segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Pepe Escobar: Nasrallah como mártir/lenda - As terras do Islã prontas para canalizar sua ira

Um símbolo foi destruído. Uma lenda nasceu. A Resistência, mais que nunca, se recusará a recuar.

Isso foi colocado não por um xiita, mas por um líder cristão libanês, resumindo o fato de que um verdadeiro ícone do Islã Político é capaz de transcender todas as (artificiais) fronteiras.

Esta década, que defini como os The Raging Twenties (os Frenéticos Anos Vinte), começou com o americaníssimo assassinato com alvo definido do comandante da Força Quds, o General  Soleimani, e do comandante do Hashd al-Shaabi, comandante Abu Mohandes, próximo ao aeroporto de Bagdá.

O General Soleimani, mais que um símbolo, foi o formulador do conceito de Eixo da Resistência. Apesar de todos os revezes, principalmente nas últimas semanas, o Eixo da Resistência está hoje mais forte do que em janeiro de 2020. Soleimani – o mártir, a lenda – deixou um legado sem paralelos que jamais deixará de inspirar a todos os centros oeste-asiáticos da Resistência.

Sayyed Hassan Nasrallah terá o mesmo destino. Mais que um símbolo, ele foi a Face do Eixo da Resistência, extraordinariamente popular e respeitada nas ruas árabes e nas terras do Islã.  Apesar de todos os revezes, em especial nas últimas semanas, o Eixo da Resistência estará muito mais forte nos próximos anos que em setembro de 2024.  

Nasrallah – o mártir, a lenda – deixa um legado comparável ao de Soleimani, por quem, incidentalmente, ele sentia respeito reverencial em questões militares, e com quem sempre aprendia. Como político, entretanto, e como uma figura paterna e fonte de sabedoria espiritual, Nasrallah não tinha rival.

Agora, desçamos das estrelas ao esgoto. 

O reincidente e irredimível criminoso de guerra e genocida psicopata, que viola sistematicamente dúzias de resoluções da ONU, deu as caras na Assembleia Geral da ONU em Nova York e ordenou, de dentro do prédio-sede,  mais um crime de guerra: a destruição de todo um quarteirão no sul de Beirute, com dezenas de bombas destruidoras de bunkers de fabricação americana, inclusive a  BLU-109 com um sistema de orientação precisa – deixando incontáveis civis desaparecidos sob os escombros, entre eles Sayyed Nasrallah.

Enquanto o criminoso de guerra falava à Assembleia Geral da ONU, mais da metade dos delegados se retiraram em massa, deixando o plenário praticamente vazio de diplomatas do Sul Global. O que permaneceram tiveram que assistir mais uma exibição característica de “mapas” com disfunção cognitiva  mostrando os “abençoados” – Arábia Saudita, Sudão, Egito, Jordânia, Emirados – e os “malditos": Iraque, Irã, Síria, Líbano  e Iêmen. 

Um arrivista vil e hidrófobo de origem polonesa – um total impostor que não se qualifica sequer como o mais imundo dos lixos – emitindo juízos sobre civilizações antiquíssimas.

A história é repleta de exemplos de entidades que não se qualificam como verdadeiros estados-nação, mais parecendo infecções bacterianas graves. Sua única especialidade é matar, matar, matar. De preferência civis desarmados – como tática terrorista. Terrivelmente perigosos, é claro. A História também nos conta a única maneira de lidar com essas criaturas. 

·        Chega de luvas de pelica

Israel matou Sayyed Nasrallah por duas razões principais: 1) Porque ele explicitamente reafirmou que o Hezbollah jamais abandonaria Gaza em troca de qualquer “acordo” que permitisse a continuidade do genocídio e da limpeza étnica total. 2) Porque os fanáticos talmúdicos psicopatológicos  querem invadir e reocupar o Líbano. 

Israel conseguiu encontrar brechas graves na segurança do Líbano – e do Irã. No caso de Beirute, a cidade inteira está infestada de infiltrados. Quinta-colunistas de todos os tipos andam de um lado para o outro fazendo tudo o que querem. O Irã é um caso muito mais grave. Como o Comandante Brigadeiro General Abbas Nilforoushan da  Guarda Revolucionária Iraniana também foi morto ao lado de Nasrallah, em Beirute, a própria Guarda Revolucionária pode ter sido afetada. 

Repensar seriamente a segurança interna, de Teerã a Beirute, se torna agora imperativo. A cuidadosamente construída estrutura do   Hezbollah não irá colapsar com o assassinato de Nasrallah  – independentemente do tsunami de operações psicológicas espalhafatosas de autoria dos  suspeitos de sempre. 

O Hezbollah independe de personalidades. A estrutura é um labirinto, um rizoma – e outros núcleos, devidamente treinados, bem como uma nova liderança, irão surgir, como ocorria com o Vietcong durante a “guerra americana”.

É claro que as guerras são sempre americanas, porque o Império do Caos está fundado em Guerras Eternas. 

Em 1982, a guerra de Israel contra o Líbano foi tão brutal que até mesmo Ronald Reagan – que uma vez ameaçou asfaltar o Vietnã e pintá-lo com vagas de estacionamento – ficou estarrecido. Ele disse ao Primeiro-Ministro Menachem Begin, que ganhou fama como um terrorista do Irgun: “Menachem, isso é um holocausto.”

Mas um corrupto de baixa extração de nome Joe Biden, então senador, comprado e pago pelo lobby sionista,  deu um telefonema a Begin para reassegurá-lo de que “mesmo que todos os civis sejam mortos”, não haveria muito problema.

Como seria de se prever, o então senador, hoje o zumbi pato-manco da Casa Branca, deu seu total apoio ao assassinato de Nasrallah.

A bola, agora, está com a opinião pública de todas as terras do Islã. Quase dois bilhões de muçulmanos participarão, em grande medida, da nova fase do Eixo da Resistência. A máquina de matar, de sua parte, continuará a matar, matar, matar – principalmente civis, mulheres desarmadas e crianças.

Agora, nada impede o Eixo da Resistência de subir o tom. Simplesmente, não há no horizonte diplomacia, compromisso, cessar-fogo, “solução de dois estados” nem qualquer outra tática de procrastinação. Apenas uma luta existencial de vencer ou morrer contra a implacável máquina de morte que exibe, parafraseando (e invertendo)  Yeats, “um olhar vazio e impiedoso como o do sol”. 

Para todos os fins práticos, os verdadeiros (itálicos meus) Frenéticos Anos Vinte começam agora.

E a ira das terras do Islã focará não apenas a máquina de guerra, mas também sua loba de tetas cheias: o Império das Guerras Eternas. 

Irã, Iraque, Síria, Iêmen, Turquia, Paquistão, dezenas de atores da Maioria Global devem estar se preparando para algo inédito em toda a história: “a coordenação máxima de diplomacia, geoeconomia e potencial militar para, finalmente, enfrentar cara-a-cara a infecção bacteriana. 

Um cenário auspicioso agora se torna bastante plausível: os BRICS assumindo o papel de principal canal diplomático para as terras do Islã. O próximo estágio lógico seria tirar a ONU do território israelo-americano e estabelecer sua  sede  em uma nação que realmente respeite o direito internacional humanitário. 

A Maioria Global que vem ganhando importância política criará então sua própria organização das nações realmente unidas – deixando os racistas chafurdando e apodrecendo dentro de seus próprios muros. Enquanto isso, no campo de batalha, não haverá mais luvas de pelica: chegou a hora da morte por mil cortes. 

 

¨      Mídia corporativa adota gramática na guerra para naturalizar barbárie de Israel e estigmatizar adversários. Por Tiago Barbosa

A mídia corporativa pariu uma gramática flexível, seletiva e desonesta para fazer da guerra arma ideológica de submissão imperialista - à custa, claro, da realidade e das vítimas.

A adesão acrítica à versão ocidental impregna o noticiário com malabarismo vocabular para naturalizar a barbárie sinonista e criminalizar de Gaza ao Irã.

A palavra "invasão" usada para definir a ação da Rússia na Ucrânia vira "incursão militar" no ataque de Israel ao Líbano.

O "direito de se defender" invocado por Israel para destruir Gaza se torna "terrorismo" na resposta do Irã à ofensiva de Israel.

Violência contra palestinos presos em Israel é "interrogatório". Tratamento dispensado a israelenses detidos em Gaza é "tortura".

Mísseis e bombas lançados por Israel atingem "alvos específicos". Mísseis e bombas endereçados a Israel são disparados "contra o país".

Israel luta sempre contra "grupos terroristas" Hamas e Hezbollah. Irã e Palestina atacam sempre "o estado judeu".

Vítimas israelenses têm família, identidade e fazem apelos dramáticos nos meios de comunicação. Vítimas palestinas, libanesas e iranianas são contadas, via de regra, sem voz e à base de números.

As estatísticas sobre Israel são consideradas incontestáveis e atribuídas ao governo. As informações sobre Gaza, creditadas ao "ministério da Saúde do Hamas", mantidas sob suspeita e seguidas de "não confirmadas".

A menção a qualquer violência cometida por Israel é precedida ou sucedida pela lembrança do ataque ao país em 7 de outubro. A ofensiva dos outros, nada: é tratada como rotineira e parte da interação de países ou povos projetados como agressivos.

As mortes de soldados israelenses são marcadas por fotos, rostos, depoimentos das famílias e destaque do noticiário. Os óbitos de combatentes palestinos são "perdas terroristas".

Israel "elimina" alvo terrorista quando ataca. Palestinos, iranianos e libaneses matam "seres humanos, inocentes".

Inimigo de Israel vai "preso". De palestino, "sequestrado".

Ação israelense é naturalizada após consulta a associações, organizações e institutos em defesa do povo judeu.

Ação palestina, iraniana, libanesa é criminalizada por associações, organizações e institutos em defesa do povo judeu.

A ausência de representatividade é inerente à abordagem dos desafetos do regime sionista.

A primeira vítima da cobertura de guerra com envolvimento de protegidos do imperialismo não é (só) a verdade, como prega o clichê.

É a condição humana, a dignidade, o respeito aos povos oprimidos. É a voz ocultada para perpetuar barbáries, extermínios, genocídios.

A mídia mata com disparos contínuos de estigmatização e silenciamento - é cúmplice e panfleto da tragédia.

 

¨      Israel manda evacuar 51 vilas no Líbano e depois bombardeia rota de fuga de civis

Uma ação militar realizada no Sul do Líbano pelas IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla em inglês),  está sendo amplamente condenada e criticada pela opinião pública mundial e por lideranças que exigem um cessar-fogo imediato na região. A crueldade da manobra é inexplicável e tornou-se alvo de uma avalanche ainda maior de condenações de várias partes do mundo.

Nos últimos dias, o governo de Telavive determinou a evacuação de 51 vilas e cidades, incluindo comunidades cristãs e drusas, na porção mais meridional do território libanês, ao longo de 120 quilômetros da fronteira com Israel, advertindo para que civis saíssem de lá pois bombardeios intensos iriam começar, sempre com o pretexto de mirar no grupo Hezbollah. Milhares de pessoas desesperadas, então, deixaram tudo para trás e tomaram a rota de fuga orientada pelos invasores do Estado judeu, por uma estrada da região, mas quando o caminho de saída estava em pleno uso, os caças supersônicos israelenses passaram a disparar mísseis contra ele.

Segundo o correspondente naquela zona Imran Khan, da rede de televisão catari Al Jazeera, o primeiro ataque foi ainda na madrugada. Hoje, pela manhã, quando engenheiros do exército libanês faziam reparos improvisados na rodovia, para que a fuga dos civis continuasse, mais dois bombardeiros foram realizados contra a rota, sendo que no último um militar engenheiro ficou gravemente ferido.

<><> Centro de Beirute bombardeado

Pela primeira vez em 18 anos, forças militares do Estado de Israel realizaram bombardeios no centro de Beirute, capital do Líbano, na madrugada desta quinta-feira (3). O ataque matou ao menos seis pessoas e deixou dezenas de feridos.

Até então, Israel vinha limitando seus ataques aos subúrbios da capital libanesa, sem atingir a região central, que é amplamente movimentada.

O bombardeio atingiu uma área próxima ao gabinete do primeiro-ministro libanês, Najib Mikati. Segundo Imran Khan, correspondente da rede Al Jazeera no país, esse fato pode arrastar o governo do Líbano para o conflito contra Israel, que até então permanecia "limitado" ao confronto entre as forças israelenses e o grupo Hezbollah.

"Este não foi um ataque aéreo aos subúrbios ao sul de Beirute. Foi em Bashoura, a apenas um quilômetro do gabinete do primeiro-ministro. É um bairro de classe média que foi duramente atingido (...). Este é o segundo ataque fora dos subúrbios do sul. O ataque é preocupante, pois agora não há mais lugares seguros", afirmou o jornalista da Al Jazeera.

"Israel afirma que está atacando o Hezbollah. Mas agora está atingindo áreas próximas ao gabinete do primeiro-ministro, o que é muito preocupante para o Líbano, pois o conflito não está mais confinado a Israel e Hezbollah. Se Israel continuar atacando e se aproximar do governo libanês ou de sua infraestrutura civil ou militar, isso arrastará o Líbano para o conflito", continuou Imran Khan.

A coordenadora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) no Líbano, Jeanine Hennis-Plasschaert, declarou nas redes sociais que "a ansiedade e o medo são onipresentes" em Beirute após mais uma noite de ataques israelenses no coração da capital. Segundo Hennis-Plasschaert, Israel realizou os bombardeios sem qualquer aviso, dificultando o deslocamento seguro de civis.

"Mais uma noite sem dormir em Beirute. Contando as explosões que abalam a cidade. Nenhuma sirene de alerta. Sem saber o que vem a seguir. Apenas a incerteza que nos espera", declarou.

Além dos ataques no centro de Beirute, as forças israelenses bombardearam um edifício na cidade de Bint Jbeil, no sul do Líbano, matando 15 pessoas na madrugada desta quinta-feira.

Em duas semanas de ataques ao território libanês, as forças militares de Israel, sob as ordens do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, já mataram mais de mil pessoas e feriram milhares.

 

Fonte: Brasil 247/Fórum

 

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