quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Por que homens não pensam no câncer de mama?

Alguns anos atrás, tive um paciente do sexo masculino que veio até mim reclamando de aumento dos seios. A princípio, pensamos que era um efeito colateral de um de seus medicamentos, mas durante o exame, algo simplesmente não parecia certo para mim.

Decidi pedir uma mamografia para dar uma olhada mais de perto. Os resultados mostraram uma mancha anormal, o que o levou a consultar um especialista. O diagnóstico para esse homem? Câncer de mama.

O câncer de mama em homens pode ser diagnosticado incorretamente ou ignorado porque é muito raro. A detecção precoce pode salvar vidas.

•        A realidade do câncer de mama nos homes

Quando as pessoas pensam em câncer de mama, a maioria pensa em “rosa” e em mulheres. Mas a verdade é que os homens também podem desenvolver a doença.

Os homens representam cerca de 1% de todos os casos de câncer de mama, o que significa que 1 em 726 homens será diagnosticado durante a vida. O diagnóstico é raro, mas ainda assim muitos homens têm câncer de mama.

Um dos maiores desafios do câncer de mama masculino é que ele geralmente passa despercebido. Muitos homens não percebem que podem desenvolver a doença, e não há diretrizes de triagem de rotina como as que existem para as mulheres.

Na verdade, mais de 40% dos casos de câncer de mama masculino são diagnosticados em estágios avançados (estágio 3 ou 4). Como resultado, os homens recebem tratamentos mais agressivos em comparação com as mulheres devido ao atraso no diagnóstico.

Os sintomas podem ser sutis — caroços, secreção nos mamilos, alterações na pele ou inchaço ao redor da área dos seios. Se você notar alguma alteração nos seios masculinos, não ignore. É sempre melhor fazer um check-up.

•        O papel da genética no câncer de mama masculino

Mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, que são mais comumente associados ao câncer de mama e ovário feminino, podem aumentar o risco de câncer de mama em um homem.

Cerca de 0,2% a 1,2% dos homens com uma alteração mutada herdada no BRCA1 e 1,8% a 7,1% com uma alteração mutada herdada no BRCA2 desenvolverão câncer de mama aos 70 anos. Em contraste, cerca de 0,1% dos homens na população em geral desenvolverão câncer de mama na mesma idade.

Homens com mutações no BRCA2 têm um risco de 7% a 8% de desenvolver câncer de mama ao longo da vida, muito maior do que a população masculina em geral.

Portanto, homens com histórico familiar de câncer de mama, especialmente aqueles com mutações no BRCA, devem considerar o teste genético e ser mais sensíveis a quaisquer alterações no tecido mamário.

•        A ligação entre BRCA e câncer de próstata

Essas mesmas mutações no BRCA também aumentam o risco de câncer de próstata em homens.

Um paciente jovem veio recentemente ao meu consultório com uma preocupação que muitos não esperariam para sua idade — câncer de próstata. Sua mãe e irmã foram diagnosticadas com câncer de mama e, apesar de estar na faixa dos 40 anos, ele solicitou testes genéticos para o gene BRCA e um exame de sangue de antígeno prostático específico, ou PSA.

Enquanto esperávamos pelos resultados do teste genético, seu PSA voltou mais alto do que o esperado. Nesse ponto, o teste genético se tornou menos significativo. Ele passou por uma biópsia, e os resultados confirmaram que ele tinha câncer de próstata em estágio inicial.

Então, se você tem histórico familiar de câncer de mama, não são apenas as mulheres da família que devem estar cientes. Os homens da família também precisam fazer parte da conversa.

•        Comparando o câncer de mama masculino e feminino

Os cânceres de mama masculino e feminino compartilham semelhanças, mas também existem algumas diferenças importantes.

Como os homens têm menos tecido mamário, o câncer geralmente está mais próximo da parede torácica, o que pode afetar como ele se espalha.

A taxa de sobrevivência de cinco anos para homens com câncer de mama é de cerca de 77,6%, em comparação com 86,4% em mulheres, em parte devido a diagnósticos posteriores. No entanto, os tratamentos — cirurgia, radiação, quimioterapia — são em grande parte os mesmos para homens e mulheres.

A grande diferença é a conscientização. Houve um ótimo trabalho sobre conscientização sobre o câncer de mama em mulheres, mas os homens geralmente são deixados de fora da conversa. Isso precisa mudar.

•        Examinando os seios masculinos

Não há diretrizes oficiais para autoexames de mama masculinos, mas os homens podem tomar medidas proativas para monitorar a saúde de suas mamas por meio de técnicas de autoexame sugeridas. É aconselhável realizar esses exames no mesmo horário todo mês — talvez no mesmo horário do seu exame testicular mensal.

Comece ficando de pé em seu traje de aniversário (também conhecido como sem camisa) na frente de um espelho para inspecionar quaisquer anormalidades, como inchaço, caroços, covinhas ou alterações nos mamilos, ambos com os braços ao lado do corpo e levantados acima da cabeça.

Para o exame manual, deite-se com um travesseiro sob o ombro e o braço do lado que você está examinando atrás da cabeça. Use a mão oposta para pressionar suavemente os dedos em pequenos círculos em toda a área do peito e axila, aplicando várias pressões, e aperte suavemente o mamilo para verificar se há secreção.

Se você descobrir quaisquer alterações ou irregularidades, consulte seu médico. Lembre-se, essas etapas do autoexame são sugestões para ajudar os homens a identificar problemas potenciais precocemente, pois essa detecção pode ser crucial, especialmente para aqueles com maior risco devido ao histórico familiar ou fatores genéticos, como mutações BRCA.

•        Do caroço para as próximas etapas

Se uma anormalidade for encontrada, as próximas etapas geralmente envolvem uma mamografia ou ultrassom para avaliar o caroço em detalhes. Se a imagem sugerir algo suspeito, uma biópsia será feita.

Durante uma biópsia, o tecido mamário é analisado em um microscópio para determinar se é benigno ou maligno. Com base nos achados da biópsia, seu médico pode discutir as opções de tratamento apropriadas, que podem incluir cirurgia, radiação ou outras terapias, dependendo do estágio e do tipo de câncer encontrado na biópsia e na imagem de estadiamento.

Todos esses tratamentos são semelhantes ao que é oferecido às mulheres diagnosticadas com câncer de mama.

•        Quebrando barreiras mentais e de gênero

Há um estigma infeliz associado aos homens com câncer de mama. Muitos homens ficam envergonhados ou chocados com o diagnóstico, o que pode fazê-los hesitar em procurar ajuda precocemente. Mas o câncer não se importa com gênero, e você também não deveria.

A detecção precoce é a melhor maneira de combater essa doença, seja qual for seu gênero. A chave é ser aberto sobre isso. O que os homens podem fazer proativamente A coisa mais importante que os homens podem fazer é prestar atenção aos seus corpos.

Se você notar algum caroço, dor, inchaço ou alterações na área do seu peito ou mama, não ignore. Converse com seu médico. E se você tem histórico familiar de câncer de mama ou próstata, considere fazer um teste genético.

O câncer de mama em homens é raro, mas isso não significa que seja menos sério. Ao aumentar a conscientização durante o Mês de Conscientização sobre o Câncer de Mama, quebrando estigmas e encorajando os homens a conversarem com seus médicos, podemos ajudar a detectar o câncer precocemente e ajudar os homens a viver mais.

 

•        Mortes por câncer já ocupam primeiro lugar em algumas regiões do Brasil

O câncer já é a primeira causa de morte em algumas regiões do Brasil, ocupando o lugar das doenças cardiovasculares. Um estudo inédito revela uma transição epidemiológica no país, tendência que já vem sendo observada em nações ricas.

O trabalho, conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e outras instituições, como Fundação Getúlio Vargas e Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais, acaba de ser publicado no The Lancet Regional Health – Americas.

Para chegar ao resultado, os autores analisaram dados de 5.570 municípios brasileiros fornecidos pelo Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) entre os anos de 2000 e 2019. Também foram avaliadas as mortes prematuras, aquelas que ocorrem na faixa dos 30 aos 69 anos, que não são atribuídas ao envelhecimento.

Nesse período, as taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares caíram em 25 dos 27 estados, enquanto as de câncer cresceram em 15. O número de municípios em que o câncer é a principal causa de morte quase dobrou, passando de 7% para 13%. E, enquanto a mortalidade por problemas cardiovasculares caiu drasticamente, quase 40%, a de câncer reduziu apenas 10%.

Embora as doenças cardiovasculares ainda liderem as mortes, alguns fatores explicam essa transição. “Os avanços no diagnóstico e no tratamento, bem como as campanhas antitabagismo, por exemplo, tiveram grande impacto na queda da mortalidade cardiovascular. O câncer, por outro lado, engloba mais de cem doenças com diferentes causas e alguns são mais fáceis de prevenir, outros mais limitados”, analisa Leandro Rezende, um dos autores do estudo e coordenador do programa de pós-graduação em Saúde Coletiva da Escola Paulista de Medicina, da Unifesp.

Já as doenças cardiovasculares, segundo Rezende, são mais sensíveis a hábitos e medidas terapêuticas. “O resultado mostra que, quanto maior o acesso a tratamento e prevenção, menor a mortalidade”, observa o pesquisador. Apesar de o câncer e as doenças cardiovasculares compartilharem muitos fatores de risco — como tabagismo, sedentarismo, obesidade e má alimentação —, as particularidades de cada tipo de tumor dificultam a prevenção e o tratamento.

Além disso, enquanto o tratamento das doenças cardiovasculares sempre envolve mudanças no estilo de vida, no câncer o foco acaba sendo erradicar a doença de forma localizada. Assim, é possível reduzir as mortes por infartos e derrames cuidando da pressão alta, do colesterol alto e do diabetes, por exemplo, mas o prognóstico dos tumores acaba prejudicado com diagnósticos tardios e dificuldade de acesso a tratamentos sofisticados.

O cardiologista Eduardo Segalla, do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que o acesso ao diagnóstico precoce e a tratamentos especializados faz toda diferença para o prognóstico e a mortalidade dessas que são as duas principais causas de mortes no mundo. “Do ponto de vista cardiovascular, a conscientização de tratar fatores de risco e o acesso ao sistema de saúde para tratar um infarto agudo, por exemplo, é mais rápido e acessível do que o diagnóstico precoce de um câncer de mama ou de intestino”, diz Segalla.

Segundo o cardiologista, o tratamento após o diagnóstico das doenças cardiovasculares ou até de suas complicações, como arritmias e insuficiências cardíacas, são menos complexos, mais acessíveis e mais baratos do que os tratamentos do câncer, mais caros e com poucos centros especializados para o número crescente de diagnósticos.

Nesse aspecto, o estudo também revela as desigualdades do país: se as mortes por doenças como infarto e AVC caíram de modo geral, aquelas causadas por câncer cresceram principalmente nas regiões mais pobres. Os achados ainda mostram locais em que há potencial para reduzir a mortalidade cardiovascular, incluindo estados como Amapá, Roraima e Acre, onde há uma tendência de aumento desses óbitos.

Para os autores do novo estudo, é preciso desenvolver políticas específicas para cada região, capazes de melhorar o acesso à saúde nos municípios menores e mais vulneráveis e, é claro, atuar na prevenção primária. “Isso envolve políticas públicas, incluindo campanhas antitabaco, controle do álcool e o grande desafio da obesidade, que é um fator de risco para vários tumores. Sabe-se que o estilo de vida está associado a cerca de 20 tipos de câncer, e um terço das mortes poderia ser evitado com mudanças nos hábitos de vida”, destaca Rezende.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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