terça-feira, 8 de outubro de 2024

Como candidato do Psol em Salvador virou o 'campeão moral' da eleição

Kleber Rosa sai da disputa eleitoral de 2024 “grandão”, como se diz informalmente aqui na Bahia. O servidor público que atua como professor e policial civil vai retomar as suas atividades como uma espécie de “campeão moral” desta eleição, tomando emprestada uma gíria do futebol. Não conquistou “o título”, que seria a cadeira de prefeito no Thomé de Souza, porém sai com a maior votação já registrada pelo Psol numa disputa municipal em Salvador, com 10,43% do total e a confiança de 138.610 eleitores.

“Nós tínhamos como objetivo chegar ao dia de hoje (ontem) no segundo lugar e, quem sabe, com a possibilidade de levar a disputa para um segundo turno”, afirmou a jornalistas pouco antes de se dirigir à cabine de votação. Parecia feliz e aliviado, talvez rememorando a batalha hercúlea que enfrentou contra a máquina política que dá sustentação ao governo do estado. Jerônimo, Wagner e Rui, principais cardeais do PT na Bahia, escolheram outro candidato, mas a militância petista estava com Kleber. Não foi para o segundo turno, mas ajudou o partido a fazer dois vereadores.

“Lula é 15 em Salvador”, repetiu à exaustão durante o período eleitoral o candidato do MDB, Geraldo Junior. O atual vice-governador da Bahia apostou suas fichas no apoio institucional do PT, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à sua campanha, mas esqueceu de combinar com os petistas. Em 2024, o time de Lula escolheu o 50 em Salvador e, embora, o movimento não tenha sido forte o suficiente para modificar o resultado final da disputa eleitoral, engordou a votação do Psol, que vinha definhando nas últimas disputas municipais.

Desde que Hilton Coelho promoveu a estreia do partido numa eleição municipal em Salvador, em 2008, com o seu jingle chiclete – neste momento imagino você cantando mentalmente “eu quero Hilton 50…” – e abocanhou pouco mais de 51 mil votos, terminando o primeiro turno com quase 4% do total de válidos, o Psol vinha ladeira abaixo. Em 2016, Hamilton Assis recebe 33 mil votos e termina com 2,6%, depois Fábio Nogueira, em 2016, termina com 13,7 mil votos, equivalentes a 1,04% dos válidos. Em 2020, o partido apostou novamente em Hilton 50, mas a força do jingle atraiu 1,39% dos votos e 16,8 mil em números absolutos.

Mesmo longe de alcançar o desempenho de outros grandes centros, como São Paulo, onde Guilherme Boulos despontou como forte candidato, o Psol de Kleber Rosa chegou ao final do primeiro turno fortalecido por um aliado improvável: o eleitorado petista, que não conseguiu se identificar com o 15 de Geraldo Junior e dos irmãos Vieira Lima e embarcou na campanha do 50.

Há dois anos, quando disputou o governo do estado, Kleber Rosa ficou 0,59% do percentual de votos válidos, sendo a escolha de 48.239 eleitores baianos. Mas desde o início do processo eleitoral, as pesquisas de intenção de votos apontavam para um cenário diferente agora em 2024. No último levantamento do Instituto Paraná, divulgado em 1º de outubro, o psolista aparecia próximo ao percentual de votos de Hilton em 2008, com 3,5% das intenções, com um crescimento de 1 ponto percentual em relação à pesquisa realizada um mês antes.

Na mesma pesquisa, Geraldo Junior aparecia com 7,4% das intenções de votos, à frente, mas com uma queda de 2,4 pontos percentuais em relação ao levantamento anterior. Como se diz no jargão político, a curva era favorável a Kleber e ruim para o vice-governador.

Um outro número divulgado pelo Instituto Paraná pode ser esclarecedor em relação à performance de Kleber. A rejeição dele era 21,5 pontos percentuais menor que os 46% do eleitorado que responderam não ter menor intenção de votar em Geraldo Junior.

•                                         O PT e os petistas

Na última semana de campanha, a cinco dias da votação em primeiro turno, o presidente do PT na Bahia precisou reforçar o apoio do partido ao candidato emedebista. Éden Valadares garantia que a legenda do governador Jerônimo Rodrigues e do presidente Lula e a sua militância estariam ao lado de Geraldo. “Estou aqui com toda convicção para dizer que Geraldo e Fabya (Reis, candidata a vice-prefeita) tem todo apoio de toda militância do PT de Salvador, da Bahia e do Brasil”, afirmou Éden.

Talvez a grande dificuldade dos petistas com Geraldo – a desconfiança em relação a alguém que até pouco tempo estava no time adversário – seja o maior trunfo de Kleber Rosa dos esquerdistas raízes. Enquanto um precisou dar explicações durante a campanha por elogios e acenos aos atuais adversários, e até mesmo em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, o psolista sempre esteve do mesmo lado.

Desde o período de pré-campanha, quando os nomes que disputaram a eleição foram apresentados, filiados do PT já surgiam em fotos ao lado de Kleber Rosa, prenunciando o que as urnas confirmaram ontem. Duas semanas antes da eleição, o psolista participou de um ato público em que recebeu o apoio de petistas que se recusaram aceitar a decisão partidária de apoio a Geraldo.

Faixas com o título “Petistas com Kleber Rosa e Dona Mira” destacaram a trajetória do psolista com as pautas da esquerda, com os movimentos sociais, e com a luta por justiça social. Em meados de setembro, Rodrigo Pereira, dirigente do PT, pediu que os seus correligionários votassem em Kleber.

“Convoco toda nação petista para votar em Kleber Rosa. Todos aqueles petistas que votaram em Lula e em Jerônimo precisam agora votar em Kleber Rosa por um programa de esquerda de verdade. Por uma candidatura que, de fato, vai nos representar e defender as nossas pautas”, disse Rodrigo Pereira, que foi contra a sigla apoiar Geraldo Júnior.

 

•                                         União Brasil tem maior bancada, e Psol passa o PT em cadeiras; veja como fica Câmara

Fechada a apuração, a Câmara de Vereadores de Salvador registou uma renovação de 44% de renovação comparado com os eleitos de 2020. Daquele grupo de 43 edis, 24 foram reeleitos este ano. Entre eles, Marta Rodrigues, a única petista reeleita. Em 2020, o partido elegeu quatro vereadores. Por outro lado, o PSDB cresceu, de três para seis vereadores. A maior bancada eleita foi a do União Brasil, legenda de Bruno Reis.

A correlação de forças no Legislativo Municipal saída das urnas indica que o prefeito terá grande facilidade para aprovar seus projetos em seu novo mandato. Das 43 cadeiras na Câmara, a oposição elegeu apenas 7: uma para o PT, uma para o MDB, uma para PSB, duas para o PCdoB e duas para o PSOL. O União Brasil sai do pleito com sete vereadores eleitos.

Presidente da Câmara, Carlos Muniz (PSDB) afirmou ontem ter ficado surpreso com a taxa de renovação da Casa. “Esperava, no máximo, uma renovação de 30%, já incluindo o fato de Edvaldo Brito (PSD) ter desistido de disputar a reeleição”, falou. “Não esperava por causa do trabalho que os vereadores fizeram nestes últimos quatro anos”, justificou.

Muniz acredita que o resultado da eleição para a Câmara mostra os acertos da gestão e os erros da oposição.

“A eleição reflete o trabalho que Bruno fez pela cidade. Os vereadores que estavam com ele também foram beneficiados pelo reconhecimento desse trabalho”, disse.

Carlos Muniz analisa que os números alcançados pela oposição, sobretudo a redução da bancada do PT, expressa o descontentamento da população de Salvador com o governo do estado, comandado pelo petista Jerônimo Rodrigues.

“O resultado traduz uma mudança que o povo de Salvador pretende fazer, principalmente na área de segurança. A votação mostra uma insatisfação com o governo, principalmente na área de segurança. O governo do estado foi o grande derrotado dessa eleição”, disse, acrescentando que o governo sequer deu o apoio necessário ao seu candidato (o vice-governador Geraldo Júnior).

Seguindo a mesma linha de raciocínio, Muniz atribui o crescimento da bancada de seu partido ao apoio ao prefeito Bruno Reis. E também ao trabalho dos dirigentes da legenda que, segundo afirmou, aumentaram a competitividade da legenda.

Augusto Vasconcelos (PCdoB) reeleito ontem, reconheceu que a oposição enfrentará dificuldades nos próximos quatro anos. Mas, segundo ele, a qualidade dos vereadores do grupo que tiveram sucesso nas urnas vai ajudar a superar “esse momento difícil”. E que o grupo vai continuar fazendo uma oposição propositiva e a favor da cidade.

"Mesmo estando em número inferior, a bancada de oposição vai dialogar com o povo e buscar respaldo na sociedade, muitos dos eleitos têm base em movimentos sociais", ressaltou

O vereador também afirmou que é prematuro, nesse momento, apontar falhas na campanha. “A gente acerta coletivamente e também erra coletivamente. É necessário discutir internamente, na esquerda e na base do governo”, falou. “Mas eu concordo que precisamos melhorar a nossa comunicação”.

Além das 7 cadeiras do União e das 5 do PSDB, a bancada de partidos que apoiam o Executivo municipal conta com 5 vereadores do PP, 4 do PDT, 4 do Republicanos, dois do Podemos, 2 do PL, 2 do PRD, 2 do DC, 1 do PV, 1 do Cidadania.

<><> Vereadores eleitos em Salvador nas eleições 2024

A apuração dos votos para vereador de Salvador acabou e definiu a lista dos que vão ocupar as 43 vagas na Casa Legislativa da cidade. A lista final leva em conta o coeficiente eleitoral, ou seja, o desempenho do partido na votação.

O quociente eleitoral é calculado dividindo-se a quantidade de votos válidos para determinado cargo pelo número de vagas para aquele cargo. Já o quociente partidário define o número de vagas a que cada partido terá direito. Esse cálculo é feito dividindo-se a quantidade de votos válidos para determinado partido ou federação pelo quociente eleitoral. Depois que são feitos esses cálculos, se ainda há vagas, é feita uma espécie de repescagem por meio do cálculo da média, que vai determinar quem ficará com essas vagas — também chamadas de sobras.

<<<< Eis os eleitos:

JORGE ARAÚJO REPORTER (PP) - Eleito por QP

CARLOS MUNIZ (PSDB) - Eleito por QP

LUIZ CARLOS (REPUBLICANOS) - Eleito por QP

OMARZINHO (PDT) - Eleito por QP

MAURICIO TRINDADE (PP) - Eleito por QP

ROBERTA CAIRES (PDT) - Eleito por QP

ANDERSON NINHO (PDT) - Eleito por QP

RICARDO ALMEIDA (DC) - Eleito por QP

ANDRE FRAGA (PV) - Eleito por QP

MARTA RODRIGUES (PT) - Eleito por QP

PAULO MAGALHAES JR (UNIÃO) - Eleito por QP

KEL TORRES (REPUBLICANOS) - Eleito por QP

DUDA SANCHES (UNIÃO) - Eleito por QP

KIKI BISPO (UNIÃO) - Eleito por QP

ALBERTO BRAGA (UNIÃO) - Eleito por QP

SANDRO FILHO (PP) - Eleito por QP

AUGUSTO VASCONCELOS (PCdoB) - Eleito por QP

GEORGE O GORDINHO DA FAVELA (PP) - Eleito por QP

DR DAVID RIOS (MDB) - Eleito por QP

SIDNINHO (PP) - Eleito por média

DÉBORA SANTANA (PDT) - Eleito por média

MARCELLE MORAES (UNIÃO) - Eleito por QP

ALEXANDRE ALELUIA (PL) - Eleito por QP

IREUDA SILVA (REPUBLICANOS) - Eleito por QP

CLAUDIO TINOCO (UNIÃO) - Eleito por QP

ISABELA SOUSA (CIDADANIA) - Eleito por QP

JOAO CLAUDIO BACELAR (PODE) - Eleito por QP

KÊNIO REZENDE (PRD) - Eleito por QP

THEO SENNA (PSDB) - Eleito por QP

CRIS CORREIA (PSDB) - Eleito por QP

DANIEL ALVES (PSDB) - Eleito por QP

MARCELO GUIMARÃES NETO (UNIÃO) - ELeito por média

JULIO SANTOS (REPUBLICANOS) - Eleito por média

RODRIGO AMARAL (PSDB) - Eleito por média

CÉZAR LEITE (PL) - Eleito por QP

ALADILCE (PCdoB) - Eleito por média

ELIETE PARAGUASSU (PSOL) - Eleito por QP

FABIO SOUZA (PRD) - Eleito por QP

FELIPE SANTANA (PSD) - Eleito por QP

PROFESSOR HAMILTON ASSIS (PSOL) - Eleito por média

RANDERSON LEAL (PODE) - Eleito por média

ALEX ALEMÃO (DC) - Eleito por QP

SILVIO HUMBERTO (PSB) - Eleito por QP

 

Fonte: Correio

 

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