Pedro
Augusto Pinho: Eleições, guerras, finanças, mídia estupidificante e o fim de uma
Era
Este
mês de outubro, como lembrou o escritor Rubem Naveira, em artigo no Viomundo
(03/10/2024), revelará diferente “october surprise”, que vem acompanhando as
eleições estadunidenses.
O
mundo ocidental conduzido desde 1980 pelas finanças – sempre é bom lembrar a
divulgação do “Consenso de Washington”, em 1989, como a bíblia dos governos
pelo mundo afora, que no Brasil foi traduzido pelo controle fiscal – provocou
os endividamentos públicos e privados e as guerras, que a farsa do 11 de
setembro de 2001, em Nova Iorque, nos mostrou com clareza.
Este
mundo ocidental, aí incluído o Japão que nele se insere politicamente e com
dados de 2020, tem uma dívida impagável que corresponde, de acordo com o
Gabinete de Estatísticas da União Europeia (EUROSTAT), a quase duas vezes seu
Produto Interno Bruto (PIB). Não se computando aí aquela formada por títulos
sem lastro, acolhidos como investimentos pelo sistema financeiro.
Porém,
o século XXI trouxe também a conclusão de processos de transformação política,
social, econômica, tecnológica que se desenvolviam, desde vinte ou trinta anos
antes de 2000, em países continentais como a Rússia e a China, principalmente
pelo Oriente, que se pode sintetizar nos BRIC, de 2001, onde apenas o Brasil
foi exceção. Hoje, no BRICS ampliado, ainda prevalece a ampla maioria oriental
e se lhe pode atribuir, então, ser a voz do “Sul Global”.
De
certo modo, exceto para quem se deixa conduzir pela mídia colonizante, lembra o
fim da Idade Média, quando o Oriente forneceu tecnologia e produtos para o
Ocidente, possibilitando seu enriquecimento com a dominação das Américas. Ver,
como exemplo, a trajetória de Marco Polo e sua família.
A
mais significativa diferença deste “Sul Global” para os seguidores do Consenso
de Washington é a proposta transformadora, inovadora, que mais uma vez vem do
Oriente, e a reação bélica, truculenta, para manutenção da riqueza construída
por guerras e pela escravidão.
Nas
eleições nos Estados Unidos da América (EUA), em novembro deste ano, como
nestas municipais, em 05 de outubro, no Brasil, não existe, efetiva e
praticamente, uma escolha, uma opção, apenas se configura a intensidade da
aplicação do Consenso de Washington, os limites de gastos destinados a atender
a população, e na truculência, que a desinformação é parte, e as agressões
físicas são as mais visíveis, para manutenção deste sistema excludente e
concentrador vigente.
Esta
truculência está, por exemplo, nas sanções, embargos, bloqueios, medidas
coercitivas unilaterais que o poder financeiro, principalmente mas não apenas
pelos EUA, impõe contra os que ousam contestar sua dominação.
Isso
se constata flagrantemente em Cuba, Venezuela, Nicarágua, Irã, Síria, República
Popular Democrática da Coreia, Burundi, República Democrática do Congo,
República Centro-Africana, Rússia, Belarus ou Bielorrússia, e muitos outros,
prejudicando fortemente os países menos desenvolvidos e acarretando verdadeiro
tiro no pé, quando o país agredido é uma potência como a Rússia.
Há
diversas guerras e tentativas de golpes de estado em andamento pelo mundo,
viu-se, faz pouco tempo, na vizinha Bolívia e, mais recentemente, na eleição
venezuelana, não por mero acaso onde estão as maiores reservas mundiais de
lítio e de petróleo num só país, patrocinados principalmente pelos dois países
que mais representam o poder financeiro: EUA e Reino Unido (UK).
Porém,
aqueles que podem provocar o conflito nuclear, de incalculáveis consequências,
acontecem em três agressões. No genocídio do Estado de Israel ao povo palestino
e, dentro do projeto sionista subsidiado pelo UK, para domínio de todo Oriente
Médio. Na provocação à República Popular da China (China), com uso da ilha de
Taiwan, estão os EUA e este traidor da cultura oriental que é o Japão. E na
desmoralização europeia, revelando a fragilidade operacional da Organização do
Tratado do Atlântico Norte (OTAN), como consequência da Euromaidan ou Revolta
de Maidan, há cerca de dez anos, que a mídia estupidificante notícia como
invasão da Rússia à Ucrânia, sendo Putin, ditador, e Zelensky, continuando no
governo, mesmo tendo encerrado seu mandato e sem previsão de promover eleição,
presidente.
No
Brasil a eleição municipal precisa estar insistentemente promovida pelos canais
de televisão, propagandas nas rádios e ocupando as mídias digitais para ter-se
a expectativa de alcançar 60% dos eleitores cadastrados. Até porque o povo já
sabe da inutilidade de se trocar seis por meia dúzia, pois os candidatos, uma
vez eleitos, atuarão conforme as finanças apátridas lhes impuserem.
Para
os EUA, ainda vale a antiga blague que dizia ser a grande mudança da
presidência estadunidense não a troca do poder de republicanos por democratas,
mas da General Motors pela General Eletric, hoje seria do J.P. Morgan pelo Bank
of America, ou do Black Rock pelo State Street Corporation. A ausência ou não
comparecimento às urnas é esperado ser próximo de 60%.
A
verdadeira mudança é esperada para a reunião dos BRICS na cidade de Kasã, na
República do Tartaristão, pertencente à Federação Russa, e considerada como a
terceira capital da Federação, pela sua arquitetura e belezas naturais.
Lá
serão propostas mudanças no sistema financeiro herdado do pós-guerra, com os
acordos de Bretton Woods.
Mas
esta será apenas mais uma consequência do novo mundo multipolar em construção.
Não mais um país e sua moeda dominará a Terra. Prevalecerá o interesse das
partes, no que for de todos os participantes, dos dois, como majoritariamente
ocorre com as negociações da Iniciativa do Cinturão e Rota, a Nova Rota da
Seda, ou de todos os nove membros, como atualmente os BRICS, ou com todos
demais que forem admitidos nesta reunião de 22 a 24 de outubro próximo.
No
que se refere especificamente à moeda, será alterado o sistema de pagamento
para tirar de um país o domínio ditatorial, como ocorre hoje, com a SWIFT
(Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication). Criada em 1973,
para padronizar o formato das informações financeiras e assim facilitar a troca
dessas informações entre entidades financeiras ou corporativas eletronicamente,
transformou-se num caso típico de dominação política, quando os EUA
determinaram o bloqueio das transações com a Rússia.
O
enfraquecimento do dólar estadunidense se verifica a cada dia, com sua
conversão para outros ativos, especificamente o ouro e a moeda chinesa, para
reserva de valor, ou seja, a manutenção da riqueza.
A
miséria que já se observa nas cidades e nos campos dos EUA não se deve a uma
crise econômica episódica, mas à transformação que, mais uma vez, o Oriente
promove no Ocidente; da unipolaridade para a multipolaridade, que também são a
verdadeira causa, excluindo a dos sionistas judeus, das guerras que se espalham
neste século.
Por
conseguinte, caro leitor, não se iluda com as eleições e muito menos com as
análises das mídias hegemônicas. A verdadeira transformação está ocorrendo na
sociedade democrática e popular que se está criando com as transformações
políticas, com a multipolaridade, e as novas representações que tiram do Fundo
Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial, do Conselho de Segurança da
Organização das Nações Unidas (ONU) e de suas organizações militares, como a
OTAN, o domínio do mundo.
E,
triunfante o mundo multipolar e suas instituições, as guerras serão eventos do
passado.
¨ OCTOBER SURPRISE. Por Ruben Bauer Naveira
A
expressão irônica “october surprise” acabou incorporada à cultura
político-eleitoral dos EUA.
Toda
vez que o partido no governo enfrenta uma eleição apertada e de resultado
imprevisível, na reta final da campanha cria-se algum fato novo bombástico,
geralmente na política externa (no restante do mundo os EUA se permitem ser
inconsequentes) para influenciar o eleitor.
Como
as eleições americanas são no mês de novembro, acabou se cunhando a expressão
“october surprise”.
No
momento atual, nada influenciaria mais a cabeça do eleitor americano do que o
Oriente Médio (combater o “terrorismo”, impedir que o Irã obtenha a bomba
atômica e blá, blá, blá).
Israel
quer e precisa arrastar os EUA para uma guerra contra o Irã a qual acredite que
possa vencer.
Os
EUA não podem arriscar perdas nessa guerra (tipo um porta-aviões afundado) que
afundem (desculpem…) junto as chances eleitorais de Kamala Harris.
Mas……
Este
ano as eleições serão no dia 05 de novembro.
E
se a guerra contra o Irã for deslanchada no final de outubro, poucos dias antes
das eleições, de modo a prover aos americanos uma janela de tempo curta, que
eles consigam controlar? (a ilusão de controlar o incontrolável é típica da
mentalidade deles).
Com
o estreito de Hormuz sendo bloqueado pelos iranianos (o que fatalmente
ocorreria), os preços internacionais do petróleo dispararão.
Mas
ainda demorararia algum tempo (mesmo que curto) até que os aumentos atinjam as
bombas de gasolina (e o humor dos eleitores) nos EUA.
Acontece
que, de 22 a 24 de outubro, terá lugar em Kazan, na Rússia, a cúpula anual dos
BRICS, na qual será lançada oficialmente a nova arquitetura financeira para o
comércio mundial, extra-dólar.
Se
existe algo hoje no mundo que os EUA veem como inimigo, e que gostariam de
poder destruir, é justamente isso.
Vai
ser tentador demais promover a “october surprise” em 22 de outubro (com o
presidente e as altas autoridades iranianas em território russo!), faltando
apenas exatas duas semanas para as eleições, de modo a ofuscar aos olhos do Sul
Global a reunião dos BRICS, bem como para tumultuá-la por completo,
prejudicando os seus resultados.
Dias
de graves riscos pela frente.
• Stiglitz,
um farol contra o absurdo neoliberal. Por Paulo Henrique Arantes
Aos
81 anos, Joseph Stiglitz preserva a sabedoria e a verve que lhe renderam um
Nobel, em 2001. A entrevista do economista americano a Vivian Oswald, do Valor
Econômico, publicada na quarta-feira (2), mostra a lucidez renovada de quem
percebeu, há muito tempo, que o neoliberalismo só leva à desigualdade, ou que
os donos do dinheiro portam as bandeiras neoliberais para perpetuar essa
desigualdade.
E
não só de filigranas econômicas compõe-se o pensamento de Stiglitz. Sua ideia
de justiça em tempos de Elon Musk, por exemplo, é inquestionável: “As novas
tecnologias ampliaram a capacidade de espalhar erros e desinformação, alguns
dos quais muito perigosos para a nossa sociedade, de uma forma ou de outra.
(...) Então, nenhuma pessoa, seja Elon Musk, a pessoa mais rica do mundo, ou
quem quer que seja, deve se considerar acima da lei. E Musk disse basicamente
que está acima da lei. Ele diz ‘você não tem o direito de me regular’. E está
absolutamente errado”.
Em
seu último livro, lançado em abril, “The Road to Freedom: Economics and the
Good Society”, Stiglitz escreve com todas as letras que mercados sem restrições
nada fazem a não ser gerar crises. Tampouco está, a iniciativa privada,
preocupada com as mudanças climáticas, problema global mais urgente. Eis o que
ele disse a Vivian Oswald: “O setor privado está interessado em lucros. Quando
há lucros, entra. (...) O clima é um investimento a longo prazo. E o setor
privado é excessivamente avesso a risco, e não sabe avaliar o risco. (...) O
setor privado tem muitos pontos fortes, mas temos também de reconhecer suas
limitações quando falamos em alterações climáticas ou de questões como a
justiça social, investimentos de longo prazo”.
Na
hora em que o BNDES retoma seu papel de indutor do desenvolvimento, encontra-se
em Joseph Stigliz a explicação simples, óbvia e precisa para tal conduta:
“Passamos por um período em que comprometemos ideologicamente o papel dos
bancos de desenvolvimento. Acho que foi errado. O setor privado tende a ter o
problema de ser demasiado míope e demasiado avesso ao risco. Os bancos de
desenvolvimento podem ter uma visão de longo prazo e assumir riscos maiores,
como o associado ao BNDES, que ajudou a desenvolver a Embraer e alguns dos
combustíveis à base da cana-de-açúcar, que são muito importantes para evitar as
alterações climáticas”.
Por
óbvio, Stiglitz é um anti-Trump. Ele diz ver um “populismo perigoso”, ainda não
vencido, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil: “Não vemos isso tanto na
Suécia, na Dinamarca ou na Noruega. Vemos nos Estados Unidos, em lugares onde
as pessoas não têm emprego, a saúde é fraca, não há oportunidades. Então, você
tem esse tipo de desespero. E é a partir desse desespero que as pessoas
recorrem a gente como Trump ou Bolsonaro”.
A
falsa liberdade defendida nos discursos de rematados direitistas - Donald
Trump, Jair Bolsonaro, Javier Milei, Pablo Marçal e tantos outros - também está
no radar de Joseph Stiglitz, para quem a economia é, definitivamente, uma
disciplina humana e, portanto, os economistas não podem fechar os olhos para os
movimentos anticivilizatórios: “Quando vivemos de forma integrada (numa
pandemia, por exemplo), se eu não me vacinar ou usar máscara, há uma chance
você morrer. São ações que você sabe que podem te machucar. Se eu carregar uma
AK-47, você pode morrer. Isso pode prejudicar sua liberdade. E é tão óbvio, mas
eles simplesmente não reconhecem isso. Se eu poluir o ar e você tiver asma,
você morre. A liberdade de uma pessoa é a falta de liberdade de outra”.
Fonte:
Brasil 247/Viomundo
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