O trabalho
da centro-direita e a estratégia ultrapassada da esquerda
O
primeiro turno das eleições de 2024 teve dois grandes vencedores: a
centro-direita (com destaque para PSD, PL e PP) e o continuísmo na política –
esse segundo ponto é traduzido pelos números: dos 11 prefeitos eleitos, 10
disputavam a reeleição.
Mas,
em um recorte ampliado, essa eleição significou uma nova posição, tanto para a
direita quanto para a esquerda. E isso aconteceu como resultado na escolhas de
estratégias, muito antes da campanha.
A
centro-direita trabalha seu crescimento com força desde 2018, quando Jair
Bolsonaro foi eleito, e reforçou o trabalho em 2022 – quando Bolsonaro perdeu
para Lula. A centro-direita entendeu que alcança mais que a extrema-direita –
que é muito ruidosa mas também tem muita rejeição.
• A
centro-direita entendeu que tem discurso e espelha boa parte da sociedade, e
que consegue emplacar um discurso de rejeição à esquerda que lhe dá como
retorno mais eleitores . E consegue fazer isso porque falta discurso à
esquerda.
A
postura ativa da centro-direita se opõe a uma postura passiva da esquerda – que
perdeu muito tempo reclamando da extrema-direita e de Bolsonaro, perdeu muito
tempo dentro de bolhas.
O
próprio governo Lula passou seu primeiro ano de mandato creditando problemas
seus ao governo anterior. Uma estratégia de terceirização que prejudica a
identidade e afasta o eleitor.
• A
esquerda também sofre de um problema crítico, que deve levar a mais derrotas.
Lula é seu grande e único líder. Não se pensa em transição, que é natural, as
novas lideranças não são construídas com o tempo devido nem com um discurso de
aproximação do eleitor.
A
esquerda foi a corrente política que mais sofreu as consequências da
polarização – justamente por apostar demais dela.
E
há provas de como é possível ser apoiado pela esquerda, sem se identificar
somente com essa corrente, abrindo o leque de apoios partidários e, por
consequência , de eleitores. É Eduardo Paes (PSD).
Reeleito
prefeito do Rio com mais de 60% dos votos, ele é a personificação de como furar
a bolha sem perder a política e nem o eleitor. Paes é apoiado por Lula.
Em
2022 foi um de seus cabos eleitorais. Em 2024, mesmo com o apoio de Lula , não
se apoiou somente nisso. Ampliou alcance partidário. A máquina ajuda? Sempre
ajuda. Mas as pesquisas já mostravam como ele conseguia ter votos de
antilulistas e antibolsonaristas.
Um
dos expoentes da centro-esquerda, João Campos, ganhou a reeleição no primeiro
turno. Não tem discurso para bolhas, tem a força da família Campos, a renovação
trazida com a imagem da idade, e faz estratégias atualizadas: vai muito bem em
redes – plataforma muito dominada pela direita – e colheu muitos votos do
centro
• Efeitos
da polarização abaixo do esperado
A
eleição de 2024 mostrou que, por mais que uma disputa nacional não seja
tradicionalmente pautada na rivalidade nacional, a polarização teve efeitos
aquém do esperado .
Primeiro
que houve ausência dos dois polos: Lula e Bolsonaro não agiram como verdadeiros
padrinhos de ninguém, não se esforçaram e nem se encaixaram nesse papel. E um
segundo fato começa a ser sentido: a polarização casa com cenários regionais
específicos ela não agrega – ela repele.
Observadores
políticos em Brasília dizem que a nova política é a que fura bolha, e não fica
refém de polos. A polarização mostra sinais de cansaço, é numericamente
prejudicial para alguns candidatos e parece estar se apagando diante de novas
lideranças que miram o centro – que alcançam mais brasileiros que os dois polos
da política.
• Para
vencer eleição em SP, Nunes e Boulos terão que nacionalizar disputa e recorrer
mais a Lula e Bolsonaro, dizem analistas
Passada
a disputa do primeiro turno das eleições municipais, um novo pleito começa a
partir desta segunda-feira, 7, nas cidades que terão segundo turno. 'Começa
tudo de novo, é uma nova eleição', costumam dizer os analistas políticos. Em
São Paulo, o embate será entre o atual prefeito e candidato à reeleição,
Ricardo Nunes (MDB), e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), que foram os
dois melhores colocados na votação do domingo, 6.
Para
Isabela Kalil, antropóloga social e coordenadora da Pós-Graduação em
Antropologia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP),
cada candidato terá um dilema específico.
"O
dilema de Nunes é que se ele for muito para a direita, para mais próximo de
[Jair] Bolsonaro e da extrema-direita, ele perde potenciais eleitores, perde a
possibilidade de ter os eleitores da Tabata [Amaral]", pontuou Isabela na
live especial de apuração do Terra, realizada na noite do domingo.
Na
opinião da especialista, a situação é mais difícil para Nunes do que para
Boulos. "Se Boulos tender mais para a esquerda, ele não perde tanto porque
ele vai ter o apoio de Tabata, ele vai fazer esse contraponto do
bolsonarismo", opinou.
Após
a confirmação do segundo turno entre Nunes e Boulos, a também candidata à
Prefeitura de São Paulo Tabata Amaral (PSB) declarou apoio ao deputado federal
no segundo turno. Tabata teve mais de 605 mil votos nas eleições e ficou na 4ª
colocação, atrás de Pablo Marçal (PRTB).
Apesar
dessa possível "vantagem" de Boulos em relação a Nunes neste segundo
turno, Isabela Kalil lembrou que "começa tudo de novo, zera, é uma nova
eleição". "Pesquisas anteriores mostraram que, num eventual segundo
turno entre Nunes e Boulos, Nunes tinha uma vantagem. Além disso, Nunes está
com a máquina, Nunes é o prefeito. Então Boulos vai ter que correr mais que
Nunes, vai ter que suar mais a camisa".
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Previsão de debate mais nacionalizado
Para
Guilherme Mazieiro, colunista de política do Terra, a eleição no segundo turno
vai ser mais nacionalizada, contando com uma maior participação dos padrinhos
políticos de Nunes, que é o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e de Boulos, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"É
a hora de Boulos chamar o padrinho, o cabo eleitoral, que é Lula, e Nunes
tentar pressionar ainda mais o Bolsonaro para participar", disse Mazieiro.
Na
noite do domingo, Bolsonaro afirmou que vai "entrar de cabeça" na
campanha de Nunes contra Boulos. "Agora eu não tenho mais que esconder o
jogo e trabalhar como eu trabalhei de maneira mais discreta. Agora é abrir o
jogo. Vou entrar de cabeça", declarou.
Na
opinião de Mazieiro, é provável que Boulos use justamente essa ligação entre
Nunes e Bolsonaro a seu favor. "Tenho a sensação de que ele [Boulos] vai
reforçar aquilo que ele fez no último debate, quando ele começou a fazer algum
ataque e falar 'Olha, o Marçal e o Nunes são o bolsonarismo.' Eu estou fazendo
uma aposta de que, neste segundo turno, Boulos vais insistir nisso, para colar
no prefeito a rejeição que Bolsonaro tem na cidade de São Paulo".
Boulos
pede ‘mão na consciência' do eleitor e diz: ‘Nesse 2º turno, vamos estar
juntos’:
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Segundo turno sem Marçal
Pablo
Marçal (PRTB) teve a 3º maior votação na disputa pela Prefeitura de São Paulo
e, assim, ficou de fora do segundo turno. Sem ele no pleito, Isabela Kalil
disse que a tendência é "ter um segundo turno mais republicano, que é o
que se espera dos debates".
"Para
o segundo turno, sem Marçal, sem esse fator que foi desestabilizador das
campanhas, inclusive da direita, da extrema-direita, de Bolsonaro, a gente
tende a voltar para uma normalidade", analisou Mazieiro.
"Eu
imagino que vai ter ainda o clima bélico, mas os golpes acima da linha da
cintura. Pelo perfil dos dois candidatos, dos dois partidos, das coligações, é
muito difícil de imaginar um dando uma cadeirada no outro, um documento
falso", projetou.
• Boulos
desafia Nunes a usar Bolsonaro na campanha
Depois
de uma reunião com os vereadores eleitos por sua coligação e com líderes
partidários, o candidato Guilherme Boulos desafiou seu adversário Ricardo Nunes
a expor que é apoiado por Jair Bolsonaro nos 19 dias que antecedem o segundo
turno.
Em
entrevista coletiva, informou que pretende conversar com o presidente Lula para
que ele venha a São Paulo participar de evento da campanha. A ligação pode
acontecer ainda hoje.
Boulos
enfatizou que 70% dos paulistanos não endossaram o governo Nunes. "A nossa
candidatura é a campanha da mudança", frisou.
O
candidato afirmou que foi impedido de expor devidamente o seu programa de
governo no primeiro turno por causa das "cenas, tumulto e confusão"
causados por um adversário que não nomeou.
Boulos
disse que pretende comparar biografia e trajetória com Nunes, a quem chamou de
"pau mandado do Centrão".
Ele
destacou que seu adversário é alvo de várias investigações, inclusive da
Polícia Federal e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado).
Também
pretende expor quem é o vice de Nunes, indicado por Jair Bolsonaro: o coronel
aposentado da Polícia Militar Ricardo de Mello Araújo, ex-comandante da Rota,
que já declarou, em entrevista, sobre abordagens policiais na periferia:
São
pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser
diferente. Se ele [policial] for abordar uma pessoa [na periferia], da mesma
forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São
Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado.
PROMESSA
DE VIRADA
Boulos
prometeu uma "virada" em bairros onde perdeu para Nunes ou Pablo
Marçal no primeiro turno, com apoio dos vereadores de sua coalizão que se
elegeram neles.
Disse
que Marta Suplicy estará presente na campanha especialmente no Grajaú e em
Parelheiros, onde Ricardo Nunes venceu por pequena margem. A ex-prefeita
construiu Centros Educacionais Unificados (CEUs) na Zona Sul e agilizou o
transporte através dos corredores de ônibus.
Boulos
lembrou que agora terá o mesmo tempo de TV de Nunes para a propaganda
eleitoral.
Também
recorreu à memória de 2012, quando o petista Fernando Haddad foi para o segundo
turno com apoiadores desencorajados, já que todos acreditavam que os votos de
Celso Russomano, terceiro colocado, migrariam automaticamente para José Serra.
Haddad venceu por 55% a 44%.
O
candidato sugeriu que Nunes pretende fugir dos debates, já que pretende reduzir
os encontros de 12 para apenas 3.
Boulos
acha razoável que haja ao menos 8 debates e prometeu que, independentemente da
presença de Nunes, vai à rede CBN na próxima quinta-feira, para o que seria o
primeiro confronto.
• Com
medo de ser preso, Marçal recua sobre laudo falso contra Boulos após derrota
Ao
comentar sobre sua derrota no primeiro turno da eleição à prefeitura de São
Paulo, na noite deste domingo (6), Pablo Marçal (PRTB) recuou com relação ao
laudo falsificado que publicou na última sexta-feira (4) para associar
Guilherme Boulos (PSOL) ao uso de cocaína.
A
mudança de postura revela um temor do coach de extrema direita de ser preso, já
que a fake news contra Boulos o tornou alvo do Supremo Tribunal Federal (STF),
da Justiça comum e da Justiça Eleitoral.
Em
conversa com jornalistas na porta de sua luxuosa mansão no bairro Jardim
Europa, na capital paulista, Pablo Marçal fez expressão de abatido e reconheceu
que o laudo que publicou é falso.
Ele
afirmou, porém, que não teria divulgado o documento se soubesse que não era
autêntico. Apesar da declaração, indícios apontam que teria sido o próprio
Marçal quem produziu o laudo falso, ou ao menos participou de sua elaboração,
já que ele é amigo do dono da clínica utilizada no papel timbrado do atestado
fajuto.
"Eu
jamais postaria sabendo que é um laudo falso", disse Marçal para, logo na
sequência, disparar novos ataques a Guilherme Boulos.
"Boulos
para mim é um marginal, é uma pessoa que não merece essa atenção toda que vocês
dão. Eu acho que foi uma escolha errada do Lula, ele vai perder essa eleição
com o Boulos. Ele é um cara de extrema esquerda, um cara que é a pauta radical
da esquerda. De maneira nenhuma eu mandaria uma mensagem para ele e nem
ligaria", disse.
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Crimes
Pablo
Marçal enfrenta pelo menos 17 processos judiciais ou investigações policiais de
seu suposto envolvimento em crimes que podem levar à sua inelegibilidade e até
mesmo prisão.
Marçal
foi preso em 2005, quando tinha 18 anos, na investigação que apurou ações de
criminosos condenados por desviar dinheiro de contas de bancos, como Caixa e
Banco do Brasil. Em 2010, foi condenado a quatro anos e cinco meses de reclusão
por furto qualificado por desviar dinheiro de contas bancárias por meio de
golpes digitais.
A
organização criminosa foi condenada em maio de 2010. A defesa entrou com
recurso, analisado em segunda instância em 2018, levando o caso a prescrever
sem cumprimento da pena.
O
mais recente crime atribuído a Marçal e cujo processo judicial pode resultar na
sua inelegibilidade é a publicação de um laudo médico falso associando
Guilherme Boulos ao uso de drogas.
A
postagem resultou na retirada de seu perfil do Instagram pela Justiça Eleitoral
de São Paulo. O caso pode se transformar em uma Ação de Investigação Judicial
Eleitoral (AIJE), na qual ele poderá ser responsabilizado por uso indevido dos
meios de comunicação social durante o processo eleitoral. Se condenado, Marçal
poderá ficar inelegível por oito anos, sendo impedido de concorrer nas próximas
eleições, em 2026.
Além
disso, a perícia da Polícia Civil de São Paulo confirmou neste sábado (5) que o
laudo médico divulgado por Marçal contra Boulos é falso. Através de exames
grafotécnicos, a perícia constatou uma série de evidências que comprovam que o
documento foi falsificado.
O
coach de extrema direita é alvo ainda de processos na esfera criminal movidos
pelos familiares de um médico que morreu, cuja assinatura foi utilizada de
forma indevida no laudo falso, e está sendo investigado pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) por ter utilizado o X, rede social cujo acesso está proibido no
Brasil, para divulgar o documento fajuto.
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Marçal reconhece derrota
"Não
vai ter segundo turno", disse Pablo Marçal em várias ocasiões ao longo da
campanha à eleição pela prefeitura de São Paulo. Para ele, de fato, não teve. O
coach de extrema direita, apesar da convicção de vitória, foi derrotado por
Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) e terminou o primeiro turno em
terceiro lugar, com 1.719.274 votos (28,14% dos votos válidos).
Autor
de provocações baixas, criador de fake news absurdas e responsável por uma das
campanhas mais insólitas da história recente brasileira, Marçal falou à
imprensa logo após o cômputo total dos votos por parte do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), na noite deste domingo (6), em sua mansão no luxuoso bairro
Jardim Europa, zona oeste de capital paulista.
Visivelmente
abatido, Pablo Marçal rechaçou teorias de fraude nas urnas que já vêm sendo
ventiladas por alguns de seus apoiadores – um discurso recorrente entre
bolsonaristas e que, inclusive, culminou em uma tentativa de golpe de Estado em
janeiro de 2023 – e reconheceu sua derrota. Ele usou o fato de ter se lançado
candidato tardiamente para justificar seu fracasso e ainda se lançou candidato
em 2026, sem definir, contudo, se será para o governo de São Paulo ou para a
presidência da República.
"São
Paulo perdeu a única oportunidade de me ver prefeito dessa cidade, meu coração
estava 100% entregue a isso, mas confesso que a vontade do povo nas urnas
prevalece. Eu sei de algumas pessoas que estão querendo construir algumas
teorias, mas eu respeito a vontade do povo. A gente chegou de última hora. Que
deus abençoe nossa cidade de São Paulo, o Brasil e o povo brasileiro. E para
finalizar: eu combati o bom combate, percorri a carreira, guardei a fé, e 2026
tá logo ali", declarou Marçal.
Questionado
sobre o segundo turno, Pablo Marçal sinalizou que apoiará Ricardo Nunes, desde
que o prefeito e candidato à reeleição incorpore suas "propostas".
"Tomara
que o Ricardo leve em consideração algumas das nossas propostas, porque o
eleitorado dele é exatamente do tamanho do meu eleitorado, espero que ele leve
em consideração", disse.
Ainda
que tenha sido derrotado na disputa, Pablo Marçal deverá enfrentar, agora,
processos por conta da divulgação de um laudo falsificado em que tentou
associar Guilherme Boulos ao uso de cocaína. O coach de extrema direita já é
alvo do Supremo Tribunal Federal (STF), Justiça comum e Justiça Eleitoral,
correndo o risco, inclusive, de ser declarado inelegível por 8 anos.
Fonte:
g1/Portal Terra/Fórum
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