terça-feira, 29 de outubro de 2024

Entre Trump e Harris, quem a China prefere?

Um dos poucos pontos nos quais democratas e republicanos em grande parte concordam é em manter a pressão econômica e estratégica sobre a China.

Durante a sua presidência, o candidato republicano, Donald Trump, deu início a uma guerra comercial com a China. O governo do presidente democrata Joe Biden manteve, em grande parte, uma postura rígida em relação a Pequim, com políticas voltadas para as exportações chinesas e o acesso a tecnologias essenciais.

Não se sabe ao certo qual seria o caminho que a candidata democrata, a vice-presidente Kamala Harris, tomaria em relação à China se vencesse em 5 de novembro. No entanto, espera-se que ela se alinhe ao seu antecessor, embora com sutis diferenças.

Diante dessa situação, alguns especialistas dizem que a China não tem nenhum favoritismo em relação a quem ocupará a Casa Branca a partir de janeiro de 2025.

O especialista Diao Daming, vice-diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade Renmin da China, em Pequim, diz que a atual tendência de competição estratégica entre os EUA e a China provavelmente continuará após a eleição.

Ele acrescentou que, se não houver nenhuma mudança fundamental na rivalidade entre os dois países, a vitória de nenhum dos candidatos "trará benefícios significativos para a China".

·        Freio às pretensões da China

Na campanha eleitoral, tanto Trump quanto Harris enfatizaram frear as ambições estratégicas da China na Ásia e responder às seguidas agressões a Taiwan, que o regime chinês considera uma província rebelde.

Numa recente entrevista ao jornal The Wall Street Journal, Trump disse que imporia tarifas de 200% sobre os produtos chineses se a China "entrasse em Taiwan".

Ele acrescentou que, se for de novo presidente, a China pensaria duas vezes antes de bloquear Taiwan porque o presidente Xi Jinping "me respeita e sabe que sou... louco".

Na frente econômica, Trump propôs planos para tarifas gerais de 10% a 20% sobre praticamente todas as importações, bem como tarifas de 60% ou mais sobre produtos da China. Ele afirma que essas medidas impulsionariam a produção interna dos EUA.

"Se ele de fato impuser essas tarifas, a China responderá à altura, com certeza", observa Diao. Durante a presidência anterior de Trump, de 2017 a 2021, ele introduziu uma série de tarifas sobre produtos chineses. A China respondeu com suas próprias tarifas, visando principalmente produtos agrícolas dos EUA, como a soja.

"Trump iniciou a competição estratégica com a China, enquanto Biden a pôs em prática nos últimos quatro anos", diz Diao. "Se Trump voltar ao cargo, isso significaria a continuação da agenda de Biden com as preferências e o ritmo de Trump. Seria uma situação muito complicada", acrescenta.

·        A incógnita Harris

Desde que Harris iniciou sua campanha presidencial, em julho, depois de Biden sair da disputa, suas poucas declarações sobre a China incluíram a promessa de garantir que "os Estados Unidos, e não a China, vençam a competição pelo século 21".

Diao diz que é mais difícil prever as ações de Harris em relação à China como presidente. "Não está claro para ninguém como serão as relações exteriores com ela."

Porém, espera-se que ela mantenha as políticas impostas pelo governo Biden, incluindo tarifas sobre as importações chinesas e o bloqueio do acesso da China à tecnologia crítica de semicondutores.

Em setembro, Biden concluiu os aumentos de tarifas sobre determinados produtos fabricados na China, com a taxa chegando a 100% sobre veículos elétricos. A União Europeia também aplicou tarifas semelhantes, irritando Pequim.

Ao mesmo tempo, Biden buscou uma comunicação mais aberta com a China. Ele recebeu o presidente Xi na Califórnia para uma cúpula bilateral em 2023.

Em setembro, à margem da cúpula de segurança de Xangrilá, em Singapura, os EUA e a China mantiveram conversações entre militares no "nível de comandante" para "manter linhas abertas de comunicação e gerenciar a competição de forma responsável".

O governo Biden também reforçou suas alianças regionais com as Filipinas, o Japão, a Austrália e a Índia.

Pequim pode preferir o isolacionismo de Trump

O analista político chinês Wu Qiang, ex-professor da Universidade Tsinghua, em Pequim, afirma que a China pode preferir Trump a Harris. "O retorno de Trump à Casa Branca seria uma grande vantagem para a China, pois significaria divisões mais profundas na democracia americana", analisa.

"Em meio à divisão com a Europa e aliados globais, os EUA vão se voltar para uma nova forma de isolacionismo, o que já foi evidente durante o mandato anterior de Trump", prevê.

Trump ficou conhecido pelo seu isolacionismo na política externa, com a adoção de uma política "America First" e a saída dos EUA de vários acordos internacionais.

Trump também tem uma visão transacional de alianças estratégicas, ameaçando diminuir o apoio à Otan na Europa e aos aliados na Ásia, como a Coreia do Sul e o Japão, se os parceiros não contribuírem mais para a própria defesa.

No entanto, a especialista Elizabeth Freund Larus, do think tank Atlantic Council, argumenta que o cenário geopolítico se deteriorou consideravelmente desde a primeira presidência de Trump e, portanto, as autoridades de política externa dos EUA vão pressioná-lo a se envolver com os aliados dos EUA. "Não acho que Trump vá voltar no tempo e parar de trabalhar com essas alianças, que estão tomando contornos mais firme", diz.

·        Ou então o foco em assuntos internos de Harris?

Nesse caso, os líderes chineses poderiam preferir uma vitória de Harris do ponto de vista da política externa e de defesa, argumenta Larus, já que a atual vice-presidente tem mais probabilidade de "cooperar com a China da mesma forma que seus antecessores – fora Trump – fizeram".

"Biden, quando ainda era a escolha do Partido Democrata, era mais duro com a China. Até parecia que Trump e Biden estavam tentando mostrar quem era mais duro. Harris não passa essa impressão. A agenda política dela é muito mais focada em assuntos internos", avalia Larus.

Na questão de Taiwan, a vice-presidente também é considerada mais reservada no apoio militar explícito à ilha do que Biden, que indicou várias vezes que as forças militares dos EUA defenderiam Taiwan se houvesse um "ataque sem precedentes".

Em comparação com Trump, diz Larus, Harris seria "mais propensa a um engajamento e a querer colocar a relação entres os EUA e a China de volta a algum tipo de caminho".

"Se eu fosse o Partido Comunista Chinês, preferiria aquele disposto a conversar. Eu poderia chegar e dizer 'vamos realizar reformas de mercado e queremos uma solução pacífica para a questão de Taiwan'", diz Larus.

<><> Empresas europeias sofrem 'efeito Trump' ante probabilidade de vitória republicana nos EUA

O aumento de tarifas de importação anunciado pelo ex-presidente norte-americano caso vença o pleito em novembro arrastou para baixo setores que já lutavam contra a fraca demanda chinesa, de acordo com indicadores de mercado.

A perspectiva de vitória de Donald Trump na corrida presidencial dos EUA e sua promessa de impor uma série de novas tarifas atingiu as ações de empresas europeias sensíveis à exportação, como as montadoras e grupos de bens de luxo, segundo uma cesta de 28 ações compiladas pelo Barclays.

Desde o final de setembro, a cesta de ações europeias expostas às tarifas dos EUA apresentou uma queda de 7%, o que demonstra a pressão do mercado frente à política econômica que Trump prometeu levar a cabo caso vença a corrida presidencial.

Segundo analistas ouvidos pelo Financial Times (FT), espera-se que a agenda de Trump impulsione o mercado de ações dos EUA com cortes de impostos no mercado interno, ao mesmo tempo que promete introduzir tarifas de 20% sobre produtos importados da Europa e 60% da China, o que já ameaça ampliar ainda mais a disparidade para os mercados europeus.

A apuração destacou ainda que a bolsa de criptomoedas Polymarket agora coloca as chances de Trump ganhar a presidência em 62%, acima dos 48% de um mês atrás.

No entanto, alguns analistas acham que as preocupações em torno dos mercados europeus são exageradas uma vez que os mercados tendem a se adaptar ao redor de um vencedor decisivo.

¨      Partido governista da Geórgia vence eleição em meio a pressão por integração europeia

O partido governista Sonho Georgiano recebeu mais de 54% dos votos na eleição parlamentar da Geórgia no sábado (26), informou a comissão eleitoral neste domingo (27), segundo a Reuters.

O resultado, com mais de 99% das urnas apuradas, foi um duro golpe para os georgianos pró-Ocidente, que haviam ido às urnas encarando o pleito como uma escolha entre um partido governista que aprofundou laços com a Rússia e uma oposição que pretende acelerar a integração com a União Europeia. O resultado foi contestado pelos partidos de oposição.

Nesse sentido, três missões de monitoramento distintas -- a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), composta por 57 nações; os grupos sem fins lucrativos norte-americanos National Democratic Institute (NDI) e International Republican Institute (IRI); e um grupo de monitoramento eleitoral georgiano -- relataram supostas violações durante a votação de sábado, segundo a Reuters.

As supostas violações, incluindo o enchimento de urnas, suborno, intimidação de eleitores e violência física perto das seções eleitorais, podem ter tido impacto sobre os resultados, disseram os grupos neste domingo. No entanto, as três missões de monitoramento não chegaram a dizer que as eleições foram fraudadas ou falsificadas -- alegações que os grupos de oposição reiteraram neste domingo.

Ao mesmo tempo, as forças governistas acusaram grupos de tentarem interferir nas eleições. Pela primeira vez, o Reino Unido congelou o diálogo político com a Geórgia e cancelou as conversas entre os ministros da Defesa. O Bundestag alemão aprovou uma resolução intitulada “Pelo Futuro Europeu da Geórgia”, que caracteriza o atual curso político na república como uma ameaça à sua integração nas estruturas europeias.

Além disso, o embaixador da União Europeia na Geórgia, Pawel Herczynski, afirmou anteriormente que as instituições da UE decidiram suspender reuniões de alto nível com representantes da liderança georgiana. Ele também disse que Bruxelas esperava que as eleições parlamentares na Geórgia fossem livres e justas, mas que, se a situação piorar, a UE poderá suspender a liberalização de vistos.

O primeiro-ministro georgiano, Irakli Kobakhidze, afirmou neste domingo que a oposição georgiana não possui recursos para interromper a primeira sessão do novo parlamento, e o governo será aprovado.

“A oposição não tem recursos, a primeira sessão do parlamento ocorrerá normalmente, e o governo será aprovado,” disse Kobakhidze em uma coletiva. A declaração foi citada pela Sputnik.

O primeiro-ministro acrescentou que a reunião do parlamento recém-eleito acontecerá independentemente da decisão da presidente Salome Zourabichvili de convocar ou não a reunião. “O parlamento deve se reunir dentro de 10 dias após o anúncio dos dados finais [resultados das eleições], e mesmo que a presidente não agende uma reunião, o parlamento se reunirá por conta própria,” declarou Kobakhidze em uma coletiva.

 

¨      Nem Trump, nem Kamala: para analistas, causa palestina não deve avançar com próximo presidente dos EUA

O ano de 2024 com o genocídio em curso na Faixa de Gaza talvez tenha sido o mais traumático para a Palestina desde a nakba (tragédia) de 1948, quando a criação de Israel levou ao despejo de centenas de milhares de famílias. Analistas ouvidos pelo Brasil de Fato, no entanto, enxergam pouca chance de melhoria para esse povo caso os Estados Unidos elejam Kamala Harris ou Donald Trump como presidente no próximo dia 5. 

Arturo Hartmann, pesquisador de Relações Internacionais e membro do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Federal de Sergipe (CEAI-UFS) e Mohammed Nadir, coordenador do Laboratório de Estudos Árabes da UFABC (LEA-UFABC) concordam que nenhum dos dois deve brecar a sanha israelense, mas reconhecem que Trump pode ser ainda pior para palestinos. 

"Muito da atual conjuntura foi arquitetada por políticas externas de quando Trump estava no governo. Ele desenhou um enquadramento de normalização dos países árabes com Israel, por meio dos Acordos de Abrãao, que almejavam incluir a Arábia Saudita e, por ora, incluem Bahrein, Emirados Árabes, Marrocos e Sudão", diz Hartmann. 

Um dos motivos alegados pelo Hamas para os ataques de 7 de outubro era justamente impedir que os sauditas normalizassem relações com israel, movimento visto como capaz de sepultar a causa palestina. "Os Acordos de Abraaão foram um sucesso diplomático sem precedentes da gestão Trump. Eles ocorrem às custas da causa palestina", diz Nadir. 

"Trump levou a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém, o que contraria as leis internacionais, porque esta é uma cidade disputada e nenhum desses países [signatários] condicionou o acordo à solução para a Palestina. De certa forma ele assassinou a questão palestina", completa o analista. 

Nadir acredita que um novo mandato de Trump "seria uma tragédia para os palestinos". Já Hartman diz que o ex-presidente "não se cansa de dizer que a guerra não teria ocorrido".

"Isso porque ele se baseia numa visão alucinógena sobre si, como alguém respeitado por todas as partes, misturado a uma arrogância imperial empreendedora".

A democrata Kamala Harris

Ambos concordam que sinais de uma futura administração de Kamala podem ser intuídos ao se analisar os governos de Barack Obama (2009-17). Ou seja, progressista à primeira vista, mas na prática, aliado incondicional de Israel. 

"O entusiasmo a respeito de Kamala é puro anti-trumpismo. Há elementos como gênero e raça que contribuem para o fascínio sobre sua candidatura, aliado ao horror que muitas partes do mundo, como a Europa, sentem de Trump, com sua política errática", diz Nadir. 

Ele classifica a candidata democrata como "ambivalente". Se por um lado, Kamala pede a não escalada do conflito para a região, por outro, apoia incondicionalmente o "direito de defesa" de Israel, o que na pratica, segundo Nadir, significa uma "carta branca para uma guerra sem limites" contra palestinos, tanto em Gaza como na Cisjordânia. "Ela parece incapaz de parar a guerra, não tem capital pessoal, simbólico ou politico para conter Israel."

Já Arturo Hartmann aponta que a única diferença tática que os democratas podem ter com Israel é que Washington "gostaria que a Autoridade Nacional Palestina de Ramallah governasse Gaza depois da interrupção do esforço de limpeza, equanto Israel preferiria recolonizar o território".

O Irã e a questão chinesa

Os analistas concordam que uma diferença entre as duas candidaturas é que o republicano pode tornar o Oriente Médio ainda mais volátil por ser abertamente mais hostil ao Irã. "Trump permitiu o assassinato [por Israel] do  general Qasem Soleimani, chefe da Guarda Revolucionária Islâmica, em 2020", lembra Nadir. 
Hartmann diz que Trump poderia acirrar a pressão sobre o Irã, o que significaria, hipoteticamente, que "embarcasse em operações militares mais ousadas do que os democratas contra Teerã". 

Um dado central para ambos é a entrada da China no Oriente Médio com sua rota Belt and Road - conhecida como a nova rota da seda - , que sai da parte ocidental da China, passa por Quirquistão, Uzbequistão, atravessa o Irã para atingir a Turquia. Nesse contexto, a China vai buscar agregar outros países, como Arábia Saudita. 

Nesse contexto, a aproximação entre Teerã e Riad mediada por Pequim, teria ocorrido porque esses dois países oferecem vantagens estratégicas em termos de petróleo e localização na Ásia. "Um dado central para qualquer governo dos EUA é que o principal vetor de ação para políticas no Oriente Médio é interromper qualquer sucesso que os chineses possam ter em se inserir na região. Por isso, podemos dizer que avanços israelenses sobre o Irã seria também uma política desejada pelos EUA, não importa o governo", conclui Hartmann.

<><> 'É hora dos EUA agirem com humanidade e trazerem Israel de volta à razão', analisa mídia

Pela enésima vez, aqueles que contavam com os Estados Unidos para desempenhar um papel competente de mediador da paz no Oriente Médio ficaram decepcionados, escreve um artigo editorial do China Daily neste domingo (27).

Segundo a mídia, a viagem do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, à região na semana passada não apenas falhou em acalmar a situação lá, mas também levou as Forças de Defesa de Israel (FDI) a lançarem ataques aéreos "precisos e direcionados" contra alvos em vários lugares no Irã no sábado (26), um dia após seu retorno a Washington.

A visita de uma semana de Blinken a Israel, Catar e Arábia Saudita, sua 11ª visita ao Oriente Médio em um ano, ostensivamente para mediar a paz entre os lados em guerra, terminou no que em todos os sentidos do termo é um fracasso, diz o portal.

Com Israel assassinando os principais líderes do Hamas e do Hezbollah nos últimos meses, a comunidade internacional pensou que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu pararia com sua imprudência militar. Mas o que aconteceu neste sábado (26) mostra o quão equivocada era essa percepção.

"Um conflito israelense-iraniano daria outro golpe devastador ao mundo, que ainda está lidando com o desastre humanitário que o ataque brutal de Israel à Faixa de Gaza causou. Já passou da hora de os EUA dizerem a Israel para não prolongar ou espalhar o conflito, que já custou quase 50.000 vidas, incluindo vidas palestinas, israelenses e libanesas", escreve a mídia.

A solução apresentada pelo portal é "os EUA agirem responsavelmente e pararem de lubrificar a máquina de guerra de Israel".

"Este não é o momento para gestos simbólicos e diplomacia falsa. É um momento para fazer esforços sinceros para parar a aventura militar de Israel e acabar com o sofrimento do povo palestino, e evitar o círculo vicioso de retaliações. É um momento para os EUA agirem humanamente e restaurarem a paz trazendo Israel de volta à razão", afirma o China Daily.

 

Fonte: DW Brasil/Sputnik Brasil/Brasil de Fato

 

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