segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Virgilio Arraes: Estados Unidos - a exploração da política exterior

Lidam as principais candidaturas à titularidade da Casa Branca com duas importantes questões internacionais: a expansão contínua do conflito no Oriente Médio, ao abranger nas últimas horas Líbano e Iêmen, por meio de bombardeios em dilúvios, e a duradoura confrontação no leste da Europa.

Não existe solução à vista no curto prazo em nenhuma delas. A todo momento, Washington conecta-se com Telavive em detrimento de Ramallah na primeira disputa e na segunda com Kiev em oposição a Moscou.

A duração das guerras depende do posicionamento da Casa Branca, ao ser ela a fiadora das alianças. Na região médio-oriental, a justificativa de ajuda seria o combate ao terrorismo de matiz integrista, embora o escopo da ação castrense, decorrido quase um ano de embates, se afaste cada vez mais das fronteiras do país enquanto na faixa europeia a causa se relacione com a defesa de nação invadida há mais de dois anos e meio.

No primeiro caso, a despeito da agremiação política à frente da presidência, a situação de abonação pouco se alteraria; desde a Guerra Fria, republicanos e democratas convergem grosso modo no tocante ao destino infortunado do Oriente Médio.

No segundo, ocasional substituição poderia modificar a postura dos Estados Unidos, ao pressionar a Ucrânia diante da Rússia. Não seria isso motivo de preferência da maioria dos integrantes da União Europeia ou melhor da Organização do Tratado do Atlântico Norte.

Se no futuro houver movimento diplomático de Washington distinto dos dias atuais, a inclinação autoritária de Moscou, já balizada por Pequim e Nova Déli, enfraqueceria Bruxelas. Com tal quadro, a programação de expandir a abrangência político-econômica ou militar da Europa Ocidental se prejudicaria, ao ser suspensa.

Em viagem aos Estados Unidos na semana passada, Volodymyr Zelensky encontrou-se com Kamala Harris e com Donald Trump. A democrata conduziu sua reunião com o dirigente ucraniano com mais habilidade que a contraparte republicana.

Harris levou Zelensky à pequena cidade da Pensilvânia, Scranton, local de fábrica castrense e também berço do presidente Joe Biden. Administrado por democrata, o estado é considerado como pendular na corrente eleição.

Ao reunir-se lá, Harris acena ao setor bélico e, desta maneira, procura converter a atenção dos meios de comunicação para a obtenção de votos do colégio eleitoral nos derradeiros dias da corrida à Casa Branca.

Por outro, Trump preferiu propagandear a si mesmo, ao conduzir o dignatário estrangeiro a prédio em Nova York batizado com seu próprio sobrenome. Ao longo da campanha, ele não tem demonstrado muita simpatia pelo mandatário ucraniano, talvez por ressentimento de quando era governante.

Os dois valem-se da política externa com o propósito de impulsionar suas candidaturas, ao invocar democracia e soberania ao redor do planeta, mas sem levar em alta conta os direitos huma  nos das populações envolvidas nos confrontos.

¨      Biden adverte que Trump pode não reconhecer derrota pacificamente

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse nesta sexta-feira que está confiante de que a próxima eleição presidencial será conduzida de forma justa, mas alertou que o candidato republicano, Donald Trump, e seu companheiro de chapa podem se recusar a aceitar o resultado.

"Estou confiante de que será livre e justa. Não sei se será pacífica. As coisas que Trump disse, e as coisas que ele disse da última vez, quando não gostou do resultado da eleição, foram muito perigosas", disse o presidente.

Biden disse que foi notável o fato de o companheiro de chapa de Trump, o senador JD Vance, não ter confirmado, durante o debate desta semana, que aceitaria o resultado da votação no próximo mês.

No debate entre os candidatos a vice-presidente na terça-feira, os moderadores perguntaram a Vance: "Você tentaria novamente contestar os resultados das eleições deste ano, mesmo se todos os governadores certificarem os resultados?" Em sua resposta, Vance disse que estava "focado no futuro" e então afirmou: " Veja, o que Trump afirma é que houve problemas em 2020".

Trump está concorrendo novamente, desta vez contra a vice-presidente democrata, Kamala Harris, na eleição de 5 de novembro, em uma disputa acirrada que se resumirá a um punhado de Estados decisivos.

Visitando um centro de resposta ao furacão Helene em Evans, Geórgia, nesta sexta-feira, Trump disse que não tinha ouvido o que Biden havia dito.

"Só posso esperar que seja livre e justa", disse ele aos repórteres. "Acho que neste Estado será, e espero que em todos os Estados seja."

Promotores disseram esta semana que Trump agiu fora do escopo de suas funções como presidente quando pressionou autoridades estaduais e o então vice-presidente Mike Pence para tentar reverter sua derrota nas eleições de 2020.

Um documento judicial de 165 páginas foi provavelmente a última oportunidade para os promotores detalharem seu caso contra Trump antes da eleição presidencial.

¨      EUA pediram ao Irã para não atingir suas bases durante ataque massivo contra Israel, diz jornal

Washington pediu a Teerã, pouco antes do ataque de retaliação iraniano contra Israel em 1º de outubro, que não atacasse as bases dos EUA, diz o portal de notícias iraquiano Baghdadtoday.

"Os EUA enviaram três mensagens urgentes para Teerã através do Iraque em 30 minutos, quando os preparativos para o ataque iraniano estavam em andamento – os mísseis foram lançados de 5-6 bases contra alvos no interior de Israel. As mensagens continham vários pontos, cujo significado principal é 'não ataquem nossas bases militares", relata a fonte do portal.

"Washington estava preocupada de que o Irã ou grupos próximos poderiam atacar bases dos EUA. Os EUA tomaram todas as precauções, preparando-se para qualquer evolução rápida dos eventos", ressaltou a fonte.

Ele observou que os EUA estão monitorando de perto o desenvolvimento das capacidades de mísseis do Irã e expressam especial preocupação em relação aos mísseis hipersônicos, uma vez que as capacidades do sistema antiaéreo Patriot são limitadas.

Na noite de 1º de outubro, uma base militar perto do aeroporto internacional de Bagdá, onde estão estacionadas forças dos EUA, foi atacada com mísseis que foram interceptados pelas forças de defesa antiaérea.

O Irã, em 1º de outubro, pela segunda vez na história, conduziu um ataque massivo de mísseis contra Israel, chamando-o de ato de autodefesa. Os militares israelenses afirmaram que foram disparados cerca de 180 mísseis balísticos, a maioria dos quais foi interceptada.

Os iranianos dizem que os mísseis atingiram alvos militares israelenses, já Israel afirma que o dano foi "mínimo". Tel Aviv prometeu retaliar e os EUA afirmaram que viriam em auxílio de seu principal aliado no Oriente Médio.

¨      Israel e EUA podem coordenar resposta ao ataque iraniano 'nos próximos dias'

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, consultou na noite da quinta-feira (3) lideranças da Defesa sobre qual será a resposta ao recente ataque com mísseis levado a cabo pelo Irã contra bases militares israelenses.

Fontes que participaram da reunião, citadas pelo meio de comunicação israelense N12, afirmaram ser esperada "uma resposta dura e coordenada com os Estados Unidos nos próximos dias".

Na terça-feira (1º), o Irã lançou cerca de 200 mísseis balísticos contra alvos em Israel em resposta ao assassinato do secretário-geral do Hezbollah, Hasan Nasrallah, do chefe da ala política do Hamas, Ismail Haniya , e do comandante do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), Abbas Nilforushan .

Já na quarta-feira (2), o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse que seria discutido com Israel como poderia ser a resposta ao último ataque iraniano, já que Washington acredita que Tel Aviv tem o direito de se defender.

Além disso, a Casa Branca afirmou que mantém "total solidariedade" e apoio a Israel e ao seu povo, reafirmando seu firme compromisso com a segurança israelense.

Por outro lado, a mídia israelense destaca que é promovida uma "forte pressão diplomática" para os países ocidentais imporem sanções contra o Irã após a sua ofensiva.

O presidente iraniano, Masud Pezeshkian, afirmou que o seu governo não busca a guerra com Israel, mas alertou que responderá com firmeza a qualquer ameaça.

O Oriente Médio vive um período de escalada das tensões com as hostilidades entre Israel e o Hezbollah, com contínuos bombardeios israelenses em diferentes áreas do Líbano que, desde meados de setembro, ceifaram quase duas mil vidas e deixaram milhares de pessoas feridas e deslocadas, segundo dados oficiais do país.

¨      Pentágono: estoque de mísseis de longo alcance dos EUA e seus aliados é limitado

O estoque de mísseis de longo alcance nos depósitos dos EUA é limitado, a transferência destas armas para Kiev só é possível sem prejudicar a prontidão de combate dos EUA, disse Sabrina Singh, vice-secretária de imprensa do Pentágono.

"Temos um estoque limitado de mísseis de longo alcance, apenas alguns países os têm, e o estoque é limitado [...] Devemos sempre avaliar nossa própria prontidão quando tomamos decisões", disse Singh em um briefing.

Recentemente, o The New York Times escreveu que a Inteligência dos EUA acredita que a Rússia pode tomar medidas sérias caso os países ocidentais autorizem as forças ucranianas a efetuar ataques em profundidade ao território russo.

Já Moscou advertiu reiteradamente que a OTAN está "brincando com o fogo" ao fornecer armas para a Ucrânia, e que os trens com equipamentos militares estrangeiros seriam um "alvo legítimo" para seu Exército assim que cruzassem a fronteira. Segundo o Kremlin, a política ocidental não contribui para as negociações entre Rússia e Ucrânia e tem um efeito muito negativo.

<><> Exército dos EUA está testando cão-robô com rifle alimentado por IA no Oriente Médio

A força norte-americana está mais perto de lançar robôs no campo de batalha após enviar um deles, chamado Lobo Solitário, para o Oriente Médio. O cão-robô possui um rifle AR-15/M16 nas costas, acoplado a um suporte giratório alimentado por inteligência artificial (IA).

A máquina armada foi enviada ao exterior para exercícios de ensaio no Centro de Experimentação Integrada Red Sands, na Arábia Saudita, e a mesma tem capacidade de detectar alvos aéreos, escreve o Daily Mail.

O centro, inaugurado em 2022, faz parte do relacionamento estratégico entre os EUA e os Estados árabes do Golfo.

De acordo com a mídia, o rifle acoplado no Lobo Solitário tem um grande sistema de mira eletro-óptico para localizar alvos aéreos com recursos de visão infravermelha ou térmica.

A máquina armada de quatro patas seria ideal para manobrar dentro e fora de espaços não acessíveis a soldados humanos, permitindo que eles derrubem drones longe de zonas de perigo.

Há também um dispositivo de mira a laser na lateral do robô, junto com uma câmera de vídeo semelhante a uma GoPro montada no mastro na parte traseira.

O robô armado fez uma aparição anterior nos EUA, no Forte Drum de Nova York, em 1º de agosto, para a Operação Hard Kill do Exército, que forneceu uma demonstração da capacidade do braço de usar equipamentos UAS contra sistemas de aeronaves não tripuladas.

Os espectadores no "exercício de fogo real" assistiram enquanto o cão-robô caminhava por uma área aberta e gramada, movendo sua câmera alimentada por IA para focar nos alvos.

O Pentágono adicionou cães-robôs ao seu arsenal nos últimos anos, com os fuzileiros navais testando robôs quadrúpedes com sistemas de armas remotos e lançadores de foguetes antitanque.

O Exército também reforçou suas unidades com máquinas de quatro patas, equipando-as com rifles potentes.

No entanto, os EUA não são o único país com cães robôs. A Rússia também expôs seu cão robô, mostrando um em 2022 equipado com um lançador de foguetes.

Em maio de 2024, cães robôs armados com metralhadoras foram revelados pela China durante um exercício de treinamento militar conduzido pelo Exército de Libertação Popular da China (ELP) e pelas forças cambojanas.

 

¨      Como fica a direita? Melania Trump sinaliza apoio ao direito ao aborto

Melania Trump parece ter se juntado a um grande grupo de ex-primeiras-damas americanas do partido Republicano que se manifestaram em favor do direito ao aborto — uma visão contrária ao de seu marido, o ex-presidente e candidato à Casa Branca Donald Trump.

Em um vídeo curto promovendo um livro seu que ainda está para ser lançado, Melania Trump expressou apoio à liberdade "individual das mulheres", que ela diz ser um "direito essencial que todas as mulheres possuem desde o nascimento".

O vídeo foi divulgado um dia depois de um jornal divulgar supostos trechos de seu livro de memórias ainda não lançado — no qual ela teria manifestado uma posição ainda mais clara em favor ao direito ao aborto.

A posição de Melania parece ser oposta à de seu marido, que costuma dizer ter sido responsável pela reversão da decisão judicial Roe v Wade, que acabou com o direito constitucional federal ao aborto.

Mas segue uma tradição de décadas de primeiras-damas republicanas que — desde a decisão de Roe v Wade em 1973 — dizem que acesso legal ao aborto é algo a ser protegido.

Em 1975, enquanto ainda estava na Casa Branca, a primeira-dama Betty Ford disse que a decisão Roe v Wade era uma "grande, grande decisão".

Nancy Reagan esperou até Ronald Reagan deixar o cargo para se manifestar publicamente que "acredita na escolha da mulher". Mas sua posição sobre o tema já era conhecida quando ela estava na Casa Branca.

Barbara Bush, esposa de George HW Bush, e sua cunhada, Laura Bush, esposa de George W. Bush, também tiveram a mesma postura, e só revelaram suas opiniões depois que os maridos deixaram a Casa Branca.

"Eu acho que é importante que [o aborto] siga sendo legalizado, porque eu acho que é importante para as pessoas, por motivos médicos e outros motivos", disse Laura Bush em entrevista em 2010, em que ela promovia seu livro de memórias.

Melania Trump teve uma abordagem diferente.

Em um vídeo preto-e-branco publicado em sua conta no X na quinta-feira (3/10), Melania Trump disse que "não existe lugar para um acordo quando se trata de um direito essencial que todas as mulheres possuem desde o nascimento: liberdade individual".

"O que meu corpo, minha escolha realmente significam?", diz Melania.

No dia anterior, o jornal britânico The Guardian havia publicado um trecho de seu novo livro — Melania — que será lançado na semana que vem, no dia 8 de outubro.

No trecho citado pelo Guardian, ela escreve: "É indispensável garantir que mulheres tenham autonomia em decidir sua preferência para ter crianças, baseado nas suas próprias convicções, livres de qualquer intervenção ou pressão de governo".

"Por que qualquer pessoa, outra que a própria mulher, deveria ter o poder de determinar o que ela faz com o próprio corpo? O direito fundamental de uma mulher à liberdade individual, à sua própria vida, dá a ela a autoridade para pôr fim à sua gravidez, se ele assim desejar", escreve Melania.

"Restringir o direito de uma mulher a escolher entre terminar uma gravidez indesejada é o mesmo que negar a ela o controle sobre seu próprio corpo. Eu venho trazendo comigo essa crença ao longo de toda minha vida adulta."

A jornalista e escritora Kate Andersen Brower disse estar "chocada" com os comentários da ex-primeira-dama.

"Tão chocada que quis verificar se é verdade. Ela sempre esteve alinhada ao seu marido, então quanto a esse assunto, como ela passou todos esses anos assistindo a ele alterar o curso de algo que parece ser tão importante para ela?"

Mais do que qualquer outra primeira-dama, diz Brower, os comentários de Melania parecem ser completamente opostos às opinições de seu marido.

Além disso, ela é a única primeira-dama até agora que divulgou sua opinião sobre aborto enquanto seu marido ainda busca eleição.

Brower acredita que o momento escolhido para divulgar sua posição sugere que existe algum lado político nessa decisão.

"Não é completamente impossível pensar que isso foi feito intencionalmente antes da eleição, porque pode agradar aqueles Estados pêndulo onde eleitores estão insatisfeitos com a revogação de Roe v Wade. Talvez eles possam pensar que ele [Trump] está suavizando sua opinião sobre aborto."

Mas a estrategista republicana Rina Shah tem uma visão diferente.

A noção de que Melania está tentando ajudar seu marido "não fecha com a Melania que conhecemos", diz ela.

"A essa altura do campeonato, isso não muda nada, e ela sabe disso", diz Shah. "Algumas cédulas [para voto postal] até já foram enviadas em alguns lugares. É simplesmente tarde demais."

Acesso ao aborto é um dos temas chave da eleição do próximo mês — e é considerado um ponto fraco do partido Republicano, que tem tido dificuldades para conciliar as posições de sua base conservadora, que é contra o direito ao procedimento, com a do eleitorado mais amplo, que é a favor.

Ao longo da campanha de 2024, a posição de Donald Trump vem mudando.

Nesta semana, o candidato disse pela primeira vez que vetaria qualquer proibição federal ao aborto no caso remoto de isso ser aprovado pelo Congresso.

A BBC entrou em contato com a campanha de Trump para esclarecer o assunto.

A candidata democrata Kamala Harris vem tentando se beneficiar da posição de Trump para ganhar votos junto ao eleitorado.

Ela retrata Trump como uma ameaça à autonomia das mulheres, por causa da derrubada da decisão Roe v Wade, que aconteceu depois que Trump indicou uma maioria conservadora na Suprema Corte americana.

"Infelizmente para mulheres nos EUA, o marido da Senhora Trump discorda firmemente dela e ele é o motivo pelo qual uma em cada três mulheres americanas vive sob uma Proibição ao Aborto de Trump, que ameaça sua saúde, sua liberdade e suas vidas", disse Sarafina Chitika, porta-voz da campanha de Kamala Harris e Tim Walz, à BBC.


Fonte: Correio da Cidadania/Reuters/Sputnik Brasil/BBC News

 

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