segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Pedro Augusto Pinho: Eleições, guerras, finanças, mídia estupidificante e o fim de uma Era

Este mês de outubro, como lembrou o escritor Rubem Naveira, em artigo no Viomundo (03/10/2024), revelará diferente “october surprise”, que vem acompanhando as eleições estadunidenses.

O mundo ocidental conduzido desde 1980 pelas finanças – sempre é bom lembrar a divulgação do “Consenso de Washington”, em 1989, como a bíblia dos governos pelo mundo afora, que no Brasil foi traduzido pelo controle fiscal – provocou os endividamentos públicos e privados e as guerras, que a farsa do 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque, nos mostrou com clareza.

Este mundo ocidental, aí incluído o Japão que nele se insere politicamente e com dados de 2020, tem uma dívida impagável que corresponde, de acordo com o Gabinete de Estatísticas da União Europeia (EUROSTAT), a quase duas vezes seu Produto Interno Bruto (PIB). Não se computando aí aquela formada por títulos sem lastro, acolhidos como investimentos pelo sistema financeiro.

Porém, o século XXI trouxe também a conclusão de processos de transformação política, social, econômica, tecnológica que se desenvolviam, desde vinte ou trinta anos antes de 2000, em países continentais como a Rússia e a China, principalmente pelo Oriente, que se pode sintetizar nos BRIC, de 2001, onde apenas o Brasil foi exceção. Hoje, no BRICS ampliado, ainda prevalece a ampla maioria oriental e se lhe pode atribuir, então, ser a voz do “Sul Global”.

De certo modo, exceto para quem se deixa conduzir pela mídia colonizante, lembra o fim da Idade Média, quando o Oriente forneceu tecnologia e produtos para o Ocidente, possibilitando seu enriquecimento com a dominação das Américas. Ver, como exemplo, a trajetória de Marco Polo e sua família.

A mais significativa diferença deste “Sul Global” para os seguidores do Consenso de Washington é a proposta transformadora, inovadora, que mais uma vez vem do Oriente, e a reação bélica, truculenta, para manutenção da riqueza construída por guerras e pela escravidão.

Nas eleições nos Estados Unidos da América (EUA), em novembro deste ano, como nestas municipais, em 05 de outubro, no Brasil, não existe, efetiva e praticamente, uma escolha, uma opção, apenas se configura a intensidade da aplicação do Consenso de Washington, os limites de gastos destinados a atender a população, e na truculência, que a desinformação é parte, e as agressões físicas são as mais visíveis, para manutenção deste sistema excludente e concentrador vigente.

Esta truculência está, por exemplo, nas sanções, embargos, bloqueios, medidas coercitivas unilaterais que o poder financeiro, principalmente mas não apenas pelos EUA, impõe contra os que ousam contestar sua dominação.

Isso se constata flagrantemente em Cuba, Venezuela, Nicarágua, Irã, Síria, República Popular Democrática da Coreia, Burundi, República Democrática do Congo, República Centro-Africana, Rússia, Belarus ou Bielorrússia, e muitos outros, prejudicando fortemente os países menos desenvolvidos e acarretando verdadeiro tiro no pé, quando o país agredido é uma potência como a Rússia.

Há diversas guerras e tentativas de golpes de estado em andamento pelo mundo, viu-se, faz pouco tempo, na vizinha Bolívia e, mais recentemente, na eleição venezuelana, não por mero acaso onde estão as maiores reservas mundiais de lítio e de petróleo num só país, patrocinados principalmente pelos dois países que mais representam o poder financeiro: EUA e Reino Unido (UK).

Porém, aqueles que podem provocar o conflito nuclear, de incalculáveis consequências, acontecem em três agressões. No genocídio do Estado de Israel ao povo palestino e, dentro do projeto sionista subsidiado pelo UK, para domínio de todo Oriente Médio. Na provocação à República Popular da China (China), com uso da ilha de Taiwan, estão os EUA e este traidor da cultura oriental que é o Japão. E na desmoralização europeia, revelando a fragilidade operacional da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), como consequência da Euromaidan ou Revolta de Maidan, há cerca de dez anos, que a mídia estupidificante notícia como invasão da Rússia à Ucrânia, sendo Putin, ditador, e Zelensky, continuando no governo, mesmo tendo encerrado seu mandato e sem previsão de promover eleição, presidente.

No Brasil a eleição municipal precisa estar insistentemente promovida pelos canais de televisão, propagandas nas rádios e ocupando as mídias digitais para ter-se a expectativa de alcançar 60% dos eleitores cadastrados. Até porque o povo já sabe da inutilidade de se trocar seis por meia dúzia, pois os candidatos, uma vez eleitos, atuarão conforme as finanças apátridas lhes impuserem.

Para os EUA, ainda vale a antiga blague que dizia ser a grande mudança da presidência estadunidense não a troca do poder de republicanos por democratas, mas da General Motors pela General Eletric, hoje seria do J.P. Morgan pelo Bank of America, ou do Black Rock pelo State Street Corporation. A ausência ou não comparecimento às urnas é esperado ser próximo de 60%.

A verdadeira mudança é esperada para a reunião dos BRICS na cidade de Kasã, na República do Tartaristão, pertencente à Federação Russa, e considerada como a terceira capital da Federação, pela sua arquitetura e belezas naturais.

Lá serão propostas mudanças no sistema financeiro herdado do pós-guerra, com os acordos de Bretton Woods.

Mas esta será apenas mais uma consequência do novo mundo multipolar em construção. Não mais um país e sua moeda dominará a Terra. Prevalecerá o interesse das partes, no que for de todos os participantes, dos dois, como majoritariamente ocorre com as negociações da Iniciativa do Cinturão e Rota, a Nova Rota da Seda, ou de todos os nove membros, como atualmente os BRICS, ou com todos demais que forem admitidos nesta reunião de 22 a 24 de outubro próximo.

No que se refere especificamente à moeda, será alterado o sistema de pagamento para tirar de um país o domínio ditatorial, como ocorre hoje, com a SWIFT (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication). Criada em 1973, para padronizar o formato das informações financeiras e assim facilitar a troca dessas informações entre entidades financeiras ou corporativas eletronicamente, transformou-se num caso típico de dominação política, quando os EUA determinaram o bloqueio das transações com a Rússia.

O enfraquecimento do dólar estadunidense se verifica a cada dia, com sua conversão para outros ativos, especificamente o ouro e a moeda chinesa, para reserva de valor, ou seja, a manutenção da riqueza.

A miséria que já se observa nas cidades e nos campos dos EUA não se deve a uma crise econômica episódica, mas à transformação que, mais uma vez, o Oriente promove no Ocidente; da unipolaridade para a multipolaridade, que também são a verdadeira causa, excluindo a dos sionistas judeus, das guerras que se espalham neste século.

Por conseguinte, caro leitor, não se iluda com as eleições e muito menos com as análises das mídias hegemônicas. A verdadeira transformação está ocorrendo na sociedade democrática e popular que se está criando com as transformações políticas, com a multipolaridade, e as novas representações que tiram do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial, do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e de suas organizações militares, como a OTAN, o domínio do mundo.

E, triunfante o mundo multipolar e suas instituições, as guerras serão eventos do passado.

 

¨      OCTOBER SURPRISE. Por Ruben Bauer Naveira

A expressão irônica “october surprise” acabou incorporada à cultura político-eleitoral dos EUA.

Toda vez que o partido no governo enfrenta uma eleição apertada e de resultado imprevisível, na reta final da campanha cria-se algum fato novo bombástico, geralmente na política externa (no restante do mundo os EUA se permitem ser inconsequentes) para influenciar o eleitor.

Como as eleições americanas são no mês de novembro, acabou se cunhando a expressão “october surprise”.

No momento atual, nada influenciaria mais a cabeça do eleitor americano do que o Oriente Médio (combater o “terrorismo”, impedir que o Irã obtenha a bomba atômica e blá, blá, blá).

Israel quer e precisa arrastar os EUA para uma guerra contra o Irã a qual acredite que possa vencer.

Os EUA não podem arriscar perdas nessa guerra (tipo um porta-aviões afundado) que afundem (desculpem…) junto as chances eleitorais de Kamala Harris.

Mas……

Este ano as eleições serão no dia 05 de novembro.

E se a guerra contra o Irã for deslanchada no final de outubro, poucos dias antes das eleições, de modo a prover aos americanos uma janela de tempo curta, que eles consigam controlar? (a ilusão de controlar o incontrolável é típica da mentalidade deles).

Com o estreito de Hormuz sendo bloqueado pelos iranianos (o que fatalmente ocorreria), os preços internacionais do petróleo dispararão.

Mas ainda demorararia algum tempo (mesmo que curto) até que os aumentos atinjam as bombas de gasolina (e o humor dos eleitores) nos EUA.

Acontece que, de 22 a 24 de outubro, terá lugar em Kazan, na Rússia, a cúpula anual dos BRICS, na qual será lançada oficialmente a nova arquitetura financeira para o comércio mundial, extra-dólar.

Se existe algo hoje no mundo que os EUA veem como inimigo, e que gostariam de poder destruir, é justamente isso.

Vai ser tentador demais promover a “october surprise” em 22 de outubro (com o presidente e as altas autoridades iranianas em território russo!), faltando apenas exatas duas semanas para as eleições, de modo a ofuscar aos olhos do Sul Global a reunião dos BRICS, bem como para tumultuá-la por completo, prejudicando os seus resultados.

Dias de graves riscos pela frente.

 

 

•                                         Stiglitz, um farol contra o absurdo neoliberal. Por Paulo Henrique Arantes

Aos 81 anos, Joseph Stiglitz preserva a sabedoria e a verve que lhe renderam um Nobel, em 2001. A entrevista do economista americano a Vivian Oswald, do Valor Econômico, publicada na quarta-feira (2), mostra a lucidez renovada de quem percebeu, há muito tempo, que o neoliberalismo só leva à desigualdade, ou que os donos do dinheiro portam as bandeiras neoliberais para perpetuar essa desigualdade.

E não só de filigranas econômicas compõe-se o pensamento de Stiglitz. Sua ideia de justiça em tempos de Elon Musk, por exemplo, é inquestionável: “As novas tecnologias ampliaram a capacidade de espalhar erros e desinformação, alguns dos quais muito perigosos para a nossa sociedade, de uma forma ou de outra. (...) Então, nenhuma pessoa, seja Elon Musk, a pessoa mais rica do mundo, ou quem quer que seja, deve se considerar acima da lei. E Musk disse basicamente que está acima da lei. Ele diz ‘você não tem o direito de me regular’. E está absolutamente errado”.

Em seu último livro, lançado em abril, “The Road to Freedom: Economics and the Good Society”, Stiglitz escreve com todas as letras que mercados sem restrições nada fazem a não ser gerar crises. Tampouco está, a iniciativa privada, preocupada com as mudanças climáticas, problema global mais urgente. Eis o que ele disse a Vivian Oswald: “O setor privado está interessado em lucros. Quando há lucros, entra. (...) O clima é um investimento a longo prazo. E o setor privado é excessivamente avesso a risco, e não sabe avaliar o risco. (...) O setor privado tem muitos pontos fortes, mas temos também de reconhecer suas limitações quando falamos em alterações climáticas ou de questões como a justiça social, investimentos de longo prazo”.

Na hora em que o BNDES retoma seu papel de indutor do desenvolvimento, encontra-se em Joseph Stigliz a explicação simples, óbvia e precisa para tal conduta: “Passamos por um período em que comprometemos ideologicamente o papel dos bancos de desenvolvimento. Acho que foi errado. O setor privado tende a ter o problema de ser demasiado míope e demasiado avesso ao risco. Os bancos de desenvolvimento podem ter uma visão de longo prazo e assumir riscos maiores, como o associado ao BNDES, que ajudou a desenvolver a Embraer e alguns dos combustíveis à base da cana-de-açúcar, que são muito importantes para evitar as alterações climáticas”.

Por óbvio, Stiglitz é um anti-Trump. Ele diz ver um “populismo perigoso”, ainda não vencido, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil: “Não vemos isso tanto na Suécia, na Dinamarca ou na Noruega. Vemos nos Estados Unidos, em lugares onde as pessoas não têm emprego, a saúde é fraca, não há oportunidades. Então, você tem esse tipo de desespero. E é a partir desse desespero que as pessoas recorrem a gente como Trump ou Bolsonaro”.

A falsa liberdade defendida nos discursos de rematados direitistas - Donald Trump, Jair Bolsonaro, Javier Milei, Pablo Marçal e tantos outros - também está no radar de Joseph Stiglitz, para quem a economia é, definitivamente, uma disciplina humana e, portanto, os economistas não podem fechar os olhos para os movimentos anticivilizatórios: “Quando vivemos de forma integrada (numa pandemia, por exemplo), se eu não me vacinar ou usar máscara, há uma chance você morrer. São ações que você sabe que podem te machucar. Se eu carregar uma AK-47, você pode morrer. Isso pode prejudicar sua liberdade. E é tão óbvio, mas eles simplesmente não reconhecem isso. Se eu poluir o ar e você tiver asma, você morre. A liberdade de uma pessoa é a falta de liberdade de outra”.

 

Fonte: Brasil 247/Viomundo

 

Nenhum comentário: