terça-feira, 1 de outubro de 2024

Rubem Valente: ‘De cemitério ilhado por soja e milho a escola poluída - as marcas do agro em Belterra’

Belterra, um pequeno município no sudoeste do Pará com 18 mil habitantes localizado perto do rio Tapajós e da rodovia BR-163, a 49 km de Santarém, vive o boom do agronegócio. Seus defensores falam que é necessário para o desenvolvimento do município, cujas raízes remontam a 1934, quando a companhia do bilionário norte-americano Henry Ford (1863-1947) construiu um vilarejo a fim de explorar os seringais da região. Poucos anos depois, o negócio deu errado e foi abandonado. Agora vastas áreas de soja e milho começam a dominar a paisagem antes marcada por florestas fechadas e árvores imensas. É como uma replicação do que ocorreu na zona rural de inúmeros municípios do vizinho Mato Grosso. “Aqui é um ou dois que são contra a agricultura. Esquerdistas. Mas eu não tenho nada contra a esquerda também não. Se não tivesse a esquerda, não tinha graça também”, disse à Agência Pública o vereador Sérgio Cardoso de Campos (MDB), 67 anos, o Serjão, segundo mais votado na cidade em 2020, ele próprio ligado a um grupo empresarial que opera seis fazendas na região, a família Menolli.

Campos é um dos principais apoiadores da campanha à reeleição do prefeito Ulisses José Medeiros Alves (MDB), 48 anos, em coligação com Republicanos, PSB e Avante. O único outro candidato a prefeito é o ex-deputado estadual Antonio Rocha (PP), em uma coligação que, a exemplo de Santarém, faz uma salada ideológica que junta a direita do União Brasil com PT, PCdoB e PV. A esquerda quase inexiste em Belterra. Rocha, 70 anos, construiu sua carreira na política, mas passou a ser empresário de navegação e hotelaria, declarando agora um patrimônio pessoal de R$ 5,9 milhões. Ele também é um produtor rural, tendo declarado 1.903 cabeças de bovinos e bubalinos, uma fazenda e um trator. Até o início de 2024, Rocha estava no MDB, do qual saiu para enfrentar Ulisses. Seu vice é do PT. As duas campanhas majoritárias passam ao largo das discussões sobre as consequências da chegada da monocultura à região.

O olhar mais detalhado, contudo, mostra como o agronegócio traz uma nova realidade bem mais problemática em Belterra. Desde 2016, segundo professoras ouvidas pela Pública, já são inúmeras as denúncias de que agrotóxicos aplicados por fazendas invadem salas de aula de uma escola municipal hoje cercada por plantações de soja. O episódio mais recente ocorreu em junho, quando professores e alunos relataram náuseas e coceiras pelo corpo. A poucos quilômetros dali, uma antiga comunidade de pequenos produtores rurais chamada Tracuá hoje praticamente sumiu do mapa. A maioria dos moradores vendeu a terra para fazendeiros da monocultura. Nem o pequeno cemitério usado pela comunidade, o Santa Isabel, passou incólume: agora está inteiramente cercado por um milharal, com pés de milho plantados a poucos centímetros das covas.

Moradora de uma comunidade ao lado da Tracuá, a Morada Nova, a pequena agricultora Ivanilde Silva disse que mora ali há 50 anos e presenciou o esvaziamento da região nos últimos anos. “Essa comunidade aí [Tracuá] se acabou. Aqui tá sendo quase igual lá. Aqui também tá se acabando o pessoal. Aqui tinha muita gente, moço. Gente, gente, gente. Venderam tudinho pros gaúchos. Eu acho que tinha uns 300, 400 moradores aqui. Hoje não dá cem”, disse a moradora. No lugar está agora “uma só fazenda, um só vaqueiro”. Mas por que eles venderam? “Pra sair daqui, pensando que lá na beira do asfalto ia ser melhor. Entendeu? Eu não sei se ficou melhor pra ir lá.” Ela tem uma pequena roça de mandioca, mas não sabe se vai vingar. O desmatamento, disse a moradora, está tornando a região mais seca, com mais incêndios, do que nunca. “Antes não tinha esse calor aqui. Você vai ver que até em julho a gente colhia feijão. Era chuva [forte]. Agora, os pés de maniva aí, tudo seco, murcho. Não sabe nem se vai dar batata que a gente plantou no inverno que passou.”

Sua vizinha, Terezinha de Jesus Pereira da Silva, disse temer que o rio Tapajós seque. “Porque eu vejo no jornal que o pessoal está andando longe para pegar água, lá no Amazonas. E nós aqui ainda estamos em setembro, até chegar dezembro…”

Para as moradoras, a culpa da seca é dos desmatamentos provocados pelos gaúchos. É como os paraenses da região denominam os agricultores que vieram do Sul do país. Muitos, na verdade, vieram de Mato Grosso, onde se estabeleceram há décadas vindos do Sul. Um estudo de campo feito nas comunidades de Tracuá e Jenipapo em 2011 e 2012 pelos professores João Santo Nahum, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e Paulo Roberto Carneiro da Paixão Júnior, da Universidade Federal do Pará (UFPA), detectou que “eram aproximadamente 60 famílias que viviam na localidade de Jenipapo e 40 na de Tracuá antes que o agronegócio da soja chegasse” à região.

“Até 2012, somente duas permanecem em Tracuá […]; em Jenipapo, dez, compostas, em sua maioria, por anciões solitários. Foram três, considerados produtores pequenos, que compraram as terras dos camponeses em Jenipapo e apenas um, considerado grande, em Tracuá.” O estudo mencionou as diversas dificuldades que as famílias pequenas produtoras enfrentavam para seguir vivendo nessas comunidades, como a ausência de energia elétrica. Ela só chegou depois, por meio do programa Luz Para Todos. A Pública ouviu razão semelhante em conversas com moradores de Belterra.

·        Escola sofre com contaminação por agrotóxicos

A monocultura vai comendo espaços em todos os lados de Belterra, com consequências diversas. Na escola municipal Professora Vitalina Motta, que fica bem ao lado da rodovia BR-163, o avanço do agronegócio ganha contornos dramáticos e põe em alerta toda a comunidade escolar. Hoje a escola atende cerca de 130 alunos de 6 a 15 anos de idade, todos provenientes de comunidades da região, como Amapá e Portão, inclusive filhos de trabalhadores que hoje dependem das fazendas da monocultura.

A professora Heloise Rocha, ex-presidente do PSOL de Santarém e ativista sindicalista, foi uma das duas pessoas citadas pelo vereador Serjão como supostas críticas ao agronegócio no município. Ela dá aulas na Vitalina há nove anos e começou a ter contato com o problema por volta de 2016, quando uma infestação de insetos tomou conta da escola. As aulas tiveram que ser interrompidas porque os bichos invadiram a caixa-d’água. Tomaram paredes inteiras. Foram necessários dois dias para limpar tudo. “Nós fomos ouvir os comunitários e eles falaram: ‘Não, isso é normal, é quando eles estão aplicando veneno’, em referência aos fazendeiros da região. Aquilo não podia ser normal. Como assim, uma escola infestada? Aquilo já estava normalizado.” Depois desse episódio, segundo a professora, houve vários outros problemas, como a fuligem que chega à escola como produto da operação de colheita de grãos e provoca tosses e coceiras. As coisas ficaram ainda mais sérias em janeiro de 2023, quando uma nuvem de veneno invadiu a escola e as aulas tiveram que ser suspensas. O agrotóxico fora aplicado por uma máquina agrícola no campo de soja que fica quase colado ao muro da escola. Em março de 2023, o Ibama anunciou ter multado o fazendeiro Renato Zambra, vizinho da escola, em R$ 1 milhão pela aplicação irregular de agrotóxicos.

Em junho passado, um terceiro episódio de contaminação foi denunciado por professores e alunos da escola, dessa vez atingindo 33 pessoas. Eles foram atendidos na unidade básica de saúde com sintomas semelhantes: dor de cabeça, alergias, náuseas e coceiras. “Nesse dia, a gente sentiu um cheiro muito forte logo pela manhã, logo que a gente chegou à escola. É um cheiro característico, como o de veneno de barata, de Detefon.” A professora de geografia Bárbara Leonora Santos Teixeira, que dá aulas na escola desde 2018, presenciou todos os principais surtos de veneno na escola. Ela explicou como todo o processo de ocupação do território acabou por colocar a escola como um alvo dos agrotóxicos. “A gente tem uma mudança no padrão de produção aqui na região. Tanto nessa região, de Belterra, quanto em Santarém e Mojuí, a mudança ocorreu a partir dos anos 2000. Houve um incentivo tanto do [governo do] estado quanto de empresários locais que passaram a incentivar essa migração de produtores de soja, principalmente de Mato Grosso, da região Sul, por conta das terras que são mais baratas e as características de planalto da nossa região. Aí a gente começa a ver uma substituição da vegetação natural da região.”

A supressão da vegetação, conforme a professora, “não dá nem para ser chamada de desmatamento”, pois “são áreas todas autorizadas, isso tudo acontece com o aval do Estado”. A professora vê a necessidade de um estudo aprofundado sobre a contaminação do ar e da água e a saúde dos habitantes da região. “A gente sabe que não é preciso manipular de fato um agrotóxico para haver a contaminação. O vento leva a contaminação, há contaminação do solo, da água. Existem estudos que relacionam áreas de produção agrícola que usam agrotóxico com, por exemplo, uma incidência maior de casos de câncer. É preciso levantar tudo isso. Outra situação que a gente observa relacionada à saúde é o número de autistas na escola. Hoje na escola nós temos um público autista. Em praticamente todas as turmas, agora temos pelo menos um aluno autista.” A Pública tentou, na última quinta-feira (19), falar sobre esse e outros assuntos com os dois candidatos a prefeito de Belterra, mas eles não foram localizados.

 

¨      A segunda morte dos mortos de Muçum, cidade arrasada por enchentes no Rio Grande do Sul. Por Amanda Audi

A primeira coisa que ouvi sobre o cemitério de Muçum foi que corpos enterrados ali há mais de 100 anos haviam sido arrancados da terra à força pela fúria das águas do rio Taquari, que passa ao lado, nas três enchentes que devastaram a pequena cidade de pouco mais de 4 mil habitantes em menos de um ano – em setembro e novembro de 2023 e maio de 2024.

Passei pelo cemitério pela primeira vez à noite, com o farol do carro iluminando os destroços das lápides e de casas abandonadas — tão vazias que o mato começou a entrar pelas paredes sem portas nem janelas. O barro do fundo do rio revolvido pelas cheias também entrou nas casas, formando camadas de cerca de 30 centímetros de altura. Silencioso, o rio corria nos fundos, no escuro. Na manhã seguinte, a claridade permitiu enxergar melhor o emaranhado de pedaços de concreto, azulejos, letras de metal dourado, flores de plástico, santos despedaçados e, também, provavelmente, pedaços de corpos embaixo de tudo aquilo. Alguns moradores acreditam que o cemitério ajudou a “amortecer” as sucessivas enchentes. Por ficar numa curva do rio, onde a água ganha velocidade, a estrutura teria feito com que as águas não impactassem diretamente o centro da cidade, onde se concentram as moradias e o comércio. As cheias teriam ocorrido de qualquer jeito, mas as consequências poderiam ser piores se não fosse a barreira do cemitério, diz quem vive lá.

Essa visão não passa de palpite, segundo um especialista. “O cemitério é pequeno comparado com o rio. O efeito é pequeno e localizado, e pode até ter sido negativo, desviando a água para a direita, na direção do centro”, afirma Walter Collischonn, professor de hidrologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que analisou o curso da água na cidade. Mateus Trojan (MDB), atual prefeito de Muçum, também acha que o cemitério não teve ligação com a força da água que chegou ao centro. Na verdade, ele aponta o contrário: por ficar em uma área aberta, com pouca vegetação densa e construções altas, o cemitério pode ter ajudado a intensificar a força da água, que passou por ele livremente. “O contraste entre áreas rurais e urbanas explica a variação na intensidade dos impactos da enchente em diferentes pontos da cidade”, diz.

<><> Moradores ainda encontram ossos de quem morreu pelas enchentes

“Às vezes eu ainda encontro osso. Vou juntando e colocando num ossário, porque não dá para saber de quem é. A prefeitura vai fazer um memorial para homenagear esses mortos que não foram embora com a água”, contou Ivete Pegorer, que cuida da manutenção do cemitério há 15 anos. “Não tem jeito, o corpo boia, a água leva.”

Ela lamenta o estado em que se encontra a casa, completamente esvaziada. A primeira enchente, em 2023, levou os móveis, eletrodomésticos, roupas e objetos pessoais. A família comprou novos, que foram perdidos novamente quando o rio voltou a passar por cima da casa de dois pisos – só o telhado ficou fora da água.

O restante – esquadrias, interruptores, revestimentos e até fios elétricos – foi depois roubado por ladrões. Da casa de quatro quartos que custou R$ 600 mil juntados pela família por anos, sobrou apenas um box de vidro do banheiro, milagrosamente intacto, uma boneca, um pacote de café solúvel, balas, uma escova e pasta de dentes, todos cobertos de lama. “Mas também”, explica Bellini, a voz de choro, “não tinha como a gente ficar aqui cuidando”.

Logo depois da última grande enchente, em maio, ela perdeu o pai, o marido e o filho num espaço de 45 dias. O pai, idoso, estava acamado havia 12 anos. Ele foi levado para um hospital quando começaram rumores de que o nível do rio iria subir. Faleceu 15 dias depois, de uma infecção na bexiga. O marido, que fazia quimioterapia, descobriu que o câncer que tinha no ombro havia se espalhado por todo o corpo. Morreu duas semanas depois. Passados dez dias, o filho Fabrício, de 33 anos, sofreu um infarto fulminante. Ou seja, em pouco mais de um mês, Bellini ficou sem casa, sem as suas coisas, e sem família. “Hoje sobrou só eu e minha mãe morando na casa de parente. Antes essa casa era uma alegria, os adultos trabalhando, as crianças brincando. Agora não tem ninguém. Não tem nada”, ela limpa uma lágrima, olhando para a ruína do que foi sua vida. Ela aponta para os destroços do cemitério, a cerca de cem metros da sua casa. “Minha família tinha um jazigo ali, mas eles também foram embora”, disse, sobre os corpos que foram levados pelo rio. “Era para eles ficarem todos juntos.”

<><> Mortos passaram a ser levados para cidades vizinhas

Depois da enchente de setembro de 2023, os mortos de Muçum passaram a ser enterrados em outras cidades da região. Os primeiros foram dez das 15 vítimas daquela cheia, velados ao mesmo tempo no cemitério da cidade vizinha de Vespasiano Corrêa.

Uma delas foi Zilda Bonatto Amaral, de 90 anos. No dia da enchente, a água subiu rapidamente e ela e sua filha ficaram presas. Com o nível da água aumentando, a filha tentou colocar a mãe em cima de um sofá que estava boiando, mas a idosa acabou submergindo na água muito fria e não resistiu e faleceu. A filha conseguiu colocar o corpo da mãe de volta no sofá e passou a madrugada inteira segurando a mão dela para que não fosse levada pela correnteza.

Ivete Pegorer, a cuidadora do antigo cemitério de Muçum, conta que há muitas histórias assustadoras desses dias de enchente – nenhuma sobre assombrações, mas sim os dramas dos sobreviventes. Ela também perdeu tudo o que tinha duas vezes. Na noite da primeira cheia, em setembro de 2023, conforme a água foi subindo, ela e o marido correram para cima de um morro, pela mata, em meio à completa escuridão. “Eu só ouvia gente gritando, mas não conseguia ver nada”, ela lembra. “Hoje minha cabeça não funciona direito, eu choro por qualquer coisa, me tremo toda quando começa a chover. Foi muito susto que a gente passou.”

<><> Sem pontes, moradores atravessam a pé ponte de 100 metros

Os sucessivos desastres em Muçum deixaram a cidade arrasada. Mais de 25% da população se mudou, 500 casas foram destruídas e várias empresas fecharam as portas. Mais de quatro meses após a última grande enchente, escombros ainda se acumulam e a população continua assustada. Se você conversar com cem moradores, ouvirá cem histórias diferentes sobre como foram aqueles dias que ficaram gravados como um trauma coletivo na cidade. Há uma necessidade de relatar os momentos de pavor e o medo de novas enchentes, como uma forma de desabafo.

Uma delas é Aline Drexler, vendedora de erva de chimarrão. Ela passou semanas na casa de parentes porque a sua alagou. Perdeu o que tinha dentro, até os documentos, tanto em setembro como em maio. A conversa aconteceu enquanto ela atravessava a pé os trilhos de trem da ponte que liga Muçum ao município de Roca Sales, a mais de 100 metros de altura no ponto mais alto. “São 77 degraus para subir e 77 para descer. Eu sei porque faço esse trajeto todo dia”, ela diz. Ali funcionava um dos principais atrativos turísticos do Rio Grande do Sul, o Trem dos Vales, que cruza 46 quilômetros entre Muçum e Parobé. O trem passava por túneis e viadutos históricos, como o Viaduto do Exército Brasileiro, conhecido como V13, o mais alto da América Latina, com 143 metros de altura. O trajeto foi desativado e os trilhos passaram a ser usados para a locomoção de pessoas a pé desde que as outras pontes de Muçum ruíram. “Dá medo, principalmente quando tem que passar por cima do rio. Não tem proteção, bate vento e eu já me imagino caindo lá embaixo”, diz Drexler. “Mas essa ponte salvou muita gente. Na enchente, as pessoas subiram aqui pra fugir da água. Você olhava e via um monte de barraca e gente acampada até o barro baixar.”

A cidade tem o apelido de “Princesa das Pontes”, mas agora só resta o velho trilho de trem. As outras ainda estão sendo reconstruídas. A principal, Brochado da Rocha, deve ser concluída até o fim do ano, segundo a prefeitura.

<><> Eleições trazem a promessa de um novo cemitério para Muçum

Enquanto as construções abandonadas se multiplicam por Muçum, os habitantes que decidiram ficar começaram a incorporar um elemento novo às suas casas: placas grossas de metal nas paredes voltadas para onde passa o rio, uma maneira de fortificar os alicerces e evitar que elas sejam levadas pela próxima enchente. As ruas, porém, foram limpas rapidamente, e o plano de reconstrução das pontes também foi anunciado com celeridade. As medidas foram visíveis para a população, que acredita que o prefeito Mateus Trojan fez o que tinha que fazer. “A enchente ia acontecer de qualquer jeito, ele não podia fazer nada. Mas pelo menos ele está tomando providências”, comenta o aposentado Eli Picoli.

A reconstrução da cidade se tornou o principal tema das eleições deste ano, como esperado. Trojan, de apenas 29 anos, concorre à reeleição focando a campanha nas ações para evitar novas calamidades. Suas redes sociais são inundadas de vídeos do prefeito anunciando obras e comunicando o andamento dos pedidos de ajuda que fez aos governos federal e do estado. Um dos trunfos foi conseguir encerrar os abrigos após dois meses da enchente de maio, a mais violenta, realocando os desabrigados em novos imóveis com recebimento de aluguel social.

O prefeito considera que as mudanças climáticas são um tema “urgente e muito delicado”. “Precisa ser tratado com prioridade em todas as esferas. Nós trabalhamos isso no nosso plano de governo, através de proposições que incluem, por exemplo, a educação ambiental”, afirmou. Ele propõe realocar 350 famílias para locais seguros, desassorear o rio e construir diques secos, melhorar sistemas de alerta e monitoramento, fortalecer a Defesa Civil e investir em educação ambiental para gerar uma “transformação coletiva no senso de risco e na capacidade de reação aos eventos extremos, capacitar líderes e cidadãos para atuarem durante os momentos de crise”. Seu adversário é Marcos Bastiani (PSDB), que exerce o primeiro mandato como vereador e exalta a experiência de mais de 40 anos como engenheiro civil com obras em Muçum. Bastiani e Trojan protagonizaram debates respeitosos e suas propostas de governo são bem parecidas. O opositor, porém, é contrário à ideia de realocar todos os moradores de áreas de risco. Ele acredita que seria melhor reforçar as construções já existentes e criar barreiras de contenção.

Sobre o cemitério, porém, os dois concordam que deve ser construído definitivamente em algum lugar longe da fúria das águas do Taquari. Um novo cemitério, distante 3 quilômetros do antigo e em um local a que a água do rio (provavelmente) não chega, deve ser inaugurado depois das eleições. Ainda não há uma data específica, segundo o prefeito. “Está na fase de finalização de trâmites burocráticos e elaboração dos projetos ambientais, para então, em breve, iniciar a limpeza da área e depois as obras de fato”, afirma Trojan. “O rio para mim era uma alegria, hoje é só tristeza. Antigamente era a coisa mais linda, as pessoas vinham para cá acampar, puxavam energia do cemitério e montavam suas barracas. A gente sentava ali na beirada no fim de tarde, levava pipoca, chimarrão. Agora, olha pra isso”, disse Cleuza Bellini, apontando o cemitério destroçado. Hoje, o rio, que durante a cheia estava cor de barro, retornou à tonalidade esverdeada. Ele se recuperou aos poucos, mas Muçum ainda está no processo.

 

Fonte: Agencia Pública

 

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