terça-feira, 24 de setembro de 2024

E se os alienígenas existirem, mas estiverem se escondendo de nós? Conheça a curiosa teoria da "Floresta Negra"

O famoso paradoxo de Fermi tem enfeitiçado os astrônomos há mais de meio século. Em poucas palavras: se o Cosmos tem quase 14 bilhões de anos, então onde estão todas as sociedades interestelares? Por que elas não apareceram para dizer um “olá”? Foram propostas inúmeras soluções para esse enigma sobre os extraterrestres, mas talvez nenhuma seja mais assustadora do que a teoria da Floresta Negra.

De acordo com essa suposição, a razão pela qual não podemos ver essas civilizações alienígenas é o fato de estarem todas escondidas. Ao contrário da humanidade – cujas transmissões de rádio ecoam há muito tempo em nossa vizinhança galáctica local –, todas essas sociedades concluíram que é simplesmente muito perigoso divulgar sua localização para vizinhos potencialmente hostis.

É um pensamento preocupante. Mas será que essa é uma solução plausível para o paradoxo de Fermi? De todas as respostas propostas, os especialistas dizem que a hipótese da Floresta Negra parece menos provável de estar correta.

É possível que várias inteligências extraterrestres, ou ETs, se escondam. Mas é improvável que todas elas cheguem à mesma conclusão baseada no medo e se escondam.

"Nem mesmo vemos esse mesmo comportamento em culturas aqui na Terra", afirma Moiya McTier, astrofísica, autora e folclorista. Alguns ETs podem ter membros que agem em perfeito uníssono. Mas outros terão grupos divergentes e de comportamento independente – alguns com tendência à agressividade ou pacifismo, curiosidade ou reclusão. Se um deles acenar para nós, essa Floresta Negra terá uma fogueira bem iluminada para que possamos vê-la.

Mas, tecnicamente, tudo é possível, considerando que, para começar, não temos nenhuma evidência de aliens. Talvez todos estejam realmente se escondendo. Talvez haja realmente uma ameaça à espreita, em algum lugar no escuro. E talvez a humanidade ainda não tenha se dado conta disso.

•        O caso da teoria da Floresta Negra

O Paradoxo de Fermi foi levantado casualmente pelo físico Enrico Fermi durante uma conversa na hora do almoço, em 1950. Ele tem muitas nuances, mas em seu cerne está esta premissa central: nosso Sistema Solar tem apenas 4,6 bilhões de anos, enquanto o Universo tem 13,8 bilhões de anos.

Isso é tempo suficiente para que a vida em outros planetas se desenvolva em sociedades tecnologicamente avançadas, que poderiam atravessar o mar de estrelas e criar postos avançados ou novas sociedades em inúmeros mundos. Mas ainda não encontramos nenhum sinal dessas sociedades. Então, onde está todo mundo?

"Há muitas soluções possíveis sobrepostas para o paradoxo de Fermi", diz McTier. O espaço é simplesmente vasto demais para que as sociedades alienígenas já tenham chegado à Terra? Será que todas elas se destroem antes de se tornarem interestelares? Será que somos a única sociedade tecnologicamente avançada em nosso canto do Cosmos? A evolução da vida é cada vez mais rara?

"Tudo o que o paradoxo de Fermi diz é que as civilizações são raras. Ele não diz por que elas são raras", comenta Ian Crawford, cientista planetário e astrobiólogo da Birkbeck, Universidade de Londres, na Inglaterra. "Uma das soluções é: sim, eles estão todos lá fora, mas estão todos escondidos. Se eles se revelarem, alguém virá e os destruirá."

A ideia de que esses alienígenas que exploram o espaço simplesmente relutam em se revelar tem sido apresentada em histórias de ficção científica há muitas décadas. O escritor chinês Cixin Liu, em seu livro “O Problema dos Três Corpos” de 2008, deu a essa hipótese um nome atraente: teoria da Floresta Negra.

Ele descreve o universo como uma floresta escura, em que cada sociedade alienígena é como um caçador temeroso e armado que avança com cautela. Se esse caçador encontrar outra vida – outro caçador, um anjo ou um demônio, um bebê delicado ou um velho cambaleante, uma fada ou um semideus – só há uma coisa que ele pode fazer: abrir fogo e eliminá-los. Nessa floresta, o inferno são as outras pessoas".

O medo tem seus benefícios evolutivos: podemos nos encolher diante de um ruído estranho à noite e, embora na maioria das vezes seja inofensivo, nossa cautela pode salvar nossas vidas na única vez em que ele for proveniente de uma ameaça genuína.

"Não se pode negar que há algum valor de sobrevivência em ser agressivo", diz Seth Shostak, astrônomo sênior do Instituto de Busca de Inteligência Extraterrestre na Califórnia, Estados Unidos. Elimine preventivamente a concorrência e você poderá dormir com mais segurança e obter recursos extras. A história da humanidade – e seu presente – está repleta de exemplos sombrios disso.

•        O argumento contra a teoria da Floresta Negra

Felizmente, a Floresta Negra tem uma infinidade de problemas difíceis de resolver – o mais óbvio é que é extremamente difícil esconder um mundo tecnologicamente avançado.

Muito antes de a busca ativa por extraterrestres se tornar uma prática científica global, os sinais de rádio das comunicações cotidianas intraespecíficas da Terra têm emanado para o vazio – algo que uma sociedade alienígena próxima, na esperança de encontrar um novo aliado ou um novo alvo, poderia identificar com facilidade.

Mesmo que tenhamos começado a entender a ameaça hipotética, também não é como se estivéssemos prestes a ficar completamente em silêncio. "Nunca pensamos em desligar todos os radares porque isso pode ser perigoso", afirma Shostak. "Isso simplesmente não vai acontecer."

Mesmo que um ET tentasse se esconder, talvez não fosse sofisticado o suficiente para funcionar. Algumas sociedades alienígenas podem ter encontrado uma maneira de eliminar todos os seus ruídos, mas outras podem ainda estar acidentalmente revelando o jogo sem perceber. "A maneira como os homens das cavernas podem se esconder é bem diferente da maneira como os Klingons podem se esconder", explica Shostak.

A analogia da floresta também se desfaz quando você considera a verdadeira natureza do universo – ou simplesmente a nossa galáxia gigantesca. A floresta pode parecer enorme e interminável no escuro, mas isso é insignificante se comparado ao espaço.

"Pode haver alienígenas hostis lá fora", diz Shostak. Mas é provável que as distâncias entre eles sejam infinitamente vastas, tanto que a ideia de que eles sentiriam a necessidade de atacar um ao outro preventivamente parece estranha. Mesmo que temessem uns aos outros, a extensão entre eles significa que provavelmente não precisariam competir por recursos. Cada um teria mundos, asteroides e até estrelas quase ilimitados para explorar.

O fato de a Terra ser, de acordo com os padrões universais, uma sociedade tecnológica jovem, barulhenta e vulnerável, também implica, por padrão, que – se houver extraterrestres por aí – eles não podem ser todos instintivamente agressivos.

"Se há tantas civilizações e algumas delas poderiam nos destruir, então temos que explicar como isso não aconteceu", comenta Karim Jebari, pesquisador do Institute for Futures Studies em Estocolmo, Suécia. "Talvez haja um Império Galáctico que mantenha as hostilidades baixas, ou talvez seja realmente difícil... Atacar uns aos outros em distâncias interestelares."

Ou, como Jebari sugeriu em um artigo recente, os ETs chegaram à mesma conclusão lógica: que eles ainda existem porque outras sociedades alienígenas avançadas optaram por não atacá-los, talvez esperando, em vez disso, ter uma conversa mutuamente benéfica. "Não temos motivo para atacá-los em um ataque preventivo", diz Jebari.

"Se eles forem inteligentes... Talvez estejam pensando a mesma coisa sobre nós. O fato de todos os aliens compartilharem o instinto humano de presumir o pior sobre uma entidade desconhecida também é uma grande presunção.

"Para mim, [a Floresta Negra] é uma das explicações menos convincentes para o paradoxo de Fermi, porque ela se baseia em algumas suposições antropocêntricas que não me parecem justas", diz McTier. O medo é uma coisa poderosa. Mas a curiosidade também é.

•        O cenário de pesadelo

Isso não significa necessariamente que a hipótese da Floresta Negra não tenha chance. O problema é que, para resolver as falhas na teoria, é necessário aumentar o fator terror, o fator medo.

"O cenário de pesadelo é supor que aqueles que estão se escondendo estejam certos", diz Crawford. "Suponhamos que, em algum momento da história da galáxia, uma civilização tecnológica... Tenha decidido que sempre que fossem encontrados planetas com vida ou tecnologia, eles iriam destruí-los."

Em outras palavras, se o objetivo fosse o extermínio pelo extermínio, então a Dark Forest parece mais plausível. "Se algo assim estiver acontecendo na história da galáxia, então sim, isso explicaria o paradoxo de Fermi", diz Crawford.

Então, claro, talvez o nosso canto do Cosmos seja silencioso porque a vida ter começado em primeiro lugar é uma raridade extrema. Talvez seja solitário aqui fora porque as sociedades alienígenas têm o mau hábito de se aniquilar quando descobrem algo como armas atômicas.

Ou, talvez, "nós não os vemos porque eles não estão lá", afirma Crawford, porque uma entidade carniceira está indo de estrela em estrela, extinguindo qualquer sinal de vida. "Essa é uma coisa realmente assustadora".

 

Fonte: National Geographic Brasil

 

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