terça-feira, 29 de outubro de 2024

Comentaristas analisam desempenho da direita e esquerda nestas eleições municipais

Colunistas do g1 e da GloboNews analisaram o resultado das eleições municipais de 2024 e como a direita e a esquerda se saíram após o segundo turno do pleito.

O PSD foi o partido que levou mais prefeituras, um total de 887. Entre as capitais, ganhou a eleição para prefeitura no Rio de Janeiro, com Eduardo Paes, em Belo Horizonte, com Fuad Noman, em São Luís, com Eduardo Braide, e em Curitiba, com Eduardo Pimentel.

Em segundo lugar está o MDB, com 854 prefeituras, o que inclui a de São Paulo, com a reeleição de Ricardo Nunes, e a de Porto Alegre, com a reeleição de Sebastião Melo.

O PL de Bolsonaro elegeu quatro prefeitos em capitais, no melhor resultado desde o surgimento do partido. Foram dois no primeiro turno e dois no segundo turno. O partido do ex-presidente vai governar João Pessoa, com JHC, Rio Branco, com Tião Bocalom, Aracaju, com Emília Corrêa e Cuiabá, com Abílio Brunini.

O PT ganhou apenas a prefeitura de uma capital, Fortaleza. Evandro Leitão foi eleito prefeito da capital cearense com 50,38% dos votos válidos, contra o candidato André Fernandes, do PL. A diferença foi de apenas 0,76%. Apesar do resultado fraco, houve uma melhora para a performance do PT, que não vencia em capitais desde 2016.

•        Andréia Sadi

➡️Vitória da direita pragmática

Para a apresentadora do Estúdio i, Andréia Sadi, as eleições municipais deram vitória à direita que representa o campo conservador mais pragmático.

"O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse que eleição é uma vitória da direita, mas são várias 'direitas' dentro da direita. O campo conservador é o vitorioso, mas com uma pitada de pragmatismo."

A comentarista afirma que a direita sai empoderada do pleito já pensando nas eleições nacionais de 2026 e que a própria esquerda e o PT reconhecem isso.

"A direita sai empoderada e há o reconhecimento disso pelo lado da esquerda e do PT. Eu conversei com José Dirceu, que é uma das principais lideranças do PT, e disse que 'o resultado empodera a direita do ponto de vista psicológico para as eleições 2026'. É uma direita fortalecida, organizada e ampliada. Tem muitas opções de nomes em São Paulo e Goiás, muitas lideranças."

➡️ Futuro da esquerda

Ela finaliza, dizendo que a esquerda recebeu diversos recados e que é necessário renovar para que se encontrem novas lideranças.

"Quando se olha para a esquerda, há vários recados. Recados para o governo Lula, de que não está ouvindo a sociedade, segundo lideranças do PT. Tem recado para a esquerda e para o próprio partido, de que é preciso renovar. Não basta renovar apenas as lideranças, mas também achar uma mensagem. Não basta trocar a Secretaria de Comunicação, quem comunica é o presidente Lula. Qual é a mensagem? E voltamos os olhos para o trabalhador autônomo, que foi 'descoberto' no final das campanhas para prefeito."

•        Julia Duailibi

➡️ Investimento das campanhas

Para Julia Duailibi, apresentadora do Globonews Mais, um dos destaques das eleições 2024 foi valor elevado de investimento nas campanhas.

"O orçamento secreto, as emendas, foram decisivas principalmente para a vitória do Centrão, que é quem controla esse tipo de emenda no Congresso. Na campanha do Ricardo Nunes e de Guilherme Boulos, em São Paulo, o Boulos conseguiu arrecadar neste ano R$ 80 milhões para a campanha e, em 2020, R$ 7 milhões com um desempenho parecido".

Ela destaca que muitas vezes ter uma estrutura sólida não é decisivo para eleger, mas ressalta que do lado do adversário de Boulos teve a máquina pública. "Nunes teve uma arrecadação menor do que a de Boulos, foram R$ 50 milhões, mas ele tinha a caneta na mão e isso é fundamental", ressalta.

➡️ A força do centro

Julia diz que tanto a esquerda como a extrema direita enfrentam dificuldades para conseguir vencer candidatos do centro.

"Há dificuldades estruturais em determinadas candidaturas de esquerda para conseguir vencer o centro. Mas há, também, uma dificuldade similar da extrema direita para vencer o centro, como vimos em Goiânia, em Belo Horizonte e em Curitiba", diz a comentarista.

•        Natuza Nery e Julia Duailibi

➡️ Governadores fortalecidos

Julia Duailibi diz que as eleições mostraram a força dos governadores, principalmente por causa da máquina pública e das alianças costuradas a partir dela.

A comentarista destaca que Ronaldo Caiado (Goiás), Ratinho Junior (Paraná), Tarcísio de Freitas (São Paulo) e Helder Barbalho (Pará) saíram vitoriosos ao conseguir eleger seus apadrinhados nas capitais.

Julia afirma ainda que a esquerda sai derrotada, "especificamente o PT, mais do que o presidente Lula, que não entrou de cabeça nas campanhas". A comentarista diz que "isso foi uma estratégia, já que as campanhas não estavam fortes". "Ele [Lula] fazendo isso [não tendo participado das campanhas com mais força] não sai como derrotado."

➡️ Os desafios do PT

Para Natuza Nery, o presidente Lula "tem muito claro o diagnóstico da completa institucionalização do PT, ou o PT transformado em um partido de gabinete".

"Isso é a antítese do PT desde sua criação. O partido foi se distanciando de suas bases."

"Quem são as lideranças do PT com as quais se tem falado? Não tem. Então, o partido precisa ter um retorno às origens. Ao mesmo tempo, esse retorno não pode ser absoluto porque as ideias não estão convencendo os eleitores. É como se as ideias do partido tivessem cansado o eleitorado", diz Natuza.

Julia comenta que, a partir da eleição de 2018, o discurso de extrema-direita de Bolsonaro começa a interessar um eleitor de baixa renda, homem e jovem, o que vai se intensificando nas eleições seguintes.

"Para público, o discurso da esquerda não chega mais. Eles se sentem representados por discursos como do candidato Pablo Marçal. É um discurso antissistema, do Estado menor, o discurso da prosperidade. É um discurso que contempla muito do que os jovens querem agora. Lula entende isso, de que o PT não consegue mais chegar neste público. E ele sabe que precisa mudar."

•        Daniela Lima

➡️ Derrapada de Tarcísio na reta final

Daniela Lima, do Conexão GloboNews, destaca a importância do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na eleição de Ricardo Nunes. No entanto, no dia da votação, o governador se envolveu em uma polêmica ao falar que a polícia interceptou mensagem de facção orientando voto em Boulos. O TRE negou ter recebido qualquer relatório.

"O governador poderia ter saído ainda maior dessa eleição se não tivesse feito o que fez em uma entrevista coletiva e que vai lhe render um caso. Está no Supremo e na Justiça Eleitoral", comenta.

➡️ Aliados bolsonaristas desgastados

Sobre a participação de Jair Bolsonaro na eleição, Daniela Lima destaca que alguns aliados acabaram se desgastando frente ao eleitorado.

"A questão é que não só Bolsonaro optou por ficar nichado, como, ao fazer essa opção pelo nicho mais vocal de suas ideias, ele desgastou aliados. Ele evitou a vitória importante do PP em João Pessoa, evitou vitória do Progressistas em primeiro turno em Campo Grande e fez com que aliados do Republicanos ficassem chateados", afirma Daniela Lima.

"Na verdade, o ex-presidente [Bolsonaro] conseguiu buscar um arco amplo de pessoas e dirigentes de partidos em que conseguiu criar arestas que talvez não tivesse ainda, além de desconfianças em seu próprio nicho", diz.

•        Gerson Camarotti

➡️ Avanço da direita no Nordeste

O comentarista Gerson Camarotti ressalta um "crescimento vertiginoso da direita no Nordeste", região onde o presidente Lula sempre teve muita força. "No Nordeste, vemos um crescimento vertiginoso da direita. A esquerda só consegue fazer duas capitais [nessas eleições]: Fortaleza, com muita dificuldade, com Evandro Leitão, do PT, e Recife, no primeiro turno, com João Campos, do PSB. Todo o restante do mapa vai para a direita na região."

"O centro, a centro-direita e a direita fazem a maior parte das capitais brasileiras e das cidades. Isso levando em conta a extrema direita que Bolsonaro tentou concorrer em várias capitais, mas não conseguiu [eleger candidatos]. Esse discurso radical assustou o eleitor no segundo turno. Bolsonaro levou uma rejeição aos candidatos que apoiou. Esse é um alerta para a extrema direita: onde a direita e a centro-direita deram certo foi onde o candidato conseguiu levar um discurso mais moderado."

•        Octavio Guedes

➡️ As derrotas de Bolsonaro

Para Octavio Guedes, a derrota de Bolsonaro em Goiás mostra que há outras lideranças dentro da direita brasileira.

"Existe vida inteligente na direita fora de Bolsonaro. E é uma vida inteligente", disse.

Guedes afirma que Bolsonaro se acha "o cacique da direita", mas que o resultado das eleições municipais mostrou que ele não é este cacique.

➡️ Falta de renovação da esquerda

Ao mesmo tempo, o comentarista diz que o governo Lula precisa deixar de ser um "governo de cabeças brancas" e parar de ficar falando apenas do passado.

"A esquerda precisa de uma mensagem para esse novo mundo. Não está mais encantando o eleitor a luta de classes, do explorado contra o burguês. O explorado quer ser o buguês, quer subir de vida, quer ter prosperidade. Esse eleitor não acredita no Estado e não quer pagar imposto...Aquele discurso da década de 1980, de que o PT vem pra defender o explorado do capitalismo, não funciona mais."

 

•        Apesar de polarização prometida, nem Lula nem Bolsonaro saíram como vencedores no 2º turno. Por Valdo Cruz

A tese de uma eleição polarizada entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro – cantada pelos dois lados antes da disputa municipal deste ano – não se confirmou.

O fim do segundo turno, aliás, foi marcado pela derrota de ambos no maior colégio eleitoral do país, a cidade de São Paulo. Ao fim, nem Lula, nem Bolsonaro saíram vitoriosos das eleições municipais.

O ex-presidente da República, por sinal, jogou fora uma vitória que poderia ser atribuída a ele também. Bastava ter se engajado na campanha do prefeito reeleito Ricardo Nunes. Ao não fazê-lo, abriu espaço para o crescimento da sua criatura, o governador Tarcísio Gomes de Freitas.

Lula, do seu lado, jogou todas as suas fichas no início da candidatura de Guilherme Boulos. Até trabalhou por ela no primeiro turno, mas foi deixando o envolvimento de lado e passando a prever a derrota do deputado do PSOL.

TSE e PF consideram que 2° turno foi tranquilo, com número baixo de ocorrências

O presidente da República pode dizer que teve uma vitória importante em Fortaleza contra Bolsonaro, onde realmente ocorreu uma polarização.

Perdeu, no entanto, nas outras três capitais em que estava disputando: Cuiabá, Natal e Porto Alegre.

Já Bolsonaro perdeu em Fortaleza, em Goiânia (onde se envolveu pessoalmente e esteve presente na votação do segundo turno), em Belo Horizonte, Curitiba e Niterói.

No segundo turno, o PL elegeu seis prefeitos e o PT, quatro. Em capitais, o PL elegeu dois dos nove em disputa. O PT, um dos quatro em disputa.

 

•        Bolsonaro e Lula acumulam derrotas e saem enfraquecidos nas eleições de 2024. Por Carlos Vasconcellos

Embora tenha colecionado vitórias expressivas em 6 de outubro, Jair Bolsonaro (PL) viu quatro aliados para quem fez campanha serem derrotados no segundo turno: Delegado Éder Mauro (PL), em Belém, Fred Rodrigues (PL), em Goiânia, Marcelo Queiroga (PL), em João Pessoa e Capitão Alberto Neto, em Manaus.

Nenhuma dessas derrotas foi para a esquerda, mas a eleição de Sandro Mabel (União) na capital de Goiás fortalece eleitoralmente o governador do estado, Ronaldo Caiado (União), que disputa com Bolsonaro o eleitorado da direita. Além disso, a ex-deputada Mariana Carvalho (Uniã0), apoiada pelo ex-mandatário, perdeu a administração da Prefeitura de Porto Velho. O mesmo aconteceu com a candidata do PL em Palmas, Janad Valcari, que foi derrotada por Eduardo Siqueira Campos (Podemos).

Por outro lado, Bolsonaro sofreu uma derrota em parte na capital do Paraná, Curitiba, pois o candidato Eduardo Pimentel (PSD) foi o nome indicado pelo ex-presidente. No entanto, o agora prefeito paraense preferiu esconder esse apoio durante o primeiro turno, o que fez com que Jair Bolsonaro puxasse votos para Cristina Graeml, o que ajudou a candidata a chegar no segundo turno.

O ex-presidente, no entanto, foi um participante ativo da vitoriosa campanha de Abílio Brunini (PL), eleito prefeito de Cuiabá em embate direto contra o petista Lúdio Cabral.

Lula também é um dos principais derrotados do pleito deste ano. O Partido dos Trabalhadores elegeu prefeito em apenas uma capital, Fortaleza, com o candidato Evandro Leitão.. Neste segundo turno, a legenda amargou reveses em São Paulo, com o apoio a Boulos (PSOL) e em Natal, com Natália Bonavides e Cuiabá, com Lúdio Cabral.

Por outro lado, o presidente conquistou vitória em Fortaleza (CE), em uma disputa acirrada com um candidato bolsonarista. Evandro Leitão (PT) conquistou o cargo de prefeito com 50,38% dos votos válidos, enquanto André Fernandes (PL) conquistou 49,62%. A Prefeitura de Belo Horizonte, Minas Gerais, também foi angariada por um concorrente apoiado por Lula. Com a derrota do deputado Rogério Correia (PT), o mandatário anunciou apoio à reeleição de Fuad Noman (PSD) — reeleito com 53,76% dos votos, contra Bruno Engler (PL), com 46,24%.

Em Belém, o PT originalmente apoiou a reeleição de Edmilson Rodrigues (PSOL), que acabou sendo derrotado logo no primeiro turno. Depois, Lula não apenas declarou apoio a Igor Normando (MDB), como se encontrou com ele a capital paraense. Neste domingo, 27, Normando obteve 56,36% dos votos e derrotou o bolsonarista Éder Mauro (PL), que teve 31,48% dos votantes.

•        MDB e PSD são os maiores vencedores

No pleito deste ano, dois partidos foram os maiores vencedores: MDB e PSD. A primeira sigla conquistou a Prefeitura de São Paulo — considerada a maior capital do País — com a reeleição de Ricardo Nunes, que derrotou Guilherme Boulos (PSOL) com 59,38% dos votos e 40,62%, respectivamente.

Além disso, o MDB conseguiu eleger Arthur Henrique, em Boa Vista, o Dr. Furlan, em Macapá, Igor Normando, em Belém, e Sebastião Melo, em Porto Alegre.

Já o PSD, sigla de Gilberto Kassab, colecionou vitórias com Topázio, em Florianópolis, Eduardo Paes, em primeiro turno no Rio de Janeiro, Eduardo Braide, em São Luís, Eduardo Pimentel, em Curitiba, e Fuad Noman, em Belo Horizonte.

 

Fonte: g1/IstoÉ

 

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