'PT precisa de um pastor carismático que
mostre que é possível ser evangélico e petista', diz cientista político
As eleições municipais
mostraram um PL forte nas grandes cidades, mas com dificuldades de vencer as
diputas de segundo turno, evidenciando os
limites de uma direita mais radical, liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro,
analisa o cientista político Jairo Nicolau, professor e pesquisador da Fundação
Getulio Vargas, em entrevista à BBC News Brasil.
A grande vitoriosa de 2024, continua, foi a direita moderada, enquanto o PT, mais uma vez, mostrou dificuldades em construir
jovens lideranças.
Na sua visão, a
recuperação lenta da sigla do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ocorre por falta de propostas e ideias, mas pela ausência de
novos quadros que cativem o eleitor.
"A direita está
se renovando. O PT precisa se modernizar internamente e formar líderes. Essa é
a minha ideia, diferente desse negócio de fazer documento [com novas
propostas], chamar intelectual para conversar, ouvir pastores", afirma
Nicolau.
"Não, [a
esquerda] precisa de um pastor carismático petista, que seja querido na
comunidade evangélica e mostre que você pode ser evangélico e petista, que a
vida vai bem", reforça.
O PT venceu em 252 municípios em 2024, uma alta em relação a 2020 (182), mas ainda longe do recorde
de 2012 (624). E conquistou apenas uma capital, em vitória apertadíssima de Evandro Leitão sobre o bolsonarista André Fernandes (PL) no segundo
turno.
Em contraste, o PL fechou essa eleição conquistando o maior número de
grandes cidades (aquelas com mais de 200 mil
eleitores, em que pode haver segundo turno): foram 16 municípios, sendo quatro
capitais — Maceió (AL), Rio Branco (AC), em Cuiabá (MT), e Aracaju (SE).
A sigla, no entanto,
acumulou derrotas no round final da disputa municipal. O partido só levou seis
das 22 cidades em que disputava o segundo turno.
Jovens expoentes do
bolsonarismo, como Bruno Engler, em Belo Horizonte, e André Fernandes, em
Fortaleza, tiveram votações expressivas, mas não foram capazes de atrair a
maioria do eleitorado.
Para Nicolau, esses
resultados mostram uma rejeição da maioria do eleitorado a candidatos de
direita com discurso mais ideológico, em uma eleição que o foco estava em
questões locais de cada cidade.
Na sua leitura, a
tendência da próxima eleição nacional, em 2026, quando o Brasil elegerá
governadores e o presidente da República, é que os candidatos moderem seu
discurso nas disputas de segundo turno.
Para Nicolau, a
vitória de Bolsonaro em 2018, quando o agora ex-presidente foi eleito sem
suavizar suas ideias radicais, foi atípica e não deve se repetir.
"O Bolsonaro
[eleito em 2018] é uma exceção e, talvez, tenha criado a ilusão de que a
radicalização leva à vitória numa eleição", disse, ao comentar a atuação
de candidatos aliados ao ex-presidente, como Cristina Graeml (PMB), que manteve
o discurso fortemente bolsonarista na reta final da disputa e perdeu para
Eduardo Pimentel (PSD).
Leia a seguir os
principais trechos da entrevista concedida à BBC News Brasil, editada por
razões de concisão e clareza.
·
Candidatos do PL
tiveram bom desempenho em grandes cidades no primeiro turno, mas o partido
perdeu quase todas as capitais que disputava no segundo, principalmente para
outros candidatos de direita ou da centro-direita. Isso evidencia os limites do
bolsonarismo?
Jairo
Nicolau - Eu gosto de trabalhar com os
resultados das eleições para as câmaras municipais. Esse dado captura melhor o
enraizamento, o espraiamento dos partidos pelo território.
Por esse critério, o
PL foi um dos partidos que mais cresceram. É, claro, na última eleição
municipal, eles não tinham ainda recebido a migração da família Bolsonaro
[ocorrida no final de 2021] e dos políticos mais próximos ao Bolsonaro.
Mas o que mais me
surpreendeu foi o desempenho do PL nas grandes cidades. O PL é o partido mais
votado para as câmaras municipais das cidades com mais de 500 mil habitantes.
Ele praticamente empata com o PSD nas cidades entre 100 mil e 200 mil
habitantes.
Então, é um partido
que sai das urnas muito bem no primeiro turno. Ainda não vi os números fechados
após o segundo turno, mas o PL, certamente, ficou entre os três partidos com
mais prefeituras nas grandes cidades [o PL é o partido que comandará mais cidades
com mais de 200 mil eleitores, com 16 prefeituras, seguido de PSD, com 15].
Agora, o que você
chamou atenção é muito importante. São derrotas fortes [nas capitais no segundo
turno], em cidades em que os candidatos eram lideranças emergentes, como Belo
Horizonte [em que Fuad Noman, do PSD, derrotou Bruno Engler] e Fortaleza [em que
Evandro Leitão, do PT, venceu André Fernandes]. Em Curitiba, Cristina [Graeml,
do PMB, que perdeu para Eduardo Pimentel, do PSD] não era do PL, mas era uma
figura ligada ao mundo bolsonarista. E isso chama atenção: a derrota desses
candidatos, na média, mais jovens e mais radicais politicamente.
·
Isso mostra um limite
para candidaturas mais radicalizadas?
Jairo
Nicolau - É cedo pra fazer uma generalização, eu não
acompanhei no detalhe todas as disputas, mas vi que alguns desses candidatos
radicalizaram em questões comportamentais, morais, na última semana.
Isso aconteceu em Belo
Horizonte, em Fortaleza, em Curitiba. Uma mobilização de temas de família e
acusações pessoais aos outro candidatos, mobilizando discursos que ficaram
muito vinculados à direita nos últimos anos. É um erro de estratégia que, nos
anos 90, muitas vezes a esquerda cometeu [ao não moderar suas pautas].
Essa é décima eleição
municipal depois que a nova Constituição foi aprovada. Os eleitores vão
aprendendo que querem um gestor das questões da cidade.
Eu não vi nenhum
candidato radicalíssimo, que foi pro segundo turno, ganhar a eleição, seja pela
direita ou pela esquerda, porque a eleição no segundo turno, salvo algumas
exceções, e uma delas foi justamente o Jair Bolsonaro em 2018, é uma eleição
[que o candidato se move para o centro]...
Dificilmente você
conquista uma vitória radicalizando como candidatos da direita bolsonarista
fizeram.
E alguns candidatos de
esquerda, não é que eles radicalizaram [nesta eleição], eles fizeram um
movimento para o centro, mas não deu, como o caso da Maria do Rosário [petista
que perdeu em Porto Alegre para Sebastião Melo, do MDB] e do Guilherme Boulos
[do PSOL, que perdeu para Ricardo Nunes, do MDB, em São Paulo].
São cidades que têm
uma rejeição à esquerda forte. É uma dificuldade vencer enquanto, no outro
lado, tem uma grande frente conservadora.
Então, no balanço
final, acho que, da perspectiva partidária, o PL é um vencedor. Da perspectiva
política, de conquistar cidades, o PL é um perdedor nesse segundo turno.
Lembro que isso
aconteceu algumas vezes com a esquerda nos anos 90: ía para muitas cidades no
segundo turno, mas perdia porque a cidade rejeitava a política à esquerda.
Agora, eu acho que aconteceu o contrário.
As cidades rejeitando
políticos mais à direita ou querendo trazer uma discussão doutrinária, uma
discussão ideológica, para o âmbito de uma eleição que as pessoas sabem que o
prefeito vai cuidar é do transporte, do posto de saúde, das questões locais.
Houve um
superdimensionamento do papel do Bolsonaro [para alavancar candidaturas]. E, se
fosse o Lula [atuando com força nas campanhas deste ano], ou qualquer
liderança, eu diria o mesmo.
A maioria dos
eleitores municipais não vai fazer uma escolha porque o seu candidato a
presidente [na eleição anterior] indicou.
·
Você pontuou que 2018
foi uma eleição atípica, em que o Bolsonaro ganhou sem moderar seu discurso. E
em 2022, ele perdeu, mas por muito pouco. O resultado dessa eleição municipal
pode sinalizar que um candidato tão radicalizado vai ter dificuldade de derrotar
Lula ou outro candidato que ele apoiar em 2026?
Jairo
Nicolau - Essa lição já deveria ter sido
aprendida olhando as eleições municipais desde 1992.
A eleição de 1988, a
primeira eleição geral para prefeito e vereador [após a Ditadura Militar], foi
a única nacionalizada por conta da morte dos operários em Volta Redonda [em uma
greve na CSN reprimida pelo Exército] a poucos dias da eleição.
Aquilo criou uma onda
de comoção [que favoreceu algumas vitórias da esquerda, como a eleição de
petista Luiz Erundina, em São Paulo].
Tirando essa eleição,
as outras todas foram eleições em que a pauta local de cada cidade prevaleceu.
Então, esse
aprendizado já teria que ter sido feito por todos os políticos. O Bolsonaro
[eleito em 2018] é uma exceção e, talvez, tenha criado a ilusão de que a
radicalização leva à vitória numa eleição.
Aquela eleição é muito
excepcional, sobretudo, porque Bolsonaro ganhou uma eleição em casa. Não estou
dizendo que foi isso [que o elegeu], mas, vamos lembrar: Bolsonaro não foi a um
debate, a uma sabatina.
Ele ficou em casa o
segundo turno inteiro, e uma boa parte do Brasil só foi conhecer o Bolsonaro
falando e apresentando suas ideias, depois que ele assumiu a Presidência.
Então, é uma eleição
absolutamente atípica, e acreditar que esse modelo vai se repetir é desconhecer
o Brasil e forçar a mão nessa ideia da polarização.
Quer dizer, ele
[Bolsonaro] presente é capaz ainda de cultivar uma parte do país.
Radicalizando, ele tem essa capacidade.
Mas, nessa eleição,
ele foi mais moderado, por incrível que pareça, e também tinha uma máquina
[partidária], uma máquina do centrão, do PL.
Fez uma campanha em
que defendia o seu legado na Presidência, era outra lógica.
Se pegarmos as
manchetes de 2020, amanhã [segunda-feira] você pode repetir [as mesmas
machetes]: foi uma vitória do centro, da centro-direita.
Eduardo Paes [reeleito
no Rio de Janeiro pelo PSD]. Belo Horizonte reelegeu [Fuad Nomam, do PSD]. São
Paulo também [com a vitória de Ricardo Nunes, do MDB]. Salvador já tinha
[reeleito Bruno Reis, do União Brasil] no primeiro turno.
No Recife, exceção
[com a reeleição do João Campos, do PSB, no campo da esquerda]. No cômputo
geral, é uma vitória das forças de direita moderada. Mas já tinha sido assim,
não é novidade nenhuma. As novidades acontecem na margem.
·
Uma novidade foi o
Bolsonaro como cabo eleitoral dos candidatos do PL, em um partido estruturado.
Qual o saldo do desempenho do Bolsonaro?
Jairo
Nicolau - Eu, que acompanho mais a política com
ênfase em processos de longo prazo, mais estruturais, estou menos interessado
no Bolsonaro, como pessoa física, e mais no PL como pessoa jurídica.
A gente hoje tem um
partido de direita, urbano, majoritário em termos de votação nas grandes
cidades, estruturado. Aqui no Rio de Janeiro, tem a segunda maior bancada [na
Câmara de Vereadores].
Em São Paulo, tem a
segunda [empatado com MDB, ambos atrás do PT]. Em Belo Horizonte, a primeira
[empatado com o PT]. Nas câmaras municipais, ele foi bem em várias cidades.
Aqui no Rio, se interiorizou. Em São Paulo, conquistou algumas cidades
importantes, espraiou também pelo território.
O Bolsonaro continua
como uma liderança inconteste do campo da direita. Se ele fosse concorrer daqui
a dois anos, e a probabilidade é baixíssima [devido a sua condenação na Justiça
Eleitoral que o deixou inelegível], eu ficaria muito preocupado com o desempenho.
Ele sempre foi
criticado por nunca ter sido um líder partidário. Dessa vez, ele resolveu
organizar um partido. Ou seja, a gente tem um casamento entre uma liderança
popular de direita, a mais popular que a direita brasileira já produziu depois
da redemocratização, e um partido que podia ser qualquer um desses de direita,
e ele escolheu o PL.
Agora, vamos olhar o
lado mais estrutural [do desempenho dos candidatos do PL no segundo turno]:
quantos desses derrotados serão candidatos ao Senado em 2026 com chances de
serem eleitos?
Vamos ver também como
o PL se saiu nas outras cidades, cidades médias. Acho que é mais interessante
para a gente pensar esse processo da política brasileira no tempo.
·
Mas, retomando à
pergunta anterior, essas derrotas do PL no segundo turno indicam um espaço
menor para candidaturas mais radicais na disputa presidencial de 2026?
Jairo
Nicolau - Se perguntarem antes de qualquer eleição, a
estratégia boa para o candidato, seja de direita ou de esquerda, é se
movimentar para o eleitor de centro.
E centro no Brasil não
é só o centro representado pela Simone [candidata do MDB derrotada em 2022 e
hoje ministra do Planejamento] ou setores do PSDB mais moderados e
intelectualizados. Isso não é a massa que muda uma eleição presidencial.
O centro é onde ficam
as pessoas mais anódinas, politicamente menos informadas, mais desinteressadas.
É esse lugar que os políticos precisam mirar para ganhar uma eleição, e foi o
que o Lula fez.
A gente fala da
vitória do Lula, como [resultado de] um apoio do centro, vindo da Simone Tebet,
da Marina silva [ministra do Meio Ambiente], mas é [resultado de] um eleitor
pragmático de São Paulo, das regiões metropolitanas, insatisfeito com a
política de saúde da pandemia, como as pesquisas mostraram, que dão não para o
Bolsonaro [em 2022].
Então, eu vejo que o
processo foi centrífugo, foi pros polos [em 2018 e 2022].
Agora, se eu tivesse
que apostar, eu imaginaria uma eleição, na disputa presidencial e dos
governadores, com uma tendência mais centrípeta, com os candidatos buscando uma
certa moderação, independente de quem concorrer.
·
E quem está bem
posicionado a partir da eleição municipal para disputar a Presidência em 2026?
Ou está muito em aberto?
Jairo
Nicolau - Está muito aberto. O Lula continua
sendo o candidato óbvio [da esquerda], mas, por razões outras, não pelo
[desempenho do] governo, mas pelas razões alegadas de saúde, da [possível falta
de] vontade dele, pode ser que ele não disputa e reeleição.
A direita teria um
grande nome competitivo, se fosse [o Bolsonaro como] o nosso [Donald] Trump
[que disputa a eleição novamente nos EUA] voltando. Se o nosso Trump não puder
concorrer, abre-se ali um vazio no campo não de esquerda: desde os segmentos
moderados de centro, tipo PSD, passando por setores da direita, como o União
Brasil, até o PL.
E, claro, que sempre
se coloca o nome do Tarciso [de Freitas, governador de São Paulo, do
Republicanos] como o nome óbvio [na disputa presidencial], mas acho que tem
muito chão para rolar.
Lembra que em 2020 o
Dória também apareceu como nome óbvio para presidente, após Bruno Covas se
eleger [prefeito de São Paulo] com seu apoio. Doria tanto acreditou que ele
largou o governo de São Paulo [mas acabou não viabilizando sua candidatura
presidencial].
O jogo está muito mais
aberto que em 2020. É muito cedo para fazer qualquer especulação, sobretudo por
conta das singularidades que afetam as duas lideranças mais populares do Brasil
atualmente.
·
O Tarcísio sai dessa
eleição fortalecido como uma liderança mais independente do Bolsonaro?
Jairo
Nicolau - Eu não sei. O que eu ouço é que o
movimento [para eventualmente disputar a eleição presidencial] é que ele se
filie ao PL. Com exceção da vitória do Bolsonaro [em 2018], que concorreu com
um partido praticamente inexistente [o PSL], os partidos fazem diferença para a
disputa presidencial.
Concorrer pelo
Republicanos é um desafio: é menos tempo de televisão, é pouco dinheiro. Então,
naturalmente, ele iria para o PL. Indo para o PL, acho que ele não vai abrir
mão do prestígio, da força do Bolsonaro.
Mas acho que tem muita
água para rolar. As eleições municipais não são as eleições [locais]
americanas, em que há uma espécie de prévia da força dos partidos. Elas [as
eleições municipais brasileiras] servem para reacomodação muito pontual das
forças políticas.
A gente já sabe que o
PL cresceu, o PSDB afundou, que o PT não foi tão mal, que não ganhou muitas
cidades, mas melhorou nas câmaras municipais. Enfim, o partido respira.
O PSB também [foi
bem], mas o PDT foi mal. Esse tipo de coisa a gente aprende porque tem processo
de longo prazo. Agora, eu não gosto muito dessas especulações, porque eu sei
que elas, em geral, falham, sobretudo das eleições municipais para as nacionais.
·
Você tem apontado que
essa eleição mostra, mais uma vez, a falta de novas lideranças na esquerda. Por
que há dificuldade de renovação nesse campo?
Jairo
Nicolau - Eu não sei. O que me irritou um pouco
foi esse clichê [em algumas análises] de que a esquerda não sabe conversar com
o Brasil e precisamos fazer um novo programa para falar com a periferia,
entender o empreendedorismo, entender os evangélicos.
Eu acho que o que
falta à esquerda não é ideia, não é proposta, mas novas lideranças. Precisa de
um estudo sobre organização do PT, sobre como funciona o processo decisório do partido,
para dizer por que o PT envelheceu com as suas lideranças.
A Natália [Bonavides],
de Natal, que perdeu a eleição [para Paulinho Freire, do União Brasil], é uma
das jovens mais talentosas que vi no PT nos últimos dez, 15 anos.
Por que o PSOL
consegue? 'Ah, por questões de pauta identitária'. Não acho que seja isso. O
PSOL, de alguma maneira, atrai a juventude universitária em muitas cidades,
atrai uns setores da classe média, e o PT não tem atraído.
A gente vê muita
renovação pela direita. O pessoal torceu muito o nariz com cursos [de formação
política] como o que a [deputada federal do PSB por São Paulo] Tabata Amaral
fez [RenovaBR]. Será que não é o caso do PT começar a criar quadros, atrair
jovens para assistirem cursos de formação e serem candidatos?
A Tabata Amaral não
começou no movimento estudantil. Ela começou como uma liderança do mundo
acadêmico, tinha acabado a formação nos Estados Unidos, chegou aqui, fez um
curso desses, montou uma rede e começou a carreira.
O PT precisa se
modernizar internamente e formar líderes. Essa é a minha ideia, diferente desse
negócio de fazer documento, chamar intelectual para conversar, ouvir
pastores... Não, precisa de um pastor carismático petista, que seja querido na
comunidade evangélica e mostre que você pode ser evangélico e petista, que a
vida vai bem.
·
O resultado do PT
nessa eleição diz algo sobre o potencial de Lula em 2026?
Jairo
Nicolau - Nada, não quer dizer nada. O PT melhorou
sua votação para câmaras municipais, subiu nas grandes cidades. O desempenho
desastroso do PT foi em 2016, melhorou um pouquinho em 2020, melhorou um
pouquinho agora.
Em 2022, fez a segunda
bancada [da Câmara dos Deputados]. Com essa votação para as câmaras municipais
[em 2024], o PT deve continuar com a segunda ou, no máximo, terceira bancada na
Câmara dos Deputados [em 2026], vai continuar com poder.
E o desempenho do Lula
não tem nada a ver com o PT. O desempenho do Lula é Lula. O PT vai, sim, ter
problema, se o Lula não puder ser candidato.
·
O João Campos pode ser
apontado como uma nova liderança da esquerda? Tem potencial para liderar o
campo nacionalmente no futuro?
Jairo
Nicolau - Eu vejo como a principal [nova liderança],
se você pensa líderes abaixo de 40 anos [João Campos tem 30].
Ele é muito talentoso,
um fenômeno eleitoral. Sem dúvida, a probabilidade de que ele continue como uma
das principais lideranças da próxima década é óbvia. Mas ele não está o PT,
está num partido menor.
·
O João Campos não ser
do PT e ser de Pernambuco, um Estado que não é tão importante em tamanho
eleitoral, pode limitar a capacidade de liderança?
Jairo
Nicolau - Acho que não, um político se nacionaliza.
Sem fazer uma comparação descabida, o pai dele [Eduardo Campos, morto em um
acidente aéreo em 2014, quando disputava a eleição presidencial pelo PSB], que
também foi um grande político, se nacionalizou quando virou ministro do Lula
[de 2004 a 2005], foi governador de Pernambuco [de 2007 a 2014].
Ele ainda é muito
jovem, é pouco conhecido nacionalmente. Então, ainda tem um longo processo de
nacionalização do nome que precede qualquer especulação [sobre seu futuro].
·
O resultado das
disputas municipais, com uma alta taxa de reeleição e predomínio da
centro-direita, sinaliza algo sobre a composição do Congresso em 2026?
Jairo
Nicolau - Eu acho que o [próximo] Congresso vai
ser muito parecido com o atual. Tem sido esse padrão.
Provavelmente, 20% a
25% [dos próximos congressistas serão] da esquerda. Alguns segmentos de centro
devem subir, MDB, PSD, e alguns partidos à direita. Por outro lado, teremos o
PL, provavelmente, como maior partido de novo, pelos resultados das municipais,
pela presença do Bolsonaro, e pelas lideranças, porque eles têm lideranças
emergentes, como o Bruno Engler, o André Fernandes, o Fred Rodrigues [derrotado
em Goiânia por Sandro Mabel, do União Brasil]. São todos jovens e têm uma
carreira [pela frente].
E mesmo a Cristina
[Graeml], que não é tão jovem assim, mas ela apareceu com muita força e já se
fala na candidatura dela ao Senado pelo no Paraná. Eles vêm com muita força.
Fonte: BBC News Mundo
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