30 aos 69 anos, que não são atribuídas ao envelhecimento.
Nesse período, as
taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares caíram em 25 dos 27 estados,
enquanto as de câncer cresceram em 15. O número de municípios em que o câncer é
a principal causa de morte quase dobrou, passando de 7% para 13%. E, enquanto a
mortalidade por problemas cardiovasculares caiu drasticamente, quase 40%, a de
câncer reduziu apenas 10%.
Embora as doenças
cardiovasculares ainda liderem as mortes, alguns fatores explicam essa
transição. “Os avanços no diagnóstico e no tratamento, bem como as campanhas
antitabagismo, por exemplo, tiveram grande impacto na queda da mortalidade
cardiovascular. O câncer, por outro lado, engloba mais de cem doenças com
diferentes causas e alguns são mais fáceis de prevenir, outros mais limitados”,
analisa Leandro Rezende, um dos autores do estudo e coordenador do programa de
pós-graduação em Saúde Coletiva da Escola Paulista de Medicina, da Unifesp.
Já as doenças
cardiovasculares, segundo Rezende, são mais sensíveis a hábitos e medidas
terapêuticas. “O resultado mostra que, quanto maior o acesso a tratamento e
prevenção, menor a mortalidade”, observa o pesquisador. Apesar de o câncer e as
doenças cardiovasculares compartilharem muitos fatores de risco — como
tabagismo, sedentarismo, obesidade e má alimentação —, as particularidades de
cada tipo de tumor dificultam a prevenção e o tratamento.
Além disso, enquanto o
tratamento das doenças cardiovasculares sempre envolve mudanças no estilo de
vida, no câncer o foco acaba sendo erradicar a doença de forma localizada.
Assim, é possível reduzir as mortes por infartos e derrames cuidando da pressão
alta, do colesterol alto e do diabetes, por exemplo, mas o prognóstico dos
tumores acaba prejudicado com diagnósticos tardios e dificuldade de acesso a
tratamentos sofisticados.
O cardiologista
Eduardo Segalla, do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que o acesso ao
diagnóstico precoce e a tratamentos especializados faz toda diferença para o
prognóstico e a mortalidade dessas que são as duas principais causas de mortes
no mundo. “Do ponto de vista cardiovascular, a conscientização de tratar
fatores de risco e o acesso ao sistema de saúde para tratar um infarto agudo,
por exemplo, é mais rápido e acessível do que o diagnóstico precoce de um
câncer de mama ou de intestino”, diz Segalla.
Segundo o
cardiologista, o tratamento após o diagnóstico das doenças cardiovasculares ou
até de suas complicações, como arritmias e insuficiências cardíacas, são menos
complexos, mais acessíveis e mais baratos do que os tratamentos do câncer, mais
caros e com poucos centros especializados para o número crescente de
diagnósticos.
Nesse aspecto, o
estudo também revela as desigualdades do país: se as mortes por doenças como
infarto e AVC caíram de modo geral, aquelas causadas por câncer cresceram
principalmente nas regiões mais pobres. Os achados ainda mostram locais em que
há potencial para reduzir a mortalidade cardiovascular, incluindo estados como
Amapá, Roraima e Acre, onde há uma tendência de aumento desses óbitos.
Para os autores do
novo estudo, é preciso desenvolver políticas específicas para cada região,
capazes de melhorar o acesso à saúde nos municípios menores e mais vulneráveis
e, é claro, atuar na prevenção primária. “Isso envolve políticas públicas,
incluindo campanhas antitabaco, controle do álcool e o grande desafio da
obesidade, que é um fator de risco para vários tumores. Sabe-se que o estilo de
vida está associado a cerca de 20 tipos de câncer, e um terço das mortes
poderia ser evitado com mudanças nos hábitos de vida”, destaca Rezende.
Fonte: CNN Brasil
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