Os grandes
vencedores do primeiro turno das eleições municipais
O
primeiro turno das eleições
municipais chegou ao fim neste domingo (6) consolidando os
principais vitoriosos nesta disputa.
Especialistas
ouvidos pela BBC News Brasil apontam que entre os grandes vencedores destas
eleições estão: Gilberto
Kassab e o PSD, partido que obteve o maior número de prefeituras e
desbancou o MDB; e o Centrão e a direita e centro-direita, que juntos, vão
comandar a maior parte das prefeituras do Brasil.
Por
outro lado, os números e os especialistas apontam que, diante de um cenário
complexo, outros atores importantes tiveram bons resultados, mas "com
ressalvas", com alguns só selando sua sorte definitiva no segundo turno.
Entre eles está o PT e
o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, mas também o ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) e o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas
(Republicanos).
Entre
os grandes derrotados destas eleições estão, de acordo com os analistas: o
PSDB, partido que já ocupou a presidência do país por duas vezes e que tinha
uma virtual hegemonia sobre a política de São Paulo - e não elegeu nenhum
vereador na capital paulista; e o PDT e o clã da família de Ciro Gomes no
Ceará.
Mas
até entre os derrotados também há ressalvas: Pablo Marçal (PRTB) não passou ao
segundo turno da capital paulista, mas ficou a uma distância mínima dos
finalistas e se consagrou como um
dos fenômenos da eleição.
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Confira abaixo a análise detalhada:
·
Centrão e direita
avançam no Brasil
O
resultado do primeiro turno das eleições municipais materializou um cenário que
era esboçado pelas principais pesquisas de intenção de voto há algumas semanas:
um crescimento significativo no número de prefeituras que serão comandadas por
legendas do chamado Centrão ou de direita ou centro-direita a partir de 2025.
O
Centrão é o nome dado a um grupo de partidos, normalmente de centro-direita ou
de direita, que orbita em torno da Presidência da República em troca de
participação no governo.
Em
2020, as cinco maiores legendas do Centrão e da direita tinham 3.223
prefeituras em todo o país. Foi o equivalente a 55% de todas as cidades do
país. Neste ano, esse número chegou a 3.613, um crescimento de 12% em relação a
quatro anos atrás e e que representa 64% de todos os municípios do país.
A
centro-esquerda só aparece com o PSB, o sétimo partido desta lista, que ficou à
frente de PSDB e do PT.
O
Centrão e a direita e centro-direita tiveram vitórias importantes em capitais,
como Aracaju e Campo Grande. Em Salvador, por exemplo, o prefeito Bruno Reis
(União Brasil) se reelegeu em primeiro turno, com 78% dos votos.
Em
Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos) também foi reeleito, com 56%.
Um
dos principais pontos abordados pelos especialistas ouvidos pela BBC News
Brasil é o de que a ampliação no número de prefeituras conquistadas pela
direita no país é resultado de uma série de fatores e não pode ser,
necessariamente, atribuído a uma suposta vitória do bolsonarismo, ainda que
Jair Bolsonaro se mantenha como o principal nome deste campo político no
Brasil.
O
doutor em Ciência Política e diretor do Ipespe Analítica, Vinícius Alves, disse
à BBC News Brasil que, historicamente, as legendas de direita levam mais
vantagem que as da esquerda em eleições municipais.
Um
dos motivos, segundo ele, é o maior número de partidos de direita no Brasil em
comparação com as rivais à esquerda.
“Há
um ambiente com maior oferta de candidatos de legendas à direita. Isso tem
influência no resultado”, disse o especialista.
Um
levantamento feito pela reportagem mostra que dos 29 partidos registrados
atualmente junto ao Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), somente nove são de esquerda ou de
centro-esquerda: PT, PDT, PSB, PCdoB, PCB, PSTU, UP, PSOL e PCO. Os demais ou
são de direita, centro-direita ou não se manifestam sobre isso em seus
estatutos.
Para
o cientista de dados e CEO da empresa de análise dados AP Exata Sérgio
Denicoli, as eleições deste ano trouxeram uma “consolidação” da direita no
Brasil.
“Eu
diria que houve uma consolidação de um espaço político que é o espaço da
direita. Antes, havia um certo receio em candidatos se assumirem como de
direita. Hoje, não há mais essa preocupação [...] E como o Brasil é um país
muito conservador, os membros das antigas elites políticas do país usaram suas
antenas para captar esse sentimento”, disse à BBC News Brasil.
·
Gilberto Kassab e o
PSD: partido chega ao topo
O
PSD, liderado pelo ex-ministro Gilberto Kassab (PSD), é o partido que vai
comandar mais prefeituras em todo o país. A sigla criada por Kassab venceu em
888 cidades do Brasil.
É a
primeira vez que um partido fica a frente do MDB em número de prefeituras desde
a redemocratização do Brasil, em 1985. Neste pleito, o MDB elegeu 861
mandatários.
Em
2020, o PSD elegeu 657 prefeitos, mas, nos últimos anos, o partido ganhou mais
de 300 prefeitos com trocas de filiação.
Uma
das vitórias mais importantes do PSD ocorreu no Rio de Janeiro, com a reeleição
do prefeito Eduardo Paes, que se filiou ao partido de Kassab em 2021. Paes teve
60% dos votos válidos.
Ex-prefeito
de São Paulo, Kassab hoje ocupa o cargo de secretário de Governo e Relações
Institucionais do governo de São Paulo, comandado por Tarcísio de Freitas
(Republicanos), de oposição ao governo Lula.
Mas
o PSD de Kassab também está no governo de presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), comandando três ministérios: o de Minas e Energia, o da Agricultura e o
da Pesca.
O
bom desempenho do PSD nas eleições municipais deixa o partido bem-posicionado
para tentar mais espaço no governo Lula, um uma provável reforma ministerial,
avalia Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria. Ele também avalia que a
legenda também se cacifa para as articulações políticas das eleições de 2026.
·
Bolsonaro: relevante,
mas com liderança em xeque
Especialistas
ouvidos pela BBC News Brasil apontam que Bolsonaro demonstrou força política no
primeiro turno destas eleições municipais, embora o resultado geral das
eleições aponte que sua liderança inconteste sobre a direita pode estar em
xeque.
O
PL, partido ao qual Bolsonaro está filiado, conseguiu aumentar em 52% o número
de prefeituras conquistadas no primeiro turno, saindo de 344 em 2020 para 523
em 2024.
Apesar
do crescimento, o número está bem abaixo das 1,5 mil prefeituras estabelecidas
como meta pelo presidente nacional da legenda, Valdemar da Costa Neto.
Além
disso, candidatos a prefeito com o apoio de Bolsonaro ou com imagem ligada ao
ex-presidente, como Bruno Engler (PL), em Belo Horizonte, Cristina
Graeml (PMB) em Curitiba, e André Fernandes (PL) em Fortaleza e
Ricardo Nunes (MDB), em São Paulo, irão disputar o segundo turno com chances
reais de vitória.
Para
o cientista de dados e CEO da AP Exata, Sérgio Denícoli, Bolsonaro cometeu
erros ao longo da campanha eleitoral deste ano, mas conseguiu se manter
relevante no cenário político atual.
“A
derrota do Marçal consolida Bolsonaro como uma liderança da direita. O
Bolsonaro colocou o freio de arrumação e mandou recados para seus
correligionários e conseguiu se manter como uma liderança da direita”, disse à
BBC News Brasil.
Carolina
de Paula, doutora em Ciência Política pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ) e coordenadora do projeto Monitor do Debate Público, disse
avaliar que houve uma separação entre a direita e o bolsonarismo nas eleições
deste ano.
"Bolsonaro
teve um papel importante na consolidação da direita no Brasil, mas, ao mesmo
tempo, o seu apoio se mostrou tóxico em alguns casos. Inclusive, houve
candidatos de direita que não se declararam bolsonaristas com todas as forças
por receio de perder o eleitor de centro", destacou Carolina de Paula.
Carolina
cita como exemplo uma pesquisa do Datafolha em São Paulo revelou que 63% dos
eleitores não votariam em um candidato apoiado por Bolsonaro, ilustrando essa
resistência.
Apesar
desse distanciamento, segundo ela, o bolsonarismo ainda seria uma força
significativa na direita.
·
Tarcísio de Freitas:
aposta deu resultado
O
governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), viu sua principal
aposta eleitoral render frutos no primeiro turno. Seu candidato na capital
paulista, Ricardo Nunes (MDB), chegou ao segundo turno como o candidato mais
bem votado nessa primeira etapa, ainda que por
uma diferença diminuta.
Tarcísio
foi o principal fiador da candidatura de Nunes, e o acompanhou durante a
votação neste domingo. Nunes agradeceu ao “amigo” Tarcísio.
Foi
o governador, que tem pretensão de disputar a Presidência em 2026, quem
costurou o apoio de Jair Bolsonaro ao atual prefeito, mesmo que o ex-presidente
não tenha se empenhado na campanha como a coligação esperava.
Bolsonaro
não apareceu em eventos nem chegou a gravar para o horário eleitoral de Nunes,
ao contrário de Tarcísio, sempre presente no horário eleitoral e em eventos da
campanha.
Embora
parte do bolsonarismo tenha aderido à candidatura de Pablo Marçal (PRTB),
Tarcísio se manteve fiel a Nunes. “Eu preciso de um cara que não lacra,
trabalha”, disse ele na semana da eleição, em evento com Nunes.
Para
o cientista de dados e CEO da empresa de análise de dados AP Exata Sérgio
Denicoli diz acreditar que Tarcísio saiu fortalecido destas eleições.
"O
Tarcísio bancou o Nunes e sai bem fortalecido e se consolida como uma liderança
hábil neste campo. Ele se coloca como um nome forte da direita e com o aval de
Bolsonaro. Penso que o futuro da direita no Brasil passa por ele", disse.
·
Lula e o PT:
"Perdeu ganhando"
O
primeiro turno das eleições municipais deste ano chegou ao final e trouxe um
resultado ambíguo para o PT, partido do presidente Lula.
Por
um lado, o partido aumentou em 37% o número de prefeituras vencidas neste ano
em comparação com as 182 de 2020. Neste ano, foram 251 prefeituras vencidas.
O
partido ainda vai disputar o segundo turno em quatro capitais: Porto Alegre,
Fortaleza, Natal e Cuiabá.
Em
São Paulo, apesar de não ter um candidato, o partido é visto como o principal
avalista da candidatura do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), que vai
disputar o segundo turno.
Por
outro lado, especialistas apontam que o cenário inspira preocupação no partido.
Os
principais motivos de preocupação, segundo eles, seriam: a ampliação e
consolidação da direita e do Centrão no comando da maioria das cidades
brasileiras; a pequena presença do partido em cidades com mais de 200 mil
eleitores; e o não surgimento de uma nova geração de líderes em meio ao que
classificam como o esgotamento do ciclo político de Lula.
Para
além disso, o PT ainda viu o PL, liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro,
aumentar o seu número de prefeituras.
Para
o professor de Ciência Política Marco Antônio Teixeira, o PT saiu como um dos
derrotados destas eleições.
"O
PT teve um resultado que pode ser visto de dois ângulos. É melhor que 2020, mas
é aquém do que se esperava pelo fato de o governo ter retomado o governo
federal. Esperava-se uma transferência de votos maior de Lula para Boulos e
vemos que o incremento foi baixo. O PT está no segundo turno em quatro
capitais, mas com poucas chances de ganhar, exceto em Fortaleza", disse.
O
pesquisador do Centro de Estudos de Administração Pública e Governo da Fundação
Getúlio Vargas (FGV), Eduardo Grin, disse à BBC News Brasil que a situação é
paradoxal.
“O
PT perdeu ganhando. Ele ganhou mais prefeituras do que tinha, mas perdeu porque
ficou menos relevante politicamente do que se imaginava, especialmente nos
grandes centros urbanos”, disse à BBC News Brasil.
·
Pablo Marçal:
derrotado, mas ainda competitivo
Apesar
de ter ficado de fora do segundo turno das eleições à Prefeitura de São Paulo e
de ter acumulado polêmicas nos últimos meses, o ex-coach Pablo Marçal foi
apontado pelo doutor em Ciência Política Vinícius Alves como um dos destaques
da disputa neste ano.
Marçal
concorreu à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB, um partido considerado
"nanico" que não contou com tempo de rádio e TV no horário eleitoral
gratuito.
Apesar
disso, sua enorme popularidade no universo digital permitiu que ele disputasse
as eleições de forma competitiva até o final do primeiro turno.
Com
100% das urnas apuradas, Nunes teve 29,48% dos votos, Boulos, 29,07% e Marçal
ficou com 28,14%.
"Considero
que o Marçal, do ponto de vista eleitoral, sai como alguém competitivo, com
potencial para provocar alguma fissura na direita. Ele conseguiu ficar bem
próximo dos dois que avançaram ao segundo turno, equilibrando até os últimos
minutos de apuração uma disputa que de início parecia que seria apenas em torno
de Nunes e Boulos", afirmou.
O
especialista ponderou, no entanto, que as polêmicas nas quais Marçal se
envolveu, entre elas a divulgação de um laudo falso indicando que Boulos teria
sido internado por uso de drogas em 2021, pode trazer problemas para o seu
futuro político.
·
Família Gomes:
hegemonia ameaçada
O
PDT e o grupo político formado pela família do ex-governador do Ceará Ciro
Gomes foram dois dos principais derrotados das eleições de acordo com os
resultados divulgados até agora pelo TSE. O partido pelo qual Ciro Gomes
disputou as eleições presidenciais em 2022 conquistou 151 prefeituras neste
ano, um número 52% menor que as 315 obtidas no primeiro turno das eleições de
2020.
Em
Fortaleza, o PDT do prefeito José Sarto ficou de fora do segundo turno, que
será disputado por André Fernandes (PL) e por Evandro Leitão (PT). O prefeito
não conseguiu avançar em sua tentativa de buscar a reeleição.
Além
disso, o clã Gomes, que vive um racha entre os irmãos Ciro e o senador Cid
Gomes (PSB), viu um opositor da família vencer no seu principal reduto
político, a cidade de Sobral.
Lá,
Oscar Rodrigues (União Brasil) venceu Izolda Cela (PSB).
·
Derrocada tucana
O
PSDB foi um dos grandes derrotados desta eleição, não elegendo nenhum prefeito
de capitais. Pior: não irá disputar o segundo turno em nenhuma delas.
Nessa
eleição, os tucanos elegeram 273 prefeitos. Quatro anos atrás, eles eram 523.
Mas
foi em São Paulo, berço do partido, onde a derrota do PSDB foi mais marcante.
Os
tucanos já governaram a cidade de São Paulo em três ocasiões, com José Serra
(2005-2006), João Doria (2017-2018) e Bruno Covas (2018-2021).
Dessa
vez, o candidato do partido, José Luiz Datena, teve 1,84% dos votos — a pior
votação do partido em uma eleição municipal de São Paulo na história.
Na
Câmara a situação foi pior ainda. Os tucanos não elegeram nenhum vereador neste
ano — em 2020 foram oito, a maior bancada da Casa junto com o PT. Essa é a
primeira vez em que o partido não elege nenhum parlamentar na cidade desde sua
fundação.
O
fracasso eleitoral do PSDB na capital é mais um capítulo da derrocada do
partido no Estado onde foi criado. Em 2022, depois de 24 anos, a sigla deixou
de ocupar a cadeira de governador. Tarcísio Freitas (Republicanos), aliado de
Bolsonaro, venceu a disputa.
Fonte:
BBC News Brasil
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