Como seria o mundo sem mosquitos?
O mosquito –
minúsculo, frágil, eminentemente esmagável e, ainda assim, capaz de tamanha
destruição. Os mosquitos estão mais uma vez nos noticiários do mundo inteiro
devido às crescentes preocupações com as doenças que eles podem carregar e
transmitir aos seres humanos.
No final de agosto de
2024, foi solicitado aos residentes da vila de Oxford, em Massachusetts
(Estados Unidos), que obedecessem a um toque de recolher noturno voluntário –
um esforço para protegê-los de uma doença rara, mas potencialmente mortal,
conhecida como encefalite equina oriental.
Anthony Fauci,
ex-diretor do National Institute of Allergy and Infectious Diseases dos Estados
Unidos, também foi manchete depois que o vírus do Nilo Ocidental o levou ao
hospital – transmitido também por um mosquito.
“Esta é a melhor época
para essas duas doenças”, afirma Erin Staples, epidemiologista médica dos
Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. O país
normalmente registra mais de 1.200 casos e cem mortes por ano devido ao vírus
da febre do Nilo Ocidental, diz ela.
Embora existam várias
maneiras fáceis de ajudar a se proteger contra doenças transmitidas por
mosquitos, há outra solução que parece atraente sempre que as notícias sobre
doenças transmitidas por mosquitos chegam a um ponto febril.
E se pudéssemos
simplesmente fazer com que todos os mosquitos desaparecessem? E haveria alguma
repercussão para seus ecossistemas - ou para nós?
• Onde os mosquitos se encaixam na cadeia
alimentar
É claro que ninguém
sabe ao certo como seria um mundo sem mosquitos. “A remoção total dos mosquitos
poderia ter consequências que não podemos prever”, diz Ann Froschauer,
especialista em assuntos públicos do U.S. Fish and Wildlife Service.
O problema geral é que
não sabemos o suficiente sobre como os mosquitos se encaixam na cadeia
alimentar, embora existam cerca de 3.500 espécies de mosquitos no planeta.
Muitas pesquisas
desvendaram as cadeias alimentares de mamíferos maiores, como leões e
leopardos. E por um bom motivo – eles são muito mais fáceis de observar do que
os pequenos mosquitos, que geralmente se reproduzem em poças de água
temporárias.
O que sabemos é que os
mosquitos de todas as idades e sexos servem como fonte de alimento para todos
os tipos de criaturas, como peixes, tartarugas, libélulas, pássaros migratórios
e morcegos.
Além disso, os machos
de muitas espécies de mosquitos comem apenas néctar, o que faz com que algumas
espécies sejam importantes polinizadores de plantas, como algumas plantações e
flores, até mesmo orquídeas.
• E quanto aos morcegos?
Talvez mais do que
qualquer outro animal, os morcegos são frequentemente apontados como o maior
inimigo do mosquito. Certamente, a
remoção de todos os mosquitos afetaria mais os morcegos do que a maioria? Não é
bem assim, explica Winifred Frick, bióloga de morcegos da Universidade da
Califórnia, em Santa Cruz.
A maioria dos morcegos
é, na verdade, um predador generalista, o que significa que eles comem tudo o
que conseguem capturar, seja mosquitos, besouros ou outros. “Não há nenhuma
espécie de morcego que se especialize especificamente em mosquitos”, diz Frick.
De fato, algumas
espécies de mosquitos são mais ativas durante o dia, o que significa que os
morcegos teriam muito poucas oportunidades de se alimentar deles.
Além disso, os métodos
que usaríamos para erradicar os mosquitos, como pesticidas como o DDT, podem
acabar sendo mais mortais para os morcegos do que ter menos presas, diz ela.
“Eu me preocuparia com
o fato de que os danos colaterais da pulverização extensiva de pesticidas
poderiam ter impactos muito terríveis sobre os morcegos e outros animais
selvagens”, afirma Frick.
Obviamente, se você
remover um animal desses ecossistemas, algo mudará, diz Marm Kilpatrick,
ecologista de doenças da Universidade da Califórnia-Santa Cruz. Mas será que o
impacto seria algo que a pessoa comum perceberia?
“Eu diria que não
sabemos a resposta, mas meu palpite é que não”, diz Kilpatrick.
• Um mundo sem doenças?
No entanto, a
erradicação dos mosquitos teria consequências enormes para a saúde global. Ao
todo, os mosquitos são responsáveis por mais de 700 mil mortes humanas a cada
ano.
Os mosquitos são o
principal vetor da malária, portanto, se eles desaparecessem, certamente a
malária também desapareceria. De acordo com a Organização Mundial da Saúde
(OMS), cerca de 608 mil pessoas morreram de malária em 2022.
Os mosquitos também
transmitem o vírus da dengue, que ceifa 21 mil vidas humanas a cada ano, bem
como a febre amarela, que é responsável por outras 30 mil mortes anuais.
Mas talvez não seja
necessário erradicar os mosquitos para reverter esses números. Nos últimos
anos, os pesquisadores fizeram avanços promissores na prevenção da transmissão
de doenças infectando mosquitos com bactérias parasitas, esterilizando
mosquitos com radiação e até mesmo ajustando os genomas dos mosquitos usando a
tecnologia Crispr.
E é importante lembrar
que nem todas as espécies de mosquitos são responsáveis por transmitir doenças.
Na verdade, muitas não querem ter nada a ver conosco.
“Há algumas espécies
que vivem em áreas úmidas e se alimentam predominantemente de sapos e outros
anfíbios”, diz Michael Hutchinson, entomologista do Departamento de Agricultura
da Pensilvânia.
“Portanto, você poderia estar sentado em um
pântano e, se houvesse dezenas de milhares desses mosquitos por perto, você não
seria picado de forma alguma. Eles simplesmente não estão interessados.”
Há também espécies de
mosquitos em que as fêmeas não são conhecidas como sugadoras de sangue. Na
verdade, alguns mosquitos, como os do gênero Toxorhynchites, caçam outros
mosquitos durante seu estágio larval aquático.
“Na verdade, esse é o
maior mosquito que temos na Pensilvânia e, para nossa sorte, ele não pica”,
explica Hutchinson.
Em última análise,
independentemente de a erradicação total dos mosquitos ser possível ou não –
provavelmente não é –, ainda há muito que não entendemos sobre o que o biólogo
E.O. Wilson chamou de “as pequenas coisas que comandam o mundo”.
• Qual é o único país do mundo sem
mosquitos?
Com mais de 3.500
espécies, os mosquitos (da grande família Culicidae) são bastante diversos.
Alguns são conhecidos apenas por serem “irritantes” devido a suas picadas, que
causam coceira, e por conta do barulho que fazem, como no caso dos pernilongos.
Já outros, são famosos por transmitirem doenças graves, como a febre amarela, a
febre Zika, a malária, a febre oropouche e a dengue, como relata a
Encyclopaedia Britannica (plataforma de conhecimento e educação do Reino
Unido).
Presentes em quase
todo o planeta, há regiões com mais espécies de mosquitos, muitas vezes com
espécies locais. Cerca de 50% das espécies de mosquitos são endêmicas
globalmente, conforme conta um artigo publicado no Journal of Medical
Entomology, da Oxford Academic, intitulado “Insight into Global Mosquito
Biogeography from Country Species Records” ("Informações sobre a
biogeografia global de mosquitos a partir de registros de espécies de
países", em tradução livre).
Lugares como o Brasil,
a Indonésia, a Malásia e a Tailândia, por exemplo, apresentaram os maiores
números de espécies de mosquito, explica o mesmo artigo. O Brasil também está
na lista das nações que têm os maiores números de espécies endêmicas, ao lado de
Austrália, Filipinas e Indonésia.
Existem, porém, dois
lugares no mundo em que os mosquitos não são encontrados. Um deles é um
continente praticamente inabitado, mas há também um país totalmente livre de
mosquitos. Saiba quais locais no mundo os mosquitos não são encontrados e qual
é esse país em os moradores e os turistas podem ficar tranquilos sem se
incomodar com picadas e zumbidos.
<><> Qual
é o único país sem mosquitos no mundo?
Há dois locais na
Terra onde os mosquitos não são encontrados. Mas só um único país tem o
privilégio de estar livre desses insetos. Isso porque um dos lugares do planeta
em que não existem mosquitos é a Antártida – o continente gelado quase
inabitado.
Na Antártida, a falta
de mosquitos é atribuída, em grande parte, ao seu clima de frio extremo, que
torna muito difícil para vários insetos se desenvolverem. Os mosquitos precisam
preferencialmente de um clima quente como habitats, mas podem surgir em praticamente
qualquer clima – menos o extremo frio.
As poças de água
também são condições ideais para os mosquitos se reproduzirem e, no caso da
Antártida, a água disponível é muito fria ou congelada, como explica o
relatório da World Population Review (organização independente com fins
lucrativos que fornece dados demográficos e populacionais globais atualizados).
Já o único país do
mundo em que sua população está totalmente livre de mosquitos é a Islândia –
território insular que possui clima frio rigoroso. No entanto, a Islândia tem
um pouco de vegetação e algumas temperaturas sazonais que podem sustentar a
vida de seres humanos e de vários animais, inclusive de alguns insetos – mas
não de mosquitos, como explica o relatório.
Este é um fato curioso
já que a Islândia não é nem de longe tão fria quanto a Antártida, onde nem
mosquitos ou pessoas conseguiriam sobreviver à exposição às suas temperaturas
por muito tempo. Chama a atenção também que países relativamente próximos à Islândia,
como Noruega, Dinamarca e até Groenlândia, possuem mosquitos.
<><> Por
que não existem mosquitos na Islândia?
Gísli Már Gíslason, um
biólogo da Universidade da Islândia, disse em entrevista ao jornal
norte-americano The New York Times que os mosquitos não conseguiram colonizar a
Islândia como fazem em outros lugares. E a teoria mais provável apresentada até
agora é que o clima oceânico da Islândia os mantém afastados.
Além disso, quando os
mosquitos põem ovos em um clima frio, as larvas emergem com o degelo,
permitindo que se reproduzam e se multipliquem. Na Islândia, no entanto,
normalmente há três grandes congelamentos e descongelamentos por ano, criando
condições que podem ser instáveis demais para a sobrevivência do inseto.
Só que com o
aquecimento global causado pelas mudanças climáticas afetando as temperaturas
de todo o planeta, talvez a população e os turistas da Islândia não fiquem
livres de mosquitos por muito mais tempo.
Segundo o biólogo
Gíslason, nos últimos 20 anos, cerca de 200 novas espécies de insetos se
estabeleceram na Islândia, os quais antes não podiam se desenvolver no país.
“Se o aquecimento global continuar, é possível que encontremos mosquitos na
Islândia em um futuro próximo”.
Fonte: National
Geographic Brasil
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