terça-feira, 8 de outubro de 2024

Direita vence no Brasil, mas sai rachada e em busca de líder

O eleitor brasileiro optou majoritariamente por partidos com bases conservadoras, levando a direita a uma vitória nesta eleição municipal. Mas a direita que emerge das urnas não é monolítica e busca um líder. O diagnóstico é de um dirigente de legenda que esteve ao lado de Jair Bolsonaro (PL) durante seus quatro anos de mandato.

Sob a batuta de Bolsonaro, o PL lançou diversos candidatos em capitais e em todo o país. A estratégia fez com que o partido estivesse nas disputas de segundo turno em 9 das 15 capitais, mas também trouxe ônus.

Em diversos colégios eleitorais, o apoio de Bolsonaro a seus escolhidos custou bons resultados a aliados históricos. Em Goiânia, por exemplo, o ex-presidente decidiu apoiar um nome à revelia do governador Ronaldo Caiado (União Brasil).

Em João Pessoa, Bolsonaro fez questão de lançar seu ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga (PL). A opção custou, por menos de 0,9% dos votos válidos, a eleição em primeiro turno de Cícero Lucena, do PP, pilar do triunvirato completado por PL e Republicanos da governabilidade de Bolsonaro.

Em São Paulo, o ex-presidente fez um cálculo arriscado - e que irritou a política. Decidiu não embarcar por completo na campanha de Ricardo Nunes (MDB) e travou uma relação ao estilo "morde e assopra" com Pablo Marçal (PRTB).

Nunes, como se sabe, no fim, bateu Marçal e passou para o segundo turno. No palanque do que foi comemorado como uma vitória imensa, agradeceu o governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Não o ex-presidente.

Para governadores, presidentes de partidos, deputados e senadores, esta eleição encerra a tese de uma direita monolítica, moldada à imagem e semelhança de Bolsonaro e umbilicalmente dependente dele.

Como disse o governador Ronaldo Caiado à repórter da Central das Eleições, Thaiza Pauluze, novos nomes emergiram neste ano - e estarão à disposição dos eleitores em 2026.

•                                         Kassab: 'O centro venceu; a polarização, não'

Fundador do partido que nasceu dizendo não ser nem de direita, nem de centro e nem de esquerda, Gilberto Kassab levou neste 2024 o seu PSD ao posto de sigla que mais elegeu prefeitos no país. Numa avaliação ao blog, Kassab enumera vitórias de legendas que ele define como eminentemente de centro, não vinculadas a extremos da política.

"O centro venceu. A polarização, não", disse. O presidente do PSD exalta resultados obtidos também pelo MDB, que está logo abaixo de seu partido, com mais de 800 prefeitos eleitos, e do União Brasil, que ressurgiu como uma das quatro siglas a comandar o maior número de cidades neste primeiro turno.

"O centro está maior do que a direita, inclusive. E os personagens que saíram maiores, por exemplo, o Tarcísio de Freitas (governador de São Paulo), são personagens que ampliam, não que cerram fileiras."

Kassab vê, claro, Ricardo Nunes (MDB) como favorito na eleição mais disputada da história de São Paulo. Seu partido apoia a reeleição do prefeito. Mas, habilidoso, também não espizinha os resultados do presidente Lula nesta eleição.

Lula, propositadamente, se ausentou do debate municipal. Sua presença mais incisiva foi na campanha de Guilherme Boulos (PSOL), em São Paulo, ainda assim vista como mínima.

Para Kassab, Lula fez um cálculo político para não melindrar siglas que estão no meio da polarização, como o próprio PSD. E ele avisa: "Não confunda. O Lula não é o PT".

•                                         Partido de Bolsonaro foi o que mais elegeu prefeitos nas maiores cidades do País

O PL foi o partido que elegeu o maior número de prefeitos nas 103 maiores cidades do País. Ao todo, a legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro e de Valdemar Costa Neto fez 10 prefeitos nos principais centros urbanos do País, sendo seguida pelo União Brasil, que fez nove prefeitos.

O PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, elegeu apenas dois prefeitos no primeiro turno nesse rol das maiores 103 cidades. Nos dois casos, tratam-se de prefeitas que tentavam a reeleição: Marília Campos, em Contagem (MG), e Margarida Salomão, em Juiz de Fora (MG).

Partidos de centro-direita como o PP (7), PSD (5), MDB (5) e Republicanos (4) também conseguiram eleger prefeitos no primeiro turno e aguardam o resultado do segundo turno para adicionar mais representantes no Executivo municipal.

Esses 103 municípios são aqueles que, por terem mais de 200 mil eleitores, têm a possibilidade de realizar um segundo turno das eleições. Nesses municípios, estão concentrados 60,5 milhões dos 155 milhões de eleitores brasileiros aptos a votar neste ano. Os resultados eleitorais nessas prefeituras são importantes pela influência que os eleitos adquirem e porque indicam como o eleitorado tem se guiado nos principais centros urbanos do Brasil.

<<<<<< A seguir, o número de prefeitos que cada partido conseguiu eleger já no primeiro turno nesse grupo de 103 maiores cidades do País:

PL: 10

União Brasil: 9

PP: 7

PSD: 5

MDB: 5

Republicanos: 4

Podemos: 3

PT: 2

PSDB: 2

PSB: 2

Novo: 1

Avante: 1

O PL também é o partido com mais candidatos no segundo turno, com 24 disputas em aberto. Neste recorte, o PT é a sigla que vem logo atrás da legenda de Valdemar e de Jair Bolsonaro, com 13 candidatos no segundo turno.

O resultado das urnas mostra que o PL larga na frente no segundo turno e que o PT terá muito trabalho para vencer. O partido de Bolsonaro tem 13 candidatos que foram para o segundo turno à frente de seus adversários, enquanto a legenda de Lula tem apenas cinco candidatos nessas circunstâncias - o que demonstra a dificuldade que os petistas terão para virar alguns cenários e tentar eleger mais prefeitos.

PL: 24

PT: 13

União Brasil: 11

PSD: 10

MDB: 9

Republicanos: 7

PP: 6

PSDB: 5

Podemos: 5

PDT: 4

PSOL: 2

PSB: 2

Novo: 2

Solidariedade: 1

PMB: 1

Cidadania: 1

Avante: 1

O resultado do primeiro turno das eleições municipais deste ano representa a primeira demonstração de força a nível municipal da "profissionalização política do bolsonarismo". O grupo político do ex-presidente, em 2020, ainda encontrava-se disperso em várias legendas, já que o próprio Bolsonaro estava sem partido. Foi somente no fim de 2021 que o ex-presidente filiou-se ao PL e deu início ao processo de "profissionalização" na política.

<><> PL mais que triplica votos e eleição prenuncia dois anos difíceis para Lula

O partido de Bolsonaro mostrou ao mundo político neste primeiro turno que tem algo a oferecer: votos. O partido teve 15,7 milhões. Foi o campeão deste domingo nessa métrica. O crescimento foi de 236,2%, de acordo com levantamento do site de notícias Poder360.

O PT de Lula também cresceu, mas o movimento foi muito menor. O partido passou de 6,9 milhões no primeiro turno de 2020 para 8,9 milhões. A subida foi de 28,2% partindo de um patamar considerado o fundo do poço do partido. Neste ano, o PT foi o sexto mais votado do primeiro turno.

Nenhum dos outros quatro partidos mais bem colocados nas votações do primeiro turno estava na chapa presidencial de Lula em 2022. PSD (14,5 milhões de votos), MDB (14,4 milhões), União Brasil (11,3 milhões) e PP (9,9 milhões) apoiam o governo, mas só se uniram ao petista depois de eleito e cobraram um fatura alta - em ministérios, emendas e cargos - mesmo sem dar nem perto de 100% de suporte aos projetos do Executivo.

Além disso, os dois aliados mais poderosos de Lula nos municípios foram reeleitos sem a ajuda do presidente da República. João Campos (PSB, reeleito com 78,11% dos votos no Recife) e Eduardo Paes (PSD, 60,47% no Rio de Janeiro) fizeram um jogo duríssimo com o PT na pré-campanha porque sabiam que suas reeleições só dependiam deles mesmos. Em vez de vices petistas, fecharam chapas com integrantes dos próprios grupos políticos.

Os resultados prenunciam dois anos finais de mandato difíceis para Lula. Senadores e, principalmente, deputados de fora da esquerda olharão para os números e confirmarão a hipótese de ser melhor para sua sobrevivência política manter uma distância segura de Lula. Cobrarão cargos e verbas com ainda menos vontade de abraçar o governo. E, dessa vez, com mandato do petista mais perto de seu final.

Há meses é aguardada uma reforma ministerial para depois das eleições para presidente da Câmara e do Senado, marcadas para fevereiro. O rearranjo levará em conta os resultados nos municípios. Se não houver uma reviravolta no segundo turno, como vitórias de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo e Evandro Leitão (PT) em Fortaleza, Lula deverá entrar nessa negociação mais fraco do que estava na semana passada.

 

•                                         Lula e Bolsonaro terão embates diretos e disputas terceirizadas em 2º turno em capitais

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) terão embates diretos e disputas terceirizadas no segundo turno das eleições de 2024. Principais lideranças políticas do País, os dois medirão força novamente no último domingo de outubro, 27, em 15 capitais brasileiras. No primeiro turno, realizado no domingo, 6, onze prefeitos foram eleitos --cinco nomes apoiados pelo ex-presidente, contra dois do petista.

Os candidatos apoiados por Bolsonaro que foram eleitos vão comandar as cidades de Boa Vista (RR), Florianópolis (SC), Maceió (AL), Rio Branco (AC) e Salvador (BA). Os vencedores são Arthur Henrique (MDB), Topázio Neto (PSD), João Henrique Caldas (PL), Tião Bocalom (PL) e Bruno Reis (União), respectivamente. Os candidatos de Lula eleitos foram Eduardo Paes (PSD), no Rio de Janeiro (RJ), e João Campos (PSB), no Recife (PE).

Entre os eleitos em primeiro turno, dois são do PL. O PT, em contrapartida, não teve nenhum candidato vitorioso. Já no segundo turno, PL e o PT vão se enfrentar em Fortaleza (CE) e Cuiabá (MT), em uma disputa direta entre Lula e Bolsonaro. Na capital cearense, a corrida eleitoral será entre André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT). Na capital mato-grossense, Abilio Brunini (PL) e Lúdio (PT) vão disputar os votos dos eleitores. No Nordeste, a disputa promete ser voto a voto. No Centro-Oeste, a tendência é de vitória do PL.

Além dos embates diretos em Fortaleza e Cuiabá, entre PT e PL, Lula e Bolsonaro irão disputar de forma terceirizada em outras 13 capitais. Em São Paulo, por exemplo, é onde a disputa promete ser mais forte e mobilizar mais a militância petista e bolsonarista. De um lado estará Ricardo Nunes (MDB), apoiado pelo ex-presidente, e do outro Guilherme Boulos (PSOL), aposta do petista para retomar o comando da maior capital da América Latina após 8 anos de jejum.

Em Porto Alegre (RS), o PT tem candidato na disputa, mas o PL não. A tendência é Bolsonaro aderir ao prefeito e candidato à reeleição Sebastião Melo (MDB), que disputará com Maria do Rosário (PT). Em Belém (Pará), é o contrário: o PL tem candidato e o PT não. Igor Normando (MDB) terá a benção de Lula e dos petistas, enquanto Éder Mauro (PL) receberá o apoio dos bolsonaristas. Abaixo veja como será a disputa entre Lula e Bolsonaro.

<><> PT no 2º turno

Cuiabá - Abílio (PL) x Lúdio (PT)

Fortaleza - André Fernandes (PL) x Evandro Leitão (PT)

Porto Alegre -  Sebastião Melo (MDB) x Maria do Rosário (PT)

Natal - Paulinho Freire (União) x Natália Bonavides (PT)

<><> PL no 2º turno

Belo Horizonte - Bruno Engler (PL) x Fuad Noman (PSD)

Belém - Igor Normando (MDB) e Éder Mauro (PL)

Goiânia - Fred Rodrigues (PL) e Sandro Mabel (União Brasil).

Cuiabá - Abílio (PL) x Lúdio (PT)

Fortaleza - André Fernandes (PL) x Evandro Leitão (PT)

João Pessoa - Cícero Lucena (PP) x Marcelo Queiroga (PL)

Aracajú - Emilia Correa (PL) x Luiz Roberto (PDT)

Manaus - David Almeida (Avante) x Cap. Alberto Neto (PL)

Palmas - Janad Valcari (PL) x Eduardo Siqueira Campos (Podemos)

<><> Disputas terceirizadas

Porto Velho - Mariana Carvalho (União Brasil) x Léo (Podemos)

Campo Grande - Adriane Lopes (PP) x Rose Modesto (União Brasil)

Curitiba - Eduardo Pimentel (PSD) x Cristina Graeml (PMB)

São Paulo - Ricardo Nunes (MDB) x Guilherme Boulos (PSOL)

 

Fonte: g1/Redação Terra

 

Nenhum comentário: