Como
candidato do Psol em Salvador virou o 'campeão moral' da eleição
Kleber
Rosa sai da disputa eleitoral de 2024 “grandão”, como se diz informalmente aqui
na Bahia. O servidor público que atua como professor e policial civil vai
retomar as suas atividades como uma espécie de “campeão moral” desta eleição,
tomando emprestada uma gíria do futebol. Não conquistou “o título”, que seria a
cadeira de prefeito no Thomé de Souza, porém sai com a maior votação já
registrada pelo Psol numa disputa municipal em Salvador, com 10,43% do total e
a confiança de 138.610 eleitores.
“Nós
tínhamos como objetivo chegar ao dia de hoje (ontem) no segundo lugar e, quem
sabe, com a possibilidade de levar a disputa para um segundo turno”, afirmou a
jornalistas pouco antes de se dirigir à cabine de votação. Parecia feliz e
aliviado, talvez rememorando a batalha hercúlea que enfrentou contra a máquina
política que dá sustentação ao governo do estado. Jerônimo, Wagner e Rui,
principais cardeais do PT na Bahia, escolheram outro candidato, mas a
militância petista estava com Kleber. Não foi para o segundo turno, mas ajudou
o partido a fazer dois vereadores.
“Lula
é 15 em Salvador”, repetiu à exaustão durante o período eleitoral o candidato
do MDB, Geraldo Junior. O atual vice-governador da Bahia apostou suas fichas no
apoio institucional do PT, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à
sua campanha, mas esqueceu de combinar com os petistas. Em 2024, o time de Lula
escolheu o 50 em Salvador e, embora, o movimento não tenha sido forte o
suficiente para modificar o resultado final da disputa eleitoral, engordou a
votação do Psol, que vinha definhando nas últimas disputas municipais.
Desde
que Hilton Coelho promoveu a estreia do partido numa eleição municipal em
Salvador, em 2008, com o seu jingle chiclete – neste momento imagino você
cantando mentalmente “eu quero Hilton 50…” – e abocanhou pouco mais de 51 mil
votos, terminando o primeiro turno com quase 4% do total de válidos, o Psol
vinha ladeira abaixo. Em 2016, Hamilton Assis recebe 33 mil votos e termina com
2,6%, depois Fábio Nogueira, em 2016, termina com 13,7 mil votos, equivalentes
a 1,04% dos válidos. Em 2020, o partido apostou novamente em Hilton 50, mas a
força do jingle atraiu 1,39% dos votos e 16,8 mil em números absolutos.
Mesmo
longe de alcançar o desempenho de outros grandes centros, como São Paulo, onde
Guilherme Boulos despontou como forte candidato, o Psol de Kleber Rosa chegou
ao final do primeiro turno fortalecido por um aliado improvável: o eleitorado
petista, que não conseguiu se identificar com o 15 de Geraldo Junior e dos
irmãos Vieira Lima e embarcou na campanha do 50.
Há
dois anos, quando disputou o governo do estado, Kleber Rosa ficou 0,59% do
percentual de votos válidos, sendo a escolha de 48.239 eleitores baianos. Mas
desde o início do processo eleitoral, as pesquisas de intenção de votos
apontavam para um cenário diferente agora em 2024. No último levantamento do
Instituto Paraná, divulgado em 1º de outubro, o psolista aparecia próximo ao
percentual de votos de Hilton em 2008, com 3,5% das intenções, com um
crescimento de 1 ponto percentual em relação à pesquisa realizada um mês antes.
Na
mesma pesquisa, Geraldo Junior aparecia com 7,4% das intenções de votos, à
frente, mas com uma queda de 2,4 pontos percentuais em relação ao levantamento
anterior. Como se diz no jargão político, a curva era favorável a Kleber e ruim
para o vice-governador.
Um
outro número divulgado pelo Instituto Paraná pode ser esclarecedor em relação à
performance de Kleber. A rejeição dele era 21,5 pontos percentuais menor que os
46% do eleitorado que responderam não ter menor intenção de votar em Geraldo
Junior.
• O PT e
os petistas
Na
última semana de campanha, a cinco dias da votação em primeiro turno, o
presidente do PT na Bahia precisou reforçar o apoio do partido ao candidato
emedebista. Éden Valadares garantia que a legenda do governador Jerônimo
Rodrigues e do presidente Lula e a sua militância estariam ao lado de Geraldo.
“Estou aqui com toda convicção para dizer que Geraldo e Fabya (Reis, candidata
a vice-prefeita) tem todo apoio de toda militância do PT de Salvador, da Bahia
e do Brasil”, afirmou Éden.
Talvez
a grande dificuldade dos petistas com Geraldo – a desconfiança em relação a
alguém que até pouco tempo estava no time adversário – seja o maior trunfo de
Kleber Rosa dos esquerdistas raízes. Enquanto um precisou dar explicações
durante a campanha por elogios e acenos aos atuais adversários, e até mesmo em
relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, o psolista sempre esteve
do mesmo lado.
Desde
o período de pré-campanha, quando os nomes que disputaram a eleição foram
apresentados, filiados do PT já surgiam em fotos ao lado de Kleber Rosa,
prenunciando o que as urnas confirmaram ontem. Duas semanas antes da eleição, o
psolista participou de um ato público em que recebeu o apoio de petistas que se
recusaram aceitar a decisão partidária de apoio a Geraldo.
Faixas
com o título “Petistas com Kleber Rosa e Dona Mira” destacaram a trajetória do
psolista com as pautas da esquerda, com os movimentos sociais, e com a luta por
justiça social. Em meados de setembro, Rodrigo Pereira, dirigente do PT, pediu
que os seus correligionários votassem em Kleber.
“Convoco
toda nação petista para votar em Kleber Rosa. Todos aqueles petistas que
votaram em Lula e em Jerônimo precisam agora votar em Kleber Rosa por um
programa de esquerda de verdade. Por uma candidatura que, de fato, vai nos
representar e defender as nossas pautas”, disse Rodrigo Pereira, que foi contra
a sigla apoiar Geraldo Júnior.
• União
Brasil tem maior bancada, e Psol passa o PT em cadeiras; veja como fica Câmara
Fechada
a apuração, a Câmara de Vereadores de Salvador registou uma renovação de 44% de
renovação comparado com os eleitos de 2020. Daquele grupo de 43 edis, 24 foram
reeleitos este ano. Entre eles, Marta Rodrigues, a única petista reeleita. Em
2020, o partido elegeu quatro vereadores. Por outro lado, o PSDB cresceu, de
três para seis vereadores. A maior bancada eleita foi a do União Brasil,
legenda de Bruno Reis.
A
correlação de forças no Legislativo Municipal saída das urnas indica que o
prefeito terá grande facilidade para aprovar seus projetos em seu novo mandato.
Das 43 cadeiras na Câmara, a oposição elegeu apenas 7: uma para o PT, uma para
o MDB, uma para PSB, duas para o PCdoB e duas para o PSOL. O União Brasil sai
do pleito com sete vereadores eleitos.
Presidente
da Câmara, Carlos Muniz (PSDB) afirmou ontem ter ficado surpreso com a taxa de
renovação da Casa. “Esperava, no máximo, uma renovação de 30%, já incluindo o
fato de Edvaldo Brito (PSD) ter desistido de disputar a reeleição”, falou. “Não
esperava por causa do trabalho que os vereadores fizeram nestes últimos quatro
anos”, justificou.
Muniz
acredita que o resultado da eleição para a Câmara mostra os acertos da gestão e
os erros da oposição.
“A
eleição reflete o trabalho que Bruno fez pela cidade. Os vereadores que estavam
com ele também foram beneficiados pelo reconhecimento desse trabalho”, disse.
Carlos
Muniz analisa que os números alcançados pela oposição, sobretudo a redução da
bancada do PT, expressa o descontentamento da população de Salvador com o
governo do estado, comandado pelo petista Jerônimo Rodrigues.
“O
resultado traduz uma mudança que o povo de Salvador pretende fazer,
principalmente na área de segurança. A votação mostra uma insatisfação com o
governo, principalmente na área de segurança. O governo do estado foi o grande
derrotado dessa eleição”, disse, acrescentando que o governo sequer deu o apoio
necessário ao seu candidato (o vice-governador Geraldo Júnior).
Seguindo
a mesma linha de raciocínio, Muniz atribui o crescimento da bancada de seu
partido ao apoio ao prefeito Bruno Reis. E também ao trabalho dos dirigentes da
legenda que, segundo afirmou, aumentaram a competitividade da legenda.
Augusto
Vasconcelos (PCdoB) reeleito ontem, reconheceu que a oposição enfrentará
dificuldades nos próximos quatro anos. Mas, segundo ele, a qualidade dos
vereadores do grupo que tiveram sucesso nas urnas vai ajudar a superar “esse
momento difícil”. E que o grupo vai continuar fazendo uma oposição propositiva
e a favor da cidade.
"Mesmo
estando em número inferior, a bancada de oposição vai dialogar com o povo e
buscar respaldo na sociedade, muitos dos eleitos têm base em movimentos
sociais", ressaltou
O
vereador também afirmou que é prematuro, nesse momento, apontar falhas na
campanha. “A gente acerta coletivamente e também erra coletivamente. É
necessário discutir internamente, na esquerda e na base do governo”, falou.
“Mas eu concordo que precisamos melhorar a nossa comunicação”.
Além
das 7 cadeiras do União e das 5 do PSDB, a bancada de partidos que apoiam o
Executivo municipal conta com 5 vereadores do PP, 4 do PDT, 4 do Republicanos,
dois do Podemos, 2 do PL, 2 do PRD, 2 do DC, 1 do PV, 1 do Cidadania.
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Vereadores eleitos em Salvador nas eleições 2024
A
apuração dos votos para vereador de Salvador acabou e definiu a lista dos que
vão ocupar as 43 vagas na Casa Legislativa da cidade. A lista final leva em
conta o coeficiente eleitoral, ou seja, o desempenho do partido na votação.
O
quociente eleitoral é calculado dividindo-se a quantidade de votos válidos para
determinado cargo pelo número de vagas para aquele cargo. Já o quociente
partidário define o número de vagas a que cada partido terá direito. Esse
cálculo é feito dividindo-se a quantidade de votos válidos para determinado
partido ou federação pelo quociente eleitoral. Depois que são feitos esses
cálculos, se ainda há vagas, é feita uma espécie de repescagem por meio do
cálculo da média, que vai determinar quem ficará com essas vagas — também
chamadas de sobras.
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Eis os eleitos:
JORGE
ARAÚJO REPORTER (PP) - Eleito por QP
CARLOS
MUNIZ (PSDB) - Eleito por QP
LUIZ
CARLOS (REPUBLICANOS) - Eleito por QP
OMARZINHO
(PDT) - Eleito por QP
MAURICIO
TRINDADE (PP) - Eleito por QP
ROBERTA
CAIRES (PDT) - Eleito por QP
ANDERSON
NINHO (PDT) - Eleito por QP
RICARDO
ALMEIDA (DC) - Eleito por QP
ANDRE
FRAGA (PV) - Eleito por QP
MARTA
RODRIGUES (PT) - Eleito por QP
PAULO
MAGALHAES JR (UNIÃO) - Eleito por QP
KEL
TORRES (REPUBLICANOS) - Eleito por QP
DUDA
SANCHES (UNIÃO) - Eleito por QP
KIKI
BISPO (UNIÃO) - Eleito por QP
ALBERTO
BRAGA (UNIÃO) - Eleito por QP
SANDRO
FILHO (PP) - Eleito por QP
AUGUSTO
VASCONCELOS (PCdoB) - Eleito por QP
GEORGE
O GORDINHO DA FAVELA (PP) - Eleito por QP
DR
DAVID RIOS (MDB) - Eleito por QP
SIDNINHO
(PP) - Eleito por média
DÉBORA
SANTANA (PDT) - Eleito por média
MARCELLE
MORAES (UNIÃO) - Eleito por QP
ALEXANDRE
ALELUIA (PL) - Eleito por QP
IREUDA
SILVA (REPUBLICANOS) - Eleito por QP
CLAUDIO
TINOCO (UNIÃO) - Eleito por QP
ISABELA
SOUSA (CIDADANIA) - Eleito por QP
JOAO
CLAUDIO BACELAR (PODE) - Eleito por QP
KÊNIO
REZENDE (PRD) - Eleito por QP
THEO
SENNA (PSDB) - Eleito por QP
CRIS
CORREIA (PSDB) - Eleito por QP
DANIEL
ALVES (PSDB) - Eleito por QP
MARCELO
GUIMARÃES NETO (UNIÃO) - ELeito por média
JULIO
SANTOS (REPUBLICANOS) - Eleito por média
RODRIGO
AMARAL (PSDB) - Eleito por média
CÉZAR
LEITE (PL) - Eleito por QP
ALADILCE
(PCdoB) - Eleito por média
ELIETE
PARAGUASSU (PSOL) - Eleito por QP
FABIO
SOUZA (PRD) - Eleito por QP
FELIPE
SANTANA (PSD) - Eleito por QP
PROFESSOR
HAMILTON ASSIS (PSOL) - Eleito por média
RANDERSON
LEAL (PODE) - Eleito por média
ALEX
ALEMÃO (DC) - Eleito por QP
SILVIO
HUMBERTO (PSB) - Eleito por QP
Fonte:
Correio
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