Comentaristas analisam desempenho da direita
e esquerda nestas eleições municipais
Colunistas do g1 e da
GloboNews analisaram o resultado das eleições municipais de 2024 e como a
direita e a esquerda se saíram após o segundo turno do pleito.
O PSD foi o partido
que levou mais prefeituras, um total de 887. Entre as capitais, ganhou a
eleição para prefeitura no Rio de Janeiro, com Eduardo Paes, em Belo Horizonte,
com Fuad Noman, em São Luís, com Eduardo Braide, e em Curitiba, com Eduardo
Pimentel.
Em segundo lugar está
o MDB, com 854 prefeituras, o que inclui a de São Paulo, com a reeleição de
Ricardo Nunes, e a de Porto Alegre, com a reeleição de Sebastião Melo.
O PL de Bolsonaro
elegeu quatro prefeitos em capitais, no melhor resultado desde o surgimento do
partido. Foram dois no primeiro turno e dois no segundo turno. O partido do
ex-presidente vai governar João Pessoa, com JHC, Rio Branco, com Tião Bocalom,
Aracaju, com Emília Corrêa e Cuiabá, com Abílio Brunini.
O PT ganhou apenas a
prefeitura de uma capital, Fortaleza. Evandro Leitão foi eleito prefeito da
capital cearense com 50,38% dos votos válidos, contra o candidato André
Fernandes, do PL. A diferença foi de apenas 0,76%. Apesar do resultado fraco,
houve uma melhora para a performance do PT, que não vencia em capitais desde
2016.
• Andréia Sadi
➡️Vitória da direita pragmática
Para a apresentadora
do Estúdio i, Andréia Sadi, as eleições municipais deram vitória à direita que
representa o campo conservador mais pragmático.
"O governador de
São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse que eleição é uma vitória da direita, mas
são várias 'direitas' dentro da direita. O campo conservador é o vitorioso, mas
com uma pitada de pragmatismo."
A comentarista afirma
que a direita sai empoderada do pleito já pensando nas eleições nacionais de
2026 e que a própria esquerda e o PT reconhecem isso.
"A direita sai
empoderada e há o reconhecimento disso pelo lado da esquerda e do PT. Eu
conversei com José Dirceu, que é uma das principais lideranças do PT, e disse
que 'o resultado empodera a direita do ponto de vista psicológico para as
eleições 2026'. É uma direita fortalecida, organizada e ampliada. Tem muitas
opções de nomes em São Paulo e Goiás, muitas lideranças."
➡️ Futuro da esquerda
Ela finaliza, dizendo
que a esquerda recebeu diversos recados e que é necessário renovar para que se
encontrem novas lideranças.
"Quando se olha
para a esquerda, há vários recados. Recados para o governo Lula, de que não
está ouvindo a sociedade, segundo lideranças do PT. Tem recado para a esquerda
e para o próprio partido, de que é preciso renovar. Não basta renovar apenas as
lideranças, mas também achar uma mensagem. Não basta trocar a Secretaria de
Comunicação, quem comunica é o presidente Lula. Qual é a mensagem? E voltamos
os olhos para o trabalhador autônomo, que foi 'descoberto' no final das
campanhas para prefeito."
• Julia Duailibi
➡️ Investimento das campanhas
Para Julia Duailibi,
apresentadora do Globonews Mais, um dos destaques das eleições 2024 foi valor
elevado de investimento nas campanhas.
"O orçamento
secreto, as emendas, foram decisivas principalmente para a vitória do Centrão,
que é quem controla esse tipo de emenda no Congresso. Na campanha do Ricardo
Nunes e de Guilherme Boulos, em São Paulo, o Boulos conseguiu arrecadar neste
ano R$ 80 milhões para a campanha e, em 2020, R$ 7 milhões com um desempenho
parecido".
Ela destaca que muitas
vezes ter uma estrutura sólida não é decisivo para eleger, mas ressalta que do
lado do adversário de Boulos teve a máquina pública. "Nunes teve uma
arrecadação menor do que a de Boulos, foram R$ 50 milhões, mas ele tinha a caneta
na mão e isso é fundamental", ressalta.
➡️ A força do centro
Julia diz que tanto a
esquerda como a extrema direita enfrentam dificuldades para conseguir vencer
candidatos do centro.
"Há dificuldades
estruturais em determinadas candidaturas de esquerda para conseguir vencer o
centro. Mas há, também, uma dificuldade similar da extrema direita para vencer
o centro, como vimos em Goiânia, em Belo Horizonte e em Curitiba", diz a
comentarista.
• Natuza Nery e Julia Duailibi
➡️ Governadores fortalecidos
Julia Duailibi diz que
as eleições mostraram a força dos governadores, principalmente por causa da
máquina pública e das alianças costuradas a partir dela.
A comentarista destaca
que Ronaldo Caiado (Goiás), Ratinho Junior (Paraná), Tarcísio de Freitas (São
Paulo) e Helder Barbalho (Pará) saíram vitoriosos ao conseguir eleger seus
apadrinhados nas capitais.
Julia afirma ainda que
a esquerda sai derrotada, "especificamente o PT, mais do que o presidente
Lula, que não entrou de cabeça nas campanhas". A comentarista diz que
"isso foi uma estratégia, já que as campanhas não estavam fortes". "Ele
[Lula] fazendo isso [não tendo participado das campanhas com mais força] não
sai como derrotado."
➡️ Os desafios do PT
Para Natuza Nery, o
presidente Lula "tem muito claro o diagnóstico da completa
institucionalização do PT, ou o PT transformado em um partido de
gabinete".
"Isso é a
antítese do PT desde sua criação. O partido foi se distanciando de suas
bases."
"Quem são as
lideranças do PT com as quais se tem falado? Não tem. Então, o partido precisa
ter um retorno às origens. Ao mesmo tempo, esse retorno não pode ser absoluto
porque as ideias não estão convencendo os eleitores. É como se as ideias do partido
tivessem cansado o eleitorado", diz Natuza.
Julia comenta que, a
partir da eleição de 2018, o discurso de extrema-direita de Bolsonaro começa a
interessar um eleitor de baixa renda, homem e jovem, o que vai se
intensificando nas eleições seguintes.
"Para público, o
discurso da esquerda não chega mais. Eles se sentem representados por discursos
como do candidato Pablo Marçal. É um discurso antissistema, do Estado menor, o
discurso da prosperidade. É um discurso que contempla muito do que os jovens
querem agora. Lula entende isso, de que o PT não consegue mais chegar neste
público. E ele sabe que precisa mudar."
• Daniela Lima
➡️ Derrapada de Tarcísio na reta final
Daniela Lima, do
Conexão GloboNews, destaca a importância do governador de São Paulo, Tarcísio
de Freitas (Republicanos), na eleição de Ricardo Nunes. No entanto, no dia da
votação, o governador se envolveu em uma polêmica ao falar que a polícia
interceptou mensagem de facção orientando voto em Boulos. O TRE negou ter
recebido qualquer relatório.
"O governador
poderia ter saído ainda maior dessa eleição se não tivesse feito o que fez em
uma entrevista coletiva e que vai lhe render um caso. Está no Supremo e na
Justiça Eleitoral", comenta.
➡️ Aliados bolsonaristas desgastados
Sobre a participação
de Jair Bolsonaro na eleição, Daniela Lima destaca que alguns aliados acabaram
se desgastando frente ao eleitorado.
"A questão é que
não só Bolsonaro optou por ficar nichado, como, ao fazer essa opção pelo nicho
mais vocal de suas ideias, ele desgastou aliados. Ele evitou a vitória
importante do PP em João Pessoa, evitou vitória do Progressistas em primeiro
turno em Campo Grande e fez com que aliados do Republicanos ficassem
chateados", afirma Daniela Lima.
"Na verdade, o
ex-presidente [Bolsonaro] conseguiu buscar um arco amplo de pessoas e
dirigentes de partidos em que conseguiu criar arestas que talvez não tivesse
ainda, além de desconfianças em seu próprio nicho", diz.
• Gerson Camarotti
➡️ Avanço da direita no Nordeste
O comentarista Gerson
Camarotti ressalta um "crescimento vertiginoso da direita no
Nordeste", região onde o presidente Lula sempre teve muita força. "No
Nordeste, vemos um crescimento vertiginoso da direita. A esquerda só consegue
fazer duas capitais [nessas eleições]: Fortaleza, com muita dificuldade, com
Evandro Leitão, do PT, e Recife, no primeiro turno, com João Campos, do PSB.
Todo o restante do mapa vai para a direita na região."
"O centro, a
centro-direita e a direita fazem a maior parte das capitais brasileiras e das
cidades. Isso levando em conta a extrema direita que Bolsonaro tentou concorrer
em várias capitais, mas não conseguiu [eleger candidatos]. Esse discurso radical
assustou o eleitor no segundo turno. Bolsonaro levou uma rejeição aos
candidatos que apoiou. Esse é um alerta para a extrema direita: onde a direita
e a centro-direita deram certo foi onde o candidato conseguiu levar um discurso
mais moderado."
• Octavio Guedes
➡️ As derrotas de Bolsonaro
Para Octavio Guedes, a
derrota de Bolsonaro em Goiás mostra que há outras lideranças dentro da direita
brasileira.
"Existe vida
inteligente na direita fora de Bolsonaro. E é uma vida inteligente",
disse.
Guedes afirma que
Bolsonaro se acha "o cacique da direita", mas que o resultado das
eleições municipais mostrou que ele não é este cacique.
➡️ Falta de renovação da esquerda
Ao mesmo tempo, o
comentarista diz que o governo Lula precisa deixar de ser um "governo de
cabeças brancas" e parar de ficar falando apenas do passado.
"A esquerda
precisa de uma mensagem para esse novo mundo. Não está mais encantando o
eleitor a luta de classes, do explorado contra o burguês. O explorado quer ser
o buguês, quer subir de vida, quer ter prosperidade. Esse eleitor não acredita
no Estado e não quer pagar imposto...Aquele discurso da década de 1980, de que
o PT vem pra defender o explorado do capitalismo, não funciona mais."
• Apesar de polarização prometida, nem
Lula nem Bolsonaro saíram como vencedores no 2º turno. Por Valdo Cruz
A tese de uma eleição
polarizada entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro – cantada pelos
dois lados antes da disputa municipal deste ano – não se confirmou.
O fim do segundo
turno, aliás, foi marcado pela derrota de ambos no maior colégio eleitoral do
país, a cidade de São Paulo. Ao fim, nem Lula, nem Bolsonaro saíram vitoriosos
das eleições municipais.
O ex-presidente da
República, por sinal, jogou fora uma vitória que poderia ser atribuída a ele
também. Bastava ter se engajado na campanha do prefeito reeleito Ricardo Nunes.
Ao não fazê-lo, abriu espaço para o crescimento da sua criatura, o governador Tarcísio
Gomes de Freitas.
Lula, do seu lado,
jogou todas as suas fichas no início da candidatura de Guilherme Boulos. Até
trabalhou por ela no primeiro turno, mas foi deixando o envolvimento de lado e
passando a prever a derrota do deputado do PSOL.
TSE e PF consideram
que 2° turno foi tranquilo, com número baixo de ocorrências
O presidente da
República pode dizer que teve uma vitória importante em Fortaleza contra
Bolsonaro, onde realmente ocorreu uma polarização.
Perdeu, no entanto,
nas outras três capitais em que estava disputando: Cuiabá, Natal e Porto
Alegre.
Já Bolsonaro perdeu em
Fortaleza, em Goiânia (onde se envolveu pessoalmente e esteve presente na
votação do segundo turno), em Belo Horizonte, Curitiba e Niterói.
No segundo turno, o PL
elegeu seis prefeitos e o PT, quatro. Em capitais, o PL elegeu dois dos nove em
disputa. O PT, um dos quatro em disputa.
• Bolsonaro e Lula acumulam derrotas e
saem enfraquecidos nas eleições de 2024. Por Carlos Vasconcellos
Embora tenha
colecionado vitórias expressivas em 6 de outubro, Jair Bolsonaro (PL) viu
quatro aliados para quem fez campanha serem derrotados no segundo turno:
Delegado Éder Mauro (PL), em Belém, Fred Rodrigues (PL), em Goiânia, Marcelo
Queiroga (PL), em João Pessoa e Capitão Alberto Neto, em Manaus.
Nenhuma dessas
derrotas foi para a esquerda, mas a eleição de Sandro Mabel (União) na capital
de Goiás fortalece eleitoralmente o governador do estado, Ronaldo Caiado
(União), que disputa com Bolsonaro o eleitorado da direita. Além disso, a
ex-deputada Mariana Carvalho (Uniã0), apoiada pelo ex-mandatário, perdeu a
administração da Prefeitura de Porto Velho. O mesmo aconteceu com a candidata
do PL em Palmas, Janad Valcari, que foi derrotada por Eduardo Siqueira Campos
(Podemos).
Por outro lado,
Bolsonaro sofreu uma derrota em parte na capital do Paraná, Curitiba, pois o
candidato Eduardo Pimentel (PSD) foi o nome indicado pelo ex-presidente. No
entanto, o agora prefeito paraense preferiu esconder esse apoio durante o
primeiro turno, o que fez com que Jair Bolsonaro puxasse votos para Cristina
Graeml, o que ajudou a candidata a chegar no segundo turno.
O ex-presidente, no
entanto, foi um participante ativo da vitoriosa campanha de Abílio Brunini
(PL), eleito prefeito de Cuiabá em embate direto contra o petista Lúdio Cabral.
Lula também é um dos
principais derrotados do pleito deste ano. O Partido dos Trabalhadores elegeu
prefeito em apenas uma capital, Fortaleza, com o candidato Evandro Leitão..
Neste segundo turno, a legenda amargou reveses em São Paulo, com o apoio a Boulos
(PSOL) e em Natal, com Natália Bonavides e Cuiabá, com Lúdio Cabral.
Por outro lado, o
presidente conquistou vitória em Fortaleza (CE), em uma disputa acirrada com um
candidato bolsonarista. Evandro Leitão (PT) conquistou o cargo de prefeito com
50,38% dos votos válidos, enquanto André Fernandes (PL) conquistou 49,62%. A Prefeitura
de Belo Horizonte, Minas Gerais, também foi angariada por um concorrente
apoiado por Lula. Com a derrota do deputado Rogério Correia (PT), o mandatário
anunciou apoio à reeleição de Fuad Noman (PSD) — reeleito com 53,76% dos votos,
contra Bruno Engler (PL), com 46,24%.
Em Belém, o PT
originalmente apoiou a reeleição de Edmilson Rodrigues (PSOL), que acabou sendo
derrotado logo no primeiro turno. Depois, Lula não apenas declarou apoio a Igor
Normando (MDB), como se encontrou com ele a capital paraense. Neste domingo, 27,
Normando obteve 56,36% dos votos e derrotou o bolsonarista Éder Mauro (PL), que
teve 31,48% dos votantes.
• MDB e PSD são os maiores vencedores
No pleito deste ano,
dois partidos foram os maiores vencedores: MDB e PSD. A primeira sigla
conquistou a Prefeitura de São Paulo — considerada a maior capital do País —
com a reeleição de Ricardo Nunes, que derrotou Guilherme Boulos (PSOL) com
59,38% dos votos e 40,62%, respectivamente.
Além disso, o MDB
conseguiu eleger Arthur Henrique, em Boa Vista, o Dr. Furlan, em Macapá, Igor
Normando, em Belém, e Sebastião Melo, em Porto Alegre.
Já o PSD, sigla de
Gilberto Kassab, colecionou vitórias com Topázio, em Florianópolis, Eduardo
Paes, em primeiro turno no Rio de Janeiro, Eduardo Braide, em São Luís, Eduardo
Pimentel, em Curitiba, e Fuad Noman, em Belo Horizonte.
Fonte: g1/IstoÉ
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